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A crítica fA crítica favoravoravoravoravorecendo a moderecendo a moderecendo a moderecendo a moder nidadeecendo a modernidadenidadenidadenidade

O Iluminismo é a primeira manifestação de uma nova modalidade filosófica que se estendeu e cobriu dois séculos, permanecendo até os dias de hoje, caracterizando-a como um discurso da modernidade. O pensamento de Kant faz parte do momento histórico ao qual estava inserido – o séc. XVIII e o Iluminismo – que o aproximava do processo de consciência de si mesmo, situando-o em relação ao passado e ao futuro, e designando operações que viriam se realizar em nosso presente.

Em 1784, Kant inova o pensamento filosófico fazendo uma análise crítica do mun- do e de nós mesmos, contextualizando-a no presente. Esta é a diferença para a filosofia clássica que até então estava interessada apenas na investigação dos funda- mentos científicos e da metafísica. Ele inicia sua reflexão analisando um evento histórico e contemporâneo: o Iluminismo. E prossegue questionando qual seria a diferença que o Iluminismo introduziu em relação ao passado, como deveríamos nos inserir neste processo e o que deveríamos recusar? Segundo Kant, a contemporaneidade é a questão principal no Iluminismo. Evento que significa valor, a forma de encontrar a nossa própria razão de ser. Ele caracteriza-o como um fenô- meno, a modificação e a ruptura de uma relação preexistente que ligava a autoridade ao uso da razão.

Em alguns ensaios como “The Art of Telling the Tr uth“ e “What is Enlightenment?”, Foucault11analisa o que o pensamento filosófico de Kant e o

Iluminismo produzem de significado para a reflexão atual sobre a modernidade. Foucault tenta mostrar através de Kant, como o elemento tornou-se o símbolo do processo que envolve o pensamento, o conhecimento e a filosofia. Desse modo, Foucault compartilha do pensamento de Kant quando afirma que “a modernidade

1010101010 HARVEY (2000), p.178.

1111111111 FOUCAULT, Michel. What is Enlightenment? In: Paul Rabinow editor. The Foucault reader.New York: Pantheon Books,1984. p.32-50.

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12 Aufklãr ung significa

Iluminismo em alemão.

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13 FOUCAULT, Michel. What is

Enlightenment ? In Paul Rabinow editor. New Yorker. 1984. p.35.

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14 Kant considera a

Revolução Francesa como um evento de valor. Nesse sentido, a impor tância do significado é o que estamos buscando. A Revolução é significativa não pela explosão dos gestos que a acompanharam, não pelo fracasso ou sucesso que ela possa ter obtido, mas ela é impor tante pelo processo, pelo significado e pela forma como as pessoas foram en- volvidas por ela. In: FOUCAULT, Michel. The Art of Telling the Truth . In Michael Kelly editor Cambridge:MIT Press.1994. p.143.

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15 Latour define Constituição

como sendo humanos e não- humanos (natureza, objetos e cultura), suas propriedades e suas relações, suas com- petências e seus agrupamen- tos. In: Jamais fomos Modernos (2000), p.21. não é uma relação longitudinal com o passado, mas sagital com o presente”, ou seja, “a

modernidade entendida como uma atitude, uma crítica permanente em relação ao presente e com o significado dele.”

“Kant define Aufklärung12 quase como uma maneira de dizer “exit “ ou ”way out”

, uma forma de liberação de nossa imaturidade. Nesse sentido, imaturidade aqui signi- fica aceitar ou nos deixar conduzir por outra forma de autoridade em áreas onde o uso da razão é solicitado. O Iluminismo, portanto, pode ser considerado como um processo de participação coletiva dos homens, um ato de coragem para alcançar a realização pessoal. Os homens são os atores e os agentes desse processo.”13Foucault

Pela análise foucaultiana, Kant descreve o Iluminismo como um momento em que a humanidade faz uso da razão sem, entretanto, sujeitá-la a autoridade, ou seja, legiti- mar o uso da razão apenas sob condições em que se determina o que deve ser feito, o que deve ser sabido e o que deve ser esperado. Ele também faz a distinção entre o uso da razão pública e privada. A razão deve ser livre no uso público e submissa no uso privado, não referindo-se a uma obediência cega , mas adaptada às circunstânci- as. Enfim, o que podemos chamar de liberdade de consciência. Dessa forma, ele nos convida a promover novas formas de subjetividade através da recusa do tipo de individualidade imposta historicamente.

De qualquer forma, apesar das divergências de opinião, uma forma de conceituar o poder é checá-lo constantemente, e relacionar a teoria com a prática, contextualizá- los nas condições históricas e nas condições atuais. O objetivo desse modo de inves- tigação é prevenir a razão para não ir além do que é dado pela experiência. Nesse sentido, a analogia que Foucault faz da relação entre racionalidade e excesso de poder político é correta. Contextualizar os fatos no presente e descobrir neles o que existe de original e específico para que possamos ter clareza daquilo que almejamos alcançar e de nossa dimensão no futuro.

Uma outra questão original no campo da reflexão filosófica que Kant introduz no seu texto sobre Iluminismo é a definição de “raça” ou humanidade. Estaria a totali- dade da raça humana contida no processo do Iluminismo, ou seja, como mudança histórica afetaria política e socialmente todas as pessoas na face da terra? Kant tenta responder a esta questão quando atribui valor e significado a determinado evento14.

Esta causa deve mostrar ação no presente, no passado e no futuro. Dessa forma, poderíamos ficar seguros que não seria apenas uma ação particular do momento, mas uma garantia de uma tendência generalizada da humanidade, a totalidade mo- vendo-se em direção ao progresso.

Portanto, todos estes conceitos romperam de forma inovadora com o pensamento filosófico clássico. Foucault prossegue sua análise atribuindo significativo valor na

reflexão de Kant, considerando os vários aspectos que este evento contribuiu na formulação do pensamento moderno, bem como a forma de abordar a contemporaneidade, inaugurando a filosofia moderna.

“Uma crítica ontológica de nós mesmos não como uma doutrina ou teoria, mas consiste numa atitude, um ethos, uma filosofia de vida onde devemos fazer a crítica do que somos e ao mesmo tempo uma análise histórica dos limites impostos e experimentar as possibi- lidades de aceitá-los ou não” (Foucault, 1984, p.50)

A célebre frase de Foucault em que ele afirma que não há “relações de poder sem resistên-

cia”, significa dizer que a liberdade é uma pré-condição para que haja o exercício do

poder que reside na constante perseguição, provocação e intolerância à liberdade. O comportamento individual seria então a forma de resistência estando o homem moderno designado a se “autoconstruir”. Para ele, “ser moderno é negar o

enquadramento que lhe é dado.”

Enfim, o Iluminismo representou uma série de eventos políticos, econômicos, soci- ais e culturais, cujo processo ainda fazemos parte e dele somos resultantes, constitu- indo-se num domínio do conhecimento privilegiado para análise. Segundo Foucault, esta não foi apenas uma iniciativa que ligasse o progresso da verdade à história da liberdade num vínculo diretamente relacionado, mas a formulação de uma concep- ção filosófica no qual devemos considerar. Não se trata apenas de aceitar ou contes- tar o Iluminismo, sendo favorável ou escapando aos princípios de racionalidade, mas mantermos a autonomia de buscarmos nessa nuance dialética o que há de bom ou de ruim.

De certa forma, Foucault promove uma certa recusa à racionalidade científica im- posta pelas idéias iluministas, afirmando que a “verdade” universal é produzida his- toricamente como exercício de poder e que nós devemos submetê-la a uma crítica permanente. Diante dessa argumentação, Foucault assim como Latour atacam expli- citamente qualquer noção de que possa haver uma metalinguagem, mediante as quais todas as coisas possam ser conectadas ou representadas. As verdades eternas e uni- versais, se é que existem, não podem ser especificadas.

A Ciência e a Proliferação dos Híbridos

É interessante a crítica que Latour faz à modernidade e simultaneamente à ciência, tentando dissecar as diferenças que nos classificam como sociedades modernas das demais ditas “ não modernas” com base na Constituição15. Esta forma original de

questionar se realmente somos modernos, está apoiada pela imposição da constante separação entre natureza, sociedade e o conhecimento (discurso) do mundo moderno. Ele aqui define Constituição, como sendo o conjunto de humanos e não- humanos, suas propriedades, suas competências e seus agrupamentos. Assim, Latour

Enquanto as filosofias modernizadoras (Kant, Marx, dentre outros) criavam a gran- de separação entre os dois pólos da Constituição (natureza e sociedade) a fim de absorver a proliferação dos quase-objetos, uma outra estratégia era desenvolvida para tomar conta do meio, cuja dimensão não parava de crescer. As vertentes semióticas preocupam-se com o meio, utilizando a linguagem e o discurso como mediadores entre sujeito e objeto, transporta o sentido da natureza aos locutores ou destes à natureza, também criaram um impasse, limitando a sua tarefa ao discurso e esquecendo as referências. O texto passa a ser original e aquilo que ele exprime secundário. Tudo torna-se signo e sistema de signos. Nesse sentido, portanto, é complexo reduzir todo o cosmos a uma grande narrativa, todas s estruturas sociais a um discurso.16

define “moderno“ como um conjunto de práticas totalmente diferentes que, para permanecerem eficazes, devem permanecer distintas.

1. O primeiro conjunto de práticas cria, por “tradução“, mistura de seres comple- tamente novos, híbridos de natureza e de cultura e corresponde àquilo que ele chama de redes. Estas seriam as estratégias científicas e industriais, o Estado, a ecologia.

2. O segundo seria a crítica, dividindo o mundo natural da sociedade e um discurso independente de ambos.

Portanto, para Latour, “ser moderno” significa associar sempre essas duas práticas: a proliferação dos híbridos e a purificação através da crítica. A proliferação dos quase-objetos foi, portanto, acolhida por três estratégias diferentes: primeiro, a se- paração cada vez maior entre o pólo da natureza – as coisas em si – e o pólo da sociedade ou sujeito – os homens entre eles; segundo a autonomização da lingua- gem ou do sentido.

Dia DiaDia

DiaDiagrgrgrgrama 1grama 1ama 1ama 1ama 1

Fonte: Latour, p.62.

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16 LATOUR, Bruno. Jamais

Fomos Modernos. São Paulo: Editora 34,2000.p.62-63.

O diagrama 2 mostra que as explicações não partem mais das formas puras em direção aos fenômenos, mas sim do centro em direção aos extremos. Na interpreta- ção de Latour, o deslizamento dos extremos rumo ao centro e para baixo, faz girar tanto o objeto quanto o sujeito em torno da prática dos quase-objetos. É nesta dupla linguagem que reside a potência crítica dos modernos: podem mobilizar a natureza no seio das relações sociais, ao mesmo tempo em que a mantêm infinitamente distante dos homens; são livres para construir e desconstruir sua sociedade, ao mesmo tempo em que tornam suas leis inevitáveis, necessárias e absolutas. O que ele tenta demonstrar é que tanto o sujeito quanto o objeto giram em torno dos mediadores que seriam as explicações modernizadoras, ou seja, o discurso.

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Diagrgrgrgrgrama 2ama 2ama 2ama 2ama 2

Fonte: Latour, p.77.

Dia DiaDia Dia

Diagrgrgrgrgrama 3ama 3ama 3ama 3ama 3

Fonte: Latour, p.94.

“a natureza gira de fato, mas não ao redor do sujeito-sociedade. Ela gira em torno do coletivo produtor de coisas e de homens. O sujeito gira, de fato, mas não em torno da natureza. Ele é obtido a partir do coletivo produtor de homens e de coisas. O Império do Centro se encontra, enfim, representado. As naturezas e sociedades são os seus satélites.”

1717171717 LATOUR, 2000, p.41.

Segundo Latour, a Constituição (natureza, objetos, ciência) mostrou-se eficaz na forma de permitir e convergir através da “purificação” as três dimensões: coisas, pessoas e transcendência. Através dela os homens passaram a sentir-se completa- mente livres para tomarem decisões acerca dessas questões, independentemente uma das outras. Dessa forma, obtiveram o domínio sobre todas as fontes de poder e utilizaram infinitas possibilidades críticas para deslocá-las conforme a conveniência da situação.

Nesse sentido, Latour argumenta que a crítica tornou-se para os modernos o gran- de aliado para sustentar a capacidade e a eficácia dos tempos modernos, tornou-se, portanto, o último recurso às nossas indignações e indagações. E dessa forma, Latour prossegue em sua reflexão: “Quem nunca sentiu uma certa obstinação e inquietação perante a

distinção entre racional/irracional, falsos saberes/verdadeiras ciências, jamais foi moderno.” 17

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