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Africano e Interamericano

CAPÍTULO 3 – DA EFETIVIDADE DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL

3.3 Da Efetividade formal dos direitos humanos sociais no âmbito dos países que integram o Mercosul

3.3.4 Do constitucionalismo paraguaio e da recepção dos direitos sociais

3.3.4.1 Antecedentes históricos à Constituição de 1992

O Paraguai tornou-se um país independente em 15 de maio de 1811, sendo que em 1813, Dr. Rodriguez de Francia elaborou o Regulamento de Governo, que embora tido como o primeiro documento institucional do Estado Independente, não constituiu uma Carta Constitucional, devendo, pois, ser entendido como o embrião do constitucionalismo

paraguaio; de modo que entre 1811 e 1870, “o processo político paraguaio não esteve regido por nenhuma normativa constitucional”. 375

De fato, formalmente falando, a primeira Constituição Paraguai data de 1870, embora já existissem nesta época leis (comumente a Lei de 1844) estabelecendo a administração política da República do Paraguai, bem como alguns direitos e garantias fundamentais, como o direito de liberdade, de petição e a proibição do tráfico de escravos.

Segundo Prieto, o clima político e social que norteou a elaboração da primeira Carta Constitucional Paraguai foi marcado por profundas alterações operadas neste país, na medida em que

a guerra da Tríplice Aliança (1865-1870) contra Argentina, Brasil e Uruguai aniquila o Paraguai, tanto humana quanto materialmente. Daí haverá de surgir a Constituição de 1870, resumo articulado das idéias liberais e voga. Constitui toda uma revolução jurídica destinada a terminar com as autocracias dos últimos sessenta anos. Com ela nasce a República e o Estado de Direito. 376

No que concerne à recepção de direitos sociais, a primeira Constituição Paraguaia consagrou a livre circulação de mercadorias produzidas no país e medidas voltadas a facilitar a atividade educacional e a instrução pública, estabelecendo a obrigatoriedade da educação primária gratuita. A referida Carta também garantiu o direito à liberdade, à igualdade formal e à reunião pacífica, proibiu a escravidão e vislumbrou o trabalho como uma atividade livre, prevista como garantia ao cidadão que poderá exercê-la, baseando em seu livre arbítrio; o que não ocorria nesta época com o trabalhador escravo no Brasil. 377

Nota-se que a Constituição de 1870, seguindo a linha de sua época, adequou-se ao individualismo político e ao liberalismo econômico, não focando sua preocupação nos direitos sociais, embora já trouxesse alguns dispositivos de tutela dos mesmos, conforme enunciado no parágrafo anterior; de sorte que “os trabalhadores paraguaios, embora gozando da liberdade de trabalho, não recebiam amparo da lei na proteção dos seus interesses, fossem eles individuais ou coletivos”. 378

Porém, durante o período de vigência da Constituição de 1870, foram editadas algumas leis infraconstitucionais voltadas à proteção do trabalhador, como a Lei n. 242/1917,

375

ROSA, Elianne M. Meira. Constitucionalismo social no Mercosul. São Paulo: Themis, 2002. p. 194. 376

PRIETRO, Justo José. Antecedentes Históricos. In: BELAUNDE, D. Garcia; SEGADO, F. Fernadez; VALLE, Hernandez. (coord.). Los Sistemas Constitucionales Iberoamericanos. Madrid: Dyckinson, 1992. p. 687-688.

377

ROSA, Elianne M. Meira. Constitucionalismo social no Mercosul. São Paulo: Themis, 2002. p. 199-200. 378

estabelecendo o descanso dominical; a Lei n. 926/1927, que adotava a teoria do risco profissional em caso de acidente de trabalho; o Decreto . 39639/1931, regulamentando o direito de associação profissional; a Lei n. 1.215/1931, dispondo sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos industriais efetuarem o pagamento de seus empregados em moeda corrente e o Decreto n. 3.544/1938, que, cumprindo disposição estabelecida no Tratado de Versalhes, adotou jornada máxima de oito horas diárias e quarenta e oito horas semanais; havendo também a criação do Departamento Nacional do Trabalho em 1937. 379

Ocorre que, após golpes e revoluções que aconteceram entre 1870 e 1940, foi promulgada em 10 de julho de 1940, uma nova Constituição Paraguaia, inspirada pela busca de melhoria das instituições estatais e pela proteção dos direitos sociais. 380

Nesse sentido, a Carta de 1940 seguiu, ainda que precariamente, as linhas definidas pelo constitucionalismo social, emergente na época, garantindo o direito à saúde e assistência social, educação moral, espiritual e física e fazendo prevalecer o interesse público sobre o privado, de modo a proibir toda a exploração do ser humano e a assegurar que todo trabalhador tenha um nível de vida compatível com a dignidade humana. 381

A Constituição Paraguaia de 1940 inovou pouco o rol dos direitos sociais, não fazendo muitas referências aos direitos de seguridade social nem prevendo os direitos sindicais e de greve; embora tenha tido o mérito de lançar os princípios que nortearam e fundamentaram a legislação infraconstitucional trabalhista do país. 382

Em 1954, Alfredo Strossener assume o poder através de um movimento militar e entende insdispensável a edição de nova Carta Política para o Paraguai,o que ocorreu em 1967, sendo que tanto a Carta de 1967 quanto sua reforma de 1977 caracterizaram-se pelo predomínio do poder executivo sobre o legislativo e judiciário e pelo conseqüente rompimento com o princípio republicano, restando configurado um presidencialismo autoritário. 383

A Constituição de 1967 trouxe uma ampla integração dos direitos sociais e tutelou a família como “célula fundamental da sociedade” e os direitos a ela inerentes; a maternidade e

379

ROSA, Elianne M. Meira. Constitucionalismo social no Mercosul. São Paulo: Themis, 2002. p. 200. 380

MATTOS, Cláudio Oliveira. A Constituição Paraguaia. In: SANTOS, Hermelino de Oliveira (Coord.).

Constitucionalização do direito do trabalho no Mercosul. São Paulo: LTR, 1998. p. 126. 381

ROSA, Elianne M. Meira. Constitucionalismo social no Mercosul. São Paulo: Themis, 2002. p. 202. 382

FRESCURA, Luiz P. Las cláusulas econômico-sociales en las Constituiciones de América. v. 1. Buenos Aires: Losada, 1947. p. 335.

383

a infância, adotando a proteção integral da criança e do adolescente; a seguridade social, prevendo um regime próprio capaz de abarcar todos os trabalhadores, suas famílias e dependentes; a educação e cultura, prevendo não só a obrigatoriedade e gratuidade do ensino fundamental, mas também do ensino médio; os direitos à saúde, com a garantia de programas de assistência aos enfermos carentes de recursos financeiros, idosos e indigentes; o direito dos trabalhadores, conferindo hierarquia constitucional aos direitos relativos à jornada de trabalho, descanso remunerado, férias, bases para determinação de um salário mínimo vital, bonificações e etc.; o direito à sindicalização, bem como o direito de greve. 384

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