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pelo ministério público federal: análise da decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região

3.  Acordo de leniência

Algumas considerações sobre a figura do acordo de leniência são importantes para a contextualização do objeto deste estudo.

O acordo de leniência é utilizado no direito brasileiro para definir “acor- dos celebrados entre a Administração Pública e particulares envolvidos em ilícitos, por meio dos quais estes últimos colaboram com a investigação e recebem em benefício a extinção ou redução das sanções a que estariam sujeitos por tais atos ilícitos” (SANTOS, 2014).

Para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o acordo de leniência é “uma espécie de colaboração premiada em que há abrandamento ou até exclusão de penas, em face da colaboração na apuração das infrações e atos de corrupção”, objetivando celeridade na persecução penal e na recuperação dos danos causados ao patrimônio público pela prática dos atos ilícitos.

Importado do direito norte-americano, foi introduzido oficialmente no ordenamento jurídico brasileiro com a Lei 10.149/20007 que, ao reformar

parcialmente a Lei 8.884/1994, a qual visava o combate de práticas ilícitas contra a ordem econômica, previu a possibilidade de a União, através da Secretaria de Direito Econômico, firmar acordo de leniência com pessoas físicas e jurídicas que fossem infratoras à ordem econômica e que colabo- rassem com as investigações, resultando na extinção da pretensão punitiva do Estado ou a redução das penalidades que eventualmente fossem devidas. Um ano mais tarde, a Lei Antitruste (12.529/2011) revogou a legislação anterior e atribuiu expressamente ao CADE – Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (autarquia pública federal) a competência para, no âmbito da administração pública federal, celebrar os acordos de leniência de forma irrestrita, com a possibilidade de extinção da punibilidade ou redução de sanções administrativas, inclusive no âmbito penal.

Também a Lei 12.846/2013, denominada de Lei Anticorrupção, trouxe em seu bojo a figura do acordo de leniência, com algumas peculiaridades relevantes em relação ao que vinha disposto na Lei Antitruste. Em que pese a restrição de paginação deste artigo, reputa-se importante a transcrição do artigo 16, da referida lei, para os fins aos quais o artigo se propõe:

Art. 16. A autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública poderá celebrar acordo de leniência com as pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos previstos nesta Lei que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo, sendo que dessa colaboração resulte:

I – a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e II – a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração.

§ 1º O acordo de que trata o caput somente poderá ser celebrado se pre- enchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I – a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para a apuração do ato ilícito;

II – a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração investigada a partir da data de propositura do acordo;

III – a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, compa- recendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.

§2º A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das sanções previstas no inciso II do art. 6o e no inciso IV do art. 19 e reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável.

§ 3º O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação

de reparar integralmente o dano causado.

§ 4º O acordo de leniência estipulará as condições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.

§ 5º Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo econômico, de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições nele estabelecidas.

§ 6º A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após a efetivação do respectivo acordo, salvo no interesse das investigações e do processo administrativo.

§ 7º Não importará em reconhecimento da prática do ato ilícito investigado a proposta de acordo de leniência rejeitada.

§ 8º Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica ficará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de 3 (três) anos contados do conhecimento pela administração pública do referido descumprimento.

§ 9º A celebração do acordo de leniência interrompe o prazo prescricional dos atos ilícitos previstos nesta Lei.

§ 10. A Controladoria-Geral da União – CGU é o órgão competente

para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo fede- ral, bem como no caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.

A redação do artigo não poderia ser mais clara: na atuação direta para o combate à corrupção, compete à autoridade máxima de cada órgão ou entidade da administração pública federal firmar acordo de leniência com as pessoas jurídicas responsáveis pela prática de atos ilícitos e, no âmbito do Poder Executivo Federal, essa autoridade é a Controladoria-Geral da União. Diz a lei, ainda, que o acordo de leniência não eximirá a pessoa jurídica da responsabilidade de reparar integralmente o dano causado ao patrimônio público do ente lesado.

Embora a redação do artigo seja clara, o Ministério Público Federal vem firmando acordos de leniência sem a participação do órgão legalmente legitimado e tampouco da Advocacia-Geral da União e do Tribunal de Contas, gerando embates semelhantes ao que se apresenta no processo em estudo.

4.  Responsabilização administrativa e civil das pessoas jurídicas de

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