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O MÍNIMO EXISTENCIAL, A EFICÁCIA E EFETIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS

Diego Carvalho Texeira, Mestre. Advogado. Professor Mestre da UNEAL.

RESUMO: Dentro do contexto social tem-se a aplicação do direito. A partir dos postulados neoconstitucionalistas, a dignidade humana e os direitos fundamentais são alçados à base essencial dos Estados Democráticos, cabendo, quanto a estes, atender e garantir a efetividade imediata do núcleo da dignidade humana, o chamado mínimo existencial. O presente artigo tem por objetivo apresentar os argumentos fundantes e a necessidade de efetividade imediata dos direitos fundamentais inseridos no mínimo existencial.

PALAVRAS-CHAVE: Dignidade. Direitos fundamentais. Mínimo existencial.

ABSTRACT: Within the social context has the application of the law. THE from

neoconstitucionalisms postulates, human dignity and fundamental rights are raised to the essential basis of the State Democratic, fitting, as to, meet and guarantee Effective immediately the core of human dignity, the minimum called existential. This article aims to present the foundational arguments and the need for immediate effectiveness of fundamental rights enshrined in the existential minimum.

KEYWORDS: Dignity. Fundamental rights. Existential minimum.

INTRODUÇÃO

O direito, enquanto instrumento estatal, tem por fito possibilitar a convivência social, preestabelecendo condutas socialmente relevantes, a serem seguidas pelos que se submetem a um determinado ordenamento jurídico. Assim, toda análise que do direito se faça há de ter em si incrustada esse seu caráter instrumental, de modo que ele não se constitui num fim em si mesmo, mas num mecanismo através do qual se busca possibilitar tornar imperativo o cumprimento dos valores que soam caros a uma determinada sociedade.

Além disso, temos que, hoje, o principal problema a ser enfrentado por várias das normas jurídicas, e, principalmente, pelos direitos fundamentais, é o da (in)eficácia social – (in)efetividade – de seus comandos, levando Bobbio a afirmar que a busca deve ser no sentido do “modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados.” (BOBBIO, 2004, p. 45). A busca deve ser, assim, no sentido de trazer efetividade aos valores positivados no ordenamento jurídico.

De fato, se já há certo consenso ao afirmar a força normativa dos direitos fundamentais, há também, por outro lado, a constatação de que os direitos se realizam através atos humanos positivos, que implicam gastos, numa realidade de limitação de capital, o que implica em escolhas. Assim, a própria efetividade dos direitos fundamentais se veria comprometida, vez que, sem recursos para que o Estado haja garantindo-os em sua integralidade, não há que se falar em garantia desses direitos.

Afaste-se, desde já, qualquer pretensão justificatória a partir desse argumento de limitação de recursos. Longe de pretender dar guarida à ausência de prestação, ou mesmo sua realização deficitária, no sentido de trazer positividade aos direitos fundamentais, tal argumento se constitui em dado fático não a ser ultrapassado, mas sim manejado de modo que, progressivamente, sejam garantidos e implementados os direitos fundamentais.14

A busca é, pois, no sentido do alertado por Comparato (2003, p. 540), ao defender a urgência na construção de um mundo novo, no qual seja assegurado, a todo ser humano, “o direito elementar à busca da felicidade”, inerente à condição humana. O desdobramento final da própria dignidade da pessoa humana, fundamento da República Federativa do Brasil, não detém outro sentido que não este: possibilidade de buscar a felicidade, devendo o Estado prover o indivíduo que não o consiga por si só das condições mínimas para tanto.

Por outro lado, desde a consagração desses direitos fundamentais (e notadamente no caso brasileiro), restava clara a impossibilidade material de prestá-los todos a um só tempo, podendo situar alguns deles dentro das próprias escolhas legislativas – ou mesmo dentro de um quadro de função simbólica – de acordo com as possibilidades do Estado e com o momento histórico experimentado pela sociedade.

Desse modo, o presente estudo tem por pretensão – e levando em conta as suas ínsitas limitações – relacionar o mínimo existencial com os direitos sociais, fazendo emergir de que modo estes se relacionam, e quais implicações isso pode acarretar para a efetividade desses direitos fundamentais. Para tanto, em primeiro, se fará necessária a fixação de alguns pressupostos, tais como a compreensão da normatividade dos direitos fundamentais, enquanto princípios, sua hierarquia dentro do sistema jurídico, bem como o necessário respeito à Constituição Federal do Brasil, seja pelo Estado que esta dá origem e regulação, seja pelos cidadãos aos quais finalísticamente ela se dirige, seja pelos representantes destes, que, compondo os quadros estatais, dinamizam o direito.

14

A nota de progressividade não implica relegar aos direitos fundamentais um futuro incerto, mas que as pautas legislativas e administrativas necessariamente devem proceder nesse sentido, sob pena de ferir esses direitos em sua eficácia interpretativa e negativa.

Passado isto, há de se compreender o mínimo existencial, bem como a sua relação com os demais direitos sociais. Para tanto, se fará imprescindível partir da dignidade da pessoa humana como conformadora primeira do conteúdo do mínimo existencial. Interessante frisar, desde já, que, para fins de exigibilidade jurídica de implementação forçada do mínimo existencial, este deve ser compreendido de acordo com o ordenamento jurídico para o qual se volta a busca da prestação estatal, sob pena de se estar pretendendo conferir a imperatividade das normas jurídicas a regras de conduta apartadas de um determinado sistema de Direito positivo.

Dessa forma, a busca do mínimo existencial deve ser setorial, num determinado ordenamento jurídico, de acordo com os momentos econômicos e sociais vivenciados pela sociedade, sob pena de não deter qualquer utilidade prática (que é, diga-se, a grande busca para a efetivação dos direitos fundamentais). Essa busca deve ter sempre em conta o princípio e também direito fundamental conformador de todo o ordenamento jurídico brasileiro, e do qual o mínimo existencial decorrerá, qual seja a dignidade pessoa humana (art. 1o, III, CF/88).

Note-se, neste ponto, que estamos aqui sempre a fazer referência aos direitos fundamentais. Isto não quer dizer a não adoção da terminologia direitos humanos, mas, sim, a consideração de que cada delas se volta para uma específica gama de direitos: enquanto que os direitos fundamentais se referem aos direitos consagrados no plano do direito constitucional de cada Estado, os direitos humanos são aqueles assegurados no plano internacional. (SARLET; FIGUEIREDO, 2005).

Restringir-se aos direitos fundamentais, sob essa perspectiva, significa, pois, proceder num corte metodológico – já acima referenciado –, visto que se tem por objetivo, neste trabalho, proceder numa análise dogmático-jurídica desse mínimo vital sob a perspectiva do direito constitucional positivo brasileiro (SARLET, 2005). Ademais, a própria Carta Magna faz uso dessa terminologia, ao se referir, na epígrafe do Título II, aos “Direitos e Garantias Fundamentais” – que aqui se fará uso para designar não só os direitos e garantias previstos neste título, mas, e de acordo com o prescrito no § 2º do art. 5º, também todos os outros decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição.

1 ALGUNS AXIOMAS TEÓRICOS CONSOLIDADOS: HIERARQUIA

CONSTITUCIONAL, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DIREITOS

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