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5 CONCENTRAÇÕES EMPRESARIAIS

5.3 Modalidades de Concentração

Embora haja divergência entre os doutrinadores, quanto às formas de união de que se valem as sociedades empresariais, nesta pesquisa adotou-se apenas o termo concentração que, inclusive, no entender de Salomão Filho (1998, p.229 e 230), é o que traduz mais amplitude à matéria. Aliás, como esclarece Luiz O. Baptista (1979, p.183-184), concentração é um termo amplo, de significado econômico; resume-se na diminuição do número de empresas e no aumento relativo do capital; diferente de integração, de conteúdo estratégico, eis que, nesse caso as ações é que se completam, através das relações mantidas as coligadas.

Nuno T. P. Carvalho (1995, p. 91 e 92) define concentração como sendo

todo o ato de associação empresarial, seja por meio da compra parcial ou total dos títulos representativos de capital social [...], seja através da aquisição de direitos e ativos, que provoque a substituição de órgãos decisórios independentes por um sistema unificado de controle empresarial, que este controle seja exercido efetivamente ou não.

Verifica-se concentração empresarial quando o poder de duas ou mais empresas fica reunido em um único centro, falseando a concorrência. Conforme Salomão Filho (1998, p.229 e 230),

161 MARTINS, Eliane Maria Octaviano. Op. Cit. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina >. Acesso em: 17 jul.

2007.

162 FEITOSA, Maria Luiza Pereira de Alencar Mayer. Acordos de cooperação entre empresas e o efeito rede. Jus Navigandi,

Teresina, a. 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em:< http://www1.jus.com.br/doutrina >. Acesso em: 11 dez. 2003.

163 FRANÇA, Rafael Marchiorato. Concentração Industrial e a defesa da livre concorrência. Jus Navigandi, Teresina, a. 5,

é fundamental que as empresas possam ser consideradas como um único agente, do ponto de vista econômico, para todas as operações por elas realizadas [...]; tanto o comportamento no mercado quanto a forma interna de produção e comercialização deve estar sujeita a um único centro decisório [...].

A unificação de empresas é a antítese da concorrência. Uma das conseqüências é que o consumidor perde liberdade de escolha; outra, é a necessidade de verificar quando a concentração incide nas proibições previstas pelo Direito (CARVALHO, 1985, p. 95). O que se destaca é o acúmulo de poder econômico privado a impor-se sobre a sociedade. Enfim, no livre mercado, as concentrações se materializam sob duas modalidades: horizontal e vertical, e o conglomerado.

5.3.1 Horizontal

Neide Malard (1997, p. 57), ensina que esse tipo de concentração caracteriza-se por reunir empresas concorrentes num mesmo estágio do processo produtivo. É a forma tradicional de eliminação da concorrência. Trata-se de operação entre concorrentes diretos. Por exemplo, vários produtores de matérias-primas apresentam-se no mercado como um único bloco. Conseqüência: o prejuízo à competição é imediato, vez que alguns agentes tendem a desaparecer do mercado.

Mediante a Resolução n° 20164, de 1999, o CADE define as práticas restritivas horizontais como sendo

a tentativa de reduzir ou eliminar a concorrência no mercado, seja estabelecendo acordos entre concorrentes no mesmo mercado relevante com respeito a preços ou outras condições, seja praticando preços predatórios. Em ambos os casos visa [...] em conjunto ou individualmente, o aumento de poder de mercado ou a criação de condições necessárias para exercê-lo com maior facilidade.

164BRASIL, Resolução/CADE n° 20, aprovada em 9 de junho de 1999. Publicada no DOU de 28.6.99. Disponível em: <

5.3.2 Vertical

Essa modalidade de concentração ocorre entre empresas que operam em diferentes níveis ou estágios do mesmo ramo industrial, mantendo entre elas relações comerciais, na qualidade de comprador, vendedor ou prestador de serviços. Trata-se de operação em que a incorporadora visa a reduzir e otimizar a aquisição de seus principais insumos, verticalizando sua atuação na cadeia produtiva.

Conforme a Resolução nº 20, nessa forma de integração as práticas restritivas são impostas por produtores ou ofertantes de bens ou serviços, no mercado de origem, sobre mercados relacionados verticalmente ao longo da cadeia produtiva. Na definição de Fábio Nusdeo (1997, p. 272), esse tipo de concentração ocorre

quando vários estágios de produção de um bem são aglutinados por uma mesma empresa ou grupo. Assim, uma empresa que extraia o minério, o refine, produza a folha de aço, exerça a manufatura de objetos de metal extraído desse minério e finalmente os venda no mercado de produtos acabados será um caso de concentração vertical.

As restrições verticais são anticompetitivas quando implicam a criação de mecanismos de exclusão dos rivais, seja por aumentarem as barreiras à entrada de competidores potenciais, seja por elevarem os custos dos já efetivos, ou ainda quando aumentam a probabilidade de exercício coordenado de poder de mercado por parte de produtores ou fornecedores.

Quanto aos benefícios ao consumidor, a verticalização pode proporcionar diminuição significativa dos preços, vez que as fases do processo tornam-se simplificadas, sobremodo, reduzindo custos, mediante controle dos insumos, dos meios de distribuição e produção. A longo prazo, esse tipo de concentração pode criar barreiras à entrada de competidores, facilitando a monopolização (CARVALHO, 1995, p.118).

5.3.3 Conglomerado

Essa forma de concentração empresarial compreende a integração que não possa classificar-se como horizontal ou vertical. Nos dizeres de Rubens Requião (2000, p.264),

conglomerado “é o agrupamento de diversas empresas, de diferentes objetos sociais, sob a ordenação de um comando, mantendo elas suas personalidades próprias.” A principal vantagem do conglomerado é a diversificação. Nesse caso, os agentes de mercado não se dedicam a atividades concorrentes, nem se acham em posição de causa e efeito, p.e.: fornecedor e produtor.

A propósito, Fábio Nusdeo (1997, p. 273) entende que ocorre a conglomeração “quando atividades diversas e, às vezes, aparentemente desconexas são conduzidas sob o comando de um único centro decisório.” Como exemplo, cita o caso de empresas transportadoras, redes varejistas, empresas de jornalismo, atuando como divisões de uma grande empresa ou interligadas por vínculos societários. Entretanto, para Forgioni (1998, p. 359), constituem uma das principais preocupações daqueles que vêem nas concentrações o perigo de formação de um poder alternativo, apto a condicionar a atuação dos poderes públicos, utilizando a força econômica para fins políticos.

Seguindo essa linha de raciocínio, Nuno T. P. Carvalho (1995, p. 118) salienta a necessidade de se controlar a formação de conglomerados para a manutenção da concorrência, ou seja, para ele

A preocupação que pode surgir quanto à concentração conglomerada é que, mesmo não reduzindo ou eliminando a concorrência, ela pode fazer com que o adquirente deixe de criar uma nova empresa e, em vez disso, compre uma já existente, o que acaba por limitar ou reduzir os níveis potenciais de concorrência nesse mercado, [...] a ameaça de ingresso de novos concorrentes é um dos limites do mercado à imposição de preços supracompetitivos. [...] as concentrações conglomeradas podem causar [...] o “entrincheiramento”. [...] uma empresa que detenha posição dominante no mercado, ao adquirir influência determinante sobre outra, que já domina outro mercado, acresce ao poder de mercado desta e, assim, reforça a capacidade desta de vir a adquirir poder sobre o respectivo mercado.

Caso o conglomerado venha a utilizar-se dessa condição vantajosa para auferir ganhos adicionais, ameaçando retirar encomendas - na hipótese de os produtos de uma afiliada deixarem de ser comprados -, ou condicionar compras futuras à aquisição de produtos de uma afiliada, a saudável concorrência estará falseada, configurando-se, portanto, práticas anticoncorrenciais passíveis de repressão, enfatiza Proença (2001, p. 74).