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Edson Z. MARTINEZ; Daiane L. ROZA; Elisangela A.S. LIZZI; Diorgines H. SILVA; Amaury L. DAL-FABBRO; Maria C.G.G. CACCIA-BAVA

Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil edson@fmrp.usp.br (E.Z.Martinez)

Palavras-chave: Gravidez adolescente, Indicadores em Saúde, Brasil. Introdução

A adolescência é uma fase caracterizada por grandes transformações físicas, biológicas, sociais, emocionais, culturais e psicológicas, quando o corpo assume uma dimensão bastante significativa. Esta é uma fase marcada por namoros e o início das experiências sexuais, quando as características sexuais secundárias co- meçam a surgir como resultado da estimulação hormonal. Consequentemente, as adolescentes são expostas ao risco de gravidezes precoces. Por sua vez, a gravidez na adolescência pode predispor o recém-nascido a riscos [1] como baixo peso ao nascer [2], prematuridade, hipoglicemia, hipóxia e atraso no desenvolvimento neu- ropsicomotor futuro.

Além dos diversos fatores estudados até o momento, a localização geográfica da residência e a comunidade em que as adolescentes estão inseridas têm uma grande contribuição no risco de gravidez na adolescência [3]. A gravidez precoce não ocorre apenas por características individuais, estudadas por muitos autores, mas recebe influência das estruturas econômicas, sociais e educacionais da comu- nidade de que a adolescente faz parte.

Assim, o uso de um modelo ecológico no estudo da gravidez em adolescentes objetiva não somente investigar os fatores associados ao fenômeno, mas também as condições regionais, socioeconômicas e de responsabilidade social da comunidade que podem influenciar uma gravidez adolescente, tentando desta forma, auxiliar gestores de saúde a planejar de forma contextualizada e singular as ações educati- vas voltadas a esta faixa etária, bem como ações de distribuição de renda, mercado de trabalho e desenvolvimento do estado que ofereçam mais e melhores perspecti- vas de vida para esse segmento.

No Brasil, a gravidez na adolescência é considerada um importante problema de saúde coletiva, dada sua alta incidência. Portanto, tornam-se importantes os estudos que contribuam para o entendimento do fenômeno no contexto de suas desigualdades geográficas.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Objetivo

Explorar as desigualdades geográficas da incidência de nascidos vivos cuja mãe é adolescente (idade entre 10 e 19 anos) e suas potenciais associações com os indi- cadores de desenvolvimento humano, considerando a população brasileira no ano de 2010 segundo as 27 unidades da federação (UF) que constituem o país.

Metodologia

Os dados de gravidezes na adolescência foram obtidos no Sistema de Informa- ções sobre Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde, considerando o número total de nascidos vivos em cada UF no ano de 2010 e o número de nascidos vivos cuja mãe tinha até 19 anos, nas respectivas UF. O Índice de Desenvolvimento Huma- no (IDH) é composto a partir de dados de expectativa de vida ao nascer, educação e produto interno bruto (PIB) per capita recolhidos cada município. Considera três dimensões: educação, longevidade e renda, além de um índice sintético dado pela média geométrica destas dimensões. Os valores do IDH e de outros indicadores utilizados em sua composição foram obtidos do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (disponível em http://atlasbrasil.org.br/2013/).

A análise estatística utilizou modelos bayesianos de regressão que assumem que o número de nascidos vivos cuja mãe é adolescente segue uma distribuição binomial com parâmetros Ni (o número total de nascidos vivos na i-ésima UF) e θi (o percentual de gravidez na adolescência na i-ésima UF). Os parâmetros θi foram as- sociados a uma variável X e a um efeito aleatório gi por uma função logito, ou seja,

, (1)

em que xi são observações de Xi,

x

é a média de X, b0 e b1 são efeitos fixos e gi

são efeitos aleatórios de áreas relativos à estrutura espacial do modelo, seguindo uma distribuição a priori normal CAR (conditional autoregressive) [4] na análise bayesiana hierárquica. O parâmetro b1 é, portanto, um indicativo da associação

entre a variável X e os percentuais de gravidez adolescente; quando b1=0, não

temos evidências de associação. Assim, consideramos o ajuste de quatro modelos de regressão, tal que cada modelo considera X como o IDH e seus três domínios. O programa OpenBUGS foi utilizado para a estimação dos parâmetros dos modelos e seus respectivos intervalos de credibilidade 95%.

Resultados

O Mapa 1 mostra os percentuais brutos de nascidos vivos no Brasil em 2010 cuja mãe é adolescente. São evidentes neste mapa as discrepâncias entre os percentuais observados nas diferentes regiões do país. Os maiores percentuais são observados no Pará (27,4%), Acre (26,8%) e Maranhão (26,3%), localizados no norte e nordeste do país. Os menores percentuais são observados no Distrito Federal (13,4%), São Paulo (14,8%), Rio Grande do Sul (16,4%), Santa Catarina (16,4%).

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Até 15% 15% |- 18% 18% |- 20% 20% |- 22% 22% |- 25% 25% ou mais

Mapa 1: Percentual de nascidos vivos no ano de 2010, Brasil, cuja mãe é adolescente

A Figura 1 mostra as relações entre os percentuais de gravidez na adolescência nas 27 UF e o IDH e suas dimensões. As curvas exibidas nos gráficos foram obtidas do modelo de regressão proposto, evidenciando que os percentuais diminuem à medida que os valores de IDH crescem. Em cada um dos modelos ajustados foram encontra- dos valores negativos para b1, evidenciando que UF com maiores valores de desen-

volvimento humano possuem menores percentuais de gravidezes adolescentes. Os intervalos de credibilidade 95% para b1 não incluem o valor 0, evidenciando que tal

decréscimo é significativo (similar ao conceito de “p<0,05” da estatística clássica).

0.65 0.70 0.75 0.80 14 16 18 20 22 24 26 (a) IDHM IDHM (% ) 0.55 0.60 0.65 0.70 0.75 14 16 18 20 22 24 26 (b) IDHM Educação IDHM Educação (% ) 0.76 0.78 0.80 0.82 0.84 0.86 14 16 18 20 22 24 26 (c) IDHM Longevidade IDHM Longevidade (% ) 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 14 16 18 20 22 24 26 (d) IDHM Renda IDHM Renda (% )

Figura 1: Relação entre os percentuais de gravidez na adolescência nas UFs brasi- leiras e (a) IDH; (b) IDH educação; (c) IDH longevidade; e (d) IDH renda. As curvas

exibidas foram obtidas dos modelos de regressão.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Conclusões

O Brasil possui um percentual bastante elevado de recém-nascidos de mães ado- lescentes, e este problema vai muito além do setor da saúde. As ações educati- vas voltadas à prevenção da gravidez adolescente e sua reincidência são de grande importância, mas o presente estudo evidencia que o fenômeno alcança dimensões mais complexas e exige ações públicas que procurem minimizar as diferenças sociais prévias. Observam-se nos resultados apresentados profundas associações entre as dimensões renda e educação do IDH, sugerindo que regiões brasileiras em que a po- pulação possui menor acesso à escola e oportunidades mais qualificadas de trabalho tenderão a apresentar maiores percentuais de nascidos vivos de mãe adolescente, visto que as jovens que não vislumbram um futuro de oportunidades educacionais e profissionais poderão contemplar em uma gestação uma de suas únicas alternativas de vida. Lembramos que uma gravidez adolescente dificulta a permanência da mãe na escola, o que limita o seu potencial de encontrar oportunidades de trabalho bem remunerado, o que, por sua vez, reduz a oportunidade de oferecer ao seu filho edu- cação de qualidade e acesso a serviços de saúde indisponíveis no sistema público [5]. Isto leva a um estado de perpetuação de situações de vulnerabilidade social.

Por fim, salientamos a importância de novos estudos ecológicos acerca do proble- ma, incluindo os diferenciais intra-urbanos da incidência de gestações adolescentes, de modo que as diferentes relações entre o fenômeno e as exposições a característi- cas ambientais possam auxiliar ações públicas direcionadas a proporcionar condições de vida mais propícias ao crescimento e desenvolvimento desse grupo etário.

Agradecimentos

Este estudo tem apoio financeiro do CNPq. Referências

[1] Goldenberg, P.; Figueiredo, M.D.C.T.; Silva, R.D.S. (2005), Gravidez na ado¬les- cência, pré-natal e resultados perinatais em Montes Claros, Minas Gerais, Ca- dernos de Saúde Pública, 21(4), pp.1077-1086.

[2] Gama, S.G.N.D.; Szwarcwald, C.L.; Leal, M.D.C.; Theme Filha, M.M. (2001), Gravidez na adolescência como fator de risco para baixo peso ao nascer no Município do Rio de Janeiro, 1996 a 1998, Revista de Saúde Pública, 35(1), pp.74-80.

[3] Martinez, E.Z.; da Roza, D.L.; Caccia-Bava, M.C.G.G.; Achcar, J.A.; Dal- Fa¬bbro, A.L. (2011), Gravidez na adolescência e características socioeconô- micas dos municípios do Estado de São Paulo, Brasil: análise espacial, Cadernos de Saúde Pública, 27(5), pp.855-867.

[4] Besag, J.; Kooperberg, C. (1995), On conditional and intrinsic autoregres¬- sions. Biometrika, 82(4), pp.733-746.

[5] Szwarcwald, C.L.; Andrade, C.L.T.D.; Bastos, F.I. (2002), Income inequality, residential poverty clustering and infant mortality: a study in Rio de Janeiro, Brazil, Social science & medicine, 55(12), pp.2083-2092.

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