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Tendências evolutivas e papel dos atores sociais na promoção do envelhecimento ativo

Lúcia SANTOS1; António CORDEIRO2; Sónia FERREIRA3 1Bolseira doutoramento FCT (SFRH/BD/91094/2012)

– CEIS 20; 2FLUC - CEIS 20; 3FPCEUC – CEIS 20 luciarsantos@gmail.com

Palavras-chave: Envelhecimento, parceiros sociais, saúde, atividade, respostas integradas

Introdução

A análise da estrutura etária da população residente nas atuais sociedades dos países desenvolvidos, em especial da Europa, demonstra uma preocupante tendên- cia para o envelhecimento da população e Portugal é um dos países europeus onde este fenómeno é mais evidente.

Este ganho em anos de vida, ao produzir alterações incontornáveis na exis- tência humana, presente e futura, exige, naturalmente, novos comportamentos, estilos de vida, expetativas e valores.

Neste modelo as pessoas mais idosas são identificadas como membros integrados na comunidade em que vivem, sendo chamadas a participar em questões sociais, eco- nómicas, culturais, espirituais e civis [1], e o envelhecimento é encarado como um processo de otimização das oportunidades na saúde, participação e segurança com vista à melhoria da qualidade de vida das pessoas que envelhecem, indo muito além do conceito de reformado [2].

Este entendimento de envelhecimento ativo não compreende apenas a vivência de uma velhice mais feliz e pautada pelo bem-estar, envolvendo também a preparação, nas etapas que lhe estão anteriores, deste período da vida. A este respeito faz sentido refletir sobre o conceito de envelhecimento saudável, como o resultado de uma inte- ração multidimensional entre saúde física e mental, suporte familiar, independência económica e integração social [3].

Com a abrangência que esta conceção envolve, a implementação deste modelo emergente depende, necessariamente, de uma atuação multi e interdisciplinar. Se, por um lado, é indispensável contribuir para uma vivência saudável e autónoma da velhice, através da promoção da saúde, simultaneamente é também necessá- rio potenciar este período da vida, aumentando a participação dos séniores. Tudo isto implica fortes adaptações e o envolvimento de um grande número de atores, obrigando ao estreitamento das relações entre diferentes domínios de intervenção.

Mas embora muito já se tenha evoluído na procura de respostas e o número de entidades envolvidas na busca de soluções seja cada vez maior, as tendências evolutivas previstas trazem ao problema uma nova dimensão. De facto, se as últi-

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mas décadas mostram já uma realidade com contornos preocupantes, a observação das projeções populacionais para os próximos 20 anos dá uma nova perspetiva do problema, ao indicar um forte agravamento [4].

Enquanto agente cuidador, promotor de comportamentos saudáveis e dinami- zador de atividades socioculturais que tem na base da sua ação um relacionamento estreito com os mais diversos setores da comunidade, a área social assume o papel de parceiro insubstituível nas mudanças a efetivar.

Embora o seu papel seja incontornável, é através do estabelecimento de rela- ções de interdependência com outras áreas de atuação que a sua intervenção pode ser, ainda mais, potenciada e diferenciada.

Considera-se, pelo exposto, que uma proposta concertada de trabalho nesta matéria implica a criação e o enriquecimento contínuo de sinergias dos diversos atores e organismos que contribuem para a melhoria da qualidade de vida da po- pulação idosa e das suas famílias, uma vez que a intervenção não se limita nos profissionais de saúde, mas antes na articulação e complementaridade da sua ação.

Objetivos

É possível afirmar com alguma segurança que o século XXI será o século dos idosos e, por esta razão, envelhecer com saúde, autonomia, ativamente e com qualidade de vida constitui a oportunidade e o desafio do presente e do futuro à responsabilidade individual e coletiva, com consequências positivas no desenvolvimento económico da sociedade.

Num contexto em que as exigências são cada vez maiores e evoluem a um rit- mo acelerado, o trabalho apresentado propôs-se atingir dois objetivos distintos, mas fortemente interdependentes.

Porque para intervir numa realidade é necessário conhecê-la, pretendeu-se, por um lado, analisar o já acentuado envelhecimento populacional do país e res- petivas dinâmicas territoriais, e, por outro lado, conhecer as tendências evolutivas deste fenómeno, quer em número, quer ao nível da sua distribuição espacial.

Em segundo lugar pretendeu-se demonstrar o papel que os parceiros sociais têm tido e que ainda poderão assumir no desafio de conciliar o aumento da lon- gevidade com o bem-estar, dando pistas relativamente a propostas de intervenção diferenciadas.

Para esta última questão foi fulcral ter em conta as diferentes realidades ter- ritoriais e evitar a tipificação global do idoso, uma vez que existem muitos idosos, com interesses e necessidades individuais, para os quais é importante potenciar soluções diversificadas.

Este trabalho veio na sequência dos projetos que têm vindo a ser desenvolvidos na área social ao longo dos últimos anos com diferentes autarquias da região centro e que se têm materializado na realização de cartas sociais, as quais implicam a elabo- ração de Diagnósticos Sociais, Planos de Desenvolvimento Social e Planos de Ação [5]. A realização destes projetos permite, por um lado, conhecer projetos em fun- cionamento neste âmbito e perceber a sua eficácia, e, por outro lado, testar a implementação de soluções diferenciadoras [5].

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Fomentar um envelhecimento com qualidade de vida depende, evidentemente, de estratégias que promovam a saúde e o bem-estar das populações e inclui, no âmbito de um vasto leque de opções, a promoção de uma cultura de prevenção e a implementa- ção programas que incentivem a participação ativa dos seniores nas mais diversas esfe- ras da sociedade. Para a prossecução destes desígnios são chamados, como referimos, todos os parceiros sociais.

Metodologia

Um trabalho com estas características obedeceu a uma metodologia rigorosa, integrando uma forte componente de levantamento de dados, de análise docu- mental e de estudos de caso.

Na primeira etapa foi efetuada a recolha e o tratamento da informação estatís- tica necessária à realização das projeções demográficas da população residente e, em especial, do índice de envelhecimento e, logo de seguida, procedeu-se ao seu cálculo, através do método das componentes por coortes. Após este momento ini- cial, os dados foram representados gráfica e cartograficamente, de forma a facilitar a sua leitura e ulterior análise.

Terminada esta etapa teve início a segunda fase, onde se concretizaram propos- tas de estratégias para os parceiros sociais se organizarem no cumprimento das suas responsabilidades, com vista ao enriquecimento da sua ação. Estas propostas foram fundamentadas com base em análise documental (teórica e exemplos práticos) e em estudos de caso.

Por último, procurou-se ainda ilustrar a evolução do índice de envelhecimento e mostrar algumas das iniciativas que têm vindo a ser desenvolvidas ou que podem ser implementadas pela área social com recurso a exemplos concretos de alguns municípios.

Todas estas etapas tiveram sempre em consideração a existência de diferentes rea- lidades. Se os espaços urbanos apresentam contextos sociais, educacionais e culturais muito diferenciados, o que dizer da enorme diferença existente entre estes e os territó- rios de baixa densidade.

Resultados

As transformações aceleradas e intensas associadas ao fenómeno do envelhe- cimento populacional a que temos vindo a assistir convocaram a adoção de uma perspetiva sistémica, atenta e flexível na sua análise e compreensão.

O que está em causa é a capacidade de responder de forma adequada e di- ferenciada aos problemas do tempo, atendendo às condições, aos fatores que os produzem e às tendências evolutivas.

Neste contexto, baseado no conhecimento das dinâmicas presentes e previstas, quer demográficas, quer institucionais, e nas reflexões resultantes da sua análise, o resultado que se pretendeu atingir com este trabalho foi a definição de um conjun- to de orientações capazes de apoiar os parceiros sociais na tomada de decisão sobre estratégias a adotar e, acima de tudo, recursos a utilizar, que, como bens escassos que são, exigem muita ponderação na sua gestão, uma vez que os custos associados a uma má administração são duradouros e crescentemente elevados.

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A implementação de projetos como o “O melhor lar é o nosso lar” no município de Penela, que tem como objetivo garantir a permanência em casa das pessoas idosas e evitar a sua institucionalização, e “Dar mais vida aos anos” no município de Montemor-o-Velho, centrado na promoção da atividade física das pessoas idosas, são alguns dos resultados concretos do trabalho desenvolvido.

Para ir ao encontro dos problemas e das reais necessidades e dar resposta às novas exigências a área social terá de ultrapassar os seus limites tradicionais, aprender e mu- dar o modelo de intervenção, olhando para os territórios em que atuam e para a diver- sidade de idosos que existem e integrando novas componentes e formas de abordagem.

Conclusões

Sendo certo que muitas são as questões que continuam sem solução ou a ca- recer de respostas mais adequadas, parece possível concluir que, apesar de todas as dificuldades, os parceiros sociais têm vindo a responder, ainda que com algum atraso, às necessidades e problemas com que se têm deparado, existindo hoje uma rede de serviços e equipamentos sociais que responde com níveis de eficiência e eficácia que podem ser considerados bastante satisfatórios.

Não obstante, dada a natureza evolutiva dos problemas e necessidades, bem como dos direitos e das expectativas dos cidadãos, parece inquestionável que os pró- ximos anos vão obrigar a fortes reajustamentos em função da realidade prevista. Por esta razão, um processo proactivo e integrado como o que se defende aqui assume-se como uma peça decisiva, ao associar a ampliação do conhecimento sobre o enve- lhecimento, o território e os idosos à procura da melhoria da sua qualidade de vida.

Um funcionamento integrado entre diferentes agentes que melhore a qualidade da oferta e a eficácia da área social, graças às sinergias que a cooperação pode gerar, é o elemento chave para esta tão necessária evolução.

Referências

[1] World Health Organization (2002), Active ageing: a policy framework, WHO, Genebra, pp. 59.

[2] Direcção-Geral da Saúde - Portugal, disponível em http://www.dgs.pt/saude- no-ciclo-de-vida/envelhecimento-activo.aspx

[3] Ramos, L. R. (2003), Factores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projecto Epidoso, São Paulo, Cadernos de Saúde Pública, 19(3), pp. 793-798.

[4] Cordeiro, A. M. R.; Barros, C.; Caridade, P. (2013), Projeções demográficas e as suas relações com o desenvolvimento regional. Uma análise às dinâmicas populacionais prospetivas na Região Centro (Portugal), Atas do 19.º Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional, Braga.

[5] Cordeiro, A. M. R.; Santos, L. (2013), Carta Social Municipal: uma estratégia de intervenção integrada, Cadernos de Geografia, 32, pp. 357-372.

3. Equidade e

Desigualdades em Saúde

O agravamento das desigualdades e iniquidades em saúde, não exclusivamente em termos de resultados em saúde mas, igualmente, em termos de acesso à oferta dos serviços de saúde, é um tema atual que merece reflexão. Neste sentido, torna- se fundamental identificar riscos/oportunidades, apoiar a explicação dos fenóme- nos e avançar com orientações/medidas/ações que eliminem ou reduzam as iniqui- dades em saúde, quer sejam geográficas, de género, socioeconómicas, ou outras.

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E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS

Estratégias sobre género e saúde

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