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– A Study of the Link Between Corruption and Poverty

4.  A relação entre corrupção e pobreza Risco de não efetivação das promessas constitucionais

4.1.  Algumas linhas sobre a probreza

Não há dúvida que a corrupção assola com maior dramaticidade os países ditos em desenvolvimento, ou, nas palavras de Lênio Streck2, de

modernidade tardia, onde os avanços civilizatórios e as instituições ainda se encontram em um nível, por assim dizer, incipiente.

2 In VERDADE E CONSENSO – Constituição, Hermenêutica e Teorias Discursivas.

Quando trazemos a este artigo o tema da pobreza, é importante destacar que este é um conceito que possui diversas dimensões caracterizadoras, não se limitando apenas ao baixo nível de renda. A pobreza possui outras dimensões como o baixo nível de educação e saúde, vulnerabilidade a fatos que atentem contra sua vida, impotência, falta de liberdade, baixa autoestima, ignorância quanto aos seus próprios direitos, discriminação e tantas outras

Os economistas ANTÔNIO PEDRO ALBERNAZ CRESPO e ELAINE GUROVITZ3 asseveram que o indiano ANARTYA SEN, vencedor do

Prêmio Nobel de Economia em 1999, introduziu no conceito de pobreza variáveis mais amplas, admitindo que as pessoas podem sofrer privações em diversas esferas de suas vidas. Desse modo, a pobreza não pode ser definida, tão-somente, a partir da baixa renda do indivíduo. O economista buscou definir a pobreza a partir de uma ótica ligada à privação das capacidades básicas do ser humano, como autodeterminação, liberdade de escolha e de se fazer ser ouvido.

O mesmo artigo escrito para a Revista Eletrônica da Fundação Getúlio Vargas, faz referência a uma pesquisa desenvolvida pela senhora DEEPA NARAYAN, que foi analista de desenvolvimento social sênior do Banco Mundial. Visando informar o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2000/2001 sobre Pobreza e Desenvolvimento, a pesquisadora buscou ampliar os horizontes acerca da conceituação da pobreza e suas causas. Para tanto, realizou entrevistas com populações desprovidas em diversos países do mundo, por meio das quais, destaca o artigo, foi possível detectar uma dimensão psicológica da pobreza que muito explica a indignidade decorrente da impossibilidade de autodeterminação das pessoas que vivem nestas condições marginais:

“Há o aspecto psicológico da pobreza. Os pobres têm consciência de sua falta de voz, poder e independência que os sujeita à exploração. A pobreza os deixa mais vulneráveis à humilhação e ao tratamento desumano pelos agentes públicos e privados a quem, freqüentemente, solicitam ajuda. Os pobres também 3 In A PROBREZA COMO UM FENÔMENO MULTIDIMENSIONAL. Revista Eletrônica

da Fundação Getúlio Vargas, Volume 1, Número 2, Jul-Dez/2002. Disponível em http://rae. fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/10.1590_S1676-56482002000200003.pdf, Consultado em 27/12/2017.

falam sobre a dor causada pela inevitável ruptura com as normas sociais e sua incapacidade de manter sua identidade cultural por meio da participação em tradições, festivais e rituais. A incapacidade de participar na vida comunitária leva a uma ruptura das relações sociais.”

Reproduzindo as conclusões de DEEPA NARAYANE, o artigo transcre o conceito de pobreza desenvolvido pela ex-analista do Banco Mundial:

“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho para uma doença trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e liberdade”.

Portanto, está claro que para as populações marginalizadas do globo, o conceito de pobreza vai muito além da baixa renda, pois envolve a falta de perspectiva, o desespero com o futuro, a falta de amparo social, que pode- riam ser supridos por um Estado cujos serviços públicos se encontrassem organizados para tal finalidade.

Significa dizer que que a pobreza se materializa por um duplo viés; o econômico, decorrente da baixa renda, e o de governança, decorrente da incapacidade ou da indiferença das instituições do Estado em tentar socorrer as pessoas de baixa renda, entregando-lhes serviços sociais que aprimoras- sem suas perspectivas de dignidade, autoconfiança e autodeterminação.

Nesse sentido, cabe destacar que são exatamente esses dois aspectos que, estudiosos da temática entenderam ser maculados pelos processos de corrupção sistêmica presentes em Estados onde se detectam populações em situação de pobreza. A corrupção impacta o desenvolvimento econô- mico ao mesmo tempo em que gera a putrefação dos próprios órgãos de Estado, que deixam de ser estruturados porque o exercício do poder sofre influências nocivas da corrupção.

No ponto, gostaria de citar no Relatório Final denominado “Corruption

and Poverty – A Review of Recente Literature”4, de autoria de Eric Chetwynd, 4 Relatório da lavra de CHETWYND, Eric; CHETWYND, Frances; SPECTOR, Bertram:

Corruption And Poverty – A Review of Recent Literature. Janeiro de 2003, Management

Frances Chetwynd e Bertram Spector, que é cristalino ao diagnosticar que apesar de, por si só, não produzir pobreza, a corrupção promove danos diretos em desfavor da economia e da governança, elementos estes que, quando desconstruídos, tem o efeito de causar pobreza.

“The literature points to the conclusion that corruption, by itself, does not produce poverty. Rather, corruption has direct consequences on economic and

governance factors, intermediaries that in turn produce poverty. Thus, the relationship

examined by researchers is an indirect one. This paper discusses two major models explaining this moderated linkage between corruption and poverty: an economic model and a governance model.5

O que se quer dizer é que a corrupção tem o efeito de frear o desen- volvimento econômico, inibindo o seu papel constitucional de garantir uma existência digna a todos, ao mesmo tempo que distorce o funcionado do próprio Estado que deixa de exercer os papeis de tutor e provedor de direitos fundamentais. Há uma dupla desassistência dos pobres; i) uma por parte da economia, eis que a riqueza gerada não lhes alcança e; ii) outra por parte do próprio Estado que não consegue atender os excluídos em suas necessidades mais básicas. Nesse contexto a pobreza se estabelece em todos os seus aspectos multidimensionais.

Tentaremos, humildemente, adiante, tratar desse duplo impacto da causado pela corrupção.

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