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A Fear of Personal Death Scale ou Escala do Medo Pessoal da Morte

3.2 AS MEDIDAS DESENVOLVIDAS PARA A MENSURAÇÃO DAS ATITUDES PERANTE A MORTE

3.2.5 A Fear of Personal Death Scale ou Escala do Medo Pessoal da Morte

Este instrumento foi proposto por Florian e Kravetz (1983) tendo por base a perspectiva de que o medo da morte corresponde a uma característica natural e normal da experiência humana.

No estudo que gera o instrumento, os autores partem do pressuposto de que o medo pessoal da morte é algo suficientemente independente de outros aspectos do medo perante a morte para ser considerado como um aspecto a necessitar de mensuração específica (Florian e Kravetz, 1983).

Grande parte dos estudos que examinaram a dimensão do medo pessoal da morte geraram instrumentos unidimensionais através da mensuração da intensidade da ansiedade perante a morte, reportada pelo próprio (Templer, 1970 e Lester, 1994). Porém, não acederam às diferenças qualitativas nos significados que cada indivíduo pode associar quando pensa na sua morte e que poderiam ajudar a compreender a complexidade do medo pessoal da morte tal como sugerido por Kastenbaum e Costa (1977).

Tendo em conta este aspecto, Florian e Kravetz (1983) procuraram testar um modelo multidimensional dos significados subjacentes ao medo pessoal da morte.

Baseando-se na análise de investigações teóricas e empíricas de diversos autores nesta área (Kastenbaum e Aisenberg, 1973; Minton e Spika, 1976 e Kastenbaum e Costa, 1977), Florian e Kravetz (1983) sugerem que o medo pessoal da morte tem três níveis distintos de expressão no que respeita às consequências da morte. Estes são: 1) o nível intrapessoal, 2) o nível interpessoal e 3) o nível transpessoal. Deste modo, o medo pessoal da morte pode estar relacionado com o impacto esperado da própria morte ao nível mental e físico, ao nível dos familiares e amigos e pode também comportar questões relacionadas com a natureza transcendente do eu após a morte.

Esta escala foi construída como reflectindo um constructo multidimensional, à semelhança da MFDOS de Hoelter (1979) mas, segundo os autores, tem uma base teórica mais sólida do que esta e difere igualmente no tipo de amostra com que foi validada, uma vez que a amostra de Hoelter não apresentava características específicas no que concerne os níveis de religiosidade nem de afiliação a uma crença religiosa específica. A escala de Florian e Kravetz (1983) foi construída tendo por base amostras de judeus israelitas com diferentes graus de crença religiosa.

A religiosidade tem sido referida por diversos autores como um factor importante, uma vez que a existência de uma crença religiosa tenderia, segundo diversos autores, a diminuir o medo perante a morte (Feifel, 1977; Feifel e Nagy, 1981; Long e Elghanemi, 1987 e Malty e Day, 2000).

Florian e Kravetz (1983) procuraram inicialmente averiguar em que medida é que uma escala multidimensional do medo consciente da morte do próprio, permite diferenciar níveis de religiosidade.

Através da revisão bibliográfica realizada pelos autores e da análise das respostas de 50 estudantes de ciências sociais e humanas aos quais foi pedido que elaborassem listas de razões que os fariam temer a sua própria morte, foram inicialmente formulados 50 itens posteriormente submetidos à apreciação de um painel de três psicólogos. Este painel avaliou cada item relativamente aos critérios teóricos estabelecidos pelos autores do estudo. Deste modo foi estabelecido que os itens para a avaliação do medo da morte pessoal seriam relativos ao “conscious fear of death

that is attributed to the intrapersonal, interpersonal or transpersonal consequences of death” (Florian e Kravetz, 1983 p.602). Desta avaliação resultou um conjunto de 39

itens que constituíram a escala preliminar e que foram aplicados a uma amostra de 145 estudantes universitários. A cada item foram permitidas sete categorias de resposta oscilando entre “totalmente correcto para mim” e “totalmente incorrecto para mim”.

A análise factorial aos 145 resultados obtidos determinou a eliminação de um item bem como pequenas alterações a outros.

Para obter dados acerca da fiabilidade teste-reteste, foram aplicados os 38 itens a uma amostra de 42 estudantes universitários, por duas vezes, com um intervalo temporal de 6 semanas. Os resultados da consistência de respostas nos dois momentos, permitiram que se conservassem apenas 31 itens e chegou-se assim à versão final da escala de medo pessoal.

Posteriormente. Procedeu-se à aplicação da versão final a 178 indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 18 e os 92 anos de idade entre os quais se encontravam estudantes universitários, estudantes de escolas judaicas ortodoxas e militares, todos residentes em Israel e de religião professada judaica. Conjuntamente com a escala de medo pessoal da morte foram aplicados 1) um questionário sócio-demográfico, 2) o índice de religiosidade judeu (JRI) de Mas-Meir e Kadem (1979 cit. p. Florian e Kravetz, 1983) e 3) quatro cartões de um teste projectivo (Teste de Apercepção Temática de Murray – TAT).

A hipótese inicial era a de que os indivíduos atribuiriam o seu medo pessoal da morte às suas consequências intrapessoais, interpessoais e transpessoais. Da análise de componentes principais, emergiram seis factores que se integravam nas três dimensões com influência sobre o medo pessoal da morte (Florian e Kravetz, 1983). O primeiro e segundo factores foram respectivamente “medo da perda de auto- realização” e “medo da aniquilação” e corresponderiam aos aspectos intrapessoais do medo da morte. O terceiro e quarto factores foram respectivamente “medo das consequências da morte para a família e amigos” e “medo da perda de identidade social” e corresponderiam aos aspectos interpessoais do medo da morte. Finalmente, o quinto e sexto factores foram respectivamente “medo do desconhecido” e “medo da punição depois da morte”, que aparentam reflectir os aspectos transpessoais associados ao medo pessoal da morte (Florian e Kravetz, 1983).

Um dos resultados não previstos pelos autores consistiu na existência de dois factores para cada um dos níveis contemplados no modelo. Destes factores, um reporta uma componente mais activa do medo pessoal e o outro uma componente mais passiva. No que respeita às diferenças devidas aos níveis de religiosidade, verificou-se que o grupo mais religioso (n=65) apresentava valores significativamente mais elevados no factor 6 (“medo da punição depois da morte”) e valores significativamente mais baixos no factor 2 (“medo da aniquilação”) do que o grupo não religioso (n=55). O grupo com níveis de religiosidade moderados (n=58) apresentava valores significativamente mais elevados no factor 3 (“medo das consequências da morte para a família e amigos”), do que os outros dois grupos.

No que respeita a validade de constructo, Florian e Kravetz (1983) constataram que os factores obtidos eram semelhantes aos apresentados por Hoelter (1979) na MFDOS, ainda que as bases teóricas sejam distintas.

Posteriormente, os autores desta escala rumaram a uma nova linha de investigação relativa ao medo pessoal da morte perante a vivência de diferentes fases de um luto ou perda. Florian e Mikulincer (1997) constataram que os indivíduos em idade adulta que tinham sofrido perdas significativas durante a infância ou adolescência apresentavam níveis mais elevados no terceiro factor (“medo das consequências da morte para a família e amigos”) e quarto factor (“ medo da perda de identidade social”) que reflectem a esfera interpessoal. De forma diversa, os indivíduos que tinham sofrido perdas recentes apresentavam níveis mais elevados no segundo factor (“medo da aniquilação”) e no quinto factor (“medo do desconhecido”) que remetem simultaneamente para os níveis intrapessoal e transpessoal da vivência do medo da morte. Estes resultados apontam para uma dependência da vivência do medo da própria morte do tempo decorrente das próprias perdas.

3.2.6 O Death Attitude Profile – Revised ou Perfil de Atitudes Perante a Morte –