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1Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

cristianne.rocha@terra.com.br

Palavras-chave: Migração internacional, Mobilidade Profissional em Saúde, Comunicação em Saúde

Introdução

A migração profissional em saúde é um fenômeno crescente no mundo e tem provocado diversos debates quanto a suas potencialidades e desafios. Ainda que o ato de migrar de um local para outro (seja para uma cidade, um estado ou um país) seja um direito humano, tal como é consagrado no artigo 13º da Declaração Uni- versal dos Direitos Humanos, estabelecida em 1948, pela Organização das Nações Unidas (ONU), no caso da migração internacional de profissionais de saúde é preciso ter cautela a respeito do mesmo, sobretudo após a aprovação, na 63ª Assembléia Mundial da Saúde da Organização Mundial da Saúde, com o apoio de 193 países, do

Código de Práticas da OMS sobre a Contratação Internacional de Profissionais de Saúde [1].

Para os países Ibero-Americanos, a migração profissional em saúde tem sido um problema crescente e, no caso de alguns países da América Central e do Caribe, as consequências são graves e implicam em diminuição da oferta de serviços de saúde. Ao mesmo tempo, informações sistemáticas sobre o tema, no contexto ibero-ame- ricano, são escassas (ou inexistentes) e poucos são os estudos que abordam especifi- camente este tema/problema sob o enfoque de análises de mídia, já que o foco dos estudos sobre esta temática tem se concentrado em outras regiões (particularmente na África). O déficit de informação, portanto, afeta a possibilidade de uma análise em profundidade e da definição de propostas e intervenções que permitam, em um primei- ro momento, compreender melhor o fenômeno e, na sequência, proporem alternativas válidas para o seu enfrentamento.

Objetivos

Identificar e descrever a forma como a migração profissional em saúde aparece em reportagens publicadas em jornais on-line dos países membros da SEGIB (Secre- taria Geral Ibero-americana), além de Estados Unidos e Itália, no período de mar- ço/2009 a maio/2010.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem quanti-quali- tativa, sobre o fenômeno da migração profissional em saúde, realizada a partir da análise de textos publicados em periódicos diários, na sua versão online, de países

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membros da SEGIB (Secretaria Geral Ibero-americana): Andorra , Argentina, Bolívia , Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, Cuba, República Dominicana, Equador, El Sal- vador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Além desses países, foram incluídos periódicos publicados nos Estados Unidos e na Itália.

Foram consultados 54 periódicos, dos 23 países acima (em quatro idiomas: cas- telhano, português, inglês e italiano), e pré-selecionado um total de 1405 notícias, a partir das palavras-chave indicadas, no período pré-definido. Destas, 230 foram selecionadas para análise, pois tinham em seu conteúdo o tema central da pesquisa: a migração de profissionais do setor saúde.

As notícias pré-selecionadas foram quantificadas, por país e ao longo do tem- po, e analisadas, de acordo com as seguintes categorias: contratos de extrangeiros, emigração de nacionais, formaçao de profissionais de saúde e efeitos (ou problemas) associados à migração.

Resultados

As notícias pré-selecionadas indicam que a migração profissional é um tema im- portante e presente nos periódicos, devido a alguns fatores ou situações ocorridas, no mundo, durante o período investigado: a imigração ilegal e suas consequências (deportação, criminalização, repatriação, tráfico de imigrantes, discriminação, ex- ploração); a crise econômica mundial de 2009 (com o retorno de imigrantes e a diminuição de remessas) e as oportunidades de formação fora do próprio país, graças a uma intensificação da globalização.

Os países com maior porcentagem de notícias encontradas foram: Portugal (36,09%), Venezuela (13,04%) e Itália (10,87%). Os demais países apresentaram per- centual em torno de 5% de notícias, com exceção da Costa Rica e Estados Unidos (não foram encontradas notícias sobre o tema), talvez porque estes países não têm (i/e)migrantes na área da saúde ou que esta questão não é percebida como um problema para eles.

Em relação às categorias profissionais, a enfermagem, a odontologia e a medicina são as profissões mais citadas nas notícias, sendo a última a que possui maior número de citações. Quanto à nacionalidade dos profissionais citados, a maioria das notícias publicadas nos jornais refere-se aos “médicos cubanos”, seguidos pelos espanhóis e, em menor número, a profissionais de diferentes nacionalidades que estão sendo contratados fora de seus países de origem .

Os temas mais prevalentes, no agrupamento estatístico simplificado, foram: pro- fissionais médicos de Cuba em Portugal (21,3%); profissionais médicos de Cuba na Venezuela (16,9%); fuga de cérebros (10%); falta de profissionais de saúde (7,8%); condições inadequadas de trabalho (7,3%).

De maneira geral, os resultados indicam que a migração profissional em saúde é uma preocupação crescente na imprensa, evidenciada pelo aumento do número de notícias publicadas ao longo do tempo.

Em relação às categorias de análise, os principais temas tratados foram: 1) con- tratos de extrangeiros (contratação regular de médicos cubanos, a interrupção de contratos regulares, a validade ou adequação dos contratos, as condições de trabalho

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dos contratados e a fuga de médicos cubanos); 2) emigração de nacionais (aspectos negativos e positivos da emigração); 3) formaçao de profissionais de saúde (relação da formação com a migração, criação de centros internacionais que reconhecem títulos no exterior, dificuldade de homologação de títulos no exterior e a formação de médicos em Cuba); e, 4) efeitos (ou problemas) associados à migração (falta de profissionias, inadequadas condições de trabalho dos migrantes, exercício ilegal da profissão, dentre outros).

Conclusões

A migração dos profissionais de saúde é uma preocupação constante e crescente nos jornais consultados. A perspectiva que aborda o tema em questão, e a partir da qual se expõem os problemas e as soluções para o mesmo, é muito localizada/limitada (os problemas são “de” alguns países e não abordam as múltiplas causas e a interrela- ção entre países).

Além disso, a migração, de maneira geral, é apresentada com uma perspectiva negativa (que implica perdas tanto para os países que recebem os profissionais, quan- to para os que o enviaram, sem que sejam apresentadas as possíveis vantagens do fenômeno) e complexa (as soluções, quando apresentadas, não são facilmente reali- záveis), cujos atores - que têm voz para definir o problema ou a solução - são sempre os mesmos (autoridades sanitárias e profissionais), com a exclusão permanente dos usuários dos serviços e sistemas de saúde.

Agradecimentos

Agradeço aos colegas da Escola Andaluza de Saúde Pública (Granada, Espanha), em especial a Juan Ignacio Martinez Millan, Silvia Sanchez Martinez e Maria Agustina Pando Letona, e da Organização Pan-Americana de Saúde, Silvina Malvarez. Agrade- ço também à União Europeia que, através do financiamento do Projeto “Migraciones Profesionales para el Desarrollo Compartido”, tornou possível esta investigação.

Referências

[1] OMS. Organização Mundial da Saúde (2010), Código de Práticas da OMS sobre a Contratação Internacional de Profissionais de Saúde. Genebra: OMS.

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Depressão e utilização de

serviços de saúde no Brasil

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