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As Primeiras Ocupações: Santo Antônio e Ilha das Caieiras

O bairro mais antigo é o de Santo Antônio, contíguo ao centro. Por um longo período da urbanização do município, o bairro foi considerado como limite periférico da expansão urbana, prevalecendo esta idéia até o início da década de 1970. O bairro passou a ser conhecido como o “bairro dos cemitérios”, pois predominava a idéia nos planos urbanísticos o pensamento de que cemitérios deveriam localizar- se o quanto mais afastados da estrutura urbana.

Atualmente, o bairro de Santo Antônio apresenta densa ocupação nas encostas estruturada em microparcelas observando-se a sub-utilização de espaços livres e de infra-estrutura em área de aterro. A forma de ocupação do solo desconsiderou as referências características da paisagem natural, tanto nas áreas de aterro como nas áreas de encosta, resultando numa inexpressividade no contato com as águas da baía.

Apesar de estar situado a sudoeste da baía, o bairro foi incluso na delimitação da região pela presença de áreas descontínuas e livres que poderão vir a se integrar no plano de ecoturismo para a região. A existência de uma estrutura de lazer já montada,

Fig 4.26 Fig 4.26Fig 4.26

Fig 4.26Fig 4.26 Urbanização Baía Noroeste. Foto aérea 1970 Fonte: IPES

Foto Aérea de 1970 Baía Noroeste

Fig 4.27 Fig 4.27 Fig 4.27 Fig 4.27

Fig 4.27 Urbanização Baía Noroeste. Foto aérea 1990. Fonte: IPES

Foto Aérea de 1990

Ilha das Caieiras Região Noroeste

tais como o Cais do Hidroavião22, de onde partem embarcações de turistas para

passeios ao manguezal e à baía, o Sambódromo e parques livres remodelados pela administração municipal, oferecem opções diversificadas ao turismo, fortalecendo a incorporação do bairro ao sistema de ações propostas para o desenvolvimento da região.

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2222 Na década de 30 foi

construído no bairro, o Cais do Hidroavião, instalado naquela região devido à calmaria das águas, a topografia do bair ro ( protegido pelos ventos) e pela proximidade com o centro de Vitória. O Cais de Hidroavião funcionava como escoadouro de produtos agrícolas provenientes de Santa Leopoldina, e a partir dessa época com a melhoria da estrada de acesso, o bairro passou a ter uma impor tância maior no contexto da cidade de Vitória.

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2323 PREFEITURA Municipal de

Vitória. PROJETO TERRA.

Fig 4.28 Fig 4.28 Fig 4.28 Fig 4.28

Fig 4.28 Parques e infra- estrutura de lazer em Santo Antônio. Foto: Vítor Nogueira. Fig 4.29

Fig 4.29 Fig 4.29 Fig 4.29

Fig 4.29 Cais do Hidroavião Fonte: acervo pessoal. Fig 4.30

Fig 4.30 Fig 4.30 Fig 4.30

Fig 4.30 Santuário de Santo Antônio. Visitação e peregrinos. Foto: Vítor Nogueira.

Fig 4.31 Fig 4.31 Fig 4.31 Fig 4.31

Fig 4.31 O povoado de Ilha das Caieiras em 2002. Fonte: acervo pessoal.

Fig 4.32 Fig 4.32 Fig 4.32 Fig 4.32

Fig 4.32 Histórica tradição que se mantém: barcos de pescadores atracados em

Outra forma de ocupação bem antiga da região noroeste é o bairro da Ilha das

Caieiras, que teve início na década de 1920, e tem suas origens na implantação da fábrica de cal Boa Esperança e no transporte do café produzido nas fazendas de Santa Leopoldina. Os canoeiros, ao transportarem o café em grandes canoas pelos rios Santa Maria e Bubu que desembocavam frente à Ilha, faziam desta um ponto de parada antes de alcançar o Porto de Vitória. A parada na Ilha para estes canoeiros era para um pequeno descanso, entrega de mercadorias ou correspondência, e mesmo simplesmente para tomar uma boa cachaça. A permanência dos passageiros era sempre rápida, pois o destino final da viagem era o Porto de Vitória.23

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Com o declínio do café, muitas famílias estabeleceram-se na Ilha por terem ouvido dizer que era um lugar bonito e bom de se morar, com muita fartura de peixes e mariscos. Além das riquezas naturais para sobrevivência das famílias que ali começaram a chegar, havia também a fábrica de cal como outra opção de trabalho. Dessa forma, os canoeiros e pescadores foram os responsáveis diretos pela ocupação da Ilha, sendo os primeiros moradores as famílias provenientes de municípios

vizinhos - Santa Leopoldina, Cariacica - que chegaram através dos rios Santa Maria e Bubu.

No início da ocupação, as casas eram de estuque, não possuíam energia elétrica e nem água. Usavam lamparina e pegavam água no Sítio do Jacaré, ainda hoje localizado às margens da Rodovia Serafim Derenzi. Não existia estrada, somente um “caminhozinho” próximo à maré que quando estava cheia impedia a passagem, fazendo com que os moradores passassem pelo morro existente no local.

A ocupação do bairro foi lenta e gradativa. Os moradores criaram fortes vínculos familiares em decorrência do casamento entre os migrantes das mesmas famílias que residiam no local. Esse é um fato característico na Ilha, ou seja, todas as pessoas que moram na parte baixa do bairro têm um certo grau de parentesco.

Entretanto, esta qualidade de vida existente na Ilha das Caieiras foi rompida quando em 1977 sofreu um grande impacto ambiental com o processo de invasão da região do contorno da Ilha. A ocupação de São Pedro que teve início no mangue compreendia uma extensão de quase 5Km. Além de perder muito da sua privacidade, com as ocupações vizinhas tudo passou a ser jogado na baía afetando diretamente a população da Ilha. Posteriormente a Prefeitura Municipal incorporou o bairro à Administração Regional de São Pedro (Região VII).

A Grande Invasão de São Pedro: a fragilidade dos ecossistemas humanos sobrepondo os naturais

Falar da urbanização na Baía Noroeste, que guarda excelentes potenciais paisagísticos dados pelo mangue e demais ambiências, é tornar evidente um processo de adensamento recente, porém acelerado, cuja ocupação foi gerada, sobretudo, por aterros ao manguezal e por invasão de palafitas.

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Fig 4.33 Invasão no início da década de 1980 se estende por grande área de mangue, às margens da Rodovia Serafim Derenzi. Foto: Vítor Nogueira.

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Fig 4.34Fig 4.34 Conjunto de barracos. Ao fundo, a Baía Noroeste. Fonte: Arquivo Público P.M.V.

Fig 4.35 Fig 4.35Fig 4.35

Fig 4.35Fig 4.35 As pessoas circulavam através de pinguelas por sobre o mangue.Foto: Vítor Nogueira. Fig 4.36

Fig 4.36Fig 4.36

Fig 4.36Fig 4.36 O grande número de migrantes desem- pregados catavam lixo como forma de sobreviver ao caos. Fonte: Arquivo Público Municipal.

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A primeira invasão na região de São Pedro iniciou-se em 1977. O primeiro núcleo surgiu com as famílias que foram expulsas da área próxima onde seria construída a nova rodoviária. Essas famílias despejadas foram assentadas numa pequena área de encosta do Maciço Central, ao lado da Rodovia Serafim Derenzi, próximo à Ilha das Caieiras, até então o único núcleo povoado dessa região. Passado algum tempo, com a deposição do lixo no manguezal logo abaixo da área de assentamento, essas famílias se organizaram e formaram o primeiro Movimento Comunitário que tinha como objetivo acelerar a ocupação do manguezal que já começava a ser aterrado com o lixo urbano.

A ocupação da Grande São Pedro deu início a uma mobilização popular e de lutas reivindicatórias que se tornaram a marca de todo o processo, tanto de ocupação como de urbanização da região. Assim, de 1980 a 1982, houve várias invasões organizadas trazendo novos ocupantes, muitas vezes familiares e parentes que já haviam se instalado. O movimento de ocupação avançava em novas áreas agregadas às anteriores, criando uma grande mancha disforme que ocupava as áreas aterradas com lixo, as áreas alagadas e desmatadas. Nessa época, São Pedro já contava com dois outros núcleos, São Pedro I e São Pedro III, cuja localização fazia um anel envolvendo a antiga comunidade da Ilha das Caieiras24.

Pesquisa sócio-organizativa. Poligonal 12 Vitória. 2001.

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2424 ZECHINELLI, Ivani Soares.

Projeto São Pedro – Desenvolvimento Urbano Integrado e Preservação do manguezal – Vitória (es) – Uma Experiência Municipal a caminho do Desenvolvimento Sustentável. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2000

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2525 Principal rodovia de

acesso à região que contorna o Maciço Central na sua parte oeste formando um anel viário, por onde se formaram os assentamentos humanos.

Num mar de barracos feitos apressadamente e de qualquer material, destacavam- se as “pinguelas”que ligavam as casas a uma viela principal e esta à Rodovia Serafim Derenzi 25. A situação da área não urbanizada era crítica sob todos os pontos de

vista, principalmente na ótica das condições sanitárias e de saúde.

O Projeto de Urbanização de São Pedro foi desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Vitória durante várias administrações públicas sob diferentes enfoques. Definiu- se assim, que a região de São Pedro seria tratada de forma integral envolvendo todos os bairros que se formaram no processo de invasão. A finalização da

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26 Cito In: Vale, Claúdia

C â m a r a . M o n o g r a f i a Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória. 1992

O lixo se tornou a principal alternativa de renda e de alimento para aquelas famílias que selecionavam e catavam os restos de alimentos e produtos comercializáveis como plástico, lata, papelão e papel. A alternativa de catação, como forma de sustento, foi se tornando bem sucedida e os catadores se organizaram e formaram a Associação dos Catadores de Lixo de Vitória, que passou a exercer uma grande liderança na região.

Dessa feita, o manguezal, mais uma vez, foi palco de ocupações, aterros e destruição no processo de solicitação de espaços para abrigar a população que migrava de todos os cantos do Estado e regiões próximas, vislumbrando melhorias das condições de vida com as promessas advindas da industrialização e modernização da cidade (ver capítulo Grandes Projetos). Segundo Carmo26 (1989), no período compreendido

entre a década de 1970 e o término do seu trabalho foram destruídos 7,6 ha de manguezal no município de Vitória, aterrados sob o lixo e sob os novos bairros periféricos. Entretanto, o manguezal e toda sua riqueza protéica, não significava uma solução alternativa de sustento para aquela população migrante e interiorana, uma vez que não fazia parte de suas histórias de vida.

Apesar das dificuldades e de uma forma precária, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente passou a fiscalizar a região de São Pedro, na tentativa de conter os desmatamentos e a ocupação, mas não foi suficiente para impedir os avanços da ocupação nem a destruição do manguezal. Os aterros causados pela deposição continuavam incentivando o crescimento da ocupação. Em 1987, pressionada pela comunidade local, mas também pela repercussão política negativa das condições dos ocupantes de São Pedro, a Prefeitura Municipal contrata o projeto e execução das obras de urbanização das áreas invadidas.

4.37 Fig 4.37

Fig 4.37 Fig 4.37 Fig 4.37

Fig 4.37 O Plano geral de urbanização, realizado pela administração municipal, envolvia vários bairros que hoje compreende a Grande São Pedro. Fonte: Empresa Odebrecht S.A..

urbanização foi determinada como prioridade de governo e estabelecida por um planejamento de longo prazo. As políticas sociais foram ampliadas, fortalecendo a parceria entre poder público e a comunidade.

O projeto final elaborado contemplou a urbanização da área invadida e previu como forma de salvaguardar o mangue remanescente, a construção de canais artificiais no sentido longitudinal às ocupações, estabelecendo limites à segurança do manguezal. Estes foram projetados com largura e profundidades adequadas às finalidades de barreira física e via navegável.27

Fig 4.38 Fig 4.38Fig 4.38

Fig 4.38Fig 4.38 Obras de urbanização de São Pedro. Observa-se a presença de canais longitudinais ao traçado das ruas visando preservar o mangue. Fonte: Arquivo Público P.M.V. Fig 4.39

Fig 4.39Fig 4.39

Fig 4.39Fig 4.39 Canalização em projeção longitudinal à ocupação. Fonte: Arquivo Público P.M.V.

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Fig 4.40Fig 4.40 A extensão do Lameirão preservado por legislação municipal. Foto: André Alves.

O aterro das grandes áreas foi iniciado após a inauguração da Usina de Lixo – compostagem e reciclagem – que absorveu grande parte dos catadores de lixo da região de São Pedro, num local situado próximo ao Lameirão, onde mais tarde se originaria o bairro Resistência. Esta iniciativa da prefeitura foi uma alternativa no sentido de proteger o mangue e criar condições de salubridade aos catadores de lixo, apesar de muitos terem perdido sua principal fonte de renda (principalmente mulheres e crianças).

Em 1986, em função da urgência e movimentação em defesa desse ecossistema tão sensível à ação antrópica, foi criada a Unidade de Conservação Municipal Ilha do Lameirão que preservaria 891,33 ha de mangue.28 A situação geográfica da

Estação Ecológica era estratégica do ponto de vista da preservação, pois se tratava de uma grande ilha circundada por canais naturais, por todos os lados, o que particularmente favorecia a fiscalização por embarcação e proteção.

27 2727 2727 ZECHINELLI, I. 2000, p.96 a p.98. 28 2828 2828 Zechinelli,2000, p.87. 4.38 4.39 4.40

Desde então, a delimitação e preservação do manguezal passaram a ser prioridade das administrações subseqüentes que conseguiram conter as ocupações e a deposição de lixo, dando seqüência à urbanização completa das áreas ocupadas. O projeto São Pedro incorporou ainda outras áreas de mesma situação, tais como o caso de Estrelinha, Inhanguetá, Grande Vitória e Resistência. Atualmente a Administração Regional de São Pedro (Região VII) é constituída pelos seguintes bairros: São Pedro I, São Pedro II, São Pedro III, São Pedro IV, Ilha das Caieiras, Santo

André, Redenção , Nova Palestina, Resistência, Comdusa e Conquista. Os bairros de

Estrelinha , Inhanguetá e Grande Vitória são integrantes do Projeto e do processo de ocupação do manguezal de São Pedro, porém pela identidade e descontinuidade territorial fazem parte da Administração regional de Santo Antônio.

Na interpretação de Zechinelli, a visão institucional sofreu avanços com o desenrolar das intervenções, o que favoreceu as relações entre poder público e comunidade

TTTTTaaaaabela 6bela 6bela 6bela 6 - População de Vitória por Regiões Administrativas e taxa de crescimentobela 6 populacional, 1991 e 2000.

Gráfico 6 Gráfico 6 Gráfico 6

Gráfico 6 Gráfico 6- População de Vitoria por Regiões Administrativas em 1991 e 2000

Fig 4.41 Fig 4.41Fig 4.41

Fig 4.41Fig 4.41 Invasão em 1977. Foto: Vitor Nogueira.

Na percepção da importância do meio ambiente, vindo a demonstrar um diferencial positivo no processo. Segundo a autora,29 a história de São Pedro poderia não ser a

mesma se os atores sociais, individuais ou coletivos não se organizassem e se unissem em prol da melhoria das condições de vida a que estavam submetidos. A população que para ali convergiu, forçada pelas circunstâncias que ali advieram, ou seja, a exclusão social de moradia e do trabalho, foi resultado de uma política de desenvolvimento que não levou em consideração todos os fatores que influenciaram esta ocupação subnormal.

Fig 4.42 Fig 4.42 Fig 4.42 Fig 4.42

Fig 4.42 A Grande São Pedro em 1997, incluindo o bairro de Ilha das Caieiras Foto: André Alves.

“ Em diversas ocasiões a luta, a perseverança e a tenacidade dessas pessoas foram os fatores mais importantes para que o processo se instalasse e se desenvolvesse conforme ele se apresenta hoje. As conquistas sociais são o fruto dessa luta e da organização, sob a liderança de muitos no decorrer do tempo. A luta primeira se constituiu pelo direito a um local de moradia, depois vencer a natureza hostil que o mangue representava, aliada ao sentimento de se constituírem no “resto” da sociedade, visto que eram misturados ao que a sociedade rejeitava – o lixoo lixoo lixoo lixoo lixo . A conquista posterior foi a urbanização que os faria semelhantes à cidade le

semelhantes à cidade lesemelhantes à cidade le

semelhantes à cidade lesemelhantes à cidade legggggalalalalal, e com ela o direito à saúde, à educação, ao transporte, à infra-estrutura e ao emprego”. Zechinelli 29 29 29 29 29 ZECHINELLI,2000, p.138 e p.139. 4.42

Cultura: conceito de diferença?

O mundo humano é um mundo de produtos que integra um todo, é o mundo da percepção sensorial. O mundo social está carregado de significados simbólicos e afetivos e cada objeto contém as tradições – técnicas sociais e espirituais – que lhe atribuem um valor simbólico, um estilo, enfim, uma cultura. Daí, a importância dos símbolos culturais associados à imagem de uma localidade, cidade ou região, imprimindo-lhe caráter único, demonstrando através da forma e da técnica, na combinação de seus elementos naturais e construídos, uma forte expressão de seu cotidiano. As diversas formas de manifestações culturais presentes na Baía Noroeste são resultantes da identidade relacional e histórica que seus habitantes estabelecem com o lugar.

Nesse sentido, vale tentar uma aproximação do conceito de cultura e como esta se relativiza num contexto mais amplo, do universo global. A dificuldade de explicar a origem da peculiaridade do racionalismo ocidental do ponto de vista da história da cultura reside em que ótica ela deve ser abordada. Como se sabe, a racionalidade está presente em todas as culturas, mas quais seriam as combinações e os aspectos fundantes no surgimento de uma nova ordem constitutiva da modernidade ocidental? Eis a questão central que movimenta intermináveis ensaios e debates acerca do assunto. “Nós ocidentais somos completamente diferentes dos outros”. Este é o grito da vitória ou a longa queixa dos modernos.

A interpretação de Levebvre para a ambivalência universal é de que o mundo é constituído por dois setores: o dominado e o não dominado. O setor dominado da escala humana é o conjunto da atividade produtiva – a práxis – submetida ao controle humano e que tende a consolidar um determinismo.30 O setor não dominado

compreende tudo aquilo que a atividade não pode consolidar. Neste contexto, portanto, o pensamento primitivo tende a dominar o que não se domina através da magia e da arte, que seriam extensões ilusórias das realidades desconhecidas. Para Freud, o pensamento trabalha sobre percepções e reminiscências, com vistas ao conhecimento e à transformação da realidade exterior.Tal conhecimento pode ser falseado e, conseqüentemente, influir na transformação, quando a percepção é suprimida ou deformada, ou quando o pensamento produz associações errôneas ou deficitárias. Isto é, ou os objetos podem não serem percebidos, ou as conexões – por contigüidade ou similaridade - podem ser insatisfatórias, mas a consciência sempre quer conhecer a realidade. 31

Nesta ótica, os antropólogos afirmam que a consciência primitiva contém elementos racionais que se manifesta na atividade produtiva e na sua forma de se relacionar com o mundo. Entretanto, a interpretação dessas práticas constantemente cede lugar à magia e a bruxaria. Ambas as formas surgem quando as circunstâncias práticas ou naturais do cotidiano os colocam numa relação destrutiva, encontrando nelas a explicação para a causalidade, o inexplicável.

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3030 O deter minismo tem

como lugar o conjunto de determinantes e finalidades da atividade.

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3131 LEITE, Maria A. F Pereira

In: A reflexão: natureza, paisagem e lugar (Cap,3) As tramas da Segregação. Tese de Livre Docência FAU/USP. 1998.

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