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A Coping With Death Scale ou Escala de Coping perante a Morte, a Death Self-Efficacy

3.2 AS MEDIDAS DESENVOLVIDAS PARA A MENSURAÇÃO DAS ATITUDES PERANTE A MORTE

3.2.7 A Coping With Death Scale ou Escala de Coping perante a Morte, a Death Self-Efficacy

Morte e Doação de Orgãos

Embora pareça indiscutível que a tendência humana é a de temer a morte, o simples reconhecimento desta realidade não nos permite perceber a forma como lidamos com a morte quando com ela somos confrontados.

Grande parte da investigação no âmbito da educação para a morte tem sobretudo assentado em torno de medidas destinadas a avaliar a ansiedade perante a morte mais do que procurar um perfil de competências necessário para lidar com a mesma.

Bugen (1980-81) deu maior ênfase à necessidade de avaliar e promover as competências em torno do lidar com a morte. Este autor desenvolveu um programa de treino de competências no lidar com a morte para voluntários na área dos cuidados paliativos, do qual emergiu uma escala de competências específicas com base na auto- avaliação subjectiva acerca das competências específicas que julgavam ter desenvolvido durante o programa. Este instrumento servia para: 1) medir os ganhos sentidos pelo programa, 2) monitorizar a eficácia da informação transmitida e 3) enfatizar o desenvolvimento de estratégias para lidar com a morte (death coping) como uma finalidade desejável da educação para a morte.

Para Robbins (1994) a proposta de Bugen deve ser complementada pela de Bandura (1986) relativa ao desenvolvimento de competências através da imitação dos comportamentos sentidos como desejáveis (aprendizagem social) e relativa à noção de auto-eficácia. Esta noção seria particularmente importante para conseguir uma alteração de comportamentos que pressupõem atitudes duradouras. Para se conseguir implementar estes comportamentos as pessoas têm de acreditar que são competentes e eficazes para alcançar a mudança de um comportamento que irá trazer benefícios para elas e para os outros.

Associando estes dois importantes contributos, Robbins (1994) desenvolveu diversos estudos na área das competências para lidar com a morte que culminaram na melhoria do instrumento proposto por Bugen (1980-81) e na geração de outras duas escalas no âmbito da auto-eficácia perante a morte.

Num primeiro estudo, Robbins (1994) aplicou a Escala de Coping com a Morte de Bugen (1980-81) a 94 estudantes universitários, conjuntamente com a DAS (Templer, 1970), com a Escala de Medo da Morte de Colett-Lester (Lester, 1994), com 3 itens, gerados por si, para averiguar em que medida os estudantes se sentiam auto-eficazes (“Eu estou profundamente comprometido com o meu trabalho”, “ Eu sou muito assertivo” e “ Estou muito seguro acerca do meu propósito de vida”) todos avaliados numa escala de Likert de 7 pontos. Para além da análise da qualidade psicométrica dos instrumentos, procurou também verificar se existia alguma relação entre os resultados obtidos nesta escala e a predisposição dos estudantes para apresentar alguns comportamentos de antecipação da morte tais como: 1) escrever um testamento, 2) deixar todos os documentos e procedimentos legais, necessários depois da sua morte, organizados (“planning one´s

estate”), 3) tornar-se dador de mas e 4) preparar o seu próprio funeral.

A escala de Bugen (1980-81) compreende 30 itens relativos a diversos aspectos do lidar com a morte (e.g. saber quais os serviços que as agências funerárias providenciam, expressar medos acerca da morte, antecipar perdas futuras, ajudar pessoas em luto, antecipar a própria morte, entre outros). Os respondentes deverão indicar em que medida concordam com a afirmação no que respeita o seu próprio comportamento numa escala de Likert de 7 pontos cujos pólos são “discordo completamente” e “concordo completamente”. Robbins (1994) aplicou esta escala duas semanas depois aos mesmos estudantes.

Deste estudo verificou-se que a escala de Bugen apresentava bons níveis de consistência interna (alfa de Cronbach de .89), era estável em teste-reteste com duas

semanas de distância (.91) e apresentou correlações positivas significativas com diversos comportamentos de antecipação da morte.

Igualmente significativa foi a relação entre a Escala de Coping com a Morte de Bugen e dois dos três itens para medir a auto-eficácia (“Eu sou muito assertivo” e “ Estou muito seguro acerca do meu propósito de vida”). O item relativo ao trabalho não apresentou correlações significativas.

A autora não reporta quaisquer dados relativos à relação entre os valores obtidos na Escala de Coping com a Morte de Bugen (1980-1981) e a DAS ou a Collet-Lester (deduzimos que nenhum valor significativo tenha sido encontrado), o que pensamos constituir um aspecto menos bom desta validação psicométrica.

Num segundo estudo mais reduzido, Robbins (1994) aplicou a escala de Bugen (1980- 81) a um grupo de 13 voluntários na área dos cuidados paliativos, que se encontravam a realizar uma formação na área da morte. A aplicação do questionário ocorreu imediatamente antes da formação e logo após a mesma. Os resultados obtidos não permitiram constatar mudança de estratégias de coping perante a morte neste grupo, ao contrário do previsto por Bugen (1980-81).

No terceiro estudo, Robbins (1994) gerou uma escala de auto-eficácia perante a morte destinada a voluntários no âmbito dos cuidados paliativos. Compreende 42 itens avaliados de 0 a 100 no que respeita o grau de certeza que a pessoa tem em como manifesta um determinado comportamento em diversos âmbitos profissionais e pessoais relacionados com o contacto com a morte (e.g. compreender os limites do seu papel de voluntário, ouvir um paciente moribundo, tocar num corpo morto, fazer um check-up médico, preparar o seu testamento, ir a uma morgue, visitar um amigo que está a morrer, entre outros). Aplicou esta nova escala conjuntamente com a escala de coping com a morte (Bugen, 1980-81), a DAS, o Personal Orientation Inventory ou Inventário de Orientação Pessoal de Maslow (1970 cit. p. Robbins, 1994) destinada a medir a orientação de vida, uma listagem de comportamentos de antecipação da morte

semelhantes aos do estudo anterior e um registo do número de mortes de pessoas próximas.

O conjunto dos instrumentos foi aplicado a 320 voluntários provenientes de seis unidades de cuidados paliativos da Pensilvânia, os quais variavam no grau de contacto com os pacientes e no tempo de trabalho nas respectivas unidades (e.g. estagiários com menos de 2 meses a trabalhar como voluntários, voluntários de médio termo com antiguidade de 2 a 42 meses de trabalho, voluntários de longo termo com mais de 42 meses de trabalho. Novamente a escala de coping com a morte, à semelhança do estudo anterior apresentou bons níveis de consistência interna (. 90) à semelhança da nova escala de auto-eficácia (. 94).

Neste estudo concluiu-se que os valores obtidos na escala de coping com a morte variam consoante o tempo de trabalho, pois os voluntários de médio e longo termo obtiveram níveis mais elevados de coping com a morte por comparação com os estagiários. A DAS não variou na amostra. A escala de auto-eficácia perante a morte não permitiu distinguir os três grupos quanto ao tempo de trabalho mas distinguiu os que tinham mais contacto com pacientes dos que tinham menos contacto, sendo que os primeiros apresentavam valores mais elevados de auto-eficácia perante a morte.

Os resultados da análise das relações entre a escala de Maslow com a escala de coping com a morte e com a escala de auto-eficácia perante a morte e com DAS não são conclusivos.

Tanto a escala de auto eficácia perante a morte quanto a escala de coping perante a morte correlacionam-se positivamente com o número de mortes de pessoas próximas, bem como com o número de comportamentos de antecipação da própria morte admitidos como possíveis.

Em outros dois estudos Robbins (1994) procedeu ao desenvolvimento de um programa para ajudar os profissionais de saúde a obter maior eficácia na sensibilização das

famílias de potenciais dadores de órgãos para autorizar essa doação dos seus entes queridos. Para tal, desenvolveu uma formação à semelhança do proposto por Bandura com depoimentos de pessoas que tinham acedido à doação de órgãos por parte dos seus familiares e de pessoas que tinham recebido órgãos e posteriormente eram colocados em situações de role-play para treinar a sua capacidade para comunicar com as famílias num momento tão difícil em relação à doação de órgãos. Antes desta formação Robbins desenvolveu uma escala de auto eficácia relativamente à doação de orgãos, mas com 13 itens. Esse instrumento foi aplicado antes e logo após a formação. Nesta escala, à semelhança da escala de auto-eficácia perante a morte destinada a voluntários, era pedido que de 0 a 100 se classificasse o grau de certeza de se ser capaz de realizar e perceber alguns aspectos, neste caso referentes à doação de órgãos (e.g. perguntar à família se já pensou na doação de órgãos do seu familiar, perceber o conceito de morte cerebral, tornar-se doador de órgãos, planear apropriadamente a conversa com a família acerca da doação, entre outros). A escala foi aplicada a 48 participantes e demonstrou consistência interna elevada (. 90). Na sequência da formação, os níveis de auto-eficácia relativamente à doação de órgãos aumentaram de 72.9 para 82.3, o que leva a pensar que a formação é eficaz, pelo menos, no curto prazo. As três medidas estudadas e desenvolvidas pela autora são relevantes pela nova abordagem que importam para o âmbito da medida atitudinal perante a morte.