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A DIALÉTICA DA GLOBALIZAÇÃO: UM PROCESSO DE MUDANÇAS

2 A ALDEIA GLOBAL

Nas palavras de José Eduardo Faria (2004, p. 60), pode-se considerar que a globalização tenha-se iniciado no período das grandes navegações, quando países mais fortes no comércio buscavam também unidade do comando político (COELHO, 2003, p.195). Segundo Ivo Dantas (2001, p.109), há quem diga que remonta à época do Império Romano. Em complemento, diz José Eduardo Faria (2004, p. 60): "Ele já estava presente, por exemplo, nos antigos impérios, provocando sucessivos surtos de modernização econômica, cultural e jurídica." Os portugueses eram também agentes globais na época das grandes navegações no comércio com a Índia e outros países da Ásia; a Inglaterra importava vinhos de Portugal e exportava produtos manufaturados para outras partes da Europa18.

17 LEAL FILHO, Antônio Ferreira. Medida por medida: os contrastes da globalização. Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 61,

jan. 2003. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina>. Acesso em: 08 ago. 2007.

A troca de produtos e a procura de melhores lugares para investir sempre foi mola propulsora da atividade econômica mundial19, acentuando-se no início do século XX, caracterizada pelo desenvolvimento dos trustes, das multinacionais e internacionalização das economias mundiais (DANTAS, 2001, p.109). Quando o sistema social mundial põe-se em movimento e se moderniza, começa o mundo a parecer uma espécie de aldeia global. E o propulsor da modernização é a comunicação, mediante a proliferação e generalização dos meios impressos e eletrônicos a alcançarem o mundo todo.20

No âmbito da aldeia global, prevalece a mídia eletrônica como poderoso instrumento de comunicação, informação, explicação e imaginação sobre tudo o que se passa pelo mundo. Os horizontes que se descortinam com a globalização, em termos de integração e fragmentação, podem abrir novas perspectivas para a interpretação do presente, a releitura do passado e a imaginação do futuro.21

O que o mundo já conhecia, em fins do séc. XIX, como monopólios, trustes, cartéis, tecendo geoeconomias e geopolíticas de sistemas imperialistas, ou economias-mundo, prenunciavam os contornos do que seria essa nova configuração mundial.22 Sobre a questão, assim se manifesta Hans Magnus Enzensberger23:

Com o desenvolvimento dos meios eletrônicos, a indústria da consciência converteu- se em marca-passos do desenvolvimento sócio-econômico na sociedade pós- industrial. Infiltra-se em todos os demais setores da produção, assume cada vez mais funções de comando e de controle, e determina a norma da tecnologia dominante...Todas as citadas técnicas (satélites de comunicação, televisão a cabo, vídeos etc.) formam combinações entre si e com as técnicas mais antigas como imprensa, rádio, cinema, televisão, telefone, teletipo, radar etc. Esses meios se combinam cava vez mais para constituírem um sistema universal.

Em aspecto mais evidente, o principal tecido da aldeia global tem sido o mercado, no sentido de que tudo tende a ser comercializado, produzido e consumido como mercadoria. O mundo transformado num mercado global, onde todo mundo fala, pensa e age tecido pelo idioma inglês, que se universaliza, comunicativo e pragmático, expressivo e informático. No

19 MAZO, Miriam Stolses; TEIXEIRA, Márcia Cristina e HERNANDES, Cláudio Aurélio. Estratégia e Globalização.

Disponível em: http://www.esaf.fazenda.gov.br/parcerias/ue/cedoc-ue/leituras-complementares/a3-organismos- internacionais.html;http://www.ead.fea.usp.br/Semead/7semead/paginas/artigos >Acesso em: 16 ago. 2007.

20 IANNI, Octávio. Teorias da globalização. - 3.ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996, p. 93. 21 Ibidem, p.93-98, passim.

22 IANNI, Octávio.Op. Cit., p.98.

23Hans Magnus Enzensberger. Apud IANNI, Octávio. Teorias da globalização. - 3.ed. – Rio de Janeiro: Civilização

decorrer do século XIX, o inglês começou a mundializar-se como idioma do imperialismo britânico. As duas grandes guerras ajudaram-no também a difundir-se como idioma oficial do imperialismo norte-americano e continua assim nos dias atuais.24

Finda a II Guerra Mundial, em 1945, a ordem internacional dividia-se entre aliviar os efeitos da pobreza e a capacitação para o desenvolvimento. A Europa Ocidental desejava reforçar a margem de autonomia econômica, integrando as unidades nacionais em um Mercado Comum (CERVO, p. 39). Na acepção de Bela Balassa (1991, p. 15), o período que se seguiu à II Guerra registrou um aumento do interesse pelos problemas da integração econômica. Havia uma demanda favorável à promoção do desenvolvimento e um repúdio à divisão ideológica do mundo.

O sistema mundial, em curso desde o final da II Grande Guerra e dinamizado com o término da Guerra Fria, contempla economia e política, blocos econômicos e geopolíticos, soberanias e hegemonias, bem como a presença e a vigência de empresas, corporações e conglomerados transnacionais (AGUILLAR, 2006, p.48-49).

Analisando a conjuntura vigente, Fernando Henrique Cardoso25 registra que, depois da queda do muro de Berlim, em 1989, simbolizando o fim da bipolaridade entre a União Soviética e os Estados Unidos, e depois dos avanços tecnológicos, com o predomínio da high tech e da revolução dos meios de comunicação e de transporte, o mundo é outro. As constantes modificações tecnológicas que alteraram o modo de produção e, sobretudo, a escalada do capital financeiro que se globalizou - graças, entre outros motivos à Internet - redesenharam a ordem global.

A globalização, vinculada à idéia de totalidade do globo terrestre, pode ser compreendida como um verdadeira fase evolutiva da história do homem, na qual reina uma transnacionalização cultural, política, comunicativa e, principalmente, econômica, sob cuja égide tendem a desaparecer as fronteiras geográficas e se tornar difícil o exercício da soberania, pois o Estado nacional passa a ser visto como uma província do capitalismo

24 IANNI, Octávio.Op. Cit., p.98, passim.

25 CARDOSO, Fernando Henrique. Caminhos Novos? - Reflexões sobre alguns desafios da globalização. Revista Política

mundializado e sujeito às injunções de organismos internacionais26. Em arremate, diz Fernando Aguillar (2006, p. 40) que

Talvez a transformação política mundial mais importante do nosso tempo seja a progressiva passagem do sistema político do Estado-nação para um Estado sujeito a injunções internacionais, institucionalizadas e não institucionalizadas. [...], as pressões políticas e econômicas internacionais foram afetando suas características principais, como a idéia de soberania e de independência política. As sucessivas guerras passaram a exigir novas formas de relacionamento entre os países, dando origem a organismos internacionais capazes de influir direta e indiretamente na vida deles.

De todos os aspectos da globalização, o econômico é que interessa diretamente a este estudo. O segmento econômico é a realidade que revela o avançado estágio do inter- relacionamento das economias mundiais, em andamento desde o início dos anos 80, marcada pela veloz circulação do capital e pela crescente transnacionalização das redes financeiras e de comunicações, dos processos de produção e comercialização, e dos mercados de consumo, deitadas sobre os avanços científicos e tecnológicos.