• Nenhum resultado encontrado

A Lógica Presente na Dialética CapitalistaA Lógica Presente na Dialética CapitalistaA Lógica Presente na Dialética Capitalista

A Lógica Presente na Dialética CapitalistaA Lógica Presente na Dialética Capitalista

A Lógica Presente na Dialética CapitalistaA Lógica Presente na Dialética Capitalista

A introdução da racionalidade científica conferiu nova estruturação espacial às cidades, onde alguns de seus aspectos fundantes como a desigualdade, passa a ser constitutivo da modernidade. Nesse sentido, para se pensar a reprodução das cida- des engendrando diferenças sociais e espaciais, vale buscar na produção do conheci- mento científico a razão para tal contradição. A explicação para este fato só é admi- tida considerando a lógica capitalista de produção impulsionando o mundo moder- no.

Dessa forma, não podemos deixar de recorrer a Marx e a seus intérpretes para for- mular uma coerência crítica ao moderno capitalismo e a forma como molda suas cidades. Marx argumenta que o capitalismo generaliza todas as relações num mesmo plano em função de uma equivalência e destrói as possibilidades humanas por ele criadas. Em O Capital18, ele tenta desvendar esta inversão de valores através da aná-

lise da mercadoria, coisas cotidianas que consumimos no curso da nossa própria reprodução.

“Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas.” Em sua análise ele prossegue afirmando que“ as mercadorias possuem forma comum de valor, que contrasta com a flagrante heterogeneidade das formas corpóreas de seus valores de uso. Esta forma comum é a forma dinheiro do valor.”19 Marx

O dinheiro, portanto, se tornou o meio pelo qual avaliamos e realizamos as trocas de mercadorias, dissolvendo todos os vínculos e relações tradicionais e de produção social. “O dinheiro unifica precisamente através de sua capacidade de acomodar o individualismo,

a alteridade e uma extraordinária fragmentação social.”20 Assim sendo, os valores e princí-

18 1818

1818 Marx analisa a mercado-

ria assume um certo para- doxo, ao mesmo tempo em que ela tem um valor de uso (satisfaz uma necessidade), ela também possui um valor de troca (poder de barganha para conseguir outras mer- cadorias). Portanto, a mer- cadoria apresenta um cará- ter misterioso proveniente do mascaramento ou do disfar- ce que ela adquire em fun- ção da igualdade dos traba- lhos humanos como valores. O caráter social das relações entre produtores assume a forma social entre os produ- tos do trabalho. Essa condi- ção Marx denomina de “fetichismo da mercadoria”.

19 19 19 19

19 MARX, Karl. O Capital. Cap.

pios sagrados e de tradição são constantemente transmudados, absorvidos e adap- tados conforme os interesses de mercado e da nova estrutura social.

A luta pela manutenção da lucratividade apressa os capitalistas a explorarem todo tipo de novas possibilidades, criando sempre novas necessidades, enfatizando o impulso ao consumo, o apelo à fantasia e ao capricho. Dessa forma, a dialética pre- sente no capitalismo, possibilita o seu desenvolvimento através de um processo cons- tante de destruição criativa. Segundo Marx, ”tudo está impregnado de seu contrário”, onde o progresso e o avanço do capitalismo só é possível por meio da destruição e da desigualdade.

Os perigos dessa contradição permanente na modernidade afligem o espírito hu- mano, pois ao mesmo tempo em que aciona o movimento em direção ao inespera- do, a uma expansão interminável, torna-se a única condição possível do desenvolvi- mento social e humano. Marx também compartilha dessa idéia de movimento inces- sante quando diz que “a moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de

valores, mas ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades.”21 O espírito fragmentado e ambivalente da modernidade é tanto social como técnico, num mesmo processo de trabalho, acentuado pela perda de controle sobre os meios de produção e das relações sociais, alienando o trabalhador da sua essência humana. Este movimento paradoxal da modernidade e dos modos de produção confere-lhe uma interminável agitação e incerteza, que por sua vez preconiza uma força favorá- vel à renovação do sistema. Podemos afirmar que a estabilidade sólida e permanente constitui uma ameaça ao modo de produção capitalista.

Esta mesma ininterrupta necessidade de inovação do sistema pode levar a crises e ao colapso da classe burguesa. Enfim, as crises as quais estão sujeitas o sistema geram novas forças para acelerar o desenvolvimento do capital. O efeito da inovação con- tínua é, no entanto, desvalorizar, senão destruir, investimentos e habilidades de tra- balhadores passados. A destruição criativa está embutida na própria circulação do capital.

Berman22, dentre outros autores contemporâneos, tenta reconstruir a visão da

modernidade através de Marx analisando suas idéias contidas no Manifesto Comu- nista. O autor considera o Manifesto como a primeira grande obra de arte moder- nista e é notável pelo seu poder imaginativo. A tensão existente entre a visão diluidora e a visão sólida de Marx sobre a vida moderna fica clara na célebre frase consagrada por ele no Manifesto:23“Tudo que é sólido desmancha no ar , tudo que é sagrado é profanado”. Em sua obra, Berman (1987,p.104) faz menção à oposição feita por Marx ante a polaridade universal existente entre o aberto e fechado, o nu e o vestido, que aflige tanto a consciência humana. Para isso, o autor recorre à literatura romântica de Fausto

20 2020 20 20 HARVEY, 2000, p100. 21 2121 21

21 Citado in: BERMAN,

Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar - A Aven- tura da Modernidade. São Paulo, Companhia das Le- tras , 1987. p.101.

22 22 22 22

22 BERMAN , Marshall , Tudo

que é Sólido Desmancha no Ar. 1986. P.21

23 2323

2323 pensamento dominante no

Manifesto é que a produção econômica e a estrutura so- cial que necessariamente decorre dela constituem em cada época histórica a base da história política e intelec- tual dessa época, portanto toda a história tem sido uma história de luta de classes (Engels, 1848). Marx, confi- ava a vitória de todas as pro- posições contidas no Mani- festo ao desenvolvimento in- telectual da classe operária. A partir do desenvolvimento de toda a capacidade dos in- divíduos é possível a liberda- de e só em comunidade ela poderá realizar-se plena- mente. Neste ideal humanista é que ele fundamenta a base do comunismo.

de Goethe, e Rei Lear de Shakespeare. Ambos os heróis são destituídos de poder e riqueza, e quando confrontados com a verdadeira natureza humana, a autêntica nu- dez, movem-se no sentido de reconhecer a plenitude e a sensibilidade da vida inte- rior até então entorpecidas pela amargura e miséria.

Na análise de Berman, o que Fausto deseja para si mesmo é um processo dinâmico que incluiria toda sorte de experiências humanas, alegria e desgraças juntas, assimi- lando-as todas ao seu interminável crescimento interior; até mesmo a destruição do próprio eu seria parte integrante do seu desenvolvimento. “A tragédia está em que a

catástrofe que redime humanamente, politicamente destrói.” (Berman ,p.105)

Essa ambigüidade que Fausto carrega consigo é o próprio dilema da modernidade. Fausto se transforma em outro tipo de ser desenvolvendo uma auto-expansão inter- minável onde o importante é o processo, a força da potência e não o resultado. Assim como Marx, o importante para ele é a “atividade”, a vontade de poder. Diante desse “homem desacomodado”, destituído de privilégios e papéis sociais, é que Marx define o princípio revolucionário da classe operária. O triunfo da revolução consis- tiria em transformar o homem proletário em algo que ele jamais havia sonhado, um ser humano.

O sentido de maravilhamento do mundo moderno se contrapõe ao sentido aterrorizante do fragmentário. Este é o paradoxo da criação moderna: é ambí-

guo, é dual, mas está contido num só movimento. A burguesia de Marx se move

dentro dessa trágica órbita. A visão apocalíptica da destruição é vista através de forças ocultas que operam no contexto mundial. Para Nietzsche, “O único estímulo que

efetivamente nos comove é o infinito, o incomensurável”.

A ascensão do pós-modernismo reflete uma mudança na maneira de operação do capitalismo nos nossos dias. Muito embora as atuais condições sejam muito diferen- tes em inúmeros aspectos, não há dificuldades em se perceber que os elementos que Marx definiu como peças fundamentais de todo modo capitalista de produção ainda estão bem vivos, e ainda mais fortalecidos. Segundo Harvey, essa avaliação dada ao capitalismo por sua capacidade de se auto-reproduzir e de se fortalecer acompa- nhando as mudanças temporais, mesmo em condições desfavoráveis (crises), confe- re-lhe uma dinâmica a-histórica. Dessa forma, podemos considerar o capitalismo como uma força constantemente revolucionária da história mundial, uma força que reformula de maneira perpétua o mundo, criando configurações novas e, com fre- qüência, sobremodo inesperadas.

Signos, magia e sedução: o espetáculo do mundo moderno

A antropologia clássica afirma que o pensamento e a realidade humana se formam através das ideologias e a eficácia delas provém essencialmente da credulidade. Para Malinowski, não existem povos, por mais primitivos que sejam, sem religião nem magia. As crises da existência humana, a tensão da carência instintiva, as fortes experiências emocionais, de uma maneira ou de outra levam ao culto e à crença. Vários ensaios e etnografias demonstraram que tanto a “arte como a religião

provém do desejo insatisfeito”.24

O homem primitivo encontra-se irremediavelmente e completamente imerso num estado de espírito místico. O mundo dos sentidos é tão real para eles como o é para nós, porém eles explicam a o evento da “causalidade dos fatos” através da bruxaria. Por sua vez, a bruxaria explica por que os acontecimentos são nocivos e não como eles acontecem. É um comportamento natural e social. Para Pritchard25, “o importante é

dar sentido ao todo ou aos fatos quando você os contextualiza.” No pensamento primitivo,

portanto, magia, ciência e religião são formas complementares. Já para os moder- nos, o conhecimento da natureza se faz através da ciência e a atitude de criar cultura é universal.

No campo filosófico, Lefebvre26 entende a dialética da atividade produtiva através

de relações múltiplas, que não pode ser exclusivamente uma análise, nem necessari- amente uma síntese. Está claro que a atividade humana – a práxis – introduz oposi- ções no mundo. Acentua o caráter do momento, introduz na realidade as oposições do concreto e do abstrato, do determinismo e da finalidade. Ao mesmo tempo in- troduz dialeticamente sua unidade.

A realidade de um objeto social é comparável aos objetos sensíveis: um objeto social é um produto da atividade, abstrata por uma parte, real e concreta por outra. O objeto como função da natureza e por outra da atividade humana. Determinar a natureza fora da atividade - fundada nela - é tentar explicar um problema insolúvel, um problema metafísico ao qual não se pode responder senão por meio de um mito. Assim, o setor não dominado, pode ser uma exploração por meios não científicos, uma interpretação ou uma proteção mais ou menos arbitrária sobre a consciência parti- cular do setor dominado (conhecido). Esta exploração foi perseguida muitas vezes por métodos de expressão literária e poética, outras vezes a interpretação desses fenômenos cede lugar aos mitos e religiões, elementos essenciais da ideologia. Na concepção de Lefebvre “o homem primitivo tem o sentimento da unidade do mundo em um

grau mais elevado que o fragmentado da sociedade moderna.” 27

24 2424 24

24 MALINOWSKI, Bronislaw.

Magia, Ciência e Religião. (1954), p.25.

25 25 25 25

25 PRITCHARD, Evans. Bru-

xaria, Oráculos e magia en- tre os Azande (Cap.II). Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 26 26 26 26 26 LEFEBVRE, Henri. Le

Materialisme Dialetique. Paris: Quadrige/PUF, 1940. 27 27 27 27 27 LEFEBVRE, 1940, p.153.

Na análise marxista, o fetiche tornou-se para o homem a sua ideologia, ele move- se no fetichismo, modo de existência e de consciência. O objeto produzido pelo homem se opõe a ele como um ser estranho. Estranhas existências abstratas e reais, brutalmente revestidas de ideologias sedutoras. Estes objetos são imagens do desejo, e nelas, a coletividade procura tanto superar quanto transfigurar as carências do produto social, bem como as deficiências da ordem social da produção. A “coisificação” do humano em si, foi objeto de algumas reflexões literárias. Latour utiliza o trabalho de Serres sobre a construção social do objeto e sua trajetória historicamente ascendente rumo à condição de quase-humano, para explicar esta complexa relação entre sujeito e objeto. Serres afirma que a história não é mais simplesmente a história dos homens, mas também a das coisas naturais. Latour reitera esta posição argumentando que a “contra-revolução copernicana”28 modifi-

cou o lugar do objeto para retirá-lo da coisa em si e levá-lo ao coletivo sem, entre- tanto, aproximá-lo da sociedade.

Serres é ainda mais enfático na descrição do objeto, apresentando-o como um mito que incorpora uma certa “hominidade”: “Procuramos descrever a emergência do objeto ,

não apenas da ferramenta ou de uma bela estátua, mas da coisa em geral, ontologicamente falando. Como o objeto chegou até a hominidade.29” Para Latour (2000), o que há na verdade é a socialização acelerada dos não-humanos (o fetiche das coisas) , sem no entanto permitir a estes que apareçam , em um momento qualquer, como elemen- tos da “sociedade real”(p.81).

O sucesso da produção material volta para o produtor como abundância de despossessão. A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta na pró- pria atividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende seu próprio desejo.30Os produtores estão assim separados e

privados dos bens que criam. O poder criativo do homem se volta contra ele e o arrasta num determinismo social que lhe impõe terríveis provas. O homem não existe mais que pelo inumano. A essência humana torna-se virtualidade abstrata: separação. Parece que não tem mais que uma existência metafísica. Diante dessa analogia, Lefébvre questiona: “de onde provém a superprodução relativa que transforma

em privação – crise econômica, lutas sociais e políticas – a abundância possível de hoje em dia?”

Da mesma forma, Debórd tenta dar sentido à coexistência entre abundância e privação argumentando: “se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é

porque ela não pára de conter em si a privação. Se não há nada além da sobrevivência ampli- ada, nada que possa frear seu crescimento, talvez seja porque essa sobrevivência não se situa além da privação: é privação tornada mais rica.” 31 Para o autor, o homem vive aprisio- nado na riqueza ilusória da sobrevivência ampliada, que é a base da aceitação da ilusão geral no consumo das mercadorias modernas. O consumidor real torna-se

28 28 28 28

28 Latour refere-se à”contra-

revolução corpenicana”– como uma alusão à revolu- ção corpenicana de Kant que oferece o modelo completo das explicações modernizadoras como sen- do a inversão da inversão; “a natureza gira de fato, mas não ao redor do sujeito-so- ciedade. Ela gira em torno do coletivo produtor de coisas e de homens. O sujeito gira, de fato, mas não em torno da natureza. Ele é obtido a partir do coletivo produtor de homens e de coisas. O Império do Centro se encontra, enfim, repre- sentado. As naturezas e so- ciedades são os seus satéli- tes.” (p.78).

2929292929 SERRES M,1987, p.162. 3030303030 DEBORD, Guy. A Socieda- de do Espetáculo. 1997. p.24.

consumidor de ilusões. A mercadoria é essa ilusão efetivamente real, e o espetácu- lo é sua manifestação geral.

Nesse sentido, o espetáculo unifica e explica uma grande diversidade de fenôme- nos aparentes. Suas diversidades e contrastes são as aparências dessa aparência organizada socialmente, que deve ser reconhecida em sua verdade geral. O espe- táculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda vida humana. Segundo Debord, a atitude do espetáculo que por princípio ela exige é a da aceitação passi- va que, de fato, ele já obteve por seu modo de aparecer sem réplica, por seu mono- pólio de aparência.32

O poema de Baudelaire “Os Olhos dos Pobres” ( Spleen de Paris , nº 26) traduz toda esta admiração dos indivíduos pelo fascínio de um mundo novo, cujos olhos ficam enebriados movendo-se prazerosamente diante da variedade dos objetos sen- síveis que se apresentam no boulevard . Esta cena mostra também o antagonismo de classes, experimentada pelos casais, um podendo desfrutar desses prazeres e o ou- tro numa condição excludente e resignada, apenas admira. Berman conduz a descri- ção do poema sob a visão crítica da modernidade, onde opulência e privação convi- vem ao mesmo tempo e ocupam o mesmo espaço público favorecidos pela renova- ção urbana de Haussman.

“ . . .Era a tarde de um longo e adorável dia. Um casal passeava no boulevar e sentaram-se no terraço frente a um novo café. O café estava deslumbrante . Até o gás queimava com o ardor de uma iniciação; com toda a sua energia, iluminava a cegante brancura das paredes, a extensão dos espelhos , as cornijas e as molduras douradas. Ninfas e deusas arran- jando pilhas de frutas , gamos e guloseimas sobre suas cabeças . Em outras circunstâncias o narrador recuaria diante dessa grosseria comercializada; apaixonado, porém, sorri com afeição e desfruta do seu apelo vulgar. Enquanto se mantêm sentados e felizes, olhos nos olhos , os amantes são surpreendidos pelos olhares de outras pessoas. Uma família de pobres, vestida com andrajos – um pai de barba grisalha, um filho jovem e um bebê – pára exatamente em frente a eles e observam embevecidos o brilhante mundo novo lá dentro. Nenhuma palavra é pro- ferida, todavia o narrador tenta ler os olhos dele. Os olhos do pai pare- cem dizer: “Como isso é belo! Parece que todo o ouro do mundo veio se aninhar nessas

paredes.” Os olhos do filho parecem dizer : “Como isso é belo ! mas é um lugar que só pode ser freqüentado por pessoas que não são como nós.” Os olhos do bebê

estavam demasiado fascinados para expressar qualquer coisa além de ale- gria , estupidez e intensidade. A fascinação dos pobres não tem qualquer conotação hostil; sua visão do abismo entre os dois mundos é sofrida não militante, mas resignada. A despeito disso ou por causa disso, o narrador começa a sentir-se incomodado, “um pouco envergonhado de nossos copos e gar-

rafas, grandes demais para nossa sede”. Surpreende-se” tocado por essa família de olhos” e sente alguma afinidade por eles. Porém, no momento seguinte,

quando ele volta os olhos para a sua amada, para ler nelesos seus pensamentos, ela diz

“Essas pessoas de olhos esbugalhados são insuportáveis! Você não poderia pedir ao

3131313131 DEBORD, 1997, p.32

3232323232 DEBORD, Guy . A Socieda- de do Espetáculo . 1997. p.16 e 17.

gerente que os afastasse daqui ?”. A situação o deixou triste e enraivecido e

explica à mulher porque ele sente distante e amargo em relação a ela.

Observa-se que a posição do poeta que olha é, em si, espetáculo. Nesse quadro parisiense, é Baudelaire que ocupa o primeiro lugar, aquele de onde ele enxerga a cidade, mas que um outro ele, à distância, constitui-se como “objeto de segunda vista” A experiência daquele que diante da paisagem que é obrigado a contemplar e que não pode apropriar-se, “toma a pose” e tira da consciência dessa atitude um prazer raro e, às vezes, melancólico.

Em cima desse olhar de estranhamento que esvazia de qualquer conteúdo e sentido a paisagem é que Augé vai conduzir sua teoria sobre os não-lugares. Na interpreta- ção de Augé33, são tais deslocamentos do olhar, tais jogos de imagens que podem

conduzir de maneira sistemática, generalizada e prosaica as manifestações que ele propõe chamar “supermodernidade”. Para o autor, esta nova condição, impõe, na verdade, às consciências individuais, novíssimas experiências e vivências de solidão, diretamente ligadas ao surgimento e à proliferação de não-lugares34.

A abordagem teórica sobre o fetiche da mercadoria se faz necessária, na medida em que, subsidia a discussão sobe o espaço, objeto de análise - a Baía Noroeste - que está na iminência de uma transformação radical quando passa a incorporar o sentido da mercadoria. Por trás de sua paisagem visível, estruturas invisíveis estão sendo delineadas visando a comercialização dessa paisagem para a atividade turística. Este processo aponta para o fato de que ao vender-se o espaço, produz-se a não-identida- de, pois longe de criar uma identidade, produz-se mercadorias. A busca do original como parte do cotidiano passa a ser cooptado pelo desenvolvimento da sociedade de consumo.

Este processo provoca um sentimento ambíguo para aqueles que vivem nas áreas que num determinado momento se voltam para a atividade turística: estranhamento e êxtase. A o mesmo tempo em que violenta e rapidamente transforma, por outro lado, oferece o espetáculo pronto a ser consumido e vivido. A questão da paisagem turística, especialmente a que se refere ao lugar periférico – Ilha das Caieiras - neces- sita de procedimentos de reflexão mais profunda que serão comentados nos capítu-

los posteriores. 3333333333 AUGÉ, Marc. Não-Luga-

res. Introdução a uma aantropologia da supermo- dernidade. 2 ed. Campinas: Papirus, 2004.p.26. 3434343434 Para Marc Augé, os não-

lugares medeiam todo um

Outline

Documentos relacionados