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O Personal Meaning Profile ou Perfil Pessoal de Sentido (PMP)

4.2 INSTRUMENTOS E SENTIDO DE VIDA

4.2.5 O Personal Meaning Profile ou Perfil Pessoal de Sentido (PMP)

Em busca do tipo de configurações básicas de sentido, desenvolvidas pelas pessoas em geral, Wong (1998) iniciou a uma série de quatro estudos que culminou na criação do

Personal Meaning Profile (PMP) ou Perfil Pessoal de Sentido.

No primeiro destes estudos foi pedido a 60 pessoas, de diversas proveniências e graus educacionais, que descrevessem “the atributes or characteristics of mas ideally

meaningfull life” (Wong, 1998 p.112). Ao pedir ideais de vida com sentido pretendia-se

que as pessoas fossem capazes de se libertar de aspectos relacionados com o quotidiano ou com a sua sobrevivência e se centrassem em aspectos mais elevados relativos ao sentido de vida .

A análise dos atributos referidos pelos inquiridos mostraram que, ainda que estes usassem diferentes termos para caracterizar o sentido ideal de vida, os temas eram recorrentes e as ideias apresentavam algumas sobreposições.

As respostas obtidas suportam alguma investigação anterior que aponta para três componentes (cognitiva, afectiva e motivacional) orientadoras do sentido de vida (Wong, 1989). Porém, encontrou algo novo: “the results provide a preliminary answer to the

crucial question regarding the prototypical structure of personal meaning. This structure involves more than thoughts, feelings, and motivated attitudes. It also entails relationship and certain personal qualities.” (Wong, 1998, p.114). Assim, no estudo de 1998, Wong

acrescenta as componentes relacional e pessoal. As respostas dos sujeitos foram transformadas em 102 itens da seguinte forma: 19 itens cognitivos, 17 itens afectivos, 25 itens motivacionais, 17 itens relacionais e 24 itens pessoais.

Num segundo estudo pretendeu-se ver, a partir dos 102 itens gerados no estudo anterior, em que medida estes seriam mais ou menos escolhidos como geradores de sentido. Para este fim, pediu-se a 62 estudantes universitários, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos: 1) que classificassem cada um dos itens, numa escala de Likert de nove pontos, de acordo com o seu grau de concordância quanto à centralidade na construção de uma vida com um ideal de sentido, 2) que procedessem do mesmo modo mas visando a construção de um sentido nas suas vidas pessoais (e não no abstracto) e 3) que preenchessem um pequeno questionário (Perceived Personal Meaning-PPM) de oito itens acerca da percepção de sentido nas suas vidas (no presente e no passado). Com base nas respostas foram identificados vários itens que obtiveram classificação média inferior a seis o que indica baixa concordância quanto à sua centralidade na construção de um sentido ideal ou pessoal de vida.

Numa terceira fase e tendo em atenção a necessidade de incluir várias faixas etárias nos estudos, foi pedido a uma amostra de 289 pessoas distribuídas por três grupos etários (jovens adultos (18-29 anos), adultos (30-59) e adultos de idade avançada (mais de 60))

que classificasse, à semelhança do estudo anterior, cada um dos 102 itens originais, numa escala de Likert de nove pontos, e quanto ao grau de acordo relativo à sua centralidade na construção de uma vida com um ideal de sentido. Pretendia determinar as constantes na construção de uma vida com sentido.

Os resultados sustentaram a exclusão de 43 itens tendo sido preservados 59 que factorializaram numa soluição de nove factores, que explica 63% da variância. Os nove factores foram denominados de:

1) Esforço para a Concretização de Objectivos (Achievement Striving), 2) Religião (Religion), 3) Relacionamento (Relationship), 4) Realização (Fulfillement), 5) Justiça-Respeito (Fairness-Respect), 6) Autoconfiança (Self-Confidence), 7) Auto-Integração (Self-Integration), 8) Transcendência (Self-Transcendence) e 9) Auto-Aceitação (Self-Acceptance).

Segundo Wong (1998:118), esta configuração de factores mostra-nos o que parece ser necessário para a construção de um sentido de vida visto como ideal: “It requires that

individuals have positive and mature attitudes toward life and self and that they lead a purposefull and productive life”.

Estes três estudos iniciais serviram para identificar uma estrutura comum à construção de um sentido ideal de vida. No quarto estudo o autor visou a validade deste novo instrumento. Para tal aplicou a uma amostra total de 335 sujeitos diferentes testes destinados a validar o PMP, entre os quais: a Perceived Well Being scale (PWB) ou

Escala de Bem-Estar Percebido de Reker e Wong (1984), que permite obter valores relativos quer ao bem-estar físico quer ao psicológico, o Inventário de Depressão de Beck (BDI) e o LAP de Reker e Peacock (1981).

Este quarto estudo revelou uma estrutura factorial distinta da obtida no terceiro estudo, produzindo não nove, mas oito factores com 67% da variância explicada. Desta forma o autor optou por reformular a estrutura factorial anteriormente proposta e até renomear alguns factores de modo mais adequado.

Os 8 factores propostos são:

1) Esforço para a Concretização de Objectivos (Achievement Striving), 2) Religião (Religion), 3) Realização (Fulfillement), 4) Relacionamento (Relationship), 5) Transcendência (Self-Transcendence), 6) Intimidade (Intimacy), 7) Auto-Aceitação (Self-Acceptance) e 8) Tratamento Justo (Fair Treatment).

Os resultados obtidos mostraram uma forte associação positiva entre a escala de Wong (1998) e o bem-estar percebido ao nível psicológico, o mesmo não se tendo verificado para os níveis de bem-estar físico. O PMP correlacionou-se positivamente com as dimensões positivas do sentido de vida medidas pelo LAP e negativamente com a medida de depressão fornecida pelo BDI, o que se revela favorável do ponto de vista da validade discriminante.

Na sequência deste quarto estudo foram ainda propostas por Wong (1998) novas reformulações, acrescentando alguns itens, reformulando outros e retirando os que menos se adequavam e com uma estrutura de oito factores:

1) Concretização de Objectivos (Achievement) com 16 itens, 2) Relacionamento (Relationship) com 9 itens,

3) Religião (Religion) com 9 itens,

4) Transcendência (Self-Transcendence) com 8 itens, 5) Auto-Aceitação (Self-Acceptance) com 6 itens, 7) Intimidade (Intimacy) com 5 itens e

8) Tratamento Justo (Fair Treatment) com 4 itens.

Na sua versão final o PMP conta então com 57 itens e oito factores com boa estabilidade temporal num período de 3 semanas (. 85).

Estudos posteriores (Weiler, 2001) corroboraram esta estrutura factorial proposta, bem como o formato de 57 itens. Weiler (2001) aplicou a versão final do PMP a 136 pessoas com pelo menos 60 anos, conjuntamente com a DAP-R (Wong, Reker e Guesser, 1994), a Satisfaction With Life Scale (SWLS) ou Escala de Satisfação com a Vida (Diener, Larsen e Griffin, 1985 cit p. Weiler, 2001) e a General Health Perception Scale (GHPS) ou Escala Geral de Percepção da Saúde (Ware e Shebourne, 1992 cit p. Weiler, 2001). Para além da validação factorial, a autora encontrou fortes correlações positivas entre várias escalas do PMP e os valores de satisfação com a vida e bem-estar geral, indicadoras de que quanto mais elevados são os valores do sentido pessoal de vida, maior satisfação e bem estar as pessoas mais velhas experimentam. Também verificou que a atitude perante a morte mais associada a valores elevados de sentido pessoal de vida e de bem- estar é a da aceitação religiosa.

Finda a breve revisão de alguns dos instrumentos destinados à medida do sentido de vida, resta-nos justificar a escolha do PIL como medida central no presente estudo. Esta deveu-se sobretudo à extensa validação e uso continuado do instrumento, ao longo de mais de quatro décadas, e à percepção de que as restantes medidas geradas ainda não conseguem suplantar integral e consistentemente, as falhas que apontam ao PIL. A

escolha deve-se também ao facto do PIL ter servido de inspiração inicial a praticamente todos os instrumentos revistos, conjuntamente com a perspectiva teórica de Frankl, que o PIL procura operacionalizar.