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3 PARQUEANDO A TÓPICA ARISTOTÉLICA E A TÓPICA CICERONIANA.

Viehweg traça uma abordagem mais criteriosa da Tópica Aristotélica e da Tópica Ciceroniana, estabelecendo suas origens, convergências e divergências principais, bem como firmando a importância de ambas para a Práxis. Em Aristóteles, destaca-se o 5º. Livro de seus tratados (“Órganon” ou “Intrumento”) cuja abordagem refere-se a um “instrumento do raciocínio”, comumente conhecido como “Lógica”. A lógica para os gregos era essencial ferramenta para a busca de qualquer saber.

Viehweg (1979, p. 24) aduz ter Aristóteles ressuscitado uma temática superada pela filosofia grega, que seria a “arte da disputa”, muito empregada e também por vezes criticada nos retóricos e sofistas. Pertencendo a Tópica à dialética, Viehweg extrai de Aristóteles a “sua intenção de aplicar Ciência Lógica, por ele elaborada, à velha arte de argumentar”.

Discípulo de Platão, Aristóteles é tido como um dos grandes filósofos de toda a História da humanidade e também, considerado o “pai do pensamento lógico”, onde a lógica fornece a ferramenta inicial de toda a ciência, revelando como raciocina o Homem. (REALE, 1997, p. 36).

Destarte, Viehweg expõe os tipos de raciocínio afetos ao homem nos termos da obra Aristotélica: O primeiro tipo de raciocínio apresentado é a demonstração, que se inicia com proposições verdadeiras e aborda verdades científicas. Essa temática aristotélica ganha corpo nos Analíticos primeiros e segundos, onde é devidamente explicado o raciocínio (ou silogismo) e que se traduz da seguinte maneira: dadas as premissas, deduz-se uma conclusão.

A segunda tipologia é o raciocínio dialético, e o mais interessante na oportunidade. Segundo Aristóteles (1978): “O raciocínio é “dialético” quando parte de opiniões geralmente aceitas. [...] São opiniões “geralmente aceitas” aquelas que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos – em outras palavras: todos, ou a maioria, ou os mais notáveis e eminentes.”

Essas opiniões são o que Aristóteles chamava de endoxa. Mas não se pode esquecer que estas opiniões não correspondem aos chamados “tópicos”. O ponto diferencial entre a “demonstração” (apodexis) e o “raciocínio dialético” encontra-se nas premissas: Na demonstração, perquirem-se que sejam elas verdadeiras, enquanto que no raciocínio dialético, exige-se apenas que sejam verossímeis.

Entretanto, nota-se que a forma é a mesma, o que significa dizer que tanto o raciocínio demonstrativo quanto o dialético, em sendo lógicos, são válidos e portanto, corretos. O contraste entre estes dois tipos de raciocínios torna-se sem qualquer relevância uma vez que há argumentação silogística em ambos. (KNEALE, 1991, p. 36).

Todavia, quando Aristóteles apresenta seu terceiro raciocínio, o “Erístico”, também conhecido por alguns como “contencioso”, que é aquele que se inicia tomando por base opiniões aceitas de uma forma geral ou mesmo “aparentemente”, mas na verdade não estão, nota-se que esse raciocínio, na visão aristotélica é errado. Por isto tal raciocínio também é chamado de “sofístico”, haja vista que a dialética diferencia-se deste por se tratar de opiniões aceitas, já o sofismo demonstra-se falso.

Há também a abordagem dos chamados pseudo-raciocínios ou “paralogismo”, que é o falso raciocínio, sendo esta a quarta modalidade de raciocínio e errado também. Aqui, compreende-se que tal silogismo se perpetra em disciplinas específicas, tomando como ponto de partida inicial premissas adequadas àquela disciplina, mas que são falsas.

(ARISTÓTELES, 1978). Essa análise aristotélica de raciocínios certos e errados corroborou para que diversos autores que analisam a obra do filósofo grego, incluindo Viehweg, percebessem que a classificação gravita em torno da “índole das premissas”, se verdadeiras ou falsas.

Aristóteles, após as explicações pertinentes acerca da classificação dos raciocínios, e dentre eles, o dialético, em sua obra fixa os três fins desses conhecimentos: o exercício (gim- nasia), as disputas casuais e as ciências filosóficas. O primeiro, o “exercício”, implica no desenvolvimento das habilidades de ataque e defesa de argumentos. As “disputas casuais” direcionam-se às discussões e debates sobre opiniões, em geral, acatadas. Já o “objetivo”, este tem por finalidade precípua tentar desestabilizar os argumentos mal elaborados pelo oponente, tomando como ponto inicial convicções que ele mesmo explicitou.

Não é difícil entender posteriormente, a abordagem Ciceroniana feita no contexto por Viehweg, destacando o peculiar interesse sobre a obra de Aristóteles, pelo filósofo Romano e seu amigo C. Tebratius Testa. Para os grandes homens de Roma, ávidos por debates e discussões, quaisquer que fossem elas, desde política até as jurídicas, saber raciocinar corretamente e construir argumentos sólidos ao ponto de desbancar as teses de seus adversários era algo que lhes interessava sobremaneira.

Não se pode olvidar que, numa disputa o objetivo é vencer, mas salientando que, tais discussões e disputas devem ser permeadas de regras. O inquiridor e o respondente, ao iniciarem o debate dialético, devem, irrefutavelmente, estabelecerem suas premissas, seus posicionamentos e opiniões acerca da temática acolhida. (SMITH, 1997, p. 20).

A contradição do respondente em relação ao ponto de vista, a proposição que abraçou deve ser percebida pelos que assistem o bom debate e tal é o que quer o inquiridor. Já o respondente, assumirá uma postura inabalável diante das tentativas do inquiridor e, caso fique evidente que sua proposição inicial é absurda, deve deixar claro que o erro se deu na opção pela posição, mas não do seu raciocínio. (ARISTÓTELES,1978).

Independentemente de quem vença o embate dialético, qualquer dos debatedores podem exigir o cumprimento das regras caso violadas (por ex. linguagem ambígua, perguntas capciosas, etc.) e o silogismo (raciocínio) acompanhará sempre a lógica. (SMITH, 1997, p. 20).

Age de má–fé quem não respeita as regras do debate, pois o próprio Aristóteles (1978) assevera que: Não se deve argumentar com todo o mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar.

Tais apontamentos, destacados na obra de Aristóteles ressalta a extrema preocupação deste com a questão ética nos debates, até porque, vê-se que o filósofo grego não defende uma dialética descompromissada com a ética; a dialética não pode se valer de meios fraudulentos, ludibriatórios ao oponente do debate, nem é a “arte de vencer a qualquer preço”. Aqui, vem a crítica mais ferrenha de Aristóteles aos “sofistas” e seus “argumentos”, que para o filósofo, por vezes apresentam-se como sábios e legítimos detentores da sabedoria mas que, na realidade carecem desta.

Isto é visível quando rechaça em sua obra homens com argumentos “capciosos.” (ARISTÓTELES, 1978). Para as ciências filosóficas, a utilidade é a possibilidade de identificar a verdade e o erro sobre determinado assunto, através capacidade de avaliação de todas as conjunturas deste. Ademais, é útil para o estudo dos princípios utilizados nas variadas ciências, que, conforme Aristóteles, devem ser debatidos tomando por base opiniões geralmente aceitas e não erradas.

Viehweg então trata da Tópica Ciceroniana, ressaltando a importância e influência de Aristóteles na obra de Cícero. A Tópica ciceroniana termina mais tarde por influenciar a construção da jurisprudência clássica e que contribuiu para o surgimento, posteriormente, dos primeiros códices do Direito Romano pós-clássicos. Percebe-se a influência ciceroniana na ligação entre a normatividade, a lógica e a legalidade. É interessante fazer esta ponte pois, a Tópica cumpriu um papel importante na construção e solidificação de conceitos jurídicos.

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