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Neste texto pretende-se abordar resumidamente como a matriz do urbanismo mo- dernista foi construída em cima das relações arcaicas do clientelismo, contribuindo para que as cidades brasileiras fossem marcadas pela modernização incompleta ou excludente. Nesse sentido, é evidente que por trás de uma aparente representação ideológica – um instrumento de poder – existe a dissimulação da realidade a um ponto de vista parcial, a ocultação dos expedientes usados na valorização imobiliária de parte do território em detrimento de outros.

O processo de urbanização no Brasil sempre esteve marcado fortemente pela he- rança do latifúndio, no patrimonialismo e nas “relações de favor”, calcados nas raízes coloniais. As recorrentes discussões sobre urbanismo, muitas vezes, ignoram estes aspectos “fundantes” da desigualdade no Brasil. Entretanto, é notório o fosso exis- tente entre a gestão da cidade e a aplicação da legislação, esta usada como instru- mento de poder arbitrário.

Nesse sentido, vale recorrer à discussão sobre o paradoxo entre o princípio de hie- rarquia e igualdade presente na sociedade brasileira muito bem explorado pelos an- tropólogos, Roberto Da Matta, Roberto Schwarz, e Oswald de Andrade. Eles fazem uma analogia entre a coerência do discurso modernista e a vinculação de sua prática na sociedade brasileira. Apesar das visões diferenciadas na colocação do problema, as críticas fundamentam-se na desigualdade: os dois primeiros autores baseados no dualismo e o Oswald42, mais irreverente, qualificando positivamente a nossa

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42 ANDRADE, Oswald. Mani-

festo Antropófago. . . Revista de Antropofagia. 1928 .I (1);3,7

diferença. Na época em que foram produzidos os ensaios, havia uma realidade incontestável com relação à modernidade. O espaço modernista surgia dando saltos nas etapas do desenvolvimento rumo à temporalidade progressiva, entretanto as idéias que circulavam e definiam a sociedade brasileira eram completamente inapropriadas a este discurso universalizante (pensamento singular europeu). As interpretações variadas da modernidade no Brasil sugeriam um constante paradoxo. Schwarz faz uma correlação do Brasil escravocrata com o Brasil moderno. Para ele, a única coisa que sempre teve respaldo e validade no Brasil foi o “favor”, “o

restante é falsidade deslocada”. Dessa forma, ele argumenta que a cumplicidade

existente entre a classe dos operários e a dos homens livres é que sempre respalda a ideologia e o uso das “ idéias fora do lugar “, como ornamento. Para Schwarz, ao longo de sua reprodução social, o Brasil sempre põe e repõe idéias européias em sentido impróprio. Embora utilize o mesmo vocabulário, o resultado é diferente, uma nova forma de apropriação. Portanto, a ânsia pela cópia aqui se repete.

“No momento da prestação e da contraprestação – particularmente no instante-chave do reconhecimento recíproco – a nenhuma das partes interessa denunciar a outra, tendo embora a todo instante os elementos necessários para fazê-lo. Esta cumplicidade sempre renovada tem continuidades sociais mais profundas, que lhe dão peso de classe : no contexto brasileiro , o favor assegurava às duas partes , em especial à mais fraca , de que nenhuma é escrava. Mesmo o mais miserável dos favorecidos via reconhecida nele , no favor, a sua livre pessoa , o que transformava prestação e contraprestação , por modestas que fossem, numa cerimônia de superioridade social , valiosa em si mesma.“ Schwarz43

Da Matta, reatualiza o dilema e a peculiaridade da sociedade brasileira através da relação dual do princípio de hierarquia e igualdade, afirmando que a sociedade bra- sileira ao mesmo tempo em que usa este recurso no discurso, nega na ação. Ele utiliza a expressão “Você sabe com quem está falando?”, para referendar empiricamente e explicar esta condição. A expressão é comumente usada pela sociedade brasileira baseada na hierarquia em que as relações dialéticas sobrepujam o indivíduo, como último recurso ante a ameaça da perda da autoridade. Esta relação hierárquica está presente inclusive nos subalternos. Assim , ele utiliza a figura do “medalhão”, como uma cristalização de qualidades morais de um dado domínio social, que pode surgir em qualquer grupo ou classe social.

Dessa forma, a sociedade brasileira exerce um contínuo e sistemático padrão de diferenciação interna não só com base no plano econômico. O sistema iguala num plano e hierarquiza no outro, oscila entre fazer cumprir a lei ou respeitar a pessoa. A pessoa é tratada no plano das relações pessoais e o indivíduo, ao contrário é o sujeito da lei. 43 43 43 43 43 SCHWARZ, Roberto. Ao Vencedor as Batatas. 1977. p.18 -19.

4444444444 DA MATTA, Roberto. Car- navais, Malandros e Heróis. Para uma Sociologia do Dile- ma Brasileiro.1979.p.168.

4545454545 MARICATO,E. 2000,

p.147.

“Assim, diante da lei pode-se dela fugir ; e na ausência da lei, pode-se nela confiar. Em ambas as situações, existe uma separação concreta entre a pessoa e a norma ; entre uma lei geral , impessoal ,universal e a pessoa que se define como especial e merecedora de um tratamento diferenciado.”

Da Matta44

Nesta ótica, Da Matta estabelece um vínculo imediato de tal situação à generalização da violência no Brasil como último recurso à moralidade corrompida, utilizado como mais um instrumento que visa solucionar uma dada situação, quando os outros mei- os de hierarquização falham irremediavelmente, e quando impossível, fazer as gradações por outros caminhos. Portanto, Da Matta reitera a existência de um Brasil

“periférico” na medida em que reconhece as suas crises e conflitos, passando necessa-

riamente pelo rito autoritário e dramático da separação social que, entretanto, assu- me sempre a posição do não enfrentamento. Para ele, escamoteamos as relações sociais e as crises que dela derivam.

No Brasil, portanto, a modernidade só poderia acontecer de forma particular e não universal. A oposição binária entre moderno/não moderno e entre Ocidente/não Ocidente gera sempre uma desigualdade globalizante. Podemos afirmar que uma das possibilidades dessa exclusão vivida pelas sociedades periféricas está relacionada com a expansão imperial que na forma moderna, subsiste pela exportação de capital e pela desterritorialização colonial.

Nesta ótica, podemos afirmar que no contexto histórico brasileiro, esta reinterpretração da modernidade foi notoriamente excludente, onde a dimensão e os fatos são dissimulados sob notável ardil ideológico. A existência de planos urba- nísticos e de uma extensa legislação ambientalista não impediu que as cidades brasi- leiras se expandissem sob a condição de ilegalidade. A ineficácia dessa legislação é, de fato, apenas aparente, pois constitui um instrumento fundamental para o exercí- cio arbitrário do poder além de favorecer pequenos interesses corporativos. Para Maricato45, “a ocupação ilegal da terra é não só permitida como parte do modelo de desenvolvimen-

to urbano no Brasil (p.147).”

Dessa forma, a cidade dialética é estrutural e institucionalizada pelo mercado imobi- liário. A ilegalidade é implementada pela dinâmica própria de produção da cidade na medida em que a lei se aplica conforme as circunstâncias e na ausência de alternati- vas de inserção no mercado habitacional legal. A invasão de terras torna-se assim, intrínseca ao processo de urbanização, estabelecendo uma correspondência direta entre as áreas ambientalmente frágeis e a localização das favelas no ambiente urba- no. A grande invasão de São Pedro na região noroeste na década de 1980 foi resul- tante desta condição de segregação territorial.

INSTALAÇÃO PORTO DE VITÓRIA

BAÍA AV.. CAPIXABA

ATUAL JERÔNIMO MONTEIRO

Fig 3.1 Fig 3.1Fig 3.1 Fig 3.1

Fig 3.1 Centro de Vitória no início do século XX. De ma- neira incipiente, e posterior- mente de forma acelerada, a dinâmica espacial vai adqui- rindo novos contornos atra- vés da sobreposição de ações que se acumulam no tempo e no espaço. Fonte: Arquivo Público P.M.V. Fig 3.2

Fig 3.2Fig 3.2 Fig 3.2

Fig 3.2 Centro de Vitória atu- al. A espacialidade é continu- amente transformada para atender às exigências dos flu- xos da vida moderna. Foto: Vítor Nogueira.

Segundo Maricato, a exclusão urbanística representada pela dimensão da ilegalida- de não cabe nas categorias do planejamento modernista, pois assemelha-se às for- mas urbanas arcaicas e pré-modernas, ou seja, “um lugar fora das idéias”.46 Já Fran-

cisco de Oliveira destaca como especificidade da periferia capitalista, sua forma- ção sob uma racionalidade burguesa que, contraditoriamente, não se realiza. Ele afirma que “o mercado é entendido como o lugar que você exercita o seu direito e sua capacida-

de de escolha. A periferia não formou mercados e, portanto, não formou o lugar da autono- mia.”47

No Brasil, em particular no município de Vitória, as localizações de novas centralidades, mostram que investimentos públicos transferem renda para o merca- do imobiliário de alto padrão, em áreas pouco ocupadas, enquanto carências básicas de grande parte da população não são relevantes. Ao invés de priorizar o caráter público e social dos investimentos municipais, o poder público o faz de acordo com interesses privados, especialmente os das empresas de construção civil e pesada. Dessa forma, são criados os espaços privilegiados da cidade empresarial (região nor- deste de Vitória) em detrimento dos espaços ocultos da cidade dialética. Fica claro, portanto, a articulação de formas econômicas incluindo a política, não como externalidade, mas como estruturante do espaço. Essas assimetrias sócio-espaciais se registram em toda a paisagem construída de Vitória.

“A cidade da elite representa e encobre a cidade real. Essa representação, entretanto, não tem função apenas de encobrir privilégios, mas possui, principalmente, um papel econômi- co ligado à geração e captação de renda imobiliária” Maricato ( 2000,p.165) 46

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46 MARICATO, 2OOO, p.122.

Maricato refere-se aqui à se- melhança entre o burgo me- dieval e as favelas urbanas, argumentando que a cidade ilegal, apesar de derivar do planejamento formal, não é reconhecida por ele.

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47 OLIVEIRA, Francisco. En-

trevista à revista Vintém. São Paulo. 2000. Citado In: MARICATO, Ermínia et alli. A Cidade do Pensamento Úni- co: desmanchando consen- sos. . . Petrópolis: Vozes,

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48 SANTOS,Milton. Metamor-

foses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1998.

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49 ARANTES, Otília etalli. A

cidade do pensamento único.2ed. Petrópolis: Vozes, 2000.p:31.

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50 Em sua análise da cidade

empresarial, ARANTES (p.31) argumenta que a gentrificação é uma “respos- ta específica da máquina ur- bana de crescimento a uma conjuntura histórica marcada pela desindustrialização e c o n s e q ü e n t e desinvestimento da áreas urbanas significativas, a terceirização crescente das cidades, a precarização da força de trabalho remanes- cente e sobretudo a presen- ça desestabilizadora de uma underclass fora do merca- do.”

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