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Alguns dados sobre a doença oncológica em Portugal

A S POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL E DE

1.5. Alguns dados sobre a doença oncológica em Portugal

A incidência do cancro

Os dados do Registo Oncológico Nacional (RON) mais recentemente publicados são relativos ao ano de 2001 (RON-IPOFG, 2008). Em 2001 foram diagnosticados em Portugal 33052 novos casos de cancro41, com uma taxa de incidência de 328.3/100000.

Foram diagnosticados 55% dos tumores malignos no sexo masculino e 66% em idades superiores a 60 anos.

Sumariamente, no sexo masculino, como pode observar-se na Figura n.º 14, os cancros com maior incidência foram os seguintes: cancro da próstata (80,2/100000), cancro do pulmão (40,4/100000) e cancro do cólon (36,1/100000).

Figura n.º 14 – Os tumores mais frequentes no sexo masculino e feminino (2001)

Fonte: Reproduzido a partir do Registo Oncológico Nacional 2001 (IPOFG, 2008:6).

Já no sexo feminino, o cancro da mama correspondeu a 30% dos tumores malignos, representando aproximadamente 1 em cada 3 novos casos. Para a mulher, os

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41 Os dados foram obrtidos com base nos Registos Oncológicos Regionais do Norte, Sule e Centro. Dos dados que

constam do RON 2001 (IPOFG, 2008), a classificação de topografia e morfologia dos tumores baseou-se na 3ª edição da International Classification of Diseases for Oncology (ICD-O-3), estando as tabelas e gráficos organizados segundo a nomenclatura da International Classification of Diseases, 10ª edição, 1990 (ICD-10). Segundo nota da coordenadora da publicação, foram excluídos os carcinomas basocelulares e espinocelulares da pele, para permitir a comparação dos dados de incidência com outros registos de cancro internacionais, pois este tipo de dados não serem recolhidos sistematicamente. Encontra-se o RON 2001 (IPOFG, 2008) online in: http://www.ipoporto.min-saude.pt/Downloads_ HSA/IPOP/RO_Nacional_2001.pdf

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cancros com taxas de incidência mais elevadas foram: o cancro da mama (87,8/100000), o cancro do cólon (28,1/100000) e o cancro do estômago (19,8/100000). Relativamente ao aparelho genital feminino, há que assinalar que a neoplasia mais frequente foi relativa ao cancro do colo do útero, com uma incidência de 14,8/100000. No que consta das topografias comuns aos dois sexos, dos tumores invasores, o cancro mais frequentemente diagnosticado foi o colorectal (1 em cada 6 tumores malignos), seguido dos cancros da mama e do estômago. No seu conjunto, estes quatro tipos de tumores abrangem 45% do total de novos casos registados no ano de 2001.

Para além dos novos casos, podemos ter uma aproximação do que representa uma das facetas da relação do doente com o sistema de saúde, através dos episódios de internamento em Portugal continental. Tendo em conta o movimento assistencial dos hospitais, em 2005, os “doentes saídos com neoplasias” foram: 98443, em 2004; 97083 (DGS, 2007).

O cancro como causa de morte

Na fundamentação da área da oncologia como prioritária, são apontados alguns dados no Despacho que cria a CNDO que interessa serem aqui recuperados: “as doenças oncológicas são a segunda principal causa de morte em Portugal, responsáveis por 22273 mortes, ou seja 21% dos óbitos, o que correspondia, em 2002, a uma taxa de 214:100000. No próximo ano, entre 35000 a 40000 portugueses terão um diagnóstico de cancro. A incidência será superior a 350:100000 nos homens e maior que 250:100 000 nas mulheres. O número de anos perdidos por causa de tumores malignos foi, em 2004, de 1191:100000 nos homens e 824:10000 nas mulheres considerada a população dos 0 aos 69 anos de idade. O impacte económico e social das neoplasias malignas, para doentes e familiares, são imensos (…)”. Aliás, logo no preâmbulo do Plano Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas 2007/2010 (PNPCDO) esta é uma ideia que se vê reforçada, quando se afirma que “as doenças oncológicas constituem a segunda principal causa de morte em Portugal e têm um profundo impacto nos doentes, nos familiares e na sociedade em geral, sendo provavelmente as doenças mais temidas pela população em geral”.

De forma mais directa, e decompondo estes dados, Sobrinho Simões, em entrevista ao Jornal de Notícias (1/11/2008), sublinha os números do cancro em Portugal: “as contas são fáceis de fazer (…). Somos pouco mais de dez milhões. Nascem e morrem cerca de 100 mil pessoas por ano. O cancro faz 50 mil novos casos e, destes, metade não escapa à morte. Ou seja, atinge uma em cada duas pessoas e mata uma em quatro”. O actual director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da

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Universidade do Porto e membro do Conselho Nacional para a Oncologia, aponta para que o cenário venha a piorar, pois, “num quadro de envelhecimento populacional, o aumento da incidência das patologias oncológicas é inevitável”; no entanto, também os resultados da doença serão provavelmente menos fatais, atendendo aos meios de diagnóstico existentes e a tratamentos mais eficazes.

Os tumores malignos ocupam o segundo lugar nas causas de óbito em Portugal depois de 1975, tendo vindo a aumentar os casos registados (DGS, cit. in Barreto, 2000). Numa projecção para Portugal, a OMS42 continua a colocar o cancro como segunda

causa de morte em 2023, com 25,3% (registando um aumento face à projecção de 2005, com 24,6%). Dados já processados pela Direcção Geral da Saúde (DGS) indicam-nos que o número de óbitos devidos a todos os tumores malignos (CID 10:C00-C99) em 2004 foi de 22319, representando uma taxa de mortalidade de 212,5/100000 habitantes (DGS, 2006) e em 2005 foi de 22724, com uma taxa ligeiramente superior de 215,4/100000 habitantes (DGS, 2008). Em Portugal, o número de óbitos por cancro mostrava já esta tendência de crescimento entre os triénios de 1993-1995 e 2003-2005, com um aumento de 15,8%. A nível mundial, a OMS aponta para que 7,6 milhões de pessoas tenham morrido de cancro, em 2005, de entre 58 milhões de mortes, projectando-se que este número suba para 9 milhões em 2015 e 11,4 milhões em 203043.

Tendo em conta que, por exemplo, no ano de 1991 se verificaram 18.643 casos de óbito por tumores malignos, sendo a população portuguesa à data constituída por 9.862.540 pessoas distribuídas por 3.145.734 famílias, poderíamos depreender que 6 em cada 1000 famílias experienciou a morte por cancro num só ano44. Estes dados

permitem-nos conceber a dimensão que a problemática atinge ao nível das famílias portuguesas nas últimas décadas, sabendo nós que o número de doentes diagnosticados e/ou em tratamento e os casos de sobrevida à doença engrossarão substancialmente o número de famílias que vive a problemática da doença oncológica no seu seio. Estima-se que três em cada quatro famílias venham a ser tocadas pelo cancro um dia, e, virtualmente podemos conceber que todas as pessoas venham a relacionar-se com a doença nalguma das suas relações próximas (Bloom, 1996). Aliás, Sousa (2007:19) afirma que “é raro encontrar uma família que não tenha, em algum momento da sua história, vivido a doença oncológica de um parente”, ressaltando o carácter comum da experiência da doença oncológica na família.

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42 Fonte: online in http://www.who.int/infobase/cancer.aspx

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44 Os dados aqui apresentados referem-se aos Censos de 1991 do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Direcção

Geral de Saúde (DGS) do Ministério da Saúde (Barreto, 2000). De acordo com o INE (In Destaque do INE, 24/01/2002), as doenças do aparelho circulatório (doenças cárdio-vasculares), continuam como primeira grande causa de morte em Portugal (40 994 óbitos, 39% do total), sendo os tumores malignos responsáveis por 21 461 óbitos (20% do total). No ano de 2000 estes dois grupos perfazem 62 455 óbitos (59%). Quarenta anos antes, em 1960, estes dois grupos representavam 35% do total de causas de morte.

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2.

A SAÚDE MENTAL DE FAMILIARES E CUIDADORES