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Africano e Interamericano

CAPÍTULO 3 – DA EFETIVIDADE DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL

3.2 Da eficácia e da efetividade da norma jurídica internacional

3.2.1 Da existência, vigência, validade e eficácia das normas jurídicas

Antes de ser abordada especificamente a efetividade da norma jurídica internacional, faz-se necessária a compreensão dos termos relacionados à existência, vigência e validade das normas jurídicas.

Uma norma nasce no Ordenamento Jurídico com a tipificação normativa de um fato da vida e passa a apresentar caráter compulsório a partir da sua vigência, consistindo esta, pois, na “executoriedade compulsória de uma regra de direito, por haver preenchido os requisitos essenciais à sua feitura ou elaboração”. 258

Além de existir e ter sua obrigatoriedade reconhecida, a norma jurídica precisa, ainda, ser válida, eficaz e efetiva. A validade da norma jurídica está sedimentada na sua adequação com a base fundante do Ordenamento Jurídico do qual faz parte, ou seja, com a Constituição;259 de modo que a validade nada mais é do que qualidade da lei que se apresenta como regular, isto é, como formal e materialmente adequada aos ditames Constitucionais quando de sua entrada em vigor. 260

No que concerne à eficácia e efetividade da norma jurídica, a teoria jurídica tradicionalmente faz a distinção entre a concepção meramente sintática da efetividade, caso em que a doutrina utiliza-se do termo eficácia, a concepção semântica da efetividade e o ângulo pragmático da efetividade. Nesse sentido, a eficácia designa a aptidão da norma jurídica para produzir efeitos jurídicos, independentemente desses se realizarem concretamente ou não, enquanto que a concepção semântica da efetividade, também denominada de eficácia social das normas, caracteriza-se quando a norma é cumprida e aplicada concretamente em certo grau, ou seja, quando seus preceitos incidem efetivamente na vida social, fazendo com que esta se amolde a seus preceitos vinculantes. 261

O ângulo pragmático da efetividade, por sua vez, resulta da combinação das duas posições anteriores, e sedimenta-se na base pela qual “efetiva é a norma cuja adequação do

258

REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 108. 259

KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 174. 260

AZEVEDO, Antônio Junqueira. Negócio Jurídico: existência, validade e eficácia. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 23.

261

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Teoria da norma jurídica. 4° ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 118-119.

relato e do cometimento garante a possibilidade de se produzir uma heterologia entre editor e endereçado”.262

3.2.2 Da efetividade das normas de direito internacional

Toda norma jurídica, inclusive a internacional, definidora de direitos humanos fundamentais traz consigo a expectativa de seu próprio cumprimento por parte daqueles que lhe são submetidos; não havendo razão para a negociação, assinatura e ratificação de um tratado de direitos humanos que constitua meras normas programáticas, isto é, não passiveis de exigibilidade no plano internacional e nacional, de modo que a grande maioria dos Tratados e Convenções Internacionais definidores de direitos humanos fundamentais não se limitam a prever os direitos a serem observados, estabelecendo mecanismos de fiscalização de seu cumprimento pelos Estados-partes, tutelando, em última análise, a efetividade dos direitos humanos fundamentais.

Nas palavras de Calsing, “mesmo não sendo um instrumento perfeito, as convenções internacionais constituem o instrumento mais eficiente para a promoção da cooperação interestatal”; de modo que, muito embora o Direito Internacional não seja um sistema perfeito em que os Estados assinam tratados por concordarem com seu texto e estarem dispostos a cumprir integralmente seus dispositivos, isto é, embora seja uma realidade o fato de que os Estados muitas vezes não cumprem os tratados aos quais se vinculam, exercem estes um papel fundamental na proteção dos direitos humanos; 263 o que, por si só, já motiva um trabalho contínuo em prol da obtenção de um grau cada vez maior de efetividade das normas internacionais, comumente das definidoras de direitos humanos sociais.

Quando se fala na efetividade de uma norma de direito internacional, é preciso se ter em mente que essa efetividade não consiste apenas no meio pelo qual os governos implementam os tratados internacionais a partir da edição de leis e decretos no seu âmbito interno, envolvendo também o modo pelo qual são cumpridas as normas implementadas; de sorte que a criação de leis em conformidade com o disposto nos Tratados e Convenções deve

262

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Teoria da norma jurídica. 4° ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 118-119.

263

CALSING, Renata de Assis. Possibilidades e limites da efetividade do direito internacional ambiental:

uma análise da CITES, Convenção da Basiléia e Protocolo de Quioto. 2007. 293 f. Dissertação. (Mestrado em Direito das Relações Internacionais). Faculdade de Direito. UNICEUB. p. 15.

vir acompanhada de seu indispensável cumprimento, nos moldes da finalidade para a qual foram editadas e apresentadas. 264

A efetividade das normas internacionais apresenta um duplo significado. O primeiro relativo às medidas tomadas pelo tratado para tutelar os direitos humanos em causa, que se apresenta, em verdade, como uma construção incerta, e o segundo relacionado à adequação das condutas estatais para com as regras e metas impostas pelas convenções, denotando uma relação da norma para com a norma e exigindo uma mudança no comportamento dos atores a nível nacional, regional e internacional. 265

Àqueles dois significados de efetividade, poderia ser acrescentando um outro, relacionado à concretização, no mundo social, dos direitos humanos enunciados nas normas de direito internacional, ou seja, a efetividade material, não reduzida à implementação jurídica e formal dos tratados e convenções, sedimentada através de uma modificação na legislação dos Estados signatários.

Não é intuito deste trabalho tratar da efetividade material dos direitos humanos sociais, muito embora seja certo que não só fatores jurídicos, mas comumente fatores econômicos, políticos, sociais e culturais têm influência direta na concretização dos direitos sociais reconhecidos e tutelados no âmbito dos países membros do Mercosul. Esse enfoque exclusivamente jurídico se dá principalmente pela ausência de evidências objetivas e científicas disponíveis e atualizadas resultante das limitações de estudos e pesquisas.

Para fins da presente dissertação, busca-se privilegiar o estudo dos aspectos jurídicos, e não sociais, da efetividade das normas internacionais de proteção dos direitos humanos sociais adotadas no âmbito do Mercosul, ou seja, a sua efetividade formal e não material. Sendo assim, será considerada a efetividade formal no seu sentido semântico e não apenas sintático, ou seja, o cumprimento do disposto nas normas internacionais, e não a sua mera capacidade de gerar efeitos; buscando-se, ainda, enfocar dois aspectos da efetividade: a adequação dos dispositivos de proteção dos direitos humanos sociais previstos nos tratados adotados no âmbito do Mercosul com a intenção impulsionadora dos mesmos e a adequação

264

WEISS, Edith Brown; JACOBSON, Harold k. Enganging Countries: strengthening compliance with international environments accords. Cambridge: MIT Press, 2000. p. 1-2.

265

Nesse sentido, vale salientar que embora Maljean-Dubois, ao tratar da efetividade dos tratados, tenha por foco a norma internacional definidora da proteção ambiental, nada obsta que tal raciocínio seja estendido às demais normas de proteção dos direitos humanos. (MALJEAN-DUBOIS, Sandrine. La mise em Ouvre Du Droit International de l’ environnement. Centre d’ études ET Recherches Internationales et Communautaire, Aix-em-Provence (France), Lês Notes de I’ Iddri, n° 4, 2002, p. 23).

das legislações internas dos respectivos Estados-partes com as referidas normas internacionais.

Nesse sentido, também se faz necessária a análise dos meios de enforcement e compliance, ou seja, dos meios jurídicos previstos para se impor as obrigações contidas nas normas internacionais de proteção dos direitos sociais, isto é, dos mecanismos de justicialização dos direitos sociais previstos nos instrumentos adotados ou firmados no âmbito do Mercosul.

3.3 Da Efetividade formal dos direitos humanos sociais no âmbito dos países que

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