DESENHO DO ESTUDO EMPÍRICO
1.2. Hipóteses de investigação
1.2.1. Apresentação das hipóteses na análise bivariada
Atendendo à complexidade operacional do modelo de análise, decidiu-se apresentá-lo de forma desdobrada em secções, seguidas das hipóteses correspondentes a cada um dos desdobramentos previstos. As hipóteses operacionais são apresentadas nos quadros 1 a 7. Nestes quadros, as variáveis são tipificadas e são identificados os indicadores em causa.
Algumas das hipóteses, nomeadamente as relativas às características sociodemográficas dos sujeitos, na relação estabelecida com as variáveis centrais do estudo, não se apresentam como centrais no presente estudo, antes se constituem como complementares, tendo sido formuladas e testadas como contributo para a produção de conhecimento nesta área.
Sublinha-se que os testes às hipóteses destinam-se a explorar os dados de forma guiada, assim como a tomar decisões quanto às variáveis a incluir no modelo final para a análise multivariada.
O número elevado de hipóteses está associado à opção pela análise bivariada46,
que se coaduna com hipóteses simples de combinação entre pares de variáveis, não permitindo formulações complexas com mais do que uma variável independente. Atendendo à quantidade de hipóteses, no capítulo seguinte são apresentados os testes às hipóteses centrais (cf. adiante as Secções B, C, D e G do modelo analítico) e os que apresentam resultados mais relevantes, sendo apresentados sinteticamente e remetidos para anexo os restantes resultados.
46 A expressão “análise bivariada” remete para o estudo das relações entre duas variáveis, no entanto, alguns autores
utilizam a expressão “análise multivariada” ou “estatística multivariada” para se referirem ao estudo de relações entre duas ou mais variáveis (Ribeiro, 1999). Pestana e Gageiro (1998:18) e Aday (1989 cit in Ribeiro, 1999) distinguem esta análise da primeira, utilizando a bivariada quando estamos perante estudos que relacionam duas variáveis, e a multivariada quando estão em causa mais de duas variáveis. É esta também a nossa opção.
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Figura n.º 16 – Secção A do Modelo Analítico
Quadro n.º 1 – Hipóteses da Secção A do Modelo Analítico
Hipótese Categoria (X1, Y1…)Variáveis 47 Indicadores
H1 As mulheres manifestam pior saúde mental do que os homens
Direccional
alternativa Saúde mental (Y1) Sexo (X1) Saúde Mental (MHI, BSI) Sexo do familiar
H2 O nível de saúde mental é inversamente proporcional à idade dos sujeitos
De
associação Saúde mental (X1) Idade (X1) Saúde Mental (MHI, BSI) Idade do familiar
H3
Os sujeitos com maior nível de instrução manifestam melhor saúde mental do que os sujeitos com menor nível de instrução
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Nível de instrução (X1)
Saúde Mental (MHI, BSI) Nível de instrução
H4
Os sujeitos que têm uma actividade produtiva manifestam melhor saúde mental relativamente aos que não têm
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Actividade produtiva (X1)
Saúde Mental (MHI, BSI) População activa e inactiva
H5
Os cônjuges de doentes com um meio de vida que permite estabilidade e autonomia financeira apresentam melhor saúde mental do que os cônjuges com meios de vida que não o permitem
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Autonomia financeira (X1)
Saúde mental (outras pontuações MHI e BSI) Principal meio de vida
47 Nas hipóteses que exprimem uma relação causal, as variáveis independentes são expressas por X1, X2, etc. e as
dependentes por Y1, Y2 etc. Quanto às hipóteses que exprimem associações entre variáveis, estas co-variam e exprimem- se por X1 e X2. Esta simbologia aplica-se aos quadros que apresentam as hipóteses neste ponto.
Saúde Mental do Familiar do Doente Oncológico Características Sociodemográficas do Familiar
Saúde Mental (MHI):
Distress e Bem-estar Psicológico
Dimensões primárias de psicopatologia (BSI) e índices psicopatológicos
Sexo Idade
Nível de instrução Actividade produtiva Principal meio de vida
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Figura n.º 17 – Secção B do Modelo Analítico
Quadro n.º 2 – Hipóteses da Secção B do Modelo Analítico
Hipótese Categoria Variáveis Indicadores
H6 Há diferenças na saúde mental consoante o parentesco com o doente
Não
direccional Saúde mental (Y1) Parentesco (X1) Saúde Mental (MHI, BSI) Parentesco com doente
H7
O nível de distress e a saúde mental diferem consoante a fase do ciclo vital familiar do doente
Não Direccional
Distress (Y1)
Saúde mental (Y2) Fase do ciclo vital da família do doente (X1)
Nível de Distress (MHI- DIST)
Saúde mental (MHI e BSI)
Ciclo vital da família do doente
H8
O nível de distress é mais elevado e há pior saúde mental quando existem filhos no sistema familiar do doente
Direccional
Distress (Y1)
Saúde mental (Y2) Existência de filhos no sistema familiar do doente (X1)
Nível de Distress (MHI- DIST)
Saúde mental (MHI e BSI)
Ciclo vital da família categorizado
Figura n.º 18 – Secção C do Modelo Analítico Quadro n.º 3 – Hipóteses da Secção C do Modelo Analítico
Hipótese Categoria Variáveis Indicadores
H9 O nível de distress no familiar é inversamente proporcional à idade do doente De associação Distress (X1) Idade do Doente (X2)
Nível de Distress (MHI-DIST) Idade do doente (em anos) Saúde Mental do
Familiar do Doente Oncológico
Características Familiares
Saúde Mental (MHI):
Distress e Bem-estar Psicológico
Dimensões primárias de psicopatologia (BSI) e índices psicopatológicos
Parentesco familiar/doente Ciclo vital da família do doente Filhos no sistema familiar do doente
Saúde Mental do Familiar do Doente Oncológico Características sociodemográficas do doente
Saúde Mental (MHI):
Distress e Bem-estar Psicológico
Dimensões primárias de psicopatologia (BSI) e índices psicopatológicos
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Figura n.º 19 – Secção D do Modelo Analítico
Quadro n.º 4 – Hipóteses da Secção D do Modelo Analítico
Hipótese Categoria (X1, Y1…) Variáveis Indicadores
H10
Os sujeitos apresentam pior saúde mental quando há outras situações de doença na família do que quando não há
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Existência de outros familiares doentes (X1)
Saúde mental (MHI, BSI) Existência de outros familiares doentes
H11
Os familiares que tiveram experiências anteriores de cancro na família
apresentam pior saúde mental dos que não tiveram
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Cancro na família (X1)
Saúde mental (MHI, BSI) Cancro na família nos últimos 10 anos
H12
Os familiares que tiveram experiências anteriores de morte por cancro na família apresentam pior saúde mental do que os que não tiveram
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Morte por cancro na família (X1)
Saúde mental (MHI, BSI) Existência de familiares na família com morte atribuída a doença oncológica
H13 A saúde mental difere consoante a topografia da neoplasia maligna
Não direcional
Saúde mental (Y1) Topografia da neoplasia (X1)
Saúde mental (MHI, BSI) Topografia da neoplasia
H14
O nível de distress é mais elevado nos familiares de doentes com cancro em estádios mais avançados do que em estádios mais precoces Direccional alternativa Distress (Y1) Estádio da doença (X2)
Nível de Distress (MHIDIST) Estádio da doença
(classificação TNM)
H15 O nível de distress difere consoante o tipo de tratamento efectuado
Não
direccional Distress (Y1) Tratamento (X2) Nível de Distress (MHIDIST) Tratamento(s)
H16
O nível de distress é maior nos familiares dos doentes aos quais foi comunicado o diagnóstico/ prognóstico Direccional alternativa Distress (Y1) Comunicação diagnóstico/ prognóstico (X2)
Nível de Distress (MHIDIST) Comunicação do diagnóstico/ prognóstico ao doente Saúde Mental do Familiar do Doente Oncológico Situação Clínica do Doente e Relação com a Doença na Família
Saúde Mental (MHI):
Distress e Bem-estar Psicológico
Dimensões primárias de psicopatologia (BSI) e índices psicopatológicos
Existência de outros familiares doentes Cancro na família nos últimos 10 anos Existência de familiares na família com morte
atribuída a doença oncológica Estádio da Doença
Topografia da neoplasia maligna Tratamento(s)
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Figura n.º 20 – Secção E do Modelo Analítico Quadro n.º5 – Hipóteses da Secção E do Modelo Analítico
Hipótese Categoria (X1, Y1…) Variáveis Indicadores
H17
O apoio social é percebido de forma distinta entre homens e mulheres Não direccional Apoio social percebido (Y1) Sexo (X1)
Nível de apoio social percebido (EAS): emocional, informativo, instrumental e social
Sexo
H18 O nível de apoio social percebido é inversamente proporcional à idade De associação Apoio social percebido (X1) Idade (X1)
Nível de apoio social percebido (EAS): emocional, informativo, instrumental e social
Idade
H19
O apoio social é percebido de forma distinta entre os sujeitos conforme o seu estado civil Não direccional Apoio social percebido (Y1) Estado civil (X1)
Nível de apoio social percebido (EAS): emocional, informativo, instrumental e social Estado civil H20 O apoio social é percebido de forma distinta entre os indivíduos consoante o seu nível de instrução
Não direccional Apoio social percebido (Y1) Nível de instrução (X1)
Nível de apoio social percebido (EAS): emocional, informativo, instrumental e social
Nível de instrução
H21
Os sujeitos que detêm uma actividade produtiva apresentam níveis de suporte social percebido mais elevados do que os que não detêm.
Direccional alternativa Apoio social percebido (Y1) Actividade Produtiva (X1)
Nível de apoio social percebido (EAS): emocional, informativo, instrumental e social
População activa e não activa
Apoio Social do Familiar do Doente Oncológico
Características Sociais do Familiar do DoenteApoio Social Percebido (EAS): Emocional, Instrumental e Informativo Sexo
Idade Estado civil Nível de instrução Actividade produtiva
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Figura n.º 21 – Secção F do Modelo Analítico
Quadro n.º 6 – Hipóteses da Secção F do Modelo Analítico
Hipótese Categoria (X1, Y1…) Variáveis Indicadores
H22
O tamanho, a densidade e a composição da rede não diferem entre homens e mulheres
Nula
Tamanho da Rede (Y1) Densidade da rede (Y2) Composição da rede (Y3) Sexo (X1) Tamanho da rede Densidade da rede Quadrantes da rede Sexo H23 O tamanho, a densidade e a composição da rede de suporte são inversamente proporcionais à idade dos sujeitos De associação Tamanho da Rede (X1) Densidade da rede (X2) Composição da rede (X3) Idade (X1) Tamanho da rede Densidade da rede Quadrantes da rede Idade H24 O tamanho, a densidade e a composição de rede diferem consoante o estado civil dos sujeitos
Não direccional
Tamanho da Rede (Y1) Densidade da rede (Y2) Composição da rede (Y3) Estado civil (X1) Tamanho da rede Densidade da rede Quadrantes da rede Estado civil H25
Os sujeitos com maior nível de instrução apresentam redes maiores, com mais quadrantes e menos densas do que os sujeitos com nível de instrução mais baixo
Direccional alternativa
Tamanho da Rede (Y1) Densidade da rede (Y2) Composição da rede (Y3) Nível de instrução (X1) Tamanho da rede Densidade da rede Quadrantes da rede Nível de instrução H26
Os sujeitos sem actividade produtiva têm redes mais pequenas, com maior densidade e com composição mais restrita da rede do que os que têm actividade produtiva
Direccional alternativa
Tamanho da Rede (Y1) Densidade da rede (Y2) Composição da rede (Y3) Actividade produtiva (X1) Tamanho da rede Densidade da rede Quadrantes da rede População activa e não activa H27
O tamanho da rede associa-se positivamente com a
quantidade de quadrantes que compõem a rede De associação Tamanho da Rede (X1) Composição da Rede (X2) Tamanho da rede Quantidade de quadrantes na rede H28
A densidade da rede associa- se negativamente com a quantidade de quadrantes que compõem a rede De associação Densidade da Rede (X1) Composição da Rede (X2) Nível de densidade da rede Quantidade de quadrantes na rede
H29 A frequência de contactos associa-se à dispersão geográfica na rede De associação Frequência de contactos (X1) Dispersão (X2) Frequência de contactos Distância residência Apoio Social do Familiar do Doente Oncológico
Características Sociais do Familiar do DoenteRede de Suporte Social na situação de doença (IARSP-RS):
Características estruturais: - Tamanho da rede de suporte - Densidade da rede de suporte - Composição da rede de suporte Sexo
Idade Estado civil Nível de instrução Actividade produtiva
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Figura n.º 22 – Secção G do Modelo Analítico Quadro n.º 7 – Hipóteses da Secção G do Modelo Analítico
Hipótese Categoria (X1, Y1…) Variáveis Indicadores
H30
As funções de apoio social e a frequência do apoio associam-se positivamente com a saúde mental e o bem-estar psicológico e negativamente com o distress psicológico De associação Apoio Social (X1) Saúde mental (X2) Bem-estar psicológico (X3) Distress (X4)
Apoio social (EAS) Frequência do apoio (IARSP)
Saúde mental (MHI) Bem-estar psicológico (MHIBEST)
Distress (MHIDIST)
H31 O apoio social percebido é inversamente proporcional ao índice de sintomas psicopatológicos
De associação Apoio Social (X1) Índice de sintomas psicopatológicos (X2)
Apoio social (EAS) Índice de Sintomas Positivos (ISP.BSI)
H32 O tamanho da rede associa-se positivamente à saúde mental e ao bem-estar psicológico De associação Tamanho rede (X1) Saúde mental (X1) Bem-estar psic.(X2)
Tamanho da rede (IARSP)
Saúde mental (MHI) Bem-estar psicológico (MHIBEST)
H33
Os sujeitos com redes
fragmentadas apresentam melhor saúde mental do que os que têm redes coesas
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Densidade da rede (X1)
Saúde mental (MHI) Tipo de densidade da rede (IARSP)
H34
Os sujeitos que percebem uma maior reciprocidade de apoio na rede social apresentam melhor saúde mental do que os que percebem menor reciprocidade
Direccional alternativa
Saúde mental (Y1) Reciprocidade na rede (X1)
Saúde mental (MHI) Reciprocidade na rede (IARSP)
H35
A saúde mental dos sujeitos difere consoante a mudança percebida no tamanho da rede desde que o familiar adoeceu
Não direccional
Saúde mental (Y1) Mudança percebida no tamanho da rede (X1)
Saúde mental (MHI) Mudança percebida no tamanho da rede (IARSP)
H36 O apoio social percebido é mais elevado quando o tamanho da rede de suporte social é maior
De
associação Tamanho rede (X1) Apoio Social (X2) Tamanho da rede Apoio Social (EAS) (IARSP)
H37 O apoio social percebido é mais elevado quando a frequência de apoio é mais elevada
De associação
Apoio Social (X1) Frequência de apoio na rede (X2)
Apoio Social (EAS) Frequência de apoio na rede (IARSP) Saúde Mental do Familiar do Doente Oncológico
Apoio social percebido: Emocional, Instrumental e Informativo (EAS) Rede de Suporte Social na situação
de doença: Características estruturais (1), funcionais (2) e contextuais (3) (IARSP-RS)
- 1) tamanho, densidade e composição - 2) frequência de suporte emocional, instrumental e informativo; reciprocidade - 3) frequência de contactos, dispersão geográfica e mudança percebida na rede
Apoio Social do Familiar do Doente
Oncológico
Saúde Mental: Distress e Bem-estar Psicológico
(índices e dimensões do MHI) Escalas de sintomatologia primária
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2.
MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Tipo de estudo
O estudo é observacional-analítico, considerando-se, no âmbito da epidemiologia analítica, um estudo seccional (Klein & Bloch, 2002) ou transversal (Ribeiro, 1999), com uma única observação. O desenho pressupõe uma análise correlacional multifactorial e inferencial (Ribeiro, 1999), onde estabelecemos e verificamos associações entre múltiplas variáveis independentes, com o objectivo de analisar a sua magnitude e a direcção assumida pelas relações.