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O Threat Index ou Indíce de Ameaça (TI)

3.2 AS MEDIDAS DESENVOLVIDAS PARA A MENSURAÇÃO DAS ATITUDES PERANTE A MORTE

3.2.3 O Threat Index ou Indíce de Ameaça (TI)

Das diversas escalas destinadas a medir atitudes perante a morte, o índice de ameaça é das poucas que parte de uma perspectiva teórica mais sólida, a do constructo pessoal de Kelly (1955). Esta teoria parte da ideia de que os Seres Humanos literalmente constroem o sentido que atribuem às suas próprias vidas testando, revendo e antecipando continuadamente as suas experiências.

Kelly (1955) referiu-se às nossas dimensões essenciais como sendo constructos nucleares na medida em que são estes que organizam a nossa identidade e existência. Sempre que estes valores são postos em causa podemos experimentar uma ameaça com potencial para impor mudanças no nosso sistema nuclear de constructos pessoais.

Este autor define a morte como um exemplo paradigmático de uma ameaça ao nosso núcleo de constructos na medida em que a maior parte das pessoas a encara como um acontecimento inevitável que comportará mudanças nas suas identidades enquanto Seres Humanos. Desta forma, a morte poderá levar as pessoas a sentir diferentes graus de ameaça ao seu sentido de vida dependendo do seu sistema pessoal de constructos.

Na sua primeira forma, o TI foi concebido por Krieger, Epting e Leitner (1974) baseando-se nas dimensões propostas por Kelly (1955). O seu formato é o de uma entrevista estruturada em duas fases: uma fase de averiguação de constructo

(construct elicitation) e uma fase de definição de proximidade face aos constructos (element placement).

Na primeira fase o entrevistador apresenta ao sujeito tríades de cartões contendo cada um descrições de situações específicas relacionadas com o tema da morte. Depois desta apresentação o entrevistador pede à pessoa que opine em que medida as situações apresentadas nos dois primeiros cartões se diferenciam da apresentada no terceiro cartão. A sua resposta é anotada como correspondendo a um dos seus constructos pessoais face à morte. Mais constructos continuarão a ser averiguados utilizando novas tríades de cartões até que se obtenha um total de 30 constructos pessoais diferentes.

Na fase seguinte, o entrevistador pede à pessoa que tendo em consideração cada um dos seus constructos pessoais, anteriormente elicitados, expresse em que medida estes se encontram mais próximos ou mais distantes do seu eu actual, do seu eu ideal e da sua forma de perspectivar a sua própria morte. O indíce de ameaça é medido pela extensão em que a pessoa separa a sua vivência actual e ideal dos aspectos relacionados com a sua morte, através do grau em que os polariza em extremos opostos, no que respeita aos seus constructos pessoais (ex: se o eu actual e ideal são vistos como completamente previsíveis e a morte como completamente imprevisível, o constructo pessoal seria o de imprevisibilidade da morte e a pessoa teria optado por distanciar em pólos opostos a sua vivência da vivência da sua morte). Neste instrumento, quanto maior for a oposição dos elementos maior será a ameaça sentida pelo indivíduo face ao tema da morte (Krieger et al, 1974).

Embora o procedimento que permite chegar aos resultados seja o de uma entrevista e não o de um teste objectivo, foram realizados alguns estudos que permitiram constatar a validade psicométrica deste intrumento de medida atitudinal (Neimeyer, 1994). Os dados obtidos mostraram que o Índice de Ameaça possui uma consistência interna satisfatória e também ao nível do teste-reteste, em períodos de aplicação até quatro

semanas de distância. Ao invés de outras medidas atitudinais face à morte, parece não ser sensível ao efeito de desejabilidade social na resposta e apresenta resultados convergentes com outras medidas no âmbito das atitudes perante a morte. Mostrou igualmente validade de constructo na medida em que os sujeitos que apresentam menor polarização entre os seus constructos são os que mais facilmente conseguem aceitar a própria morte (Neimeyer, 1988).

Apesar de todos os aspectos positivos e promissores neste instrumento, o seu formato de entrevista sempre colocou aos investigadores algumas dificuldades sobretudo relacionadas com o tempo de aplicação mais longo (entre 60 a 90 minutos) e com o facto de só se poder aplicar a um sujeito de cada vez (Neimeyer, 1994). Estes aspectos embora tornassem os resultados clinicamente muito enriquecedores desencorajaram a utilização mais ampla do instrumento.

A pensar nestas limitações Krieger, Epting e Hays (1979) adaptaram o índice de ameaça dando-lhe um formato de inventário, reduzindo o seu tempo de aplicação (entre 15 e 30 minutos), passando a dispensar um entrevistador formalmente treinado e podendo passar a ser aplicado a grupos de forma anónima. Estas alterações vieram tornar esta medida mais apelativa para os investigadores transformando-a na segunda medida mais utilizada em investigação(Neimeyer, 1994).

Os estudos desenvolvidos com este instrumento demonstraram que possui uma elevada consistência interna e uma considerável estabilidade teste-reteste até nove semanas de distância. Tal como a medida original, também parece não ser sensível ao efeito de desejabilidade social e apresenta resultados convergentes com outras medidas no âmbito das atitudes perante a morte.

À semelhança da maior parte dos instrumentos de medida das atitudes perante a morte, o índice de ameaça foi originalmente concebido como uma medida unidimensional do grau de ameaça provocado pela morte, medido através da forma como o sujeito conceptualiza, através de constructos, a sua morte. Porém, estudos

realizados posteriormente por Neimeyer et al (1988) com 400 respondentes mostraram que a teoria de um factor geral subjacente ao formato de inventário do índice de ameaça não era aplicável ao conjunto dos 30 itens que compunham o instrumento. Uma análise posterior feita a uma versão mais abrangente do instrumento com 40 itens (Moore e Neimeyer, 1991) e com 450 respondentes permitiu chegar a um formato de 25 itens com uma excelente adequabilidade a um modelo de factor geral. Esta nova versão (TI-25) para além de permitir obter uma medida global de ameaça, permite igualmente para fins clínicos e sem perda de coerência, uma decomposição em três factores denominados de: 1) ameaça ao bem-estar, 2) incerteza e 3) fatalismo. Apesar das alterações realizadas à forma original do índice de ameaça se terem traduzido no aumento da sua validade e precisão, perderam-se alguns aspectos importantes que eram aprofundados no seu formato de entrevista e que abordavam de forma mais adequada a complexidade de conceitos envolvidos na formação das atitudes perante a morte. Desta constatação surgiu quase em simultâneo com a versão TI-25, um outro instrumento que preservou algumas das características do índice de ameaça ainda na sua forma de entrevista estruturada permitindo simultaneamente a aplicação em pequenos grupos: o Reportório de Attitudes perante a Morte (DART) de Neimeyer, Bagley e More (1986).

O DART apresenta ao sujeito breves descrições situacionais relacionadas com a morte e pede-lhe que as contraste de uma forma sistemática. Também com duas fases de aplicação, este procedimento solicita primeiramente que o sujeito perante pares de situações (15 situações) relacionadas com a morte, registe em que medida estas são assemelham ou distanciam. As suas respostas são vistas como um constructo perante a morte e o procedimento é repetido até se obter um total de 15 constructos. Numa segunda fase pede-se ao sujeito que classifique as 15 situações no que respeita aos 15 constructos elicitados numa escala de Likert com treze pontos.

Estudos realizados com esta medida apontam para padrões de resposta mais coerentes em pessoas mais velhas e mais flexíveis em pessoas com níveis mais elevados de educação (Neimeyer et al, 1986).

3.2.4 A Multidimensional Fear of Death Scale ou Escala Multidimensional de Medo