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Institucionalidade da união de nações sul-americanas

Reflections for the Union of South American Nations

3.  Institucionalidade da união de nações sul-americanas

Com a considerável extensão da corrupção transnacional a partir da atuação de grandes empresas que atuam com finalidade de apropriar-se da agenda pública, bem ilustrada a partir do panorama do Caso Odebrecht em vários países da América do Sul, exsurge a reflexão sobre uma proteção transnacional da integridade, até mesmo multinível.

16 CAPERS, Robert L., WEISSMANN, Andrew, op cit., 36.

17 GARCIA, Jacobo. Los vínculos entre Maduro y Odebrecht que aceleraron la huida de

la fiscal rebelde de Venezuela. El País. Cuidad de México. Disponível em <https://elpais.com/ internacional/2017/08/19/america/1503172609_719210.html>. Acesso em 04 de dezembro de 2017.

Contudo, é preciso refletir sobre a necessidade de um órgão supranacio- nal, tal como revela a experiência da União Europeia, capaz de fomentar, ou mesmo garantir, a partir de ferramentas concretas, um esforço regional, no contexto e limites da América do Sul, de proteção da integridade, mor- mente a partir de normas uniformes e eficientes relacionadas à prevenção e punição a fraudes nas contratações públicas.

Contudo, a história das relações na América do Sul é marcada pela desconfiança mútua, até hoje presente em diversas ocasiões. Desde os movimentos de independência do século XIX, a região fragmentou-se em muitos Estados num modelo de relação político-econômica marcado pelo isolamento recíproco, enquanto cada qual relacionava-se com potências europeias ou com os Estados Unidos. 19

Após várias tentativas de aproximação regional desde os anos 50, mor- mente no campo comercial, no final da década de 2000 deu-se início a uma articulação de aproximação e relacionamento entre os países da América do Sul no mais diversos campos, com destaque para a política, energia, defesa, saúde e educação, criando-se, em 2008, a União das Nações Sul-americanas – UNASUL, como organização dotada de personalidade jurídica interna- cional, formada por 12 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.20

Segundo o tratado Constitutivo da UNASUL, seu objetivo é: Artigo 2

Objetivo

A União de Nações Sul-Americanas tem como objetivo construir, de maneira participativa e consensual, um espaço de integração e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos, priorizando o diálogo político, as políticas sociais, a educação, a energia, a infraestrutura o financiamento e o meio ambiente, entre outros, com vistas a eliminar a desi- gualdade socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a democracia e reduzir as assimetrias no marco do fortalecimento da soberania e independência dos Estados.

19 SIMÕES, Antônio José Ferreira. Unasul: a maturidade da américa do Sul na construção

de um mundo multipolar. Tem Mund., Fortaleza, v.4, n.7, jul/dez. 2008, p. 66.

A UNASUL tem um perfil diferente das outras iniciativas de aproxi- mação e se aproxima mais de um instrumento de governança regional do que de uma iniciativa integracionista. Há uma ênfase na dimensão política, em convivência e complementada por diversas articulações com enfoques comerciais em vigor na américa do Sul (aliança do Pacífico, Alba, Mercosul).21

Consta de seus objetivos específicos: (grifos nossos): Artigo 3

Objetivos Específicos

A União de Nações Sul-americanas tem como objetivos específicos: h) o desenvolvimento de mecanismos concretos e efetivos para a

superação das assimetrias, alcançando assim uma integração equitativa;

q) a coordenação entre os organismos especializados dos Estados Membros, levando em conta as normas internacionais, para fortalecer a luta contra o terrorismo, a corrupção, o problema mundial das drogas, o tráfico de pessoas, o tráfico de armas pequenas e leves, o crime organizado transnacional e outras

ameaças, assim como para promover o desarmamento, a não proliferação de

armas nucleares e de destruição em massa e a deminagem;

Em que pese a descrição de objetivos programáticos, constata-se, da estrutura normativa constituída da UNASUL, conforme seu Tratado, que não há competência, nem ferramentas concretas, para uma tutela efetiva da integridade, tal como ocorre a União Europeia.

Avanço considerável do programatismo ao pragmatismo deu-se com o advento do Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da UNASUL, assinado em novembro de 2010, na Cúpula de Georgetown. O Protocolo Adicional assegura uma estabilidade democrática aos países da região e cria a “cláusula democrática”, por meio da qual os Estados-membros reforçam o compromisso de promoção, defesa e proteção da ordem democrática interna e regional no âmbito da América do Sul.22

21 FREITAS, Raquel Coelho de. A UNASUL e o papel da democracia nos países da América

do Sul. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.11, n.1, 1º quadrimestre de 2016, p. 69.

De acordo com o artigo 4º Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da UNASUL, a norma será aplicada em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática, de uma violação da ordem constitucional ou em qualquer situação que ponha em risco o legítimo exercício do poder e a vigência da ordem democrática estabelecida nas constituições dos países membros. Entre as medidas a serem adotadas estão a suspensão do direito de participar de órgãos relacionados ao processo de integração e, em casos mais extremos, o fechamento parcial ou total das fronteiras terrestres, incluindo a suspensão do comércio, do transporte aéreo e marítimo, das comunicações, do fornecimento de energia, e de serviços e suprimentos.

Portanto, em que pese a UNASUL representar um grande esforço de governança regional, com avanço significativo a partir do Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da UNASUL, ainda não tem institucionalidade suficiente para uma proteção multinível da integridade no âmbito regional, tal como problematizado anteriormente.

A UNASUL, tal como constituída, não teria como impor aos estados membros a transposição de um a norma aos seus ordenamentos internos que uniformize-se, no âmbito regional, uma tutela mais efetiva da integridade.

No máximo, considerando a problematização anteriormente colocada, poderia a UNASUL atuar mediantes instrumentos de soft law indutores de uma normatização regional, uniforme e eficiente, reguladora da contratação pública, sob constante observação.

Deste modo, empresas com modelos de negócios corruptófilos encon- trariam na região ambientes bem regulados no que tange à contratação pública, impedindo, com efeito, casos de corrupção transnacionais como no caso Odebrecht.

4.  Modelo transnormativo europeu e adaptações à realidade sul-

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