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A Multidimensional Fear of Death Scale ou Escala Multidimensional de Medo da Morte

3.2 AS MEDIDAS DESENVOLVIDAS PARA A MENSURAÇÃO DAS ATITUDES PERANTE A MORTE

3.2.4 A Multidimensional Fear of Death Scale ou Escala Multidimensional de Medo da Morte

Em 1979, Jon Hoelter publicou uma escala com 42 itens destinada a medir o medo da morte. Ao contrário da maior parte das medidas mais usadas, a escala de Hoelter (1979), apresentava-se ab initio como sendo multidimensional e compreendia oito sub-escalas medindo cada uma, aspectos muito distintos do medo da morte.

As outras escalas multidimensionais que existiam deveram a sua multidimensionalidade à constatação a posteriori das matrizes factoriais. Hoelter (1979), pelo contrário, começou a estruturar a sua escala tendo por base análises factoriais empíricas, ainda antes desta começar a ser usada noutros estudos. Assim sendo os seus factores constituíram uma base mais refinada para o desenvolvimento de trabalhos nesta área

No estudo inicial que deu origem à MFODS, Hoelter (1979) aplicou um questionário contendo vários itens com resposta em escala de Likert a uma amostra de 143 homens e 232 mulheres, todos estudantes universitários. Após análise factorial dos resultados obtidos identificou oito factores que denominou da seguinte forma:

1) medo do processo de morrer (ex: morte dolorosa ou violenta),

2) medo dos mortos ou dos restos mortais (ex: evitamento de restos mortais humanos ou animais),

3) medo de perda da integridade (ex: dissecção ou cremação),

4) medo por pessoas significativas (ex: reacção das pessoas significativas à morte do sujeito ou reacção do próprio à morte de pessoas significativas),

5) medo do desconhecido (ex: medo de deixar de existir),

6) medo da morte consciente (ex: receio de poder ser declarado morto sem o estar de facto),

7) medo pelo corpo depois da morte (ex: preocupação com a decomposição do corpo e seu isolamento) e

8) medo da morte prematura (ex: preocupação de que a morte possa impedir a concretização de objectivos de vida importantes).

As análises realizadas sugeriram uma estrutura factorial muito clara para o tipo de população em estudo.

Estudos desenvolvidos posteriormente por Walkey (1982), com 256 estudantes e seus familiares na Nova Zelândia, conseguiram replicar praticamente a mesma estrutura factorial obtida por Hoelter (1979). Quase todos os estudos realizados posteriormente com amostras de estudantes provenientes de culturas ocidentais replicaram a estrutura proposta. Outros autores sugerem a necessidade de utilizar o instrumento com alguma precaução com indivíduos provenientes de outra base cultural e que não sejam estudantes(Guadagnoli e Velicer, 1988).

Análises mais específicas realizadas por Moore e Neimeyer (1991) permitiram identificar o que parece ser um factor ortogonal global, para além dos factores já mencionados. Este factor a ser verificado em mais investigações poderia dar um valor global de medo perante a morte que transcenderia os restantes valores obtidos (Neimeyer e Moore, 1994).

Estudos procurando estabelecer a validade de constructo deste instrumento (DePaola, Neimeyer, Lupfer e Fiedler, 1994) administraram a MFODS e o Índice de Ameaça (TI), bem como outras duas escalas de atitudes face aos idosos e ao envelhecimento, a 145 pessoas que trabalhavam em lares de terceira-idade e a 130 indivíduos de um grupo de controlo. Demonstraram que os valores obtidos no TI e os do MFODS se

correlacionavam significativamente. Também verificaram que todos os factores da MFODS apresentavam correlações positivas significativas com os níveis de ansiedade face ao próprio envelhecimento, sendo significativamente mais baixos em indivíduos mais velhos (DePaola et al, 1994).

Também procurando obter dados mais concretos acerca da validade desta medida, Holcomb, Neimeyer e Moore (1993) aplicaram esta escala a 540 estudantes a quem simultaneamente pediam que escrevessem uma narrativa abordando os seus significados pessoais acerca da morte. Os autores constataram que os sujeitos tendiam a abordar temáticas significativamente distintas consoante os factores da MFODS que apresentavam mais elevados. Este estudo procurou demonstrar a validade convergente dos diferentes factores propostos por Hoelter em 1979.

Para testar a fiabilidade teste-reteste da MFDOS, Neimeyer e Moore (1994) administraram a escala a 106 estudantes com três semanas de distância e demonstraram que os valores obtidos nos diferentes factores se mantinham estáveis no tempo reflectindo aspectos do medo perante a morte que pareciam ser duradouros.

Finalmente, Neimeyer e Moore (1994) procuraram averiguar a relação entre os valores obtidos na MFDOS e alguns aspectos sócio-demográficos e relativos a crenças específicas das populações estudadas. Para tal, aplicaram a MFDOS, o TI e outras questões relevantes a 952 pessoas de proveniências diversas (organizações humanitárias, escolas, igrejas, agências de serviço social, grupos terapêuticos, entre outros) com idades entre os 18 e os 92 anos e de ambos os sexos.

Como forma de estabelecer inicialmente um teste à validade da MFDOS, foi colocada aos indivíduos a seguinte questão: “Do you feel you have worked out a satisfatory philosophy of life and death?” (Neimeyer e Moore, 1994 p.109), que poderá ser traduzida como: “Pensa ter encontrado uma filosofia perante a vida e a morte que considera satisfatória?”.

Os indivíduos foram separados em dois grupos consoante a sua resposta fosse afirmativa ou negativa, uma vez que o estudo anteriormente referido sobre as narrativas dos significados pessoais acerca da morte (i.e. Holcomb et al, 1993), parecia indicar que indivíduos que sentiam possuir uma filosofia de vida satisfatória apresentavam valores mais baixos de medo perante a morte

Confirmando as expectativas dos autores, os indivíduos que julgavam ter encontrado uma filosofia de vida e de morte satisfatórias, obtinham valores significativamente mais baixos em todos os factores da MFDOS quando comparados com os que respondiam negativamente à questão.

Relativamente às variáveis demográficas estudadas, os dados obtidos mostraram que tal como noutros estudos já realizados com instrumentos relativos ao medo ou à ansiedade perante a morte (Neimeyer, 1988), as mulheres reportam significativamente mais medo da morte em quase todos os factores da MFDOS. A única excepção reside no factor 5 (medo do desconhecido) em que as mulheres apresentam valores mais baixos do que os homens. Para os autores este resultado poderá relacionar-se com níveis mais elevados de religiosidade encontrados nas mulheres que facilitam a crença numa continuidade da vida depois da morte (Neimeyer e Moore, 1994).

A idade dos respondentes também tem um impacto directo nos valores da MFDOS tal como constatado no estudo de DePaola et al (1994). Quanto mais velhos os indivíduos mais baixos os valores de medo da morte. O único factor que não correspondeu a esta expectativa foi igualmente o factor 5 (medo do desconhecido) no qual os indivíduos mais velhos apresentavam níveis significativamente mais elevados de medo (Neimeyer e Moore, 1994).

Sumariando; os vários estudos realizados no sentido de validar a estrutura factorial da MFDOS parecem convergir na conclusão de que este instrumento apresenta boas qualidades psicométricas no seu formato de octofactorial, permitindo resultados úteis quando usado em investigação no campo das atitudes perante a morte.