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A TÓPICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO CIVIL, A JURISPRUDÊNCIA E A POSITIVAÇÃO DO DIREITO

4 A TENTATIVA DE DEFINIÇÃO DO TOPO

5 A TÓPICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO CIVIL, A JURISPRUDÊNCIA E A POSITIVAÇÃO DO DIREITO

Ao tratar da Tópica e do Ius Civile, Viehweg remete ao entendimento dos romanos e mais precisamente, à tópica ciceroniana. A relação da tópica com a Jurisprudência, a noção de techne e epistema, a questão da positivação do direito bem como, a utilização dos brocados romanos jurídicos como integrantes dos catálogos de topoi, são alguns dos temas que são debatidos, terminando por analisar a dialética de Aristóteles frente a dos estóicos e onde os romanos se enquadrariam neste contexto.

Viehweg (1979) implementa estreita ligação entre os métodos romanos de aplicação do direito e sua tópica resgatada, extremamente familiar aos romanos. Tenta demonstrar a identificação da ars romana clássica com o método tópico, terminando por viabilizar um paradoxo com a aplicação da norma jurídica.

Nota-se que, uma das características da jurisprudência romana, era sua vinculação ao casuísmo, sempre numa perspectiva de equidade, justiça e utilidade. As decisões sempre deveriam se adaptar à vida social, daí exaltarem os romanos o real e o prático. Os romanos eram práticos e realistas em suas decisões. Conforme aduz Castro (1999, p. 126): “Os juristas romanos deduziram uma „ciência‟ e uma técnica jurídica universal, na arte das decisões concretas inspiradas nas necessidades da vida. O poder de criação dos juristas faz da ars uma técnica de „elaboração e criação”.

É perceptível quando da abordagem de Viehweg (1979), como os romanos eram práticos e tal praticidade obstacularizava o uso de divisões e subdivisões não práticas e inservíveis. As análises tem a função de criação e estruturação dos princípios do direito. A tópica ciceroniana observa em seu bojo nexos problemáticos e sistemáticos, tais como: tópicos técnicos e atécnicos, conexões linguísticas, gênero, espécies, definições etc.; como nexos problemáticos mas não sistemáticos, tais como: conceitos – guias, tópicos ligados a regras etc. Os romanos para seu intento, utilizaram-se da filosofia grega, dela não se apartando, principalmente no que se refere à retórica e à gramática.

A questão dos estóicos se perfaz no sentido de que, as sentenças romanas eram influenciados por eles de forma benéfica, mas não se pode olvidar que Cícero teve um papel fundamental na eficácia da reelaboração desse pensamento. Mesmo no período clássico

romano, havia essa relação entre os conceitos jurídicos e a realidade social, até mesmo quando da aplicação da justiça pelos Magistrados Romanos, tais como pretores e juízes populares. Ferraz Júnior (1997, p. 23) assim discorre:

Na tradição da cultura ocidental, desde a antiguidade, observa-se, nas discussões sobre a justiça, uma disposição em reconhecer-se que os conteúdos justos são difíceis de ser determinados, provocando o desalento dos relativismos e o desencontro das disputas infindáveis, Assim, Por exemplo, Aristóteles, embora acreditasse na possibilidade de esclarecer o que era a justiça, não negava a grande dificuldade que sentia em determinar, a partir das premissas gerais, o justo concreto.

Pode-se chegar a algumas considerações acerca deste fato. Primeiro, percebe-se que com os estudos dos juristas romanos emerge uma técnica de aplicação, conceitos, casos - guia, precedentes etc, como explanou Viehweg (1979), tornando-se possível e até salutar, uma aproximação da realidade social, sua vivência, com a construção dos conceitos e persecução de decisões consideradas justas; mas, a Tópica grega, mais precisamente o método aristotélico, teve papel fundamental neste processo, influenciando também historicamente. O enunciado da lei para os romanos, não pode ser considerado apenas sob o pálido aspecto linguístico, que no contexto lhe serve de auxílio, mas, acima de tudo, deve-se entender que não coincide com o conceito de justiça.

A dialética ciceroniana faz uso da Tópica que se apresenta subordinada à ciência (ars), e tem como proposta extrair os princípios que estão em conformidade, não com opiniões verdadeiras, mas sim, com opiniões provenientes da natureza das coisas. Essa é a ideia que surgirá na concepção de jurisprudência de Ulpiano, abordada por Viehweg. Mas deve-se tomar cuidado, pois a definição do direito civil como arte, em Cícero, não é retórica, mas sim aristotélica e com aptidão de construir uma ars direcionada ao estabelecimento dos princípios da ciência, ou seja, que serão aplicados na construção da Ciência do Direito.

Destarte, percebe-se que o trabalho filosófico de Cícero desenrola-se no sentido de produção de uma ars na linha dos topoi aristotélicos. O Código Civil Francês de 1804 e o primeiro Código Português de 1549, recepcionaram de forma bastante clara, as soluções da jurisprudência do Direito Romano Clássico, principalmente em seu Direito Privado. (CASTRO, 1999, p. 132).

Por causa disto, o desenvolvimento de Institutos de Direito Romano, mediante a Jurisprudência Clássica, com extrema influência da Tópica ciceroniana e da Tópica Aristotélica, consolidara-se com o emergir dos Códigos no Direito Romano Pós - Clássico, de natureza imperial e autoritária, projetando-se em resoluções da norma em claustro, sobressaindo-se no contexto a legalidade que garante um liame normativo e lógico entre o

abstrato e o concreto, geral e individual, sendo assim, a legalidade, rocha e fundamento da Ordem Jurídica coerente. Destarte, constata-se que a Tópica, antes das codificações, foi de extrema importância na construção dos conceitos jurídicos, consolidando-os.

Chama a atenção neste sentido, a ênfase na questão da correlação entre os conceitos jurídicos e a realidade social. Isto é extremamente salutar posto que, tal preocupação nos romanos, em construir uma Ciência do Direito vinculada à realidade social, demonstra que os romanos, além de sua praticidade na resolução dos casos, primavam também a noção de que o direito não pode ser construído sem estar inserido na sociedade. Destarte, não é possível se construir uma Ciência do Direito sem partir da realidade social imperante em determinada época e local.

Os romanos sabiam disso e eram exímios em sua práxis, construir seus conceitos jurídicos e produzir ciência. É certo que para isto, valeram-se do método tópico e adequaram- no aos seus anseios de solucionamento de problemas e desenvolvimento de seu Direito. Como dito em momento anterior, uma das características da jurisprudência romana, era sua vinculação ao casuísmo, sempre numa perspectiva de equidade, justiça e utilidade.

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