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Maria do Céu MACHADO, Isabel ALVES, Luísa COUCEIRO, Francisco SILVA, Miguel ALMEIDA, Isa ALVES

Faculdade de Medicina da universidade de Lisboa Palavras-chave: natalidade, infertilidade, jovens universitários Introdução

Portugal era, em 1975, um dos países que apresentava mais elevada taxa de fe- cundidade da Europa, com elevadas taxas de natalidade mas esses valores caíram para níveis que não asseguram, presentemente, a renovação de gerações. Maiores níveis de educação e de participação das mulheres no mercado de trabalho, com implicações no equilíbrio dos tempos de família e de trabalho e a melhor capacidade dos casais em controlar a sua descendência, pelo acesso aos métodos de contracepção, são alguns dos fatores individuais e sociais que ajudam a compreender esta mudança [1], [2], [3] e [4]. A sociedade portuguesa também atravessa um período histórico de instabilidade e grande dificuldade económica, com o desemprego a aumentar principalmente nos jovens licenciados que conduz ao adiamento da idade da parentalidade. Os estudantes universi- tários são um importante grupo integrante da população fértil como agentes de mudança social, mas não existem estudos que avaliem as suas perceções acerca destas temáticas.

Objectivos

Caracterizar os conhecimentos, representações, atitudes, comportamentos e práticas dos estudantes de instituições de ensino portuguesas, a respeito da fecun- didade e da decisão e timing da parentalidade.

Metodologia

Foi desenvolvido um estudo epidemiológico transversal, de carácter analítico, não controlado, a partir de questionários auto-preenchidos, disponíveis online, tendo como universo os estudantes de instituições de ensino superior de Portugal. A divulgação do questionário desenvolveu-se de 16 de Julho de 2012 a 1 de Outubro de 2012. Para o cumprimento dos objetivos definidos nesta investigação foram incluídas no questio- nário diversas questões que foram organizadas nos seguintes grupos: ensino superior, residência, características individuais, caracterização da família, estado civil, métodos contraceptivos, hábitos, parentalidade, factores determinantes na probabilidade de vir a ter filhos, conhecimentos e convicções sobre: adiar a decisão de ter filhos, in- fertilidade, importância atribuída à família, carreira, emprego e outros, vantagens e desvantagens na vida de um casal com filhos.

Obtiveram-se respostas de 3585 estudantes universitários, tendo sido analisada a amostra global, as diferenças por sexo e o estudo de correlações múltiplas. A análise esta- tística foi desenvolvida em SPSS; Excel, para gráficos e tabelas, e ArcMap para os mapas.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Resultados

Houve um predomínio de estudantes da Ciências de Saúde (40,6%) e da Uni- versidade de Lisboa (59,4%) sendo a mediana de idades de 22 anos e 76,9% são do sexo feminino. A intenção de casamento/união de facto foi de 71,0%, nos próximos 5 (43,0%) ou 10 anos (42,8%). Quanto aos factores de risco de infertilidade, são referidos: tabagismo (18,4%), consumo de álcool (22,3%), e excesso de peso e obe- sidade (15,4%); os jovens filhos únicos são em percentagem muito maior do que o tinham sido as mães e os pais (geração anterior); 31,2% querem ter 3 ou mais filhos; 85,7% desejam ter filhos, confirmam idade ideal para os ter entre os 25 e os 35 anos e planeiam 2 ou 3 (79,6%). 33% não identificaram qualquer determinante na probabilidade de ter filhos. O emprego (47,4%) e estabilidade (33,9%), ser casado/ unido de facto (30,5%) e estabilidade na relação (38,8%) e a vontade do parceiro (39,9%) foram considerados muito importantes bem como a segurança financeira para proporcionar uma boa educação (33,6%) e cuidados de saúde (38,6%). Quanto às consequências de adiar a idade do primeiro filho, a maioria salienta a gestação de maior risco (32,3%), a infertilidade (21,9%) e o menor número de filhos (19,5%). 53,6% já considerou a possibilidade de ser infertil. Finalmente, metade considera que ter filhos é uma opção racional (50,7%). Os homens apresentam ainda valores mais elevados para o tabagismo (p=0.001) e consumo de álcool (p=0.000). Também se encontraram diferenças significativas na idade para o primeiro filho (p=0.01). Quanto aos determinantes da probabilidade de ter filhos, o sexo feminino identifica a segurança financeira para proporcionar bons cuidados de saúde (41,1%) e o mascu- lino, a vontade de a parceira ter filhos (38,7%). Ambos referem a gestação de maior risco como a principal consequência do adiamento da idade para ter o primeiro filho (32%); o factor de infertilidade mais referido pelo sexo feminino é a idade materna > 35 anos (19,9%), enquanto, para o masculino é o tabagismo (19,9%). Para os dois sexos, o menos importante é a idade paterna > 35 anos (1 a 2%); entre família, em- prego e carreira, 86,8% do sexo feminino e 75,8% do masculino consideram a família o factor com mais importância; a análise de correspondências múltiplas mostra que o tipo de curso, a área de estudos, o sexo, o tipo de família e o número de irmãos não têm influência nas diferenças nas respostas.

Conclusões

Os estudantes do ensino superior constituem uma parcela do universo dos jo- vens portugueses com representações e percepções expressivas no que se refere à fertilidade e fecundidade; a adesão ao questionário on line demonstra que as Associações de estudantes universitários são um excelente instrumento de acesso; encontrou-se alguma falta de informação relativamente às consequências de adiar a idade do primeiro filho, e as respostas aos factores de infertilidade pulveriza- ram-se em todas as hipóteses propostas; neste item, há um número importante de estudantes que não responderam, o que mais uma vez, é revelador da escassa literacia em saúde desta população; este perfil é mais acentuado no sexo masculi- no. O decréscimo da taxa de fecundidade não deve ser encarado apenas como uma necessidade de desenvolver políticas de apoio à natalidade como licenças paren- tais adequadas, segurança de emprego, garantia de não interrupção de carreiras e creches e jardins-de-infância em número adequado e com apoio social [5] [6] mas também outras como flexibilidade de trabalho, a possibilidade de trabalhar em

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casa e a criação de bolsas de horas para mãe e pai [7] [8]. Quanto à infertilidade resultante do adiamento da idade do primeiro filho, do tabagismo e da obesidade, é urgente aumentar a informação e melhorar a literacia em saúde nos jovens, para o que têm papel importante os profissionais de saúde e de educação; atra- vés do conceito de medicina compreensiva, oportunista e de proximidade, cabe a todos os profissionais de saúde, entender razões e fazer promoção nestas áreas [9] [10]. Também os jovens universitários devem ser envolvidos pois são eles que facilitam o acesso em rede e que sabem a forma mais adequada de serem sensibi- lizados; urgente, ainda, um jornalismo proactivo, conteúdos educativos em filmes, mHealth, ou seja, mensagens através de redes móveis. O tabagismo e a obesidade são problemas de saúde pública que importa controlar, independentemente das consequências na natalidade.

Referências

[1] Almeida AN, André IM, Lalanda P (2002), Novos padrões e outros cenários para a fecundidade em Portugal. Análise Social,vol. XXXVII (163), pp.371-409

[2] Mendes MF, Rego C, Caleiro A (2006), Educação e fecundidade em Portugal: as diferenças nos níveis de educação influenciam as taxas de fecundidade? Departamento de economia da Universidade de Évora

[3] Oliveira IT (2007), Fecundação e educação, Rev Estudos Demogr, 40, pp. 7-19

[4] Rosa MJV, Chitas P (2010), Portugal em números, Fundação Francisco Manuel dos Santos

[5] Bianchi SM, (2011), Changing families, changing workplaces, Future Child, 21(2), pp. 15-36

[6] Liefbroer A. (2009), Changes in family size intentions across young adulthood: a life-course perspective. Eur J Population, 25, pp. 363-86

[7] Machado MC. (2012), Fecundidade e natalidade: problemas e políticas sociais e de saúde. In Roteiros do Futuro, Edição da Presidência da República.

[8] Moore PJ. ; Sharma S. (2005), A delay in age at first mating in the loss of future reproductive potencial via apoptosis. Evol Dev, 7(3), pp. 216-22

[9] Oliveira IT. (2007), Fecundação e educação. Rev Estudos Demogr, 40, pp 7-19

[10] Vickat A. (2004), Women’s labour force attachment and childbearing in Finland. Demographic Research, 3(8), pp. 175-212

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A equidade na formação de sanitaristas

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