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O CADE e alguns Casos Emblemáticos

A ORDEM ECONÔMICA BRASILEIRA E O DIREITO CONCORRENCIAL

4 O SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA

5. O CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA

5.9 O CADE e alguns Casos Emblemáticos

Nos últimos anos, com o aumento da disputa comercial em razão da maior facilidade de aquisição de produtos importados, bem como devido a vultosos incentivos fiscais ao estabelecimento de indústrias estrangeiras no País, foi necessária uma intensa atuação do CADE, visando a preservação do mercado e dos consumidores. Por seu turno, as empresas nacionais, ávidas pela conquista de mercado, inclusive em âmbito internacional, proporcionaram à Autarquia projeção na mídia. Sobre isso, cumpre destacar os casos envolvendo a aquisição da Kolynos do Brasil Ltda. pela empresa Colgate-Palmolive Company, o do desfazimento do negócio referente à aquisição do chocolate Garoto pela Nestlé e o caso, objeto desta pesquisa, que foi fusão da Cia. Cervejaria Brahma com a Cia. Antarctica Paulista, formando a Companhia de Bebidas das Américas – AmBev, em rápidas palavras, pois será tratado no capítulo seguinte.

5.9.1 O Caso KOLYNOS341

A aquisição da Kolynos do Brasil pela Colgate-Palmolive, norte-amerciana, envolveu muita disputa. A Procter & Gamble, também interessada em concretizar o negócio, ingressou com queixa antitruste, afirmando que a combinação Kolynos - Colgate criaria uma força avassaladora no setor de higiene bucal, com quase oitenta por cento do mercado, o que seria capaz de esmagar as concorrentes. 342

341VIANA, Diego Goulart de Oliveira. Op. Cit. Disponível em: http://www.escritorioonline.com > Acesso em: 20 ago. 2007.

342 COELHO, Yuri Carneiro. Disciplina jurídico-constitucional da iniciativa privada . Jus Navigandi, Teresina, a. 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina >. Acesso em: 13 jan. 2007.

Para esse caso da Kolynos havia quatro possibilidades de pareceres: a aprovação total do negócio; a aprovação com termo de compromisso: durante um período a Colgate se comprometeria a fazer investimentos preestabelecidos, a manter unidades de produção, o que garantiria a defesa da concorrência; a reprovação parcial: venda de parte das ações ou a formação de joint ventures, ou ainda a rejeição completa.

O CADE aprovou a compra da Kolynos do Brasil, quase dois anos depois de efetivada a operação, condicionando que a Colgate suspendesse a fabricação e a venda de cremes dentais com a marca adquirida pelo prazo de quatro anos. Essa foi a opção que prevaleceu, pois, em substituição, surgiu no mercado o creme dental Sorriso. A adquirente teve, ainda, a alternativa de licenciar exclusivamente a marca para outro fabricante, pelo prazo de vinte anos, ou simplesmente vendê-la para um concorrente que não detivesse mais de por cento do mercado. Entretanto, ficou proibida de, no mercado brasileiro, cremes dentais Kolynos fabricados em outros países da América-Latina, mas não impedida de utilizar a marca nos mercados de escova dental, fio dental e enxaguante bucal.343

Embora a compra da Kolynos pela Colgate tenha sido realizada no exterior, o CADE teve jurisdição sobre a matéria na medida em que a operação causava impacto no mercado brasileiro. Estes foram os termos para aprovação do negócio, conforme o voto da Conselheira- Relatora, Lúcia Helena Salgado e Silva, verbis:

Aprovo a operação no que concerne aos mercados relevantes de escova dental, fio dental e enxagüante bucal, posto não apresentar dano ou ameaça de dano à concorrência. Aprovo a operação de aquisição da atual KOLYNOS pela COLGATE COMPANY no que concerne ao mercado relevante de creme dental, desde que aceito um dos três conjuntos de condições detalhados abaixo (...).

5.9.2 O Caso GAROTO

A aquisição da Chocolates Garoto pela Nestlé foi definida em fevereiro de 2002. Antes de chegar ao CADE, a tramitação do processo mereceu pareceres da Secretaria Especial de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda, e da Secretaria de Direito

343Artigo Concentração Econômica no Brasil – o CADE. Disponível em: < http// www.economiabr.net/economia/5_cade >.

Econômico (SDE), do Ministério da Justiça. Esta, inclusive, recomendou a rejeição do negócio.

Apreciado o ato de concentração, o Conselho entendeu que a aprovação do negócio prejudicaria a livre concorrência e os consumidores. Assim, a Nestlé teria de vender a Garoto para outra empresa que não possuísse mais de 20% de participação no mercado de chocolates. Entretanto, em face do veto, travou-se um embate envolvendo decisões administrativas, jurídicas e políticas no campo da defesa da concorrência. Nessa disputa, de um lado estava o CADE e, do outro, os interesses da multinacional que busca expandir negócios no Brasil.344

Conforme artigo de Arnaldo Galvão345 a respeito do caso, o Relator do processo, no

encaminhamento do voto, afirmou que a compra da Garoto provocaria grande concentração de mercado em poder da Nestlé, sem garantir resultados econômicos compensadores e que, a aprovação da compra sob condições, determinando a venda de marcas e fábricas, não seria suficiente.

Noutro artigo, de autoria de Márcia De Chiara346, a articulista diz que decisão do CADE foi histórica. Ressaltou que a decisão reafirmou o Conselho como órgão independente e autoridade antitruste, citando Gesner Oliveira.

Entre livre iniciativa e livre concorrência há relação de interdependência. Uma não pode ser contraposta à outra, porque ambas derivam do mesmo Direito fundamental: a liberdade. As liberdades econômicas não têm sentido isoladamente.

5.9.3 O Caso AMBEV

O mercado nacional de cervejas experimentou nas décadas de 70 e 80 uma modificação estratégica. Caracterizava-se pela incorporação de empresas regionais pelas duas

344PEREIRA, José Matias. Defesa da concorrência no Brasil: os efeitos do veto do CADE no ato de concentração da Garoto

pela Nestlé. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 282, 15 abr. 2004. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5097>. Acesso em: 23 ago. 2007

345 GALVÃO, Arnaldo - Cade impede venda da Garoto - Economia - Negócios – Correio Braziliense - 5 fev. 2004. p.17.

Disponível em: < http://www.camara.gov.br -ResenhaNot - Índice de Jornais > Acesso em: 26 maio 2007

346DE CHIARA, Márcia – Defesa da Concorrência – Economia - O Estado de São Paulo – 5 fev. 2004 – p.B-3. Disponível

maiores companhias do mercado - Brahma e Antarctica - evoluindo de uma situação de desconcentração e regionalização para a consolidação de uma estrutura concentrada em escala nacional. A Antarctica possuía um portifólio de trinta e três diferentes marcas de cerveja, incluindo-se nesse rol a Bohemia, Bavária, Polar, Kronebier, e a Antarctica, entre outras; enquanto a Brahma, apenas onze, como exemplos a Caracu, Skol, Miller e Brahma347.

No caso AmBev, apesar de o ato resultar em elevada concentração de mercado, o CADE referendou o ato por entender que a operação não se resumia à fusão em si, mas, a objetivo mais amplo: inserir a bandeira brasileira no estratégico grupo das multinacionais, amplamente dominado por grupos estadunidenses, a fim de que o produto nacional tivesse condições de competir com o similar estrangeiro, buscando tecnologias para melhora do produto, firmando poder e presença no mercado externo.

CAPÍTULO V