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Africano e Interamericano

CAPÍTULO 2 – DOS DIREITOS HUMANOS SOCIAIS E DOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO ADOTADOS PELO MERCOSUL

2.2 Da proteção dos direitos humanos sociais no Mercosul

2.2.1.3 Estrutura e órgãos do Mercosul

Originalmente, a estrutura institucional do Mercosul foi integrada dos seguintes órgãos: Conselho do Mercado Comum (CMC), considerado como órgão político máximo, composto pelos Ministros das Relações Exteriores e da Economia ou Fazenda, e responsável pela condução da política do processo de integração; o Grupo Mercado Comum (GMC), órgão de caráter executivo voltado à discussão dos principais temas do projeto integracionista; os Subgrupos de Trabalho, vinculados ao GMC e responsáveis pela análise técnica dos temas pertinentes àquele; e as Reuniões de Ministros e Reuniões Especializadas, voltadas ao desenvolvimento de iniciativas integracionistas fora do âmbito econômico-comercial, enfocando questões voltadas ao meio ambiente, tecnologia, educação, cultura etc.224

Com a assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em 1994, uma nova estrutura foi idealizada para o funcionamento do Mercosul, sendo este integrado pelos seguintes órgãos: Conselho do Mercosul Comum (CMC), Grupo Mercado Comum (GMC), Comissão de Comércio (CCM), Comissão Parlamentar Conjunta (CPC), o Fórum Consultivo Econômico e Social (FCES), Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM); que confirmam a opção por uma estrutura orgânica do tipo intergovernamental, destacando-se, portanto, “o chamado ‘salto supranacional’ desejado por alguns teóricos”. 225

O Conselho do Mercado Comum é composto pelos Ministros das Relações Exteriores, da Economia ou Fazenda dos Estados membros e é o responsável superior pela coordenação

223

Dados disponíveis em: <http://www.mercosul.gov.br/perguntas-mais-frequentes-sobre-integracao-regional-e-mercosul-1/sobre-integracao-regional-e-mercosul/>. Acesso em 2 de setembro de 2008.

224

LUIS, Denise de Souza. Integração jurídico-social do Mercosul – a necessidade do estudo da “saúde pública” como um dos segmentos dos direitos sociais. Curitiba: Juruá, 2002. p. 67-68.

225

de todo o processo integracionista, de modo a garantir o devido impulso político por ele requerido, bem como o cumprimento dos objetivos e prazos enunciados no Tratado de Assunção, com vistas a alcançar a constituição de um Mercado Comum. As manifestações formais do CMC são tidas como decisões obrigatórias a todos os Estados partes e a presidência do CMC, a qual corresponde a presidência pro tempore do Mercosul, é exercida por rotação dos Estados membros, por ordem alfabética e pelo lapso de três meses. 226

Ao Conselho de Mercado Comum compete zelar pelo cumprimento do Tratado de Assunção e demais instrumentos internacionais firmados no âmbito do Mercosul, traçar políticas e promover as ações necessárias no intuito de estreitar os vínculos em prol da formação de um Mercado Comum, exercer a titularidade da personalidade jurídica do Mercosul, de modo a negociar e firmar acordos em nome dete no cenário internacional, manifestar-se sobre as propostas levadas pelo Grupo de Mercado Comum, adotar decisões em matéria financeira e orçamentária, dentre outras competências.227

É importante salientar que o sistema de tomada de decisões do Mercosul se funda no princípio do consenso, no qual, embora não se exija a unanimidade, ou seja, que todos os Estados-partes votem favoravelmente à decisão, preserva-se ao Estado-parte o direito de vetar a adoção de uma decisão, de sorte que o voto de cada Estado membro tem o mesmo peso relativamente ao resultado final da votação. 228

O Grupo Mercado Comum (GMC), por sua vez, constitui-se como órgão executivo responsável pela implementação dos objetivos a serem alcançados pelo Mercosul e pela supervisão do seu efetivo funcionamento, podendo delegar poderes de forma parcial aos Subgrupos de trabalho. O GMC é composto de dezesseis membros designados pelos Estados partes e reúne-se, em média, a cada três meses; sendo de natureza intergovernamental e estando subordinado ao CMC. 229

Já a Comissão de Comércio do Mercosul (CCM) é o órgão responsável por auxiliar o Grupo Mercado Comum, cabendo-lhe zelar pela aplicação dos instrumentos de política comercial comum firmados no âmbito do Mercosul e voltados ao funcionamento deste; bem

226

SANTOS, Ricardo Soares Stersi dos. Mercosul e arbitragem internacional comercial. Belo Horizonte: Del Rey: 1997. p. 83.

227

Protocolo de Ouro Preto. Artigo 8°. 228

SOUZA, João Ricardo Carvalho de. Constituição brasileira e tribunal de justiça do Mercosul. Curitiba: Juruá, 2001. p. 173-174.

229

BAPTISTA, Luis Olavo. O Mercosul, suas instituições e o ordenamento jurídico. São Paulo: LTR, 1998. p. 130.

como revisar e acompanhar os temas e matérias relacionados com o comércio intra-Mercosul e com terceiros Estados. A referida Comissão também é de natureza intergovernamental, apresentando uma composição quadripartite e sendo assessorada por dez Comitês Técnicos dedicados a assuntos aduaneiros, defesa do consumidor, defesa da concorrência, setor automobilístico e setor têxtil.230

A Secretaria Administrativa do Mercosul (SAM) tem suas atribuições estipuladas pelos Artigos 31 a 33 do Protocolo de Ouro Preto, estando situada em Montevidéu – Uruguai. Sua chefia é exercida por um diretor eleito pelo Grupo Mercado Comum e designado pelo Conselho do Mercado Comum, com prévia consulta aos Estados partes, e que exerce mandato de dois anos, vedada a recondução; de modo que compete à Secretaria servir como arquivo oficial da documentação do Mercosul, publicar as decisões proferidas no âmbito daquele, organizar a logística das reuniões, promover a difusão de informações relativas às medidas implementadas por cada Estado parte no intuito de efetivar as normas emanadas dos órgãos do Mercosul, registrar as listas nacionais dos árbitros e especialistas, dentre outras tarefas. 231

Ainda no que se refere à estrutura orgânica do Mercosul, conta este com uma Comissão Parlamentar Conjunta, que figura como órgão representativo dos Parlamentos dos Estados partes, exercendo a função de coadjuvante no processo de harmonização das legislações desses países, através de recomendações ao Conselho do mercado Comum (CMC) por intermédio do Grupo Mercado Comum (GMC). A Comissão é composta por dezesseis parlamentares representantes de cada Estado membro do Mercosul; cabendo-lhe, dentre outras, a função de executar estudos voltados à adequação das ordens jurídicas internas aos instrumentos jurídicos adotados pelo Mercosul, promover o relacionamento com o setor privado e enviar recomendações relativas ao processo de integração. 232

O Mercosul também é composto por órgãos auxiliares, como o Foro Consultivo Econômico e Social (FECS) e os Subgrupos de Trabalho (SGT). O Foro Consultivo Econômico e Social, constituído por representações dos setores econômicos e sociais, exerce função consultiva, em razão da qual emite recomendações ao Grupo Mercado Comum, sem caráter vinculativo, acerca de matérias pertinentes aos setores econômicos e sociais, no intuito

230

LUIS, Denise de Souza. Integração jurídico-social do Mercosul – a necessidade do estudo da “saúde pública” como um dos segmentos dos direitos sociais. Curitiba: Juruá, 2002. p. 78-79.

231

Protocolo de Ouro Preto. Artigo 22. 232

LUIS, Denise de Souza. Integração jurídico-social do Mercosul – a necessidade do estudo da “saúde pública” como um dos segmentos dos direitos sociais. Curitiba: Juruá, 2002. p. 87-88.

de conferir uma sustentação integracionista de caráter político e social, que figura como requisito primordial para a consolidação do projeto do Mercado Comum do Sul.233

No que se refere aos subgrupos de trabalho do Mercosul, previstos na Resolução 20/95 – Assunção, de 03.08.1995 e expedida pelo Grupo Mercado Comum, desempenham aqueles a função de enfocar os assuntos que figuram como condições necessárias à consecução de um Mercado Comum, como as questões relativas a transporte, meio ambiente, indústria, agricultura, energia e mineração, relações laborais, emprego e seguridade social, saúde, investimentos, comércio eletrônico e acompanhamento da conjuntura econômica e social. 234

O Mercosul conta ainda com outros órgãos, chamados temáticos, dentre os quais figuram: as Reuniões de Ministros, as Reuniões Especializadas, os Grupos Ad Hoc e o Comitê de Cooperação Técnica. Para a solução de controvérsias no âmbito do bloco, o Tratado de Assunção, inicialmente, previa um sistema simplificado, caracterizado basicamente por negociações intergovernamentais diretas; comprometendo-se os Estados–partes a adotarem um sistema definitivo. Por esse sistema, em caso de não obtenção de uma solução direta entre os Estados-partes, deveriam estes submeter a controvérsia à consideração do Grupo Mercado Comum que, após avaliar a situação, deveria formular, no lapso de 60 diais, as recomendações pertinentes às partes, sendo que a questão poderia ainda ser levada ao Conselho do Mercado Comum, caso não fosse dirimida pelo Grupo Mercado Comum. 235

A adoção do Protocolo de Brasília, em 17 de novembro de 1991, constituiu o início formal de um esquema processual simples dominado por Tribunais Arbitrais Ad Hoc. Já no ano de 2002, com o advento do Protocolo de Olivos, o sistema de solução de controvérsias do Mercosul vivenciou uma mudança estrutural, caracterizada pela criação de uma instância permanente de atuação e com reuniões ante uma convocatória concreta.

Trata-se do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul, que atua não só como Tribunal revisional, voltado à verificação de questões já submetidas aos Tribunais Arbitrais Ad Hoc, mas como verdadeiro tribunal ordinário, na medida em que os Estados-partes na

233

CHALOULT, Yves; ALMEIDA, Paulo Roberto de. MERCOSUL, NAFTA E ALCA: a dimensão social. São Paulo: LTR, 1999. p. 84.

234

LUIS, Denise de Souza. Integração jurídico-social do Mercosul – a necessidade do estudo da “saúde pública” como um dos segmentos dos direitos sociais. Curitiba: Juruá, 2002. p. 91-92.

235

Segundo Nádia de Araújo, o Protocolo estabelece dois sistemas de solução de controvérsias: o primeiro entre os Estados, e o segundo, a partir de seu Artigo 25, regula também as reclamações dos particulares. No entanto, antes de recorrer ao sistema, devem os particulares formalizar a reclamação junto à Seção Nacional do grupo mercado Comum. (ARAÚJO, Nádia de. Solução de Controvérsias no Mercosul. p. 111-114. In: CASELLA, Paulo Borba (coord.). Mercosul: integração regional e globalização. Rio de Janeiro: Renovar, 2000).

controvérsia poderão decidir por submeter-se diretamente e em única instância ao Tribunal Permanente de Revisão, caso em que este terá as mesmas competências de um Tribunal Arbitral Ad Hoc. 236 O Artigo 3° do Protocolo de Olivos também prevê a competência consultiva do Tribunal Permanente de Revisão relativamente à interpretação e aplicação das normas do Mercosul.

2.2.2 Dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos sociais

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