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Análise do acesso dos pacientes à hemodiálise em Mato Grosso do Sul, Brasil

A.R. BARBIERI1; C.C.M. GONÇALVES2; M.F CHEADE3; R.FUKUDA4; C. SOUZA5, D. H. TSUHA5, K.C.FERREIRA5, PONTES, E.R.J.C6 1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); 2Universidade Federal da

Grande Dourados (UFGD); 3Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; 4 Secreta-

ria de Saúde do Mato Grosso do Sul; 5 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

ana.barbieri@ufms.br (Ana Rita Barbieri)

Palavras-chave: Diálise Renal, Equidade no Acesso, Política de Saúde

Introdução

A Doença Renal Crônica (DRC) é um problema de saúde pública decorrente do envelhecimento das populações e aumento das condições crônicas. O estágio final da DRC é a Insuficiência Renal Crônica (IRC) que leva o indivíduo às terapias renais substitutivas (hemodiálises ou diálise peritonial). Dados internacionais apontam em torno de 700 pacientes por milhão (pmp) na Europa, 662 pmp no Chile e 571 pmp na Argentina, alcançando 1.400 pmp nos Estados Unidos [1], [2], [3]. No Brasil, em 2000, havia 42 mil doentes ou 431 pmp com IRC e, em 2012 conforme censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, havia 97.586, aproximadamente 503 pmp [3].

Observa-se no país um incremento na captação dos doentes e melhoria no aces- so ao tratamento. No entanto, é possível que ainda exista um número expressivo de pacientes sem tratamento ou que sequer tenham acesso a ele. Tal suspeita é corroborada pelo número de doentes em outros países e pelas informações epide- miológicas brasileiras que apontam prevalências de 11% de adultos com mais de 40 anos com diabetes mellitus (DM) e aproximadamente 33% com hipertensão arterial (HA). Doenças apontadas como causas de 65% das hemodiálises no Brasil [3].

Sabe-se que fatores demográficos, como o número de idosos na população e epidemiológicos, como a distribuição das doenças de base que geram a DRC, bem como os determinantes sociais e culturais de saúde das sociedades precisam ser es- tudados para compor análises adaptadas às realidades locais que contribuam para a formulação de políticas de saúde. Mesmo mediante tal complexidade, esta pesquisa foi motivada pela hipótese de que há iniquidades no acesso dos pacientes ao tra- tamento hemodialítico, considerando que a doença tem distribuição relativamente homogênea na população.

Objetivos

Conhecer o perfil demográfico e doenças de base dos pacientes em hemodiálise. Analisar a frequência de pacientes em hemodiálise por local de residência.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Metodologia

Estudo transversal, censitário, analisou o fluxo de pacientes em hemodiálise em Mato Grosso do Sul (MS), estado localizado na região centro-oeste do Brasil, frontei- ra com Bolívia e Paraguai, com extensão territorial 357.145.836 km² e população de 2.505.088 habitantes em 2012. De baixa densidade populacional, 7 hab/km2, possui

78 municípios e destes, 48 com menos de 20.000 habitantes [4].

A pesquisa foi realizada com dados de 2012 sendo considerados os 1.446 pa- cientes atendidos nas 13 clínicas credenciadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) nos municípios de Campo Grande, Aquidauana, Corumbá, Dourados, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

Os dados secundários foram obtidos no Departamento de Informática do Minis- tério da Saúde (DATASUS) e nos prontuários arquivados nas clínicas. Foram inves- tigados os registros de CID.10 N18.0 (Insuficiência Renal Crônica) e feita a análise dos CIDs-10 secundários.

Para o pagamento das hemodiálises no SUS, são geradas Autorizações de Pro- cedimentos de Alta Complexidade (APACs) que registram como CID-10 primário a patologia que gera o procedimento, no caso o CID N18.0 autoriza a realização das hemodiálises. Os CIDs registrados como secundários nas APACs indicam as doenças de base, como por exemplo, HA e DM [5], [6].

As doenças de base foram agrupadas: DM (E14, E14.0), HA (I010, I10), Síndro- mes Nefríticas (N03,N03.0, N03.2, N03.3, N03.8 e N03.9), Insuficiencia Renal Crônica (N18.0, N18.8, N18,9), Rim Policístico (Q13) e Falência de Transplante Renal (T86.1).

A análise estatística foi realizada por meio da distribuição de freqüências sendo a variável dependente paciente em hemodiálise e as independentes foram dados demográficos (sexo, idade e raça), município de residência, município que realiza a hemodiálise e CIDs secundários.

Foram utilizados os programas Biostat 5.4 para análise da Correlação de Sper- man e o Quantum GIS (versão 1.8.0) para desenvolver a distribuição espacial dos pacientes nos municípios.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em conformidade com a legisla- ção brasileira e financiada pela FUNDECT/MS.

Resultados

Em 2012 houve 1.446 pacientes submetidos à hemodiálise em MS totalizando 13.091 procedimentos.

O inadequado registro dos CIDs secundários limitou o estudo das doenças de base. Tal resultado assemelha-se a outros achados no país, mas são superiores aos encontrados na Europa e EUA[6].

As clínicas estão distribuídas nos sete municípios mais populosos, deixando grandes áreas territoriais descobertas. Destas, cinco estão sediadas em Campo Grande, capital do estado que concentra 44.6% dos pacientes.

Ressalta-se que 72.4% dos pacientes apresentaram como município de residên- cia o mesmo da clínica, enquanto 16.9% percorrem distâncias de 101 km ou mais para realização do procedimento.

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Figura 1: Distribuição de pacientes em hemodiálise nas regiões do Mato Grosso do Sul segundo faixa etária, gênero, raça e diagnósticos secundários, 2012.

A figura 2 apresenta mapas nos quais visualisa-se a distribuição de pacientes em hemodiálise por município de residência. Observa-se uma distribuiçao desigual de pacientes em Mato Grosso do Sul,o que caracteriza a distância como barreira de acesso ao tratamento, pois quanto esta é maior entre a residencia do paciente e a clínica de hemodiálise, menor a quantidade de pessoas em tratamento. A cor- relação entre distância e frequência de pacientes foi positiva para 43% (r 0.43) dos pacientes que residem em municípios que não possuem clínicas de hemodiálise.

BARBIERI et al. | Análise do acesso à hemodiálise

Variável Campo Grande Corumbá Dourados Três Lagoas Total

N Coef N Coef N Coef N Coef N Cf

Faixa Etária (anos)

0-9 8 0.92 0 0.0 3 1.0 0 0 11 0.8 10-39 181 20.9 22 25.3 53 17.0 40 21.9 296 20.5 40-59 366 42.3 32 36.8 130 41.8 64 35.0 592 40.9 60-79 275 31.8 32 36.8 117 37.6 71 38.8 495 34.2 80 mais 35 4.1 1 1.2 8 2.6 8 4.4 52 3.6 Gênero Homem 523 60.5 46 52.9 178 57.2 109 59.6 856 59.2 Mulher 342 39.5 41 47.1 133 42.8 74 40.4 590 40.8 Raça (declarada) Amarela 9 1.1 0 0.0 5 1.6 0 0.0 14 1.1 Branca 392 52.5 29 33.3 179 57.4 70 38.5 670 50.6 Indígena 7 0.9 0 0.0 9 2.9 0 0.0 16 1.2 Parda 262 35.1 50 57.5 101 32.6 87 47.8 500 37.7 Preta 76 10.2 8 9.2 16 5.2 25 13.7 125 9.4 Diagnósticos Diabetes mellitus 38 37.3 23 22.5 41 40.2 0 0.0 102 7.1 Hipertensão Arterial 70 36.2 5 2.6 37 19.2 81 42.0 193 13.3 Síndromes Nefríticas 29 44.0 28 42.4 9 13.6 0 0.0 66 4.6 Insuficiencia Renal Crônica 331 57.8 26 4.5 213 37.2 3 0.5 573 39.6 Rim policístico 4 30.8 5 38.5 4 30.8 0 0.0 13 0.9 Falência de Transplante Renal 1 50.0 0 0.0 1 50.0 0 0.0 2 0.1 Sem registro 392 78.9 0 0.0 6 1.2 99 19.9 497 34.4

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Figura 2: Mapas do Mato Grosso do Sul tendo no primeiro o coeficiente de pacientes em hemodiálise e municípios que possuem clínicas de hemodiálise e no segundo as

distâncias médias percorridas para realização do procedimento, 2012. Conclusões

A despeito das hemodiálises terem alto custo aos cofres públicos, as informa- ções dos prontuários e bancos de dados são incompletas, com grande subnotificação dos CIDs secundários que, se bem informados, poderiam apoiar a tomada de deci- são. Mesmo havendo predomínio do IRC nos registros, a HA e o DM são responsáveis por 31,3% das doenças de base que levam à hemodiálise que, quando abordadas integralmente em todos os níveis assistenciais podem ter danos reduzidos.

A maior frequencia de doentes que residem nos municípios que são sedes das clí- nicas de hemodiálise (72.4%) sinaliza ainda que a distancia configura-se como barreira de acesso, mas também pode indicar mudança de endereço do paciente para viabilizar o tratamento semanal ou ainda alteração do município de residência para garanti-lo.

No campo da formulação das politicas, o enfoque dado à produção e ao paga- mento de procedimentos no sistema APAC reforça o anonimato dos pacientes e oculta a dimensão humana necessária para a tomada de decisões na saúde pública.

Referências

[1] Bull, A. (1992), The Economics of Travel and Tourism, Melbourne, Pitman [2] Medeiros, C. L., Cavaco, C. (2008) Turismo de Saúde e Bem Estar – Termas, Spas Ter-

mais e Talassoterapia, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portu- guesa, Colecção Estudos e Documentos 15, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa [3] Garcia-Altés, A. (2005), “The Development of Health Tourism Services”, Annals

of Tourism Research, Vol. 32, No. 1, pp. 266–268

[4] Organização Mundial de Saúde (6 de Outubro de 2010) http://www.who.int/en/ [5] Folland, S., Goodman, A. C., Stano, M. (2007), The Economics of Health Care,

5th Edition, Pearson Education, Inc.

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[6] Fazenda N. et al (2009), Programa de Acção de Enfoque Temático – Turismo de Saúde e Bem-Estar, in http://norteemrede.inescporto.pt/planeamento-re- gional/informacao-transversal/doc.-definitivos-plano-de-accao/programa- de-accao-saude-e-bem-estar-agenda-regional-de-turismo/at_download/file Agenda Regional de Turismo, Pacto Regional para a Competitividade da Região do Norte de Portugal, Tecniforma

[7] Ghersetich I., Freedman, D. e Lotti, T. (2000), “Balneology today”, Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology (http://www.ncbi. nlm.nih.gov/pubmed/11305374) , 14(5): 346-348.

[8] Diário da República – I Série A – Nº 136 -11 de Junho de 2004 – Decreto Lei nº 142/2004 – Actividade Termal

[9] Turismo de Portugal - Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvi- mento (2 de Outubro de 2010) http://www.turismodeportugal.pt

[10] Oguz, D. , Kulekci, O. , Akpinar, N. (2010), “The contribution of thermal sources to tourism development: A case study from Çankiri Çavundur, Turkey”, Scientific Research and Essays, Vol. 5(8), pp. 819-825

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Acesso e acessibilidade aos cuidados de

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