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Caso de estudo do concelho do Gavião ao hospital Dr José Maria Grande de Portalegre

Emanuel PEREIRA1; Sérgio MATEUS2;

Instituto de Geografia e Ordenamento do Território; ejp_pio118@msn.com (Emanuel Pereira)

Palavras-chave: Equidade, Acesso, Acessibilidade, distância/tempo, reforma do sistema de saúde.

Introdução

A escolha deste tema deve-se ao facto do sistema regional de saúde nos últimos anos ter sofrido profundas alterações na sua organização, isto teve maior repercussão em concelhos limítrofes ao concelho do Hospital de referência, como o Gavião, onde as distâncias a este aumentaram bastante. Esta questão agudiza-se devido ao perfil envelhecido da população e com a falta de transportes públicos, que surge como das maiores barreiras no acesso aos cuidados de saúde do Alentejo, sendo esta uma área que depende bastante do sistema de saúde.

Posto isto pensamos ser oportuno fazer uma análise de quais os impactes destas alterações, e é nesse sentido que o presente trabalho tem como objetivo principal verificar em que medida as alterações condicionaram o acesso da população do Gavião aos cuidados de saúde diferenciados.

O acesso aos cuidados de saúde é uma dimensão da equidade, o conceito de acesso exprime a possibilidade temporal, geográfica ou financeira, que os indivíduos têm em obter cuidados de saúde apropriados às suas necessidades, onde se iden- tificam cinco dimensões que podem afetar o acesso, que são a disponibilidade, a proximidade, os custos, a qualidade e a aceitação, um acesso adequado resulta da inter-relação das várias dimensões [1].

A acessibilidade pode ser dividida em três dimensões que são as seguintes, “a aces- sibilidade física como a distância e o tempo de percurso, a acessibilidade económicos como o custo da viagem e o preço do serviço e a acessibilidade sócio-cultural” [2]. Sendo que “a distância-custo certamente é uma barreira económica que mais acentua as desigualdades espaciais [3].

Neste contexto, de forma a concretizar o objetivo principal desenvolveu-se: uma análise da organização atual do sistema regional de saúde do Alentejo, das causas de morte e das dinâmicas da população na região do Alto Alentejo, estudo das distâncias/ tempo a que a população está dos cuidados hospitalares, compreensão dos impactes da reforma do Sistema de Saúde na oferta em termos de cuidados hospitalares, análise da equidade na perspetiva da mobilidade e acesso aos cuidados de saúde diferenciados e identificação das barreiras no acesso por parte da população do município do Gavião.

E3 | C OM U N IC A Ç ÕE S OR A IS Metodologia

O presente trabalho estrutura-se em 5 partes: introdução, breve apresentação dos conceitos base (Equidade, Acesso, Acessibilidade, distância/tempo), contextua- lização do sistema regional de saúde, análise da procura da população e conclusões. Para além da pesquisa de carácter teórico que suportará o segundo ponto, na terceira parte iremos fazer o diagnóstico do Alto Alentejo em termos demográficos, sociais e económicos, análise da lógica da oferta de saúde, iremos analisar o estado da saúde da população identificando as principais causas de mortalidade e de mor- bilidade e a sua evolução.

Na quarta parte tendo como caso de estudo o município do Gavião iremos ana- lisar as alterações da oferta com a reforma do sistema de saúde através de entre- vistas. De seguida faremos também uma análise das barreiras que condicionam o acesso ao SRS. Para esta análise utilizaremos as ferramentas SIG, calculando as distâncias a que a população está destes serviços de saúde, através da criação de isócronas. Numa última parte iremos mencionar os principais resultados, bem como as propostas de otimização.

Mapa 1: Distância/Tempo ao Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre Resultados

As alterações na oferta com a Reforma do Sistema de Saúde no Alto Alentejo foram variadas, mas a que teve maior impacto foi a rede de referenciação, que estabelecia uma obrigatoriedade no encaminhamento de utentes para os hospitais do seu distrito. Antes dessa reforma havia uma flexibilidade na escolha do Hospital decorrente das diferenças existentes dentro do concelho; por um lado, tínhamos as freguesias de Gavião, Belver, Atalaia e Margem cuja população antes da reforma era enviada para o Hospital Doutor Manoel Constâncio em Abrantes que pertence ao distrito de Santarém, devido ao menor tempo de viagem e pela maior oferta em transportes públicos; por outro lado, tínhamos a freguesia da Comenda onde o tempo de viagem para o Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre era menor e melhor servido por transporte público.

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Com a reforma o aumento da distância ao Hospital verificou-se em quase todas as freguesias do concelho de Gavião, assumindo particular destaque na freguesia de Belver, sendo que o “fator distância influência negativamente a utilização dos cuidados de saúde” [4].

“O mundo rural, por mais central que seja a sede ou por mais pequena que seja o concelho, a acessibilidade da população aos cuidados de saúde é, geralmente reduzida, quer por uma grande parte dos habitantes é desprovida de transporte próprio, quer porque existe insuficiência de transportes públicos” [3]. E é isso que verificamos atualmente em Gavião, onde não existe qualquer autocarro para Por- talegre, assim como de todas as outras freguesias, exceto a Comenda, elevando o custo da deslocação.

Tabela 1: Distância em Km e em minutos nos vários tipos de transportes das fre- guesias de Gavião para Portalegre e Abrantes

Outro dos grandes problemas desta reforma é de que os bombeiros de Gavião devido à proximidade geográfica a Abrantes, em caso de emergência encaminham os doentes para o Hospital Doutor Manoel Constâncio em Abrantes. Contudo, em caso de existir a necessidade de internamento do doente, tendo este de ser internado no Hos- pital de Portalegre, acarreta também maiores custos nas deslocações dos bombeiros.

Conclusão

As perdas de população, com maior evidência nas classes etárias mais novas são um fator bastante importante na perspetiva da saúde, pois é bastante complexo programar unidades de saúde em territórios de forte perda de população e de bai- xa densidade, onde não existem grandes concentrações populacionais e que será difícil garantir reduzidas distâncias/tempo, bem como, a existência de transportes públicos. Esta perda, aliada ao envelhecimento da população origina uma enorme pressão sobre o sistema de saúde pois os grupos etários mais envelhecidos são os que mais recorrem ao sistema regional de saúde, e segundo as projeções para 2050 espera-se que estes fatores se intensifiquem.

Os baixos rendimentos e o desemprego fazem com que a acessibilidades ao sis- tema de saúde seja assim posta em causa, pois uma parte da população apresenta limitadas condições financeiras para fazer as deslocações até aos hospitais. Esta situação agudiza-se pois face à redução dos serviços de transporte público, esse percurso não poderá ser feito de autocarro havendo a necessidade de recorrer a

PEREIRA et al. | Acesso e acessibilidade aos cuidados de saúde secundários no Alto Alentejo

Freguesia Transporte Individual Transporte Público

Portalegre Abrantes Portalegre Abrantes

Comenda 39Km – 32m 47Km – 46m 53m 1h15m

Gavião 54Km – 42 m 30Km – 30m 47m

Belver 60Km – 45m 32,4Km – 26m 1h10m

Margem 61Km – 45m 39Km – 39m 1h15m

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viatura própria, ao táxi ou às ambulâncias acarretando custos para a Administração Central. Sendo que a “distância custo certamente é uma barreira económica que mais acentua as desigualdades espaciais” [3].

Por outro lado, a reforma no sistema nacional de saúde caracterizou-se por co- locar como hospital de referência do concelho de Gavião o Hospital Dr. José Maria Grande em Portalegre. Pela Polarização no hospital de Portalegre, conseguindo mais especialidades e maior número de consultas, mas levando ao seu sobrelotamento.

Esta alteração do hospital de referência levou a que as distâncias/tempo e os custos de deslocação fossem aumentados, deixando a população desprovida de transportes públicos para aceder aos cuidados de saúde. As barreiras mencionadas pelos inquiridos vão no sentido destas constatações.

Assim, todas estas alterações tiveram particular impacte no município de Ga- vião e será necessário a criação de medidas para mitigar as barreiras. Citem-se algumas: a criação de um ambulatório no centro de saúde que funcionará consoante a necessidade dos utentes; a disponibilização para os desempregados das regalias do cartão idoso já existente no concelho do Gavião, e adicionando descontos nos transportes públicos e nos medicamentos; a criação de um protocolo que permitis- se o internamento em Abrantes; e o reforço de uma rede de apoio domiciliário; o ajustamento dos horários de partida para a freguesia do Gavião do único autocarro existente no concelho com chegada em Portalegre, e também a criação de uma rede de autocarros entre os hospitais articulado com a atual oferta de transportes públicos; por fim, as informações devem estar adaptadas aos baixos níveis de esco- laridade da população mais envelhecida e deveriam ser divulgados nos centros de saúde e nas paragens de autocarros.

Referências

[1] Furtado, C. ; Pereira, J. (2010) Equidade e Acesso aos Cuidados de Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa,

Lisboa, pp. 7, 8.

[2] Remoaldo, P. C. (2002) Acessibilidade física, funcional e económica aos cuidados de saúde. CD-ROM das Actas do IV Congresso da Geografia Portuguesa - Geografia: Territórios de Inovação, Lisboa, Associação Portuguesa de Geógrafos, pp. 1-15.

[3] Simões, J. M. (1989) Saúde: o Território e as desigualdades. Dissertação de Doutoramento, Lisboa.

[4] Santana, P. (1994) “Utilização dos Cuidados Hospitalares - Uma Abordagem da Geografia da Saúde”. IV Encontro de Economia da Saúde, Associação Portuguesa de Economia da Saúde, Coimbra.

[5] Santana, P. (1993) Acessibilidade e utilização dos serviços de saúde - Ensaio metodológico em Geografia da Saúde. Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro.

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Saúde, Ambiente e Desenvolvimento no

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