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Dos Instrumentos de proteção adotados pelo Sistema Regional Interamericano Atualmente, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos está delineado na

Africano e Interamericano

CAPÍTULO 2 – DOS DIREITOS HUMANOS SOCIAIS E DOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO ADOTADOS PELO MERCOSUL

2.1.5 Dos Instrumentos de proteção adotados pelo Sistema Regional Interamericano Atualmente, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos está delineado na

Convenção Americana de Direitos Humanos, também denominada de Pacto de San José da Costa Rica, assinada em 1969.

Conforme já salientado, originalmente, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos não enunciou de forma específica qualquer direito econômico, social e cultural, limitando-se a determinar o alcance progressivo da proteção desses direitos por parte dos Estados; de sorte que só posteriormente, em 1988, a Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos adotou Protocolo adicional à Convenção, concernente aos direitos sociais, econômicos e culturais, também denominado de Protocolo de San Salvador, que entrou em vigor em novembro de 1999, por ocasião do depósito do 11° instrumento de ratificação, nos termos do Artigo 21 do Protocolo. 185

O Protocolo de San Salvador tutela uma série de direitos sociais, dentre os quais figura o direito ao trabalho, que, nos termos do protocolo, inclui a oportunidade de obter os meios para levar uma vida digna, o direito a condições justas, equitativas e satisfatórias de trabalho,

183

MELLO, Celso Albuquerque. A proteção dos direitos humanos sociais nas Nações Unidas. In: SARLET, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais Sociais: estudos de Direito Constitucional, Internacional e Comparado. Rio de Janeiro: renovar, 2003. p. 230-231.

184

Ibidem, p. 230-231. 185

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 236-237.

o direito a uma remuneração que assegure condições de subsistência digna, a segurança e higiene no trabalho, a proibição de trabalho noturno, insalubre e perigoso a menores de 18 anos, a limitação da jornada de trabalho, bem como o direito ao repouso semanal remunerado e a férias.186

O Protocolo também traz no rol dos direitos sociais os direitos sindicais, a liberdade sindical, o direito de greve, a liberdade de associação, o direito à previdência social, o direito à saúde, devendo os Estados reconhecer a saúde como um bem público, além de adotar medidas voltadas ao atendimento primário de saúde, à imunização contra as principais doenças infecciosas, à prevenção e tratamento de doenças endêmicas, profissionais e de outra natureza, à educação da população sobre prevenção e tratamento dos problemas de saúde e à satisfação das necessidades de saúde dos grupos de mais alto risco e mais vulneráveis em razão de sua situação de pobreza. 187

Outros direitos sociais preconizados pelo protocolo de San Salvador são o direito à alimentação, relativo à obtenção, por cada indivíduo, de uma nutrição adequada que lhe assegure a possibilidade de gozar do mais alto nível de desenvolvimento físico, emocional e intelectual; o direito à educação, que deverá se orientar para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e incluir o acesso ao ensino fundamental, médio e superior; o direito à constituição e proteção da família; os direitos da criança; bem como a proteção de pessoas idosas e portadoras de deficiência. 188

Segundo Piovesan, diante desse catálogo de direitos constantes da Convenção Americana e do protocolo de San Salvador, cabe a cada Estado-parte a obrigação de respeitar e assegurar o livre e pleno exercício desses direitos, sem qualquer discriminação, cabendo-lhes ainda adotar medidas legislativas e de outra natureza em prol da efetividade dos direitos humanos. 189

186 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOD. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador). Artigos 6° e 7°.

187

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOD. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador). Artigos 8°, 9° e 10°.

188

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOD. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador). Artigos 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17.

189

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 273.

Nesse sentido, Buergenthal salienta que os Estados partes da Convenção Americana têm tanto obrigações positivas quanto negativas relativamente aos direitos civis e políticos nela enunciados, ou seja, têm o dever de não violar os direitos e garantias nela prescritos e, ao mesmo tempo, o dever de adotar medidas necessárias e razoáveis ao pleno exercício desses mesmos direitos. 190

Esse entendimento também pode ser estendido ao rol de direitos sociais, pois muito embora esses direitos figurem como direitos de prestação em sentido estrito, ou seja, direitos que exigem uma prestação positiva por parte dos Estados em prol de sua tutela; há também uma parcela de obrigações negativas deles decorrentes, na medida em que deverá o Estado cuidar não só de promover a realização de políticas públicas voltadas à consecução dos direitos sociais, mas também de proteger a pessoa humana contra sua própria atuação, lhe garantido liberdade de trabalho, associação, sindical etc.

Vale destacar que o Protocolo de San Salvador também preconiza, em seu Artigo 1°, que os Estados-partes se comprometem a adotar as medidas necessárias, tanto de ordem interna quanto por meio de cooperação entre os Estados, especialmente econômica e técnica, e até o máximo de recursos disponíveis, levando-se em conta o seu grau de desenvolvimento, em prol da realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais; adotando, pois, a concepção progressiva da realização desses direitos.

Quanto ao aparato de monitoramento e consecução dos direitos sociais adotado pelo Sistema Regional Interamericano, vale lembrar que este não se diferencia muito do sistema global, estando sedimentado no Sistema de Relatórios a serem encaminhados pelos Estados Partes.

Com efeito, o Protocolo de San Salvador estabelece, em seu Artigo 19, que

1. Os Estados-partes neste protocolo comprometem-se a apresentar, de acordo com o disposto por este artigo e pelas normas pertinentes que a propósito deverão ser elaboradas pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, relatórios periódicos sobre as medidas progressivas que tiverem adotado para assegurar o devido respeito aos direitos consagrados no mesmo protocolo.

2. Todos os relatórios serão apresentados ao Secretário-Geral da OEA, que os transmitirá ao Conselho Interamericano e Social e ao Conselho Interamericano da Educação, Ciência e Cultura, a fim de que os examinem de acordo com o disposto neste artigo. O Secretário-Geral enviará cópia desses relatórios à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

190

Nesse sentido, o sistema de monitoramento dos direitos sociais adotado pelo Sistema Interamericano limita-se quase que exclusivamente a esse sistema de relatórios, que, como bem salienta Cançado Trindade, não impõe aos Estados a obrigação de adotar medidas de efetivação dos direitos sociais, mas apenas de informar as políticas públicas empregadas em prol da consecução desses direitos e dos direitos econômicos e culturais, além de poderem enunciar as dificuldades encontradas; devendo haver a adoção de medidas menos tímidas e mais efetivas por parte do Sistema Global e do Sistema Interamericanos, sob pena dos direitos econômicos, sociais e culturais caírem no vazio. 191

O Protocolo também prevê o encaminhamento pelos organismos especializados do Sistema Interamericano de relatórios ao Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura sobre o cumprimento das disposições do protocolo. 192

É cediço lembrar que embora o Protocolo de San Salvador não tenha adotado o sistema de comunicações interestatais nem a possibilidade de petições individuais quando da violação dos direitos econômicos, sociais e culturais, o que dificulta a efetivação desses direitos em termos regionais, o Protocolo abre uma exceção, prevendo a possibilidade de petições individuais em caso de violação do direito à educação e dos direitos dos trabalhadores de organizarem sindicatos. 193

As petições ou comunicações relativas a violações do direito à educação ou à organização sindical e encaminhadas por indivíduos ou organizações não-governamentais devem ser examinadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que verificará, primeiramente, a observância de requisitos mínimos de admissibilidade, como o prévio esgotamento dos recursos internos – salvo no caso de injustificada demora processual, ou no caso de a legislação doméstica não prover o devido processo legal. 194

Nesse contexto, compete a Comissão, uma vez prestadas as informações pelo governo envolvido, verificar a procedência ou não dos motivos da comunicação ou petição, devendo-se emprenhar no alcance de uma solução amistosa entre as partes; devendo-sendo que, devendo-se alcançada

191

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional de direitos humanos. vol. I. Porto Alegre: S. A. Fabris, 2007. p. 369.

192

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOD. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador). Artigos 19.

193

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional de direitos humanos. vol. I. Porto Alegre: S. A. Fabris, 2007. p. 369-370.

194

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. El agotamiento de los recursos internos en el sistema interamericano de protección de los derechos humanos. San José da Costa Rica: Instituto Interamericano de Derechos Humanos, 1991. p. 12.

essa solução, a Comissão deverá elaborar um informe que será transmitido ao peticionário e aos Estados-partes da Convenção, sendo comunicado posteriormente à secretaria da Organização dos Estados Americanos para competente publicação; deve o informe conter uma breve exposição acerca dos fatos e da solução alcançada. 195

Não alcançando qualquer solução amistosa, a Comissão elaborará um relatório, apresentando os fatos e as conclusões pertinentes ao caso, bem como e se for cabível as suas recomendações ao Estado-parte violador do direito; tendo este o prazo de 3 meses para dar cumprimento às recomendações feitas. Dentro desse prazo, o caso pode ser solucionado pelas partes ou encaminhado pela Comissão à Corte Interamericana de Direitos Humanos; sendo que se tal não ocorrer, poderá a Comissão, por maioria absoluta de votos de seus membros, decidir se as medidas por ela recomendadas foram adotadas pelo Estado, publicando informe que constará no relatório anual de suas atividades. 196

Em sendo o caso submetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos e decidindo esta pela ocorrência de violação aos direitos tutelados, determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito então violado, podendo, inclusive, condenar o Estado violador a pagar justa compensação à vítima; gozando sua decisão de força jurídica vinculante e obrigatória.

Salienta-se que para que o Estado se submeta ao julgamento da Corte, é preciso que reconheça sua jurisdição, já que tal jurisdição foi adotada sob a forma de cláusula facultativa, sendo que todos os Estados que compõe o Mercosul submetem-se à referida jurisdição. O monitoramento dos direitos sociais adotado pelo Sistema Interamericano também prevê a possibilidade da Comissão Interamericana de Direitos Humanos formular recomendações e observações que julgar pertinentes sobre a situação dos direitos econômicos, sociais e culturais tutelados no protocolo em todos ou em alguns dos Estados-partes; podendo essas recomendações serem incluídas no Relatório Anual a ser apreciado pela Assembléia geral ou num relatório especializado. 197

195

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 242-243.

196

Ibidem, p. 250-251. 197

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOD. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador). Artigos 19.

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