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8.1 A RESOLUÇÃO MORATORIUM

Tendo presente que a criação de um regime internacional para regular o património comum da humanidade demoraria vários anos e que durante esse tempo os Estados mais industrializados poderiam começar o aproveitamento comercial dos recursos do fundo do mar, os apoiantes do conceito de património comum da humanidade consideraram necessário estabelecer, até à entrada em vigor de um tratado internacional regulando estas matérias, uma moratória em relação a qualquer aproveitamento do fundo do mar123. Nesse sentido a Assembleia Geral aprovou a

Moratorium Resolution.

A Resolução, na sua parte final, estabelece: “... Declara que, durante o estabelecimento do mencionado regime internacional:

a) Estados e pessoas, físicas e jurídicas, são obrigados a evitar todas as actividades de aproveitamento dos recursos da área do fundo mar e do oceano e respectivo subsolo, para além dos limites da jurisdição nacional;

b) Não será reconhecida nenhuma reivindicação sobre qualquer parte dessa área”124.

A Moratória referia-se apenas ao aproveitamento e já não à prospecção e exploração do fundo do mar, que, por isso, podiam continuar.

O Grupo dos 77 via nesta Resolução uma tentativa de evitar uma situação de facto consumado e acreditava no seu efeito psicológico.

Aqueles que eram contra125 a Moratória argumentavam que os limites da área do fundo do mar ainda não estavam definidos126; a adopção da Moratória poderia conduzir a um alargamento

122 A moratória foi reiterada pela III UNCTAD, realizada em 1972, em Santiago de Chile - VARGAS CARREÑO,

Edmundo - América Latina y el Derecho del Mar. Primera edición. México : Fondo de Cultura Económica, 1973, p. 112.

123

Já em 1968, no Comité Ad Hoc, vários representantes sugeriram um congelamento das reclamações nacionais sobre os fundos marinhos fora dos limites da jurisdição nacional, in NACIONES UNIDAS - Asamblea General -

Informe del Comite Especial ..., 1968, cit., p. 52.

Mesmo depois da Moratória ter sido aprovada, alguns Estados relembravam que não eram possíveis reivindicações sobre o fundo do mar. Por exemplo, em 1972, Algéria, Brasil, Chile, China, Iraque, Quénia, Kuwait, República Árabe Líbia, México, Perú, Venezuela, Yemen e Jugoslávia apresentaram um Projecto de Decisão em que reafirmavam que “antes do estabelecimento do regime internacional, nenhuma reivindicação sobre qualquer parte da área ou dos seus recursos, baseada em actividades passadas, presentes ou futuras seria reconhecida” - in UNITED NATIONS - General Assembly - Report of the Committee on the Peaceful Uses of the Sea-Bed and the Ocean

Floor Beyond the Limits of National Jurisdiction: Official Records: Twenty-seventh Session. Supplement nº 21 (A/8721). New York : United Nations, 1972, p. 69.

124 Transcrita in NORDQUIST, Myron H. (Ed.), op. cit., p. 172 e 173.

125 Relativamente às resoluções levanta-se o problema da sua força jurídica. Para além do que se refere no texto a

propósito da Declaração de Princípios, podemos dizer, em relação à “moratória”, que não há a opinio iuris necessária para se formar um costume internacional - uma das fontes de Direito Internacional Público à luz do artigo 38º do Estatuto de Tribunal Internacional de Justiça - na medida em que vinte e oito Estados, entre os quais os mais desenvolvidos, votaram contra ela. Falta-lhe, assim, a aceitação generalizada. Praticamente metade dos membros das

dos limites da plataforma continental por muitos Estados com o objectivo de proteger os seus interesses nacionais; e poderia desencorajar todas as actividade mineiras e de desenvolvimento das tecnologias necessárias. Os países tecnologicamente mais avançados reagiram contra esta Resolução, não só devido às limitações ao aproveitamento, por tempo ilimitado, dos recursos do fundo do mar, mas também devido ao facto de as reservas de petróleo e de gás da plataforma continental poderem ficar por ela abrangidas.

Stevenson, consultor jurídico do Departamento de Estado dos Estados Unidos, fez a seguinte declaração em relação à Moratória: “A Resolução é indicativa e não impositiva. Os Estados Unidos não estão juridicamente vinculados por ela. Aos Estados Unidos é, no entanto, exigido que tenha em atenção a Resolução ao determinar as suas políticas. O artigo 2º § 2 da Carta das Nações Unidas estabelece ‘Todos os Membros, de modo a assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens resultantes da sua qualidade de membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta’. Com excepção de certas áreas expressamente delineadas, ..., a Assembleia Geral não tem poder para tomar decisões vinculativas para os seus membros. A Resolução Moratória não versa sobre uma das áreas especiais ... uma tal Resolução não pode impor a um Membro uma obrigação jurídica de a implementar. ... Os Estados Unidos não estão obrigados a implementar a recomendação e de modo claro manifestaram a sua oposição ao conceito”127.

Relativamente à questão da força vinculativa da Moratória, somos de opinião que, atendendo ao número significativo de Estados, nele se incluindo os Estados mais desenvolvidos e com capacidade para iniciar actividades mineiras no fundo do mar, mas não só, que não a apoiou, ela não goza de força jurídica impositiva, isto é, não produz efeitos directamente e per se, por isso não torna ilegais eventuais actividades unilaterais de aproveitamento do fundo do mar além dos limites da jurisdição nacional, que possam ocorrer. Apesar de não dispor de força jurídica, segundo alguns, é-lhe reconhecida uma força política - “pela convergência de posições do III Mundo que reflecte, ela assume-se como veículo de uma pressão política internacional geradora de efeitos

Nações Unidas não estavam preparados para apoiar a resolução, além de que alguns Estados, posteriormente, com a adopção de legislação nacional, revelaram não se conformar com o seu conteúdo.

A este propósito, entre outros, MEESE, Sally A., in The Legal Regime Governing Seafloor Polymetallic Sulfide Deposits, cit., na p. 153 escreve que “a resolução não tem força vinculativa dada a falta de consenso na aprovação, aliás, a resolução foi aprovada com 28 votos contra e 28 abstenções, por isso não pode dizer-se que tenha um largo apoio”.

126 Reino Unido Doc. A/C.1/PV.1709, para. 90, citado por MAHMOUDI, Said, op. cit., p. 131. Os Estados

Unidos da América opuseram-se, veementemente, porque dela resultava o não reconhecimento de qualquer direito de mineração do fundo do mar - SCHMIDT, Markus G., op. cit., p. 26.

127

Citado por BROWN, A. D. - Freedom of the High Seas Versus the Common Heritage of Mankind: Fundamental Principles in Conflict, cit., p. 542 e in Sea-Bed Energy and Minerals: The International Legal

desincentivadores de algumas práticas juridicamente relevantes dos Estados. A insusceptibilidade de ter uma capacidade ilegalizadora é, assim, compensada pela sua capacidade deslegitimadora”128.

9 - O COMITÉ DE UTILIZAÇÕES PACÍFICAS DO FUNDO DOS MARES E DOS

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