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Capítulo

4.3. Actividades culturais

Os eventos culturais são uma componente importante do processo de consolidação identitária do grupo, incentivados a partir da construção do novo templo. Até essa altura, as actividades culturais encontravam-se sobretudo associadas aos momentos rituais e festivos do calendário hindu e, embora actualmente mantenham um forte cariz religioso, existem também actividades religiosas promovidas pelo Templo de Shiva independentes das celebrações cíclicas. A grande impulsionadora dos primeiros programas culturais a serem organizados no Templo de Shiva foi a escola de gujarati, com os seus jovens estudantes, orientados pelos professores, a prepararem programas culturais compostos por danças e breves encenações em gujarati e inglês, as duas línguas praticadas nas aulas, que incluem também elementos da história da Índia e das principais referências da mitologia hindu. Entre estas actividades, destacam-se os convites a grupos exteriores à comunidade no Templo de Shiva (Associação LusoYoga,

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Hare Krishna, Brahma Kumari, nomeadamente), e a participação da comunidade em eventos exteriores, como é o caso das festas de Loures ou a semana cultural da Fundação Calouste Gulbenkian.

A intensificação destes acontecimentos, incentivada nos últimos anos, comprova a vontade de revitalização de elementos tradicionais e também de promoção da comunidade junto da sociedade envolvente. É neste sentido que Aparna Rayaprol descreve o processo de reprodução cultural através do qual as populações migrantes transmitem aos seus descendentes as referências identitárias:

Many immigrants prefer to retain their ethnic distinctiveness in a plural society rather than assimilate into a non-existing melting-pot (Hirschman 1983). One of the ways immigrant groups cope with the alien environment is by remaining allied to the values and ideologies of their cultures of origin. Another coping strategy is to try to integrate aspects of both the parent and host cultures that are felt to be most amenable to the development of the self-esteem and identity (Sue 1973). Whatever strategy they might adopt, immigrants are primarily concerned with ‘cultural reproduction’ or the process by which they seek to transmit their knowledge, values, belief systems, and behavioral norms to the next generation (Mallea 1988). (Rayaprol, 1997: 61).

A reprodução cultural deverá ser pensada não apenas como um processo de réplica, mas, muito mais, de inclusão de novos elementos culturais, tal como ressalta Rayaprol: «This ideia of reproduction cannot be conceptualized merely as a mechanistic replication, but as a generative process involving innovation and creativity (Jenks 1993: 5). Possibilities of change and new combinations in cultural reproduction become particularly significant in the immigrant context. » (Jenks, 1993: 61-62). De facto, a condição de diáspora proporciona simultaneamente a revitalização de elementos tradicionais e a inovação, através da inclusão de novas referências que conferem à expressão de reprodução cultural um carácter de flexibilidade e transformação. É neste sentido que as mulheres se encontram, como veremos nos próximos capítulos, envolvidas directamente nos processos de transmissão religiosa e cultural.

A análise antropológica deste grupo permite observar a celebração de uma identidade gujarati que recorre a elementos que reavivam sentimentos de nostalgia: a gastronomia, a língua, a música e as danças, para além das referências religiosas que, geralmente, lhes estão associadas. Os grandes eventos religiosos do calendário hindu, como é o caso do Navratri, caracterizam-se por danças e músicas tradicionais, sendo a língua dominante o gujarati; os casamentos envolvem igualmente a distribuição de

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refeições tradicionais gujaratis e a oferta aos convidados de performances de música e dança, bem como danças de grupo tipicamente gujaratis (garba e ras). Outros programas culturais promovidos pela direcção do templo, pela escola de gujarati ou por grupos exteriores, como é o caso das actuações do grupo Swadhyay Parivar, incluem habitualmente música e danças gujaratis, e refeições tradicionais. A língua gujarati é dominante nas actuações, que possuem habitualmente uma tónica religiosa, de que são exemplo as representações das principais passagens da mitologia hindu. Ao mesmo tempo, o português é também utilizado para o contacto entre os membros desta comunidade, bem como para a apresentação destes eventos, quase sempre realizada nas duas línguas.

A maior parte dos eventos que ocorrem no Templo de Shiva é complementada com a distribuição de refeições. Normalmente, as celebrações religiosas que reúnem a comunidade terminam com um almoço distribuído gratuitamente e confeccionado por voluntárias. Outras festividades, particularmente os programas culturais, contam com a venda de pratos da cozinha gujarati e ocidental141. A cozinha gujarati é, efectivamente, um importante elemento de consolidação identitária, sendo indispensáveis ao convívio comunitário os pratos mais populares142.

As actividades culturais da comunidade em estudo incluem também a visita, que se intensificou nos últimos anos, de personalidades, na sua maioria originárias do Gujarate, convidadas a orientar rituais públicos e proferir palestras143. O convite de associações e movimentos espirituais, entre os quais vários grupos de yoga e meditação, os Brahma Kumari e os Hare Krishna, na participação das actividades do templo atrai também os membros da sociedade portuguesa em geral e promove a sociabilidade entre os membros da comunidade e a sociedade envolvente.

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Para além de se venderem aperitivos como chamuças ou bhajiya, vendem-se também batatas fritas acompanhadas de ketchup e refrigerantes ocidentais, mais procurados pelos jovens e crianças.

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O caril vegetariano de batatas ou de beringelas (bateta nu shaak e ringna nu shaak); as sopas (daal,

mugh ni dal, methi kadhi), acompanhados de vários tipos de pão (roti, puri, thepla); aperitivos (bhajiya, dhokla, kachori, sev, ganthia, khakhra); doces (penda, barfi, ladvo, jalebi, gajar halwo).

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A destacar, por exemplo, no Verão de 2007, a visita do sacerdote Shastri Kiritkumar Madhusudan Path para realizar a leitura do Bhagavad Gita e da sessão de ensinamentos vedanta, realizada pela especialista em meditação Subhraji, discípula do mestre vedanta Swami Chinamayananda; e, no Verão de 2008, a visita do Swami Adyojathah, que proferiu uma palestra intitulada “Art of Living”, do Swami Atmaramji, propagador do vedanta e da corrente da bhakti o Swami Mukundananda, sannyasi especialista nos textos religiosos, e ainda de Rameshbhai Oza, um dos mais populares gurus do Gujarate, popular pelos seus seminários espirituais em toda a diáspora hindu. A visita de personagens desta natureza que, geralmente, viajam para as várias comunidades estabelecidas nos diferentes continentes, é um fenómeno característico da diáspora hindu e da sua consolidação (vide Anexos: 254).

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Existem ainda os torneios desportivos organizados pela comunidade. Estes eventos de futebol e futsal são dirigidos ao grupo masculino (vide Anexos: 253). Os programas que ocorrem em dias festivos do calendário ocidental, como é o caso do Natal ou do Carnaval, são comemorados com refeições e actividades alusivas ao dia, como a troca de presentes no Natal, ou o desfile de máscaras no Carnaval. Para além disso, grandes feriados nacionais, como o 10 de Junho, são aproveitados para realizar programas festivos compostos por actuações de grupos de dança144. A participação em eventos culturais do concelho de Loures e mesmo a nível da capital com a preparação de espectáculos de dança e música, vem também introduzir a abertura do grupo à sociedade envolvente e à participação, juntamente com outros grupos, nos acontecimentos culturais da sociedade portuguesa.

Este tipo de actividades promovidas pela direcção do templo enfatizam o sentimento de comunidade e fortalecem a identidade gujarati. Por outro lado, novos elementos culturais são incluídos, como é o caso da celebração de datas festivas do calendário português ou mesmo a popularização de alimentos ocidentais que são consumidos em conjunto com os pratos tradicionais gujaratis. O envolvimento dos mais novos nestas actividades é também um fenómeno recente e resulta da percepção de que muitos dos jovens não dominavam o conhecimento linguístico, cultural e religioso dos seus antepassados e é esta língua que se encontrava progressivamente a desaparecer145. Para além de favorecer a transmissão de conhecimento aos jovens e a partilha do sentido de comunidade dos seus pais e avós, estas actividades promovem a socialização das crianças, habitualmente alheadas dos círculos de sociabilidade dentro da comunidade.

Outros factores são centrais na integração dos mais novos na cultura da Índia. Os canais televisivos indianos encontram-se presentes em todas as casas hindus e funcionam como importantes canais de transmissão cultural146. A cultura popular é transmitida através das telenovelas, dos programas de entretenimento e dos canais musicais e os serviços noticiosos aproximam estes hindus da actualidade da Índia, estando disponíveis na diáspora hindu em Portugal, por cabo e por satélite, uma variedade de canais, entre os quais se destacam: Zee TV, Star Plus ou B4U Music.

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A comemoração do 10 de Junho de 2007 celebrou-se com actuações das crianças da escola de gujarati num palco cujo fundo era a união das bandeiras de Portugal e da Índia (vide Anexos: 226, fotografia 21). 145

Foi este fenómeno que impulsionou, nos grandes centros da diáspora hindu, a criação de escolas de língua materna (cf. Kurien, 1998; Narayan, 1992).

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Entre as famílias mais conservadoras, muitas mulheres não vêm canais portugueses, desconhecendo a realidade cultural da sociedade portuguesa.

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A cultura popular fornece, como vimos, elementos que permitem unir a diáspora através do seu consumo:

Popular culture is an increasingly visible aspect of the Indian Diaspora. Even though Indian Communities all over the world have developed differently, they are connected, in part, through the consumption of various forms of popular culture such as film, television, music and fashion. These are now increasingly produced, distributed and enjoyed across the globe, wherever Indians have settled (Dudrah, 2007: 101).

A indústria cinematográfica comercial da Índia, designada “Bollywood” tem um enorme impacto entre a diáspora, sendo o intenso consumo destes filmes um fenómeno disseminado pela diáspora hindu. O cinema que exibia filmes indianos em Lisboa, o Cinestúdio 222, no Saldanha, cessou a sua actividade mas a circulação de DVD’s e a sua fácil aquisição nas várias lojas das zonas do Martim Moniz e Rossio facilitou ainda mais o acesso a este produto147. Para além de revitalizar a ligação à Índia, o cinema de Bollywood aborda temas particularmente tocantes para a diáspora hindu, ligados à ideia de deslocação, de adaptação a contextos sociais e culturais diferentes (geralmente o Reino Unido e os Estados Unidos), ao conflito de gerações, com personagens que personificam estereótipos associados aos indivíduos em diáspora, como é o caso do regresso dos NRI (Non Resident Indians) à Índia e a revitalização de sentimentos de pertença ou os tumultos gerados em torno dos casamentos transcontinentais148.

O programa de rádio Swagatam, emitido aos domingos de manhã na Rádio Orbital (101,9FM na Grande Lisboa), transmite música indiana (bandas sonoras de Bollywood e música devocional), informações sobre as várias comunidades indianas estabelecidas em Portugal, desde anúncios de eventos a mensagens pessoais dos membros destas comunidades. A existência deste espaço radiofónico há cerca de vinte anos contribuiu para a divulgação da cultura indiana, comum aos diferentes grupos religiosos e a específica a cada um deles através da informação cultural e religiosa respectiva.

Da mesma forma, a moda é um elemento relevante na ligação dos jovens à Índia, particularmente por parte das mulheres. O vestuário e os acessórios indianos (pulseiras, colares, bindis) encontram-se mais disponíveis do que há uma década atrás. Apesar da

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É interessante também referir o crescente interesse por este tipo de cinema pelo público não-indiano e a exibição de alguns filmes em cinemas não exclusivamente dedicados a cinema alternativo.

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existência de lojas da especialidade, o comércio informal, desenvolvido por mulheres que viajam frequentemente até à Índia ou ao Reino Unido, é o mais procurado por oferecer preços mais acessíveis. Muitas das mulheres jovens não usam roupas indianas no dia-a-dia, reservando-as para momentos festivos. Actualmente esta moda ultrapassou as barreiras da diáspora e estendeu-se também à população em geral. As formas de vestuário inspiradas na Índia e popularizadas no ocidente influenciaram também os estilos das mulheres da diáspora hindu.

As mulheres foram, desde o início, as grandes impulsionadoras das actividades religiosas. Ao mesmo tempo que se assiste a um aumento da participação dos jovens nas actividades culturais, são as mulheres mais velhas que organizam as actividades religiosas no templo e nas suas casas. A componente religiosa é o elemento através do qual as mulheres, jovens e idosas, contribuem, com diferentes desempenhos, para a reprodução cultural do grupo e para a reconfiguração do próprio hinduísmo.

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Capítulo 5

Religião: hinduísmo em diáspora

Ao analisar a religião hindu em Leeds, Kim Knott referia, em 1986, a existência de diferentes formas de religião, a vivida no templo e a praticada em espaço doméstico, influenciada por conceitos veiculados pelos movimentos religiosos hindus (Knott, 1986: 6). Contudo, apesar da distinção entre os dois tipos de hinduísmo que refere na introdução do seu livro, Knott assegura que as novas interpretações que surgem das manifestações contemporâneas da religião hindu são integradas no conjunto de crenças e práticas do hinduísmo (Knott, 1986: 6). De facto, as alterações sociais na Índia por um lado, e a viagem transnacional do hinduísmo por outro, foram acompanhadas pelo dinamismo da religião hindu, cujos processos de transmissão incluem a introdução de elementos de mudança conjugados com a continuidade de conceitos e práticas tradicionais. De acordo com Raymond Williams, a religião foi um elemento central do processo de adaptação das comunidades asiáticas às circunstâncias da sociedade americana através de estratégias flexíveis e maleáveis:

Religion has been an important element in the identities created because it both establishes continuity with the past for individuals from each immigrant group and provides a transcendent basis for identity that provides a secure bridge across the chasm between the past abroad and the present here and between the present generation and those to come. That is a major function of religion in the process of transmission of tradition (Williams, 1996: 257).

Do mesmo modo, Venkatachari refere, na mesma obra, que o ritual é o meio de resposta face às pressões externas e, simultaneamente, o veículo de preservação da tradição religiosa. Assim, a função deste é de preservar e ao mesmo tempo, através da

performance, transformar a tradição de acordo com o contexto cultural em que é

desempenhado (cf. Venkatachari, 1996: 189). Os rituais são portanto, importantes mecanismos de preservação, adaptação e transmissão das tradições religiosas hindus aos novos contextos sociais e culturais, sofrendo ao mesmo tempo as transformações ao nível dos horários, do calendário religioso e também da performance da prática ritual. Este fenómeno encontra eco na comunidade em estudo, onde se verifica a alteração dos horários dos rituais face à hora em que são desempenhados na Índia, mudando-se por vezes as celebrações para o fim-de-semana, de modo a que todos os devotos possam participar, a inclusão no calendário de novos dias festivos e, no panteão, de novas

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divindades, como é o caso de Nossa Senhora de Fátima, e a transformação da

performance ritual, simplificada e adaptada às circunstâncias da sociedade envolvente,

caracterizada também pela transformação do estatuto de quem os dirige, neste caso, as mulheres. Regressando à reflexão de Venkatachari, todas estas alterações poderão levantar dúvidas quanto à validade do ritual mas este tem autoridade suficiente para se legitimar a si próprio: «Ritual, understood as the communicative aspect of costumary behaviour, is a primary means of transmission of traditions and has its own power and authority» (Venkatachari, 1996: 188).

O abandono da língua original associada ao ritual por parte dos mais jovens conduz à introdução da tradução para a língua da sociedade envolvente – no caso apresentado por Venkatachari, o inglês – esta é mais uma transformação necessária à adaptação da religião hindu, de que é exemplo a proliferação, entre a diáspora hindu, de traduções e ensinamentos de textos, mantras149 e reflexões teológicas na língua do país de estabelecimento. As explicações que acompanham o desempenho ritual são também adaptadas às línguas locais. De forma aparentemente contraditória, a aprendizagem da língua materna é um dos recursos para a manutenção identitária do grupo e, do mesmo modo que as actividades culturais, contribui para a ligação com o espaço que para muitos é uma realidade abstracta e desconhecida. Narayan demonstrou, através da observação da actividade do templo hindu de Penn Hills, a combinação dos dois fenómenos aparentemente contraditórios: inovação e continuidade no que respeita ao processo de reprodução das tradições hindus. Ao mesmo tempo que os rituais e as grandes festividades do calendário sofrem ajustamentos ao calendário ocidental, sendo alterada a hora e a data da sua execução, são importados sacerdotes da Índia, viajando os deuses cravados nas pedras que serão utilizadas na construção dos futuros templos edificados em território americano, que servirão de espaço central da performance ritual (Narayan, 1996: 163). Através de adaptações necessárias, reforça-se a ligação com a origem e a continuidade dos conceitos e práticas do hinduísmo.

A construção de templos acompanhou os processos de transmissão do hinduísmo e incentivou a consolidação de sentimentos comunitários em torno da mesma referência religiosa. Ainda assim, os processos de construção dos templos não são pacíficos. As diferenças regionais no interior de um grupo hindu podem obrigar à imposição e a cedências no que respeita à escolha das divindades que irão dar o nome ao templo,

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Sílabas ou frases consideradas sagradas. Acredita-se que estas fórmulas têm poderes benéficos para quem os recita.

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originando, por vezes, fragmentações entre diferentes tradições hindus. Vários autores referem a dificuldade na escolha da divindade central do templo, dada a variedade de proveniências da população que irá fazer uso do futuro templo (cf. Venkatachari, 1996; Narayan, 1996). As divindades do culto revelam as preferências regionais dos seus devotos (Waghorne, 2004: 240) e é comum encontrar-se, fora da Índia, templos cujo interior é habitado por deuses pertencentes a diferentes orientações hindus150. É o caso do templo de Shiva, em Santo António dos Cavaleiros, cujas divindades centrais são Shiva e Parvati, mas onde se encontram também as principais referências iconográficas da tradição vishnuíta.

A inovação acompanha os processos de construção dos templos, na Índia e fora dela (Waghorne, 2004: 18 - 20). A autora de Diaspora of the Gods. Modern Hindu

Temples in an Urban Middle-Class World demonstrou como o processo de edificação

do templo hindu transnacional é acompanhado pelo que denomina de «construção de hinduísmos» (Waghorne, 2004: 173). A diáspora dos deuses e dos seus espaços sacralizados origina também modificações a vários níveis: desde a partilha de um mesmo espaço por divindades que, na sua origem, ocupam templos distintos, ao uso que é dado a estes espaços sagrados151, passando pela sua própria configuração arquitectónica152. No caso em estudo, o templo de Shiva, passou já por diversas formas arquitectónicas, por diferentes locais, e a concretização do seu projecto final encontra-se provavelmente longe de ser alcançada. Ainda assim, mais do que a sua morfologia, o seu poder simbólico torna-se relevante para a população que o frequenta, funcionando como elemento unificador dos seus devotos. Recorrente entre a diáspora hindu é também a disseminação, a partir das organizações religiosas locais, de conceitos religiosos assentes em ideologias nacionalistas mais abrangentes que proclamam um

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Shiva e Vishnu são os mais proeminentes deuses do hinduísmo popular (cf. Fuller, 2004: 32). Decorrentes dos seus cultos – que não se excluem mutuamente – surgiram duas grandes correntes religiosas do hinduísmo: o shivaísmo (shaiva) e vishnuísmo (vaishnava). Os devotos de Shiva consideram-no o deus Supremo, o destruidor do universo, que será reparado por Vishnu. Estes dois deuses compõem, juntamente com Brahma, a trimurti, o conjunto das três divindades que possuem três funções cósmicas fundamentais: a criação, manutenção e destruição do mundo. À corrente shivaíta encontra-se ainda associado o culto da deusa. A Deusa-mãe representa o poder feminino de Shiva, shakti, sendo os seus devotos apelidados de shaktas.

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De acordo com Waghorne, os templos hindus em terreno americano e britânico funcionam mais como um espaço de encontro dos seus devotos do que um lugar dedicado exclusivamente ao culto, servindo estes locais para unir os hindus aí residentes através de estratégias de preservação cultural desenvolvidas. Assim, os templos permitem a institucionalização das actividades religiosas bem como a organização ideológica que conduza à coabitação entre o hinduísmo e as formas de vida moderna da sociedade em que se encontra.

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Waghorne destaca os característicos templos dentro de antigas igrejas cristãs (Waghorne, 2004: 196, 203, 215). Sobre esta temática vide também Anexos: 226, fotografia 23.

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hinduísmo uniformizado, promovendo os principais grupos nacionalistas hindus (VHP e