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M.DIMENSTEIN1; J.LEITE2; J.P.MACEDO3; J.A.BORGES4; M.AMARAL SABADINI5; M.G.GOMES6; J.TORQUATO7; B.ALBUQUERQUE8; E.SILVA9;

S.DIONIZIO10; J.ARAÚJO11; J.RAMALHO12; V.BELARMINO13 1UFRN; 2UFRN; 3UFPI; 4CRI/COIMBRA; 5OPAS; 6-13UFRN

mgdimenstein@gmail.com

Palavras-chave: reforma agrária, assentamentos, população rural, saúde mental Introdução

No cenário acadêmico há uma carência de investigações voltadas ao estudo das condições de vida e saúde mental das populações rurais, especificamente no que diz respeito à prevalência de transtornos mentais comuns e uso de álcool. Quando se trata de moradores de assentamentos de reforma agrária a desinformação é ainda mais evidente. Entretanto, esse grupo populacional apresenta vulnerabili- dade considerável na medida em que tem uma trajetória de vida marcada pela ausente ou precária condição de reprodução social e grande dificuldade de acesso às políticas e programas de saúde, educação, segurança, transporte, habitação, organização da produção, a despeito das ações governamentais desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para dar sustentação ao desenvolvimento dos assentamentos.

Estudos em âmbito mundial apontam para o fato de que os transtornos mentais e o uso abusivo de álcool têm maior impacto negativo em estratos populacionais mais desfavorecidos socioeconomicamente dadas as situações de vulnerabilidade dessas populações para as quais os recursos sanitários são mais escassos [1]. Tem sido verificada também associação dos transtornos mentais comuns com eventos vitais produtores de estresse como a falta de apoio social e com variáveis relativas às condições de vida, trabalho e perspectivas de futuro, tais como: pouca escola- ridade, menor número de bens duráveis, condições precárias de moradia, baixa renda, desemprego e informalidade nas relações de trabalho [2].

Além desses problemas, a falta de estradas, de transporte adequado, de meios de comunicação, poucos recursos hídricos, existência de riscos ambientais tais como destinação inadequada do lixo, uso de agrotóxicos e realização de queimadas como forma de preparação do solo para plantio, é a realidade de muitos assenta- mentos rurais. Em termos do Sistema Único de Saúde, os assentados enfrentam problemas de acesso aos equipamentos de saúde, não têm cobertura satisfatória do Programa de Agentes Comunitários de Saúde/PACS e da Estratégia de Saúde da Família/ESF, fazendo com que não tenham retaguarda suficiente em termos de consulta, vacinação, exames clínico-laboratoriais, etc.

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No que tange à Política Nacional de Saúde Mental, não há uma diretriz estabelecida de atenção e cuidado à população rural, apesar de constituir um coletivo cujas especi- ficidades geram demandas particulares associadas às condições de vida e trabalho, e consequentemente, de atendimento especializado nos casos de transtornos mentais e dependência química.

Objetivos

Investigar a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) e de uso de ál- cool entre moradores de assentamentos rurais identificando possíveis determinan- tes associados às condições de vida, saúde e trabalho.

Metodologia

População: homens e mulheres com idades acima de 18 anos, moradores de seis assentamentos rurais das macrorregiões Leste Potiguar (Paulo Freire III, Tim- bó e Mata Verde) e Agreste Potiguar (José Rodrigues, União e Marajó) do estado do Rio Grande do Norte. Instrumentos: Alcohol Use Disorders Identification Test

(AUDIT)[3]

;

Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) [4]; Questionário sócio-demo-

gráfico-ambiental. Resultados

Foram mapeadas 241 famílias em 06 assentamentos, das quais 211 responde- ram ao questionário sócio-demográfico-ambiental. Essas famílias em sua absoluta maioria são constituídas de pessoas casadas (80,8%), católicas (82,7%), vivem com renda de até 02 salários mínimos (R$ 1.356,00) (91.8%) e têm na agricultura familiar e criação de animais sua fonte principal de subsistência, associada ao recebimento de aposentadoria e outros benefícios sociais (Bolsa Família, PETI, PROJOVEM), e em menor grau, às atividades de comércio, prestação de serviços e trabalho assa- lariado. O nível de escolaridade predominante é o ensino fundamental incompleto, o que corresponde a menos de 04 anos de estudos, havendo um percentual consi- derável de não alfabetizados (30%). Essas famílias são majoritariamente originárias das zonas rurais e residem no assentamento desde sua fundação, quando tiveram acesso ao crédito instalação (58%). Quanto às condições de moradia, observou-se casas construídas de tijolos, com acesso à energia pública, mas sem esgotamento sanitário. No que se refere ao destino dado aos dejetos e lixo é comum o uso de fossas sépticas (97,1%) e a coleta pública (51,9%). Apesar de 48,6% terem acesso à água pela rede pública, ainda registra-se uso de poços (33,2%), açudes e cacimbas, bem como o não tratamento da mesma em 45,7% das casas. Somente 32,7% das famílias têm acesso ao PRONAF e quanto se trata de outros programas de crédito, quase a totalidade dos assentados está descoberta.

Em relação às condições de saúde, 89,9% das famílias são atendidas pelo PACS e fazem uso da unidade básica de Saúde, via ESF. Em caso de necessidade de in- ternação hospitalar recorrem ao hospital regional. Há uma excelente cobertura de vacinação, mas o acesso aos medicamentos via farmácia popular ainda é precário. Em termos de morbidade registra-se pouca ocorrência de doenças infectocontagio- sas e DST’s, porém é alto o percentual de diarreias, gripes, dengue e verminoses,

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associada às condições sanitárias locais e má qualidade da água. Grande parte da população estudada apresenta problemas cardiovasculares e diabetes e ainda há registro de tuberculose e desnutrição nos assentamentos. Tais moradores fazem uso frequente da medicina popular com chás, lambedores e garrafadas.

Dos 355 homens acima dos 18 anos, 228 responderam ao AUDIT, dos quais 42 (18,4%) ficaram distribuídos nas categorias uso de risco, uso nocivo ou dependência de álcool. Esse percentual eleva-se para mais de 25% em dois assentamentos espe- cíficos: Paulo Freire III e Mata Verde, situados na região litorânea do Leste Potiguar. Em termos de transtornos mentais comuns, 227 homens responderam ao SRQ-20, dos quais 25 (11%) registraram incidência de problemas relativos ao bem-estar emo- cional. Entretanto, observou-se o índice de 31,2% de prevalência de TMC entre homens no assentamento Paulo Freire III e de 12,5% em Mata Verde. Em relação às mulheres, das 305 acima de 18 anos, 262 responderam ao AUDIT com registro de 13 (4,9%) que apresentaram padrão de uso de risco em relação ao álcool. 265 mulheres foram respondentes do SRQ-20, das quais 62 (23,3%) apresentaram indicativo de TMC. Os assentamentos Paulo Freire III (43,6%) e Mata Verde (33,3%%) novamente se destacaram em relação aos TMC em mulheres, juntamente com União que registrou 21,6% de casos.

Conclusões

Dados preliminares indicam compatibilidade com resultados de estudos realiza- dos com populações de perfil semelhante e moradoras de contextos rurais no Brasil. Observou-se uma complexidade de fatores e combinação de riscos socioeconômicos e ambientais experimentados por esse grupo que impactam na qualidade de vida, são produtores de estresse e estão diretamente relacionados às condições de saúde e, em particular, aos transtornos mentais comuns e uso de álcool. Essas populações encontram-se desassistidas em termos de políticas públicas, especialmente quanto à geração de renda no campo, repercutindo diretamente nas condições de moradia, trabalho, lazer, educação e estilo de vida das mesmas.

Isso indica que moradores de assentamentos rurais no Rio Grande do Norte estão sujeitos à instabilidade climática da região devido aos períodos de seca e estiagem, à escassez de recursos naturais, a não implementação e/ou mau uso das políticas de crédito agrícola, ao transporte precário, necessitam desenvolver es- tratégias de complementação da renda familiar e carecem de organização coletiva e participação política que possam produzir empoderamento e interferência nos padrões de desenvolvimento local, de saúde e na vida comunitária.

A degradação ambiental, exposição aos agrotóxicos, alimentação inadequada, falta de espaços de lazer, baixo nível de apoio social, a carga do trabalho domés- tico e agrícola entre as mulheres, são fatores associados ao aumento das doenças crônico-degenerativas, bem como à presença de morbidades psiquiátricas e uso de álcool entre homens e mulheres em níveis preocupantes, acima da média nacional. Dentre os assentamentos pesquisados, dois em particular, revelaram um con- junto de problemas relativos às condições de vida dos moradores, que influenciam o processo saúde-doença e apontam para a necessidade de estratégias de enfrenta- mento intersetoriais e multidimensionais a fim de impactar na qualidade de vida e produzir saúde com equidade e integralidade.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Agradecimentos

Ao CNPq pelos recursos financeiros do edital Universal 2012. À UFRN pelas bol- sas de IC e Extensão concedidas.

Referências

[1] Rehm, J., e Parry, C. (2009), Alcohol consumption and infectious diseases in South Africa. Lancet, 374(9707), 2053.

[2] Costa, A. G., e Ludermir, A. B. (2005), Transtornos mentais comuns e apoio social: estudo em comunidade rural da Zona da Mata de Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, 21(1), 73-79. Recuperado em 15 junho, 2012, de http:// www.scielo.br/pdf/csp/v21n1/09.pdf

[3] WHO (2001), Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT). The Alcohol Use Disorders. Guidelines for Use in Primary Care. Recuperado em 15 junho, 2012, de http://www.talkingalcohol.com/files/pdfs/WHO_audit.pdf [4] WHO (1994), A user’s guide to the Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20).

Division of Mental Health. World Organization. Geneva: WHO.

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