• Nenhum resultado encontrado

1 ANTES E DEPOIS DA PENSÃO POR MORTE, À LUZ DA MP

Estudo da família de origem dos assistidos

1 ANTES E DEPOIS DA PENSÃO POR MORTE, À LUZ DA MP

Com o advento da Constituição Federal de 1988, houve a necessidade da construção de mecanismos de proteção contra os infortúnios do dia a dia, no qual ao longo do tempo, inclusões e melhorias foram pautando o que temos nos dias atuais; instrumentos que asseguram benefícios e trazem o modelo de respaldo necessário para o bem-estar de quem é previdente.

Com o intuito inicial de proteção foi que, a partir do que menciona o artigo 194 da Constituição Federal, elencou-se o rol da Seguridade Social, solidificando a norma protetiva

que cuida dessas disposições gerais. Este trata de um conjunto de ações dos Poderes Públicos juntamente com a sociedade a fim de assegurar direitos relativos ao chamado “tripé” da Seguridade Social: Saúde, Assistência e Previdência.

Pela definição constitucional já é possível notar que a Seguridade Social objetiva assegurar saúde, previdência e assistência. Podemos então dizer que Seguridade Social é gênero, da qual são espécies a Saúde, a Previdência e a Assistência Social. (CORRÊA, 1999). No artigo 201 do Texto Maior estão conceituados a ideia e os princípios basilares do que é Previdência Social, trazendo seus critérios e quais os seus objetivos. Assim, tem-se uma completa harmonia entre os eventos e suas respectivas coberturas. Ao que dispõe o “caput” do referido artigo fica evidente o princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial, numa clara preservação de igualdade entre prestação e contraprestação, o que não foi observado na minirreforma.

Ainda no artigo 201, em seus incisos, mostra-se notória a cobertura do evento morte (I) e do benefício da Pensão (V), interpretado aqui, sua disponibilidade integral, afastando qualquer redução quanto à sua concessão.

Conferidas tais afrontas, muitas medidas legais foram de encontro ao que dispunha a nova MP, como a ADI 5234 de 2015, que entre outros questionamentos, explicitava a clara violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade e da isonomia. Sobre o sistema da Seguridade Social, perspectiva preliminar necessária antes de se abordar a Previdência em si, ressaltam-se as palavras de Rocha (2002, p. 35):

Os princípios constitucionais são os alicerces do ordenamento jurídico, e servem para garantir um estado democrático de direito. Nessa linha, os princípios da seguridade social são compostos por um conjunto de normas programáticas que trazem objetivos orientadores para elaboração das leis e um conjunto de garantias a serem observadas pela administração pública na execução de programas de seguridade social.

Como visto, a adversidade quanto à implementação dessa nova norma carregada de conflitos ao Texto Maior é bastante sustentada, não sendo admitido utilizar o rótulo de

correção de déficit para ajuste do sistema, como as últimas gestões do Poder Executivo federal têm defendido. E aqui, mais uma vez, vale ressaltar as palavras de Wagner Balera, citado por Zuba (2003, p. 23):

Esse argumento é duramente rebatido por vários doutrinadores, uma vez que se verifica ser prática comum no Congresso Nacional a aprovação de leis mediante as quais são desviados recursos da seguridade social para finalidades distintas da área de saúde, previdência e assistência social. Somente nos anos de 1995 a 2002 foram editadas mais de cem leis que oficializavam o inconstitucional desvio de recursos.

Em defesa do Estado, para a implantação da Medida Provisória 664, o que precipuamente se alega é a necessidade de economia do sistema previdenciário. Sobre isso, vale observar o estudo de Denise Gentil denominado “A Política Fiscal e a Farsa Crise da Seguridade Social Brasileira - Análise financeira do período de 1990-2005”. Como resultado dessa investigação, conclui-se que o sistema da seguridade social é autossustentável, apontando que os recursos arrecadados para a Previdência é bem superior aos valores pagos a título de benefícios. Com isso, ao contrário do que o Estado brasileiro quer difundir, o sistema de previdência social não está em crise e nem necessita de reformas que visem o ajuste fiscal, pois este dispõe de capital excedente. (GENTIL, 2006).

Há que se destacar, também, a menção “financiamento da previdência”, uma vez que, destacado na Carta, no seu artigo 195, tem-se o “custeio da Seguridade”, uma forma mais ampla e solidária de contribuição. Como é preciso lembrar, apesar de descrito antes, a Previdência Social é parte integrante do sistema da Seguridade Social. Os recursos adquiridos com as contribuições sociais são destinados para o orçamento da Seguridade Social e não exclusivamente para Previdência. De certo, se houver uma interpretação correta do que se vale a Carta Maior, não se pode pegar uma espécie (Previdência, Saúde, Assistência), e separá-la isoladamente fazendo cálculos para atribuir uma característica de “déficit”.

Denise Gentil, Professora de Economia da UFRJ, em entrevista ao Brasileiros, do site Terra em 2016, explica:

O artigo 195 da Constituição diz que a Seguridade Social será financiada por contribuições do empregador (incidentes sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro), dos trabalhadores e do Estado. Mas o que se faz é um cálculo distorcido. Primeiro, isola-se a Previdência da Seguridade Social. Em seguida, calcula-se o resultado da Previdência levando-se em consideração apenas a contribuição de empregadores e trabalhadores, e dela se deduzem os gastos com todos os benefícios. Por essa metodologia, houve déficit de R$ 87 bilhões de janeiro a novembro de 2015. Pela Constituição, a base de financiamento da Seguridade Social inclui receitas como a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e as receitas de concursos de prognóstico (resultado de sorteios, como loterias e apostas).

Deste modo, focar em uma parcela por menor de uma das espécies do que faz a Seguridade evidencia um erro de análise e uma falsa conclusão de um possível problema.

No benefício específico da Pensão por Morte se observou o maior número de alterações, quebrando a harmonia existente no artigo 201 da CRFB/88, por estar ali inserido, caracterizando um grave retrocesso aos direitos adquiridos ao longo dos anos.

A Pensão por Morte é uma prestação previdenciária destinada aos dependentes do segurado que vier a falecer. Anteriormente, na lei 8.213/91, em seu artigo 74, não se observava carência para

sua concessão e, no artigo 75, expunha que o valor destinado aos beneficiários era integral, ou seja, de 100% do valor da aposentadoria que recebia ou do cálculo de uma por invalidez, se não aposentado, na data do óbito. Ainda, observava-se o repasse da cota do beneficiário que não mais fazia jus ao recebimento da prestação em favor dos demais dependentes remanescentes e duração vitalícia do benefício.

Advinda a vigência plena da Medida Provisória 664/2014, inclusões e modificações dos artigos da lei 8.213/90, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social, relacionada à Pensão por Morte, alteraram em peso os critérios de outorga do benefício. Agora, tem-se uma exigência mínima de contribuições mensais e tempo mínimo de casamento ou início de união estável. Estabelece ainda a vedação da concessão do benefício a quem, pela prática de homicídio, resultou na morte do segurado. Neste caso, exige-se o trânsito em julgado, ou seja, onde não mais enseja discussão do caso.

Foi alterada a renda inicial, reduzindo de sua integralidade (100%), para 50%, acrescida da cota de 10% por dependente, até o máximo de cinco. Faz jus observar que, na cessação do recebimento da pensão por um dos dependentes, a sua cota individual (10%), não mais irá ser revertida aos dependentes remanescentes; esta deixa de existir, fazendo o recálculo apenas do valor global (50%) mais a cota individual de direito dos dependentes restantes.

Há, no entanto, um caso especial de acréscimo de 10% no valor da pensão por morte a ser rateado entre os dependentes. Isto ocorre no caso de haver filho do segurado, ou a ele equiparado, que seja órfão de pai e mãe na data do recebimento da pensão. Contudo, a aludida cota extra não será aplicada quando for devida mais de uma pensão aos dependentes.

Outra questão modificada foi quanto à duração do benefício. Após a MP664/2014, o benefício passa de vitalício em todos os casos, à obediência de uma tabela do IBGE quanto à expectativa de sobrevida. Dependendo deste em relação aos anos de quem fará jus ao benefício, passa a ter duração o recebimento do valor da pensão. Portanto, é grave a disposição e validade destas alterações, ainda mais por se tratar da medida provisória em si como instrumento causador. A fragilidade da norma, a falta de coerência no quesito prestação contra contribuição; assim como a afronta à Constituição Federal, desestabilizando preceitos importantes quanto à segurança jurídica dos cidadãos relacionados aos seus direitos pétreos, traz diversos questionamentos negativos. Assim se faz um melhor olhar e a recusa quanto à implementação desta medida.

2 A FRAGILIDADE DA MP COMO NORMA BENEFÍCIO: O CASO DA PENSÃO

Outline

Documentos relacionados