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A Sense of Coherence Scale ou Escala do Sentido de Coerência (SOC)

4.2 INSTRUMENTOS E SENTIDO DE VIDA

4.2.3 A Sense of Coherence Scale ou Escala do Sentido de Coerência (SOC)

Em 1979, Aaron Antonovsky desenvolveu um modelo teórico que procurava compreender a relação entre os eventos stressantes vividos pelo indivíduo e a sua saúde. O conceito central deste modelo denominou-o Sense of Coeherence (SOC).

O Sentido de Coerência foi definido por Antonovsky (1979 p.132) como: ”…a global

orientation that expresses the extent to which one has a pervasive, enduring, though dynamic, feeling of confidence that one’s internal and external environments are predictable and that there is a high probability that things will work out as well as can reasonably be expected”.

Segundo este autor, o sentido de coerência desenvolve-se ao longo da vida até atingir uma configuração estável nos jovens adultos, construída à medida que vão observando no mundo que os rodeia a ideia de consistência e previsibilidade.

O sentido de coerência pode ser compreendido como uma característica de personalidade ou estilo de coping que permite ao indivíduo ver a sua vida como mais ou menos organizada, previsível e gerível (Antonovsky e Sagy, 1986).

De acordo com Antonovsky (1987) o sentido de coerência é construído com base em três componentes fulcrais: 1) a compreensibilidade (comprehensibility-Co) ou seja, a noção de que os estímulos que encontramos ao longo da vida são estruturados, previsíveis e explicáveis de uma forma racional, 2) a exequibilidade (manageability-Ma) ou seja a medida em que achamos que temos recursos disponíveis para enfrentar as exigências que esses estímulos nos colocam e 3) a capacidade de prover sentido (meaningfulness-

Me) ou seja a capacidade para perceber as exigências que o meio nos coloca, como

desafios nos quais vale a pena investir e envolvermo-nos de uma forma activa.

Para o autor, a componente com maior ênfase para a construção de um sentido de coerência seria a capacidade para prover sentido (Me), pois sem esta, nenhuma das outras (Co e Ma) persistiria.

De uma forma clara, Korotkov (1998, p.58) apresenta as implicações que a noção de sentido de coerência e seus componentes (Co, Ma e Me) têm na saúde: “…those with a

strong SOC (i.e., high meaningfulness, high comprehensibility, high manageability) may be influential in affecting various bodily systems (e.g., central, peripheral, immune, endocrine) with the end goal of returning physical functioning back to homeostasis.”.

Strang e Strang (2001, p.128) resumem o conceito implícito dizendo: “Individuals, who

experience a high level of coherence despite a difficult situation, can still experience a good quality of life.” A tendência encontrada é a de entender o Sentido de Coerência

como um factor protector da saúde física e da qualidade de vida em contexto de trabalho. Antonovsky (1983) teve o mérito de explorar teoricamente o modelo e propor uma medida quantitativa do seu constructo, com 29 itens (posteriormente transformada numa medida reduzida de 13 itens): o Orientation to Life Questionnaire (OLQ). Por uma questão de simplicidade, tendo em conta o constructo medido (Seeman, 1991), é vulgarmente

conhecido por Sense of Coherence Scale (SOC) (Chamberlain e Zika, 1988a; Antonovsky e Sagy, 1986; Antonovsky, 1993),. De entre os 29 itens, 11 destinavam-se a medir a compreensibilidade (Co), 10 itens eram relativos à exequibilidade (Ma) e os restantes 8 reportavam a capacidade de prover sentido (Me). A mais utilizada e validada (Antonovsky, 1993) tem sido, no entanto, a medida de sentido de coerência global, obtida através da soma de todos os itens e cujos valores totais podem oscilar entre 29 (baixo sentido de coerência) e 203 (elevado sentido de coerência).

Cada item está formulado numa escala de Likert de 1 e 7 contendo por baixo de cada um dos extremos da escala as qualificações específicas para cada item, relativamente ao grau de concordância da pessoa com a afirmação em causa, de um modo muito semelhante ao observado no PIL.

Esta escala foi inicialmente construída e administrada a diversas amostras compreendendo sujeitos de nacionalidades israelita, americana e canadiana entre as quais as mais numerosas eram as seguintes: 338 soldados, 297 civis, 336 estudantes, 111 trabalhadores e 108 profissionais de saúde de áreas diversas. Nos estudos preliminares, os valores mais elevados foram obtidos pela populações de soldados e pela de profissionais de saúde. Os valores de consistência interna encontrados oscilaram ente .82 e .93. Da extensa revisão de literatura conduzida por Eriksson e Lindström (2005) com um foco na validade e fiabilidade do SOC, concluiu-se que os valores oscilavam entre 0.70 e 0.95. Porém, este método tem um viés intrínseco ao incluir artigos que estudam o SOC no quadro de um modelo de análise e não restringir a amostra a estudos especificamente dedicados a avaliar as suas qualidades psicométricas, é expectável que apenas os resultados que indicam aceptabilidade psicométrica surjam publicados. Isto porque as conclusões da análise de um modelo teórico são contingentes à validade das medidas usadas. Assim, sempre que os valores de consistência interna se situaram aquém do limite de aceptabilidade os próprios autores terão prescindido da pretensão de

publicar ou os revisores terão excluído o estudo devido à pouca credibilidade do instrumento com que se operacionalizou o conceito previsto no modelo.

A versão portuguesa do SOC (denominado Sentido de Coerência) foi adaptada à população portuguesa (quer na versão de 29 itens, quer na de 13 itens) por Geada (1990) tendo encontrado valores de análise psicométrica que indicam elevada qualidade. Estudos posteriores utilizando a versão portuguesa (e.g. Geada, 1996, 1997, Nunes, 1999, Gomes, 2003) corroboram a sua fiabilidade encontrando valores de consistência interna aceitáveis que oscilam entre .74 e .90.

Ao longo de diversas investigações conduzidas com este instrumento verificou-se existir uma consistente relação entre o SOC e outras medidas de sentido de vida como o PIL e o LRI (Chamberlain e Zika, 1988a), medidas de bem-estar e de satisfação com a vida (Ryland e Greenfeld, 1991; Zika e Chamberlain, 1992; Hintermair, 2004), medidas de estado de saúde geral (Dana, 1985; Strang, 2002), medidas de coping em contextos variados (Antonovsky e Sagy, 1986; Strang e Strang, 2001; Rothman, Scholtz, Rothman e Fourie,2002; Hintermair, 2004) e de religiosidade (Tomer e Eliason, 2000).

Apesar de se ter revelado um instrumento interessante, algumas questões têm sido colocadas. Uma das mais persistentes questiona se o SOC corresponde a uma medida o sentido interno de coerência ou se será essencialmente uma medida relativa aos níveis de neuroticismo e de labilidade emocional do indivíduo. Segundo Kortotkov (1998) existem dois aspectos que poderão levantar esta dúvida em torno do SOC: 1) as instruções do instrumento (ex: “circle the number wich best expresses your feeling”) parecem indicar que os sujeitos devam responder a cada um dos itens baseados nos seus sentimentos, o mesmo acontecendo com a formulação dos itens que contêm diversas vezes “ (…) how do you feel (…)?” ou “ (…) do you have feelings (…)?” e 2) algumas investigações demonstram que existe uma estreita relação entre medidas de ansiedade, depressão, hostilidade, entre outras, e os valores do SOC e que quando é controlada a variável neuroticismo deixam de ser significativas.

Outros aspectos referem-se ao facto, anteriormente mencionado, de o SOC só ter apresentado validade, e mesmo assim questionável, enquanto medida unidimensional, sendo as escalas Co, Ma e Me, pouco ou nada significativas para a compreensão do constructo medido pelo instrumento (Chamberlain e Zika, 1988a; Zika e Chamberlain, 1992; Antonovsky, 1993). No entanto Eriksson e Lindström (2005) encontraram indicação no sentido oposto: que o SOC parecia ser multidimensional e não unidimensional.

Outras investigações encontraram correlações significativas entre a desejabilidade social e os valores mais elevados obtidos no SOC (Frenz, Carey, Jorgensen, 1993).

Com algumas dúvidas acerca da abrangência do SOC enquanto medida de sentido de vida, Korotkov (1998, p.66) sugere linhas futuras que permitam clarificar as dúvidas expostas: “First, the nature of the SOC measure needs to be clarified. As was discussed,

when neuroticism is controlled for, some, but not all, relations tend to vanish. One possible remedy would be to develop a second-generation SOC measure taking this issue into account”. Embora Eriksson e Lindström (2005) concluam pela validade, fiabilidade e

utilidade transcultural do SOC, à data não parece existir uma revisão do SOC que dê resposta às dúvidas levantadas por Koroktov (1998).

4.2.4 O Life Attitude Profile – Revised ou Perfil de Atitudes perante a Vida – Revisto