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Circuitos espaciais da Leishmaniose Tegumentar Americana na Região Sul do Brasil

Glauco Nonose NEGRÃO1; Maria Eugenia M. C. FERREIRA2 1Departamento de Geografia – UNICENTRO; 2Departamento de Geografia – UEM

glauco.n.negrao@hotmail.com

Palavras-chave: Geografia da saúde, epidemiologia, biogeografia Importância e relevância do tema

A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) ocorre nas Américas, desde o Sul dos Estados Unidos até o Norte da Argentina [1]. A incidência desta doença vem au- mentando na América Latina, especialmente no Brasil, que registrou 181.497 casos entre 2001 a 2010 [2]. Neste período, na Região Sul do Brasil, notificaram-se 3.306 casos dos quais 2.880 (87,11%) no Estado do Paraná, 383 casos no Estado de Santa Catarina e 25 casos no Estado do Rio Grande do Sul.

Segundo o Ministério da Saúde, 2000 [3], no Brasil existem dois padrões epidêmi- cos, em áreas de colonização recente associados à derrubada de matas, e aberturas de estradas associados a ambientes florestais primitivos. Existem atualmente 6 espé- cies de Leishmania responsáveis pela doença humana e mais de 200 espécies de fle- botomíneos (Ordem Diptera; Família Psychodidae; Sub-Família Phlebotominae) impli- cados em sua transmissão [4], além da relação destes com reservatórios específicos.

Constitui-se um problema de saúde pública no Brasil pela alta incidência e dis- tribuição geográfica, dificuldades de diagnóstico e acompanhamento do tratamento, além da subnotificação. Na Região Sul do Brasil, a doença persiste apesar da subs- tituição da vegetação original por culturas tradicionais e pastagens; evidencia-se a expansão de áreas endêmicas e aparecimento de focos em zonas urbanas, em áreas com preservação e matas residuais. Aparece associado ao processo migratório, ocupações em áreas de preservação permanente, desmatamentos ou aglomerados urbanos, com relação direta com matas residuais.

Objetivos

Este trabalho tem como objetivo geral caracterizar os principais circuitos espaciais com importância epidemiológica na produção autóctone de LTA, entre 2001 e 2010, na Região Sul do Brasil; e objetivo específico identificar as principais mesorregiões e mi- crorregiões geográficas envolvidas na produção da doença entre período referenciado.

Pela análise regional, geógrafos da saúde visam identificar espaços homogêneos de ocorrência de doenças e seus determinantes, estabelecendo uma Geografia inte- grada à evolução das doenças através dos anos, além de fatores internos e externos inerentes às mesmas.

E2 | SI M P ÓSI OS D O U TO R A IS Metodologia

A Região Sul é uma das cinco grandes regiões do Brasil, compreendendo os es- tados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, totalizando uma superfície de 576.300,8 km². Faz fronteira com o Uruguai ao sul, com a Argentina e com o Paraguai ao oeste, com a Região Centro-Oeste e com a Região Sudeste do Brasil ao norte e com o Oceano Atlântico ao leste. O clima dominante é o subtropical, clima de transição entre tropical e temperado [5].

O estudo, de caráter retrospectivo e descritivo, foi realizado a partir da análise de dados confirmadamente autóctones, entre 2001 e 2010, de LTA, no SINAN (Sis- tema de Informação de Agravos de notificação), disponíveis na Internet [6], sendo coletados durante janeiro de 2013.

A fixação dos circuitos de produção e surtos ocorridos estabeleceu-se pela de- terminação do canal endêmico com ocorrência de, no mínimo, 5 casos confirmados, no município, conforme período referenciado. A espacialização dos casos seguiu a classificação das mesorregiões e microrregiões geográficas conforme IBGE – Institu- to Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013 [7].

Resultados e discussões

Na Região Sul do Brasil ocorreu, de 2001 a 2010, 3.521 casos, 1,95% dos casos registrados em território nacional. Neste trabalho, foram analisados 2.486 casos autóctones de LTA, distribuídos em 17 mesorregiões, subdivididas em 45 microrre- giões [8], distribuídos em 5 circuitos eco epidemiológicos de produção da doença, no Estado do Paraná e Santa Catarina.

No Estado do Paraná, a doença é descrita desde o inicio do século XIX com rela- to de casos até 1958, tornando-se endêmica a partir de 1980, sendo registrada em mais de 300 dos 399 municípios existentes [8]. A incidência no Estado concentra-se nas regiões Norte Central, Centro Ocidental e Noroeste [9,10]. Os circuitos intensi- ficam-se em pólos e surtos ocorridos em corredores da hidrografia em remanescen- tes da floresta estacional semidecidual.

Entre 2001 a 2010, foi analisada a ocorrência da doença no Estado do Paraná, de forma endêmica e autóctone, de 2.078 casos, em 224 municípios, distribuído em 10 mesorregiões e 37 microrregiões, sendo distribuídos em quatro circuitos biogeo- gráficos de produção da doença (figura 1): Circuito Ivaí – Pirapó – Tibagi (Circuito 1), envolvendo a mesorregião Noroeste, Norte Central, Centro Ocidental, Centro Sul e Sudeste do Estado do Paraná, totalizando 1.170 casos (56,03%) do total analisado para o período; Circuito Paranapanema 3, Paranapema 2, Paranapanema 1 e Cinzas (Circuito 2); Circuito no Rio Paraná (Circuito 3) e Circuito Ribeira (Circuito 4).

No Estado de Santa Catarina, entre 2001 a 2010, confirmados 383 casos, com 299 casos (78,06%) na mesorregião Vale do Itajaí. No Estado, é proposto o Circuito Itapocú – Itajaí (figura 1), que envolve as regiões hidrográficas Vale do Itajaí e Litoral Centro. No ano de 2002, ocorreu a notificação do primeiro caso autóctone no Estado do Rio Grande do Sul. No período de análise, foram confirmados 25 casos autóctones. A cidade de Porto Alegre apresentou possível autoctonia, pela regularidade de casos. No entanto, não é considerada um circuito de produção da doença, estando relacio- nado a casos isolados.

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Figura 1: Circuitos espaciais de produção de leishmaniose tegumentar americana na Região Sul do Brasil.

Conclusões

A formulação de circuitos espaciais da Leishmaniose Tegumentar Americana permite formular hipóteses sobre seu recrudescimento e determinantes ambientais específicos, manifestados em diferentes ciclos ecológicos particulares, na forma local e regional, que atuam no auxílio à produção da doença.

Na escolha do recorte espacial, as condições necessárias à manutenção da LTA provavelmente foram decorrentes do processo de organização espacial urbana e fe- nômenos migratórios associados. Variáveis de risco, como características ecológicas específicas de cada região geográfica, seja em meio urbano, rural ou silvestre; infec- tividade e diversidade do ciclo biológico envolvendo o parasita conforme reservató- rios e vetores adaptados a determinadas situações; espécies, hábitos e sobreposição dos vetores envolvidos na transmissão da doença em um mesmo território, organi- zação espacial específica decorrente de um contexto geográfico e a proporção de indivíduos contaminados existentes em cada área, além da ocorrência de vegetação residual ou arbórea, são fatores intrínsecos inseridos na análise proposta.

O Estado do Paraná é considerado endêmico com circuitos em corredores da hidrografia de áreas remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual e áreas cobertas pela Floresta Atlântica [11], sendo o pólo Ivaí-Pirapó-Tibagi o mais im- portante pela concentração de casos e focos endêmicos [12]. No Estado de Santa Catarina, verificou-se casos isolados, endemismo e o registro de novas áreas de adensamento, sugerindo a produção da endemia. No Estado do Rio Grande do Sul, autoctonismo e registros de casos esporádicos.

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O reconhecimento e aprofundamento das relações de multicausalidade na in- vestigação de quadros de ocorrência da LTA e medidas preventivas de saúde pública impõem à Geografia a manutenção de uma dialética produtiva interdisciplinar, rela- cionadas às políticas de saúde coletiva, compreensão e valorização social conforme sua ocorrência, adquirindo uma abordagem humanista e integradora, sendo produ- tora e beneficiadora na compreensão da organização espacial resultante.

Referências

[1] Curti, M., et al. (2009), Aspectos epidemiológicos da Leishmaniose Tegumentar Americana na região Noroeste do Estado do Paraná. Rev Ciênc Farm Básica Apl.,30(1):63-68.

[2] Ministério da Saúde do Brasil (2004), Sistema Nacional de Informação de Agra- vos de notificação – SINAN, Brasil. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/ sinanweb/. Acesso em 04-10-2013.

[3] Ministério da Saúde do Brasil (2000), Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle da Leishmaniose Tegumentar Americana, Brasil, 65 p.

[4] Basano, S. A.; Camargo, L. M. A. (2004), Leishmaniose tegumentar america¬- na: histórico, epidemiologia e perspectivas de controle. Rev. Bras. Epidemiol. vol.7 no.3 São Paulo.

[5] Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Núcleo de Pesquisa e Apli- ca¬ção de Geotecnologias em Desastres Naturais e Eventos Extremos (Geode- sas¬tres-Sul). Disponível em http://www.inpe.br/crs/geodesastres/regiaosul. php. Acesso em 03-10-2013.

[6] Ministério da Saúde do Brasil, Departamento de Informática do SUS, Brasil. Disponível em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php. Acesso em 05-10-2013.

[7] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.sht. Acesso em 13-04-2013.

[8] Silveira T.G.V. et al. (1999), Observações sobre o diagnóstico laboratorial e a epi¬demiologia da leishamniose tegumentar no Estado do Paraná, Sul do Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical: Brasília, v. 32, n.4, p. 413-423.

[9] Melo, S. (2009), Fauna e frequência de flebotomíneos em localidades rurais no município de Bandeirantes, Estado do Paraná. Universidade Estadual de Marin- gá: Centro de Ciências da Saúde. Dissertação de mestrado.

[10] Monteiro, W. et al. (2009), Pólos de produção da leishmaniose tegumentar americana no norte do Estado do Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):1083-1092.

[11] Teodoro U. et al. (2011), Frequência de flebotomíneos em localidades rurais do município de Prudentópolis, estado do Paraná, Brasil. Revista de Patologia Tropical (Impresso), v. 40, p. 169-177.

[12] Negrão, G. (2013), Circuitos espaciais da leishmaniose tegumentar americana abrangendo os estados do sul do Brasil e o Mato Grosso do Sul e os países fron- teiriços. Maringá: Programa de Pós-graduação em Geografia, PGE - UEM. Tese

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