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3.4 O PRINCÍPIO DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA ARTIGO 144º

Segundo o número um do artigo 144º, ”De conformidade com a presente Convenção, a Autoridade deve tomar medidas para:

a) adquirir tecnologia e conhecimentos científicos293 relativos às actividades na Área; e

b) promover e incentivar294 a transferência de tal tecnologia e conhecimentos científicos para os Estados em desenvolvimento, de modo a que todos os Estados Partes sejam beneficiados.”

Os Estados que se opunham à transferência de tecnologia afirmavam que a Convenção impunha uma transferência obrigatória dos Estados e entidades privadas para a Empresa e para os países em vias de desenvolvimento, livre de quaisquer encargos e, por isso, era inaceitável. No entanto, pode considerar-se que o preceito contém apenas uma obrigação moral e não propriamente uma imposição legal. Obrigação essa que recai sobre a Autoridade e não sobre os Estados ou empresas que possuem a tecnologia. A Autoridade deve tudo fazer para adquirir a tecnologia e conhecimentos científicos e promover e encorajar a sua transferência para os países em vias de desenvolvimento. A parte final da alínea b): “de modo a que todos sejam beneficiados”, é estranha. Qual o sentido do termo “todos”? O objectivo deste artigo é permitir, através da transferência de tecnologia dos países mais avançados para a Empresa e para os países em vias de desenvolvimento, que estes últimos alcancem o nível de desenvolvimento dos primeiros. Assim sendo, não se compreende o que se pretende com “todos”. Serão também os desenvolvidos? Decerto não foi essa a intenção. O que se quis dizer foi que a transferência da tecnologia se faça para a Empresa e para os países em vias de desenvolvimento, para que estes cheguem ao nível dos

292 O princípio de transferência de tecnologia era, para os países em vias de desenvolvimento, um elemento

fundamental da Nova Ordem Económica Internacional, era essencial para o seu desenvolvimento económico. Para eles a tecnologia era um instrumento indispensável para diminuir o fosso que os separa dos países industrializados. Segundo eles, a tecnologia faz parte do “universal human heritage to which all countries have acess”. É evidente que este ponto de vista era contestado pelos países industrializados que defendiam a sua apropriabilidade e a sua sujeição às regras do mercado.

Sobre o tema transferência de tecnologia ver, por todos, LI, Yuwen, op. cit.; VAN DYKE, Jon M. and TEICHMANN, David L. - Transfer of Seabed Mining Technology: A Stumbling Block to U.S. Ratification of the Law of the Sea Convention? Ocean Development and International Law Journal. New York: Crane Russak. ISSN 0090- 8320. 13, number 4: (1984), p. 427-455.

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O artigo não faz qualquer distinção entre tecnologia e conhecimentos científicos, mas, na realidade, trata-se de conceitos distintos. A tecnologia encontra-se, normalmente, nas mãos de privados e pode ser comprada e vendida no mercado, só que, dado o seu preço, a sua aquisição pelos países em vias de desenvolvimento é difícil. Os conhecimentos científicos podem ser publicados ou estão disponíveis de um qualquer outro modo, mas de qualquer maneira é de menos valor imediato para os países em vias de desenvolvimento que têm falta de infra-estruturas científicas e técnicas para absorver e aplicar tais conhecimentos - LI, Yuwen, op. cit., p. 151.

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primeiros e depois todos beneficiem igualmente das actividades da Área. O que se pretende é proporcionar condições materiais para uma real igualdade de oportunidades.

No número dois, o artigo 144º estabelece que tendo em vista a transferência de tecnologia “... a Autoridade e os Estados Partes devem cooperar para promover a transferência de tecnologia e conhecimentos científicos relativos às actividades realizadas na Área de modo a que a Empresa e todos os Estados Partes sejam beneficiados. Em particular, devem iniciar e promover:

a) programas para a transferência de tecnologia para a Empresa e para os Estados em desenvolvimento no que se refere às actividades na Área, incluindo, inter alia, facilidades de acesso da Empresa e dos Estados em desenvolvimento à tecnologia pertinente em modalidades e condições equitativas e razoáveis;

b) medidas destinadas a assegurar o progresso da tecnologia da Empresa e da tecnologia nacional dos Estados em desenvolvimento e em particular mediante a criação de oportunidades para a formação do pessoal da Empresa e dos Estados em desenvolvimento em matéria de ciência e tecnologia marinhas e para a sua plena participação nas actividades da Área.”

Se analisarmos este preceito, vemos que ele não impõe a transferência de tecnologia e conhecimentos científicos, antes encarrega os Estados membros e a Autoridade de cooperarem para promover a transferência: “iniciar e promover programas para a transferência de tecnologia ..., iniciar e promover medidas destinadas ...”.

O princípio da transferência de tecnologia, dada a oposição dos países industrializados e para ser possível a sua anuência, é muito vago, não especificando quem deve transferir a tecnologia e para quem, em concreto, essa transferência deve ser feita. Dele não resulta, necessariamente, a transferência obrigatória. É mais uma obrigação moral do que jurídica. Apesar disso, os países industrializados sempre se opuseram a tal transferência, por isso esta matéria é uma das que consta do Acordo de Implementação de 1994, que estudaremos oportunamente.

Por fim, os artigos 273º e 274º da Convenção, situados na Parte XIV com a epígrafe “Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia Marinhas”, dizem, igualmente, respeito à matéria que estamos a tratar: o artigo 273º prevê que “Os Estados devem cooperar activamente com as organizações internacionais competentes e com a Autoridade para encorajar e facilitar a transferência de conhecimentos especializados e de tecnologia marinha relativos às actividades na Área aos Estados em desenvolvimento, aos seus nacionais e à Empresa”. Por seu turno, o artigo 274º estabelece que “Sem prejuízo de todos os interesses legítimos, incluindo, inter alia, os

direitos e deveres dos possuidores, fornecedores e recebedores de tecnologia, a Autoridade, no que se refere às actividades na Área, deve assegurar que:

a) os nacionais dos Estados em desenvolvimento, costeiros, sem litoral ou em situação geográfica desfavorecida, sejam admitidos para fins de estágio, com base no princípio da distribuição geográfica equitativa, como membros do pessoal de gestão, de investigação e técnico recrutado para as suas actividades;

b) a documentação técnica relativa ao equipamento, maquinaria, dispositivos e processos pertinentes seja posta à disposição de todos os Estados, em particular dos Estados em desenvolvimento que necessitem e solicitem assistência técnica nesse domínio;

c) sejam tomadas pela Autoridade disposições apropriadas para facilitar a aquisição de assistência técnica no domínio da tecnologia marinha pelos Estados que dela necessitem e a solicitem, em particular os Estados em desenvolvimento, bem como a aquisição pelos seus nacionais dos conhecimentos técnicos e especializados necessários, incluindo a formação profissional;

d) seja prestada aos Estados a assistência técnica de que necessitem e solicitem nesse domínio, em especial aos Estados em desenvolvimento, bem como assistência na aquisição de equipamento, instalações, processos e outros conhecimentos técnicos necessários, mediante qualquer ajuste financeiro previsto na presente Convenção.”

3.5 - O PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS EM VIAS DE

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