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Africano e Interamericano

CAPÍTULO 2 – DOS DIREITOS HUMANOS SOCIAIS E DOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO ADOTADOS PELO MERCOSUL

2.2 Da proteção dos direitos humanos sociais no Mercosul

2.2.1.2 O Mercosul como União Aduaneira

Segundo Baptista, os processos pacíficos de integração regional geralmente seguem algumas etapas até se consolidarem de forma plena, passando primeiramente pela formação de uma zona de livre comércio, evoluindo então para uma união aduaneira e depois para um

214

BASSO, Maristela (org.). Mercosul – seus efeitos jurídicos, econômicos e políticos nos Estados membros. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 18.

215

Tratado de Assunção. Artigos 1° e 5°. 216

DRUMOND, Maria Cláudia e; MARQUES, Renato. Mercosul: introdução e desenvolvimento. Brasília: Senado Federal, 1998. p. 18.

mercado comum para enfim desembocar na estruturação de uma verdadeira comunidade regional. 217

A zona de livre comércio se caracteriza pela livre circulação de mercadorias sem barreiras ou restrições quantitativas ou aduaneiras entre os Estados signatários do Tratado que a constitui, mas não retira a liberdade dos mesmos de promover relações, inclusive em matéria de importação e exportação, com países outros, não signatários do referido Tratado.218

Já a União Aduaneira configura-se como um passo além da zona de livre comércio, na medida em que conjuga a livre circulação de mercadorias com a adoção de uma tarifa aduaneira comum, que permite a livre circulação dos produtos no seu interior, onde recebem proteção pela via de uma tarifa única e pela dimensão do mercado abrangido; podendo evoluir para outras liberdades, como a de circulação de pessoas, serviços e capitais.

O Mercado Comum, por sua vez, ultrapassa e contém a união aduaneira, acrescentando-lhe a livre circulação de capital e trabalho, de modo a permitir o livre estabelecimento e a livre prestação de serviços pelos profissionais. Na visão de Luis Olavo Baptista, o Mercado Comum se caracteriza pela garantia de cinco liberdades, aliadas à coordenação e unificação das políticas nacionais e, em certa medida, das respectivas legislações; enfocando que, dentre as liberdades que caracterizam um Mercado Comum

a primeira é a livre circulação das mercadorias que faz com que dentro das fronteiras de um Estado, as mercadorias possam circular sem que tenham de atravessar barreiras alfandegárias; a segunda é a liberdade de estabelecimento, que faculta ao empreendedor instalar-se onde quer que deseje, no interior do Estado, quer para a produção, quer para a armazenagem, quer para a venda dos seus produtos; com evidentemente a produção exige trabalho, impõe-se que ocorra a livre circulação dos trabalhadores dentro dos limites do Estado; é esta a terceira liberdade; outro componente da atividade empresarial, o capital, deve circular livremente, ou seja, deve ocorrer a possibilidade de o investigador colocar o capital onde o interesse do produtor, do empresário, o dirija. É a quarta liberdade, a de circulação dos capitais; finalmente, a quinta é a liberdade da concorrência, que submete todos os produtores desse país às mesmas regras de natureza econômica, administrativa, fiscal, política e social, isto é, todos se sujeitam a uma disciplina jurídica e a encargos idênticos que vão incidir da mesma maneira nos produtos de sua empresa. 219

O estágio mais forte de integração dos Estados está explicitado, na atualidade, pela Comunidade Européia, que pressupõe não apenas as liberdades inerentes ao mercado comum,

217

BAPTISTA, Luis Olavo; MERCADANTE, Araminta de Azevedo; CASELLA, Paulo Borba (org.).

Mercosul: das negociações à implantação. São Paulo: LTR, 1998. p. 22. 218

Ibidem, p. 23. 219

BAPTISTA, Luis Olavo; MERCADANTE, Araminta de Azevedo; CASELLA, Paulo Borba (org.).

propiciando, ainda, a formação de um direito comunitário, a adoção de uma moeda única, bem como a instituição de tribunais internacionais voltados à aplicação desse direito comunitário. 220

No que se refere especificamente ao Mercosul, como já salientado em linhas anteriores, assume aquele, hoje, o caráter de União Aduaneira, embora seu fim último seja constituir-se um verdadeiro Mercado Comum, segundo os objetivos estabelecidos no tratado de Assunção, por meio do qual o bloco foi fundado, em 1991. 221

Com efeito, o Artigo 1° do Tratado de Assunção determina que o Mercosul implica a circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países através, entre outros, da eliminação dos direitos alfandegários e restrições não-tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer outra medida de feito equivalente; o estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais; a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes; o compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integração.

No Mercosul, ainda subsistem, no comércio entre os Estados-partes, restrições não tarifárias e outras, assim como medidas de efeito equivalente, de sorte que a tarifa externa comum não se aplica à totalidade de produtos importados de terceiros países. Contudo, não se passou ainda da livre circulação de mercadorias, para a qual muito contribui a adoção parcial da tarifa externa comum. 222

É certo que o Mercosul e seus países associados já vivenciam a livre circulação de pessoas, autorizada pela Decisão CMC n. 18/08 – “Acordo sobre documentos de viagem dos Estados-partes do Mercosul e Estados Associados”, vigente a partir da assinatura, que ampliou os direitos previstos na Resolução GMC n. 76/95. Além do que, o “Acordo sobre Residência para Estados do Mercosul, Bolívia e Chile”, de 6 de dezembro de 2002, confere o direito à residência e ao trabalho para os cidadão de todos os Estados-partes, adotando como único requisito para tanto o da nacionalidade; sendo mister salientar que o referido acordo só

220

VENTURA, Deisy. As Assimetrias entre o Mercosul e a União Européia: os desafios de uma associação inter-regional. São Paulo: Manole, 2003. p. 129.

221

Informação disponível em: <http://www.mercosul.gov.br/perguntas-mais-frequentes-sobre-integracao-regional-e-mercosul-1/sobre-integracao-regional-e-mercosul/>. Acesso em 2 de setembro de 2008.

222

CASTEX, Paulo Henrique. Os blocos econômicos como sociedade transnacional – a questão da soberania. In: CASELLA, Paulo Borba (coord.). Mercosul: integração regional e globalização. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.

se encontra em vigor para o Brasil, Argentina e Uruguai, até o momento. 223 Mas não se pode enquadrá-lo como um Mercado Comum, na medida em que a livre circulação de mercadorias e do trabalho ainda não estão de todo consolidadas, não havendo que se falar também em liberdade de capital, estabelecimento e de concorrência no seio desse bloco econômico.

Desse modo, espera-se que o Mercosul continue seu processo de evolução contínua através das medidas de fortalecimento da integração regional, no intuito de se tornar mais até do que um mercado comum, ou seja, uma verdadeira comunidade internacional, nos moldes da União Européia, capaz de conferir repercussão internacional aos interesses comuns de seus Estados membros.

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