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3.3 ATITUDES PERANTE A MORTE E IMPACTO DA FORMAÇÃO NA ÁREA DA MORTE

3.3.3 Com impacto negativo

Por fim, há indicação de dois estudos que encontraram efeitos paradoxais da formação. Esta, ao invés de um impacto positivo, exercia o efeito contrário, exarcebando as atitudes negativas face à morte e ao morrer.

Swain e Cowles (1982) mediram o medo da morte em enfermeiros usando a Collet-Lester Fear of Death Scale (Collet e Lester, 1969) no início e no final de uma formação com a duração de um semestre. Verificaram não existir diferenças significativas nos seus resultados e que inclusive alguns apresentavam níveis mais elevados de medo face à morte e mais preocupações relativas à sua própria morte no final do curso.

Maglio e Robinson (1994-95) procederam à meta-análise de 62 estudos acerca da formação na área da morte e seu impacto. Encontraram resultados que indicam que a formação provocou um aumento na ansiedade perante a morte embora também tenham diferenciado este efeito com base na técnica pedagógica.

Todos estes resultados indicam que a investigação carece de modelos mais complexos que prevejam, entre outros, a possibilidade de ocorrerem efeitos de moderação relacionados com a natureza das formações ministradas bem como as características dos próprios formandos.

Indicação de que a investigação deve avançar nesse sentido decorre de resultados encontrados por Johanson e Laly (1990-91). Neste estudo, os autores previram que a

experiência dos formandos operasse como variável moderadora. Mediram os níveis de ansiedade perante a morte (DAS de Templer, 1970) em estudantes de enfermagem de primeiro e de último ano, antes e depois de um programa de formação na área da morte. Os resultados indicaram um efeito de interacção pois o curso aumentou significativamente os níveis de ansiedade perante a morte nos estudantes menos experientes, mas diminuiu-o nos estudantes mais experientes.

Noutro estudo de revisão de 47 relatórios acerca do impacto de formações na área da morte, Durlak e Reisenberg (1991) concluíram que a formação exerce um impacto ao nível cognitivo e comportamental mas que esse impacto depende do tipo de formação e de prática pedagógica. Os melhores programas de formação são os experienciais (com um efeito moderadamente positivo). Já os didácticos não surtem efeitos significativos na mudança atitudinal. Resultados convergentes foram encontrados por Maglio e Robinson (1994-95).

Knight e Elfenbein (1993) estudaram o impacto de uma disciplina semestral em Tanatologia em 29 estudantes por comparação com um grupo de controlo composto por 79 estudantes. Usando a DAS (Templer, 1970) e a DAQ (Conte, Weiner e Plutchick, 1982) e a DAP (Guesser, Wong e Reker, 1987-88). Os resultados no final do semestre indicaram um acréscimo da ansiedade em alguns participantes que frequentaram a formação bem como um decréscimo noutros. O decréscimo ocorria concomitantemente com um aumento na percepção de um sentido para a morte pelo que os efeitos não são lineares.

Quando ignoradas as eventuais dependências de variáveis contextuais, os estudos parecem apontar, maioritariamente para efeitos positivos de um contacto enquadrado com o tema da morte e da experiência como factor de melhor ajustamento atitudinal. Tal como Durlak (1994) constatamos que, nos estudos acerca das atitudes perante a morte nos profissionais de saúde, os instrumentos usados nem sempre são os mais adequados, os estudos incidem maioritariamente sobre enfermeiros, pontualmente sobre

médicos e apenas vestigialmente sobre outros grupos de profissionais de saúde, maioritariamente ainda sobre estudantes. Salvo raras excepções os grupos de comparação são poucos e inadequados face ao propósito em causa.

Em todos os estudos com que nos deparámos, na área da avaliação do impacto da formação na área da morte e do morrer nos profissionais de saúde, carece uma avaliação das mudanças ocorridas que permita verificar se a formação tem ou não um impacto significativo na mudança comportamental, operacionalizada pela prática diária dos profissionais ao longo do tempo. A evolução nas práticas metodológicas e no rigor científico permite prever estudos futuros com maior valor informativo quanto ao propósito central da formação nesta área.

IV – EM BUSCA DO SENTIDO DE VIDA

“When we are no longer able to change a situation we are challenged to change ourselves.”

Frankl (1985: 135)

A busca do sentido de vida acompanha a Humanidade desde o seu alvor. A procura de respostas concretas acerca do que é o sentido de vida ou do que dá sentido à vida, movimenta e acompanha, todas as grandes conquistas e movimentos da Humanidade, bem como as suas mais tremendas atrocidades.

Mas o que é o sentido de vida afinal?

Num mundo em que tudo o que existe necessita de um nome e de uma definição, a questão do que é o sentido de vida parece ser pertinente.

Em língua inglesa o termo “sentido de vida”, não tem equivalência imediata, que corresponderia ao termo “sense of life”, mas encontra o seu parente mais próximo na expressão “meaning of life”. Em língua francesa a expressão “sens de vie” é significativamente mais próxima da portuguesa.

Para Vandentorpe (1991, p. 95 e 96) : “ Le mot sens est indéfinissable” porque “ Le sens

(de la vie) n´a d´existence qu´a l´interior de l´esprit qui comprend : il tire sa realité de notre vie même. Il est , en derniére analyse, la projection pseudo-objective de la confiance que nous avons dans notre capacite à comprendre.”

Para Klinger (1998 : p.28) : “What a life means is what a life purposes” e Jonhson 1987 : p.176), apresenta uma definição semelhante à de Vandentorpe (1991) ao afirmar que :

“meaning is a matter of human understanding”.

Para Baumeister (1991: p.15): “Meaning cannot be easily defined, perhaps because to

define meaning is already use meaning. Still it is clear that meaning has much to do with language and mental representations of possible relationships among things, events and relationships. Thus meaning connects things”.

Para Frankl (1985 p.169) o sentido de vida dá-nos a consciência da:”direction in wich we

have to move in a given life situation”

Assim sendo, podemos definir resumidamente o sentido de vida como um conceito global que permite compreender e interligar de um modo coerente e, essencialmente positivo, tudo o que nos aconteceu, bem como o que esperamos que nos aconteça na vida. Dar um sentido ou encontrar um sentido para a vida, implica descobrir, construir ou antecipar esse fio condutor e então ser capaz de perceber a vida como um todo coerente. Vários aspectos podem contribuir para mais claramente nos facilitar esta percepção de coerência positiva na vida (ex: relacionamentos próximos, trabalho, religião ou até tudo o que o futuro ainda nos pode reservar) e como veremos adiante durante a revisão dos instrumentos, para medir o sentido de vida, este conceito está fortemente ligado a múltiplos aspectos da saúde mental, da satisfação com a vida, da motivação individual e do bem-estar geral.