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Africano e Interamericano

CAPÍTULO 3 – DA EFETIVIDADE DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL

3.3 Da Efetividade formal dos direitos humanos sociais no âmbito dos países que integram o Mercosul

3.3.5 Do Constitucionalismo Uruguaio e da recepção dos direitos sociais

3.3.5.1 Antecedentes históricos à Constituição de 1967

recursos. 391

Como já ressaltado em linhas anteriores, adota-se a teoria da “reserva do possível”, que teve sua origem na paradigmática decisão da Corte Constitucional Federal Alemã (julgamento do caso numeros clausulus BverfGE n. 33, S. 333) acerca da pretensão individual de ingresso no ensino superior público sem que existissem vagas em números suficientes392; mas a aplicação dessa doutrina européia à realidade dos países latino-americanos mostra-se inadequada pelas razões que serão tratados no último capítulo da presente dissertação.

3.3.4.3 A posição hierárquica dos tratados de direitos humanos no ordenamento jurídico paraguaio

A Constituição Paraguaia de 1992 estabelece a sua supremacia sobre os tratados internacionais e confere aos mesmos caráter supralegal, ou seja, posição hierárquica superior às leis, mas inferior à Constituição. 393

Porém, os tratados de direitos humanos têm sua hierarquia constitucional reconhecida no Artigo 142 da Carta Paraguaia, na medida em que este estabelece que os referidos tratados só poderão ser denunciados pelo mesmo procedimento exigido para Emendas Constitucionais. Isso porque, na visão de Pangrazio, os direitos humanos, que são reconhecidos como garantias essenciais para a dignificação do ser humano requerem vigência e estabilidade de suas normas, não podendo deixar de ser elevados ao status de lei fundamental. 394

Nesse sentido, a Constituição também regula a permissão para a integração regional do Estado e preconiza, ainda, que a República do Paraguai, em condições de igualdade com outros Estados, admite um ordenamento jurídico supranacional que garanta a vigência dos direitos humanos, da paz, da justiça, da cooperação e do desenvolvimento no âmbito político, econômico, social e cultural (Artigo 145, parágrafo 1°).

3.3.5 Do Constitucionalismo Uruguaio e da recepção dos direitos sociais

3.3.5.1 Antecedentes históricos à Constituição de 1967

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RADIL, Bernadino Cano. Manual de derecho constitucional e político. Asunción: Catena, 2003. p. 320. 392

PRONER, Carol. Direitos Humanos, Políticas Públicas e Mercosul. Observatório Político Sul-Americano. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ/UCAM. Análise de Conjuntura OPSA, n.

12, dezembro de 2006. Disponível em:

<http://observatorio.iuperj.br/pdfs/25_analises_Direitos_Humanos_Politicas_Publicas_e_Mercosul.pdf>. Acesso em 18 de maio de 2009.

393

PANGRAZIO, Miguel Angel. Tratado de derecho público. Asunción: S.R .L, 1996. p. 580. 394

O Uruguai teve sua independência política entre 1825 e 1830, sendo que a primeira Constituição Uruguaia data de 1830, considerada por alguns como instrumento institucional perfeito, mas por outros como texto que não se ajustava às exigências históricas e políticas do país; sendo que muito embora a Carta de 1830 tenha iniciado as bases do Constitucionalismo uruguaio, não deixou a mesma de reconhecer, como ancestral vernáculo, a Constituição dispersa e flexível que regeu a Província Oriental do Rio da Prata desde 1825. 395

Como a Carta Política de 1830 refletiu os ideais liberais que predominavam na época, tem-se que embora tenha consagrado a liberdade de trabalho e de comércio, proibindo o trabalho escravo, a referida Constituição não se ateve à proteção específica dos direitos sociais.

Foi durante os últimos anos de vigência da Constituição de 1830 que importantes leis trabalhistas foram editadas, como a lei de acidentes de trabalho, de 1914; a lei limitando a jornada de trabalho a 8 horas diárias, em 1915; a Lei de 1918, que proibiu o trabalho noturno nas padarias, confeitarias e similares, entre as vinte e uma horas e as cinco da manhã; a lei de aposentadoria na atividade privada de 1919; a lei do descanso semanal remunerado de 1920, bem como a lei do salário mínimo de 1923. 396

Em 1918, nova Constituição foi promulgada, sendo que, a despeito de ter promovido grandes alterações na ordem administrativa, a Constituição não avançou em termos de elevação dos direitos sociais à categoria de direitos fundamentais constitucionalmente assegurados. 397

A previsão constitucional dos direitos sociais só adveio com a Carta de 1934, que modificou substancialmente sua antecessora, buscando soluções constitucionais baseadas na realidade do país e utilizando como parâmetro o constitucionalismo europeu do pós-guerra. 398

A Carta de 1934 consagrou um conjunto de normas que reconheceram os direitos de conteúdo econômico e social, como o direito à educação, habitação, trabalho, proteção familiar, maternidade, patrimônio histórico do país, bem como o reconhecimento do direito de

395

GALLICCHIO, Eduardo G. Esteva. El Sistema Cosntitucional Paraguaio. In: BELAUNDE, D. Garcia; SEGADO, F. Fernadez; VALLE, Hernandez. (coord. ). Los sistemas constitucionales iberoamericanos.

Madrid: Dyckinson, 1992. p. 735. 396

RIBEIRO, Gabriela Campos. A Constituição Uruguaia. In: Hermelino de Oliveira (Coord.).

Constitucionalização do direito do trabalho no Mercosul. São Paulo: LTR, 1998. p. 147. 397

ROSA, Elianne M. Meira. Constitucionalismo social no Mercosul. São Paulo: Themis, 2002. p. 230-231. 398

greve, do direito à justa remuneração, a limitação da jornada de trabalho, fixada em oito horas diárias, e do direito ao descanso semanal remunerado; determinando ainda a regulamentação infraconstitucional dos direitos concernentes ao trabalho de mulheres e menores de 18 anos.

Na visão de Couture, a Constituição de 1934 entendeu conveniente suprimir a proibição constitucional ao trabalho escravo, por achar tal preceito desnecessário do ponto de vista jurídico, já que a escravidão mostrava-se um instituto incompatível com as normas constitucionais. 399

Com relação à recepção dos direitos sociais, Barbagelata assere que o reconhecimento dos direitos sociais, assim como na Constituição Paraguaia, como nas Constituições dos demais países que compõe o Mercosul, foi tardio, levando-se em conta as datas das primeiras leis laborais dos respectivos países. 400

A Constituição de 1934 passou por uma reforma em 1936, que se restringiu a alcançar os interesses político-partidários com vistas à realização de eleições em 1938, não conseguindo impedir, contudo, a quebra do sistema constitucional e do equilíbrio político que estava em sua base. 401

Nesse cenário, em 1942, o Parlamento é dissolvido e cria-se um Conselho do Estado, perante o qual o Presidente da República e seus Ministros apresentam o projeto de reforma constitucional elaborado por uma Junta Consultiva. 402 Assim, em 1942, é editada nova Constituição, que trouxe importante inovação do ponto de vista dos direitos fundamentais ao estabelecer que todos os artigos constitucionais que reconheçam os direitos do cidadão ou que atribuam faculdades e imponham deveres às autoridades públicas, poderão ser aplicados independentemente de existir ou não regulamentação através de lei ordinária. 403

399 COUTURE, Eduardo J; BARBAGELATA, Aníbal L. Las disposiciones econômico-sociales em la Constituición Uruguaia. In: Las cláusulas econômico sociales em las Constituiciones de América. Buenos Aires: Losada, 1947. p. 404-405.

400

BARBAGELATA, Hector Hugo. Panorama de la legislación del trabajo. Montevidéo: Cultura Sndical, 1994. p. 18.

401

ARÉCHAGA, Justino Jiménez de. La Constituición Nacional. Homenaje de la Camara de Senadores. Tomo I. Montevidéo, 1998. p. 121.

402

Ibidem, p. 121. 403

COUTURE, Eduardo J; BARBAGELATA, Aníbal L. Las disposiciones econômico-sociales em la Constituición Uruguaia. In: Las cláusulas econômico sociales em las Constituiciones de América. Buenos Aires: Losada, 1947. p. 400.

Embora a Carta de 1942 não tenha trazido uma organização sistemática dos direitos sociais propriamente, seu texto lançou as bases da legislação trabalhista, consagrando a liberdade de trabalho, a proteção à família e à maternidade, os direitos relativos à saúde etc.404

A eleição de Andrés Martínez Trueba para presidência do Uruguai, em 1850, abriu caminho para o projeto de uma nova Constituição, promulgada em 1952, cuja característica essencial reside no reforço dos controles jurídicos sobre a ação dos órgãos integrantes dos diferentes poderes 405; de sorte que, no que concerne aos direitos sociais, a referida Carta não alterou os direitos incorporados pela Constituição de 1934 e mantidos pela Carta de 1942, conservando, inclusivo, o dispositivo constitucional assegurador da aplicabilidade imediata dos dispositivos relativos aos direitos individuais e a faculdades ou deveres impostos às autoridades públicas. 406

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