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3 REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA DO PROFESSOR

Estudo da família de origem dos assistidos

3 REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA DO PROFESSOR

O Direito do Trabalho será a fonte de proteção daqueles professores que não sejam funcionários públicos ou não gozarem de proteção especial. Os professores não podem ser considerados como autônomos, ainda que prestem serviços para estabelecimentos estaduais ou particulares, tendo em vista que a relação jurídica dos clientes se estabelece com a instituição de ensino e não com o professor, lembrando que é a instituição de ensino quem dirige o ensino, determina horários, dentre outras situações. É importante ressaltar que mesmo contratados para proferir algumas aulas ou curso de curta duração, não podem ser considerados alheios ao Direito do Trabalho, pois é uma atividade típica da empresa que, em alguns casos, deve ser ajustada mediante contrato de trabalho por tempo determinado. (CARRION, 2014, p. 297).

Nesse sentido, a lei limitou a carga horária do professor, conseguindo regular e proteger os direitos destes, bem como permitir um ensino mais eficiente, pois a finalidade desse dispositivo legal é afastar o desgaste físico e intelectual do docente.

Art. 318 - Num mesmo estabelecimento de ensino não poderá o professor dar, por dia, mais de 4 (quatro) aulas consecutivas, nem mais de 6 (seis), intercaladas.

Art. 320 - A remuneração dos professores será fixada pelo número de aulas semanais, na conformidade dos horários.

Art. 322 - No período de exames e no de férias escolares, é assegurado aos professores o pagamento, na mesma periodicidade contratual, da remuneração por eles percebida, na conformidade dos horários, durante o período de aulas.

Cabe ressaltar que, apesar do legislador ter se referido a “estabelecimento”, a limitação da jornada do professor está relacionada ao empregador, à empresa. Logo, o empregador não pode anotar diversos contratos de trabalho com o mesmo professor, um para cada estabelecimento, tentando fugir da jornada máxima legal. (CARRION, 2014, p. 297).

A disposição do art. 318 da CLT se estende para os professores de ensino fundamental, médio, superior (graduação e pós-graduação) e especial. Não se aplica, contudo, aos professores de curso fora da esfera do Ministério da Educação (MEC), ou seja, de ensino livre, como preparatório, curso de dança, de música, etc. (CARRION, 2014, p. 298).

Na mesma linha de raciocínio acima, salienta-se que a duração da hora-aula constitui opção da instituição, prevista em seu projeto pedagógico ou em norma coletiva em face do art. 26, III, da Lei nº 9.394/96 (LDB), que dispõe: “duração da hora-aula por disciplina definida de acordo com o projeto político-pedagógico da escola”. Logo, a hora-aula pode ser de 40, 50, 60 minutos, ou outra duração, a critério da universidade, de acordo com o princípio da flexibilidade consagrado pela legislação atual. (CASSAR, 2014, p. 659).

É importante frisar que hora e hora-aula não são sinônimos. “Hora é um segmento de tempo equivalente ao período de 60 (sessenta) minutos. Hora-aula corresponde à hora de atividade ou de trabalho escolar efetivo, sendo esse, portanto, um conceito estritamente acadêmico, ao contrário daquele, que é uma unidade de tempo.” (CASSAR, 2014, p. 659).

Destaca-se que são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico. (L. 9.394/96, art. 67, §2º, alt. L. 11.301/06).

Diante desse contexto, ultrapassado o limite de horas-aula estabelecido pela legislação (mais de quatro horas-aula consecutivas, sem intervalo), o professor terá direito ao adicional de 50% incidente sobre as aulas que ministrou após a 4ª hora. Vejamos a OJ nº 206 da SDI-I do TST:

206. PROFESSOR. HORAS EXTRAS. ADICIONAL DE 50% (inserida em 08.11.2000)

Excedida a jornada máxima (art. 318 da CLT), as horas excedentes devem ser remuneradas com o adicional de, no mínimo, 50% (art. 7º, XVI, CF/1988).

Nada impede que o professor ministre aula em estabelecimento de ensino diverso, pois o limite se aplica para cada empregador.

Outro ponto que cabe destacar é o trabalho extraclasse que compreende todo o tempo despendido pelo professor nas demais obrigações docentes, como correção de provas, de trabalhos, preparo das aulas e dos exames. Estas atividades não podem ser consideradas como hora extra, pois já são incluídas na remuneração do professor, cuja jornada já é reduzida para compensar estes afazeres e o desgaste mental, diferentemente do que ocorre com as reuniões exigidas pela Instituição de Ensino ou cursos de preparação que podem ser considerados como hora extra. (CASSAR, 2014, p. 660).

O termo “janela” corresponde ao “tempo vago” (ou tempo à disposição) que o professor permanece à espera de outra aula, isto é, o período que fica aguardando entre uma e outra aula, em virtude da escala de horários fixada pela instituição de ensino. Isso não se confunde com o intervalo intrajornada para descanso e alimentação. (CASSAR, 2014, p. 660). Resume-se que tanto o trabalho extraclasse quanto as janelas são compreendidos como de serviço efetivo, e como tal devem ser remunerados.

Como visto acima, as normas para a categoria de professores são tuteladas pelo Direito do Trabalho, estando o profissional dessa área sujeito a todas as regras da CLT, especificamente no Título III – Das Normas Especiais de Tutela do Trabalho.

Quanto à redução da carga horária do professor, o TST, através da OJ nº 244 da SDI-I, entende cabível quando há diminuição do número de alunos. Vejamos:

244. PROFESSOR. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA. POSSIBILIDADE (inserida em 20.06.2001)

A redução da carga horária do professor, em virtude da diminuição do número de alunos, não constitui alteração contratual, uma vez que não implica redução do valor da hora-aula.

O dispositivo supra é incompatível com o nosso ordenamento jurídico, tendo em vista que vários dispositivos legais são infringidos. A impossibilidade da redução do salário do professor leva em consideração três aspectos, primeiro, os riscos do empreendimento correm por conta e risco do empregador (Princípio da Alteridade); segundo, o art. 468 da CLT veda alterações contratuais lesivas como a redução da jornada de trabalho, para empregados que recebem por hora trabalhada (Princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva); terceiro, o

número de aulas se incorpora no patrimônio jurídico do professor, configurando o art. 483, alínea g, da CLT, que prevê a rescisão indireta quando ocorrer redução significativa de peça ou tarefa.

Percebe-se que a condição para a redução da carga horária do professor constitui, sim, alteração contratual, acarretando a redução do salário dos profissionais dessa categoria. Estabelecido o contrato entre as partes contratantes, é de fiel observância todas as cláusulas nele contidas, sob pena de o profissional ficar à mercê do empregador, revertendo o encargo do risco do empreendimento para o empregado, afrontando o Princípio da Alteridade.

Ainda com relação à OJ, insere-se que a relação contida no texto da mesma é de causa e consequência, onde nela se estabelece a redução da carga horária do professor em virtude da redução do número de alunos, infringindo o art. 468 da CLT, configurando alteração contratual ilícita, pois o salário do professor sofrerá redução.

Os princípios que norteiam cada aspecto serão especificados mais adiante, todos eles servem de justificativa para demonstrar que a redução da carga horária do professor, segundo a OJ Nº 244 da SDI – I do TST é ilegal e inconstitucional. 2 Art. 7º “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; [...].”

A inconstitucionalidade está relacionada à inobservância do dispositivo supra. É um direito previsto na própria Constituição e que merece total respeito, sob pena da inconstitucionalidade da norma infratora.

Para Carrion (2014, p. 298), “a irredutibilidade salarial é norma legal genérica, que se aplica também ao professor.”

Há jurisprudência no sentido de considerar ilegal a diminuição da remuneração em virtude da evasão de alunos, vejamos:

Professor. Salário. Redução Motivada pelo Empregador. Impossibilidade. Em tese, a redução da remuneração mensal do professor é perfeitamente possível na mesma proporção da redução do número de aulas, mas apenas se isso se der por interesse, necessidade ou conveniência do próprio empregado. Essa redução já não será possível em caso de evasão de alunos ou por extinção da cadeira ou do turno antes lecionado pelo professor porque, nessas hipóteses, a alteração consulta o interesse da sociedade empresária, e não o do empregado, ou decorre de uma vicissitude de mercado que, embora afete diretamente o trabalhador, não lhe diz respeito, porque se liga com a natureza e a sorte do negócio. Inteligência do artigo 321 c/c 468 da CLT. [...]. (BRASIL, TRT-1, 2014, RO 5565220135010241- RJ, Internet).

A defesa para a irredutibilidade da carga horária do professor conta com vários princípios constitucionais e trabalhistas que veremos detalhadamente a seguir, bem como por

alguns fundamentos como: a) os riscos do empreendimento correm por conta e risco do empregador; b) o art. 468 da CLT veda alterações contratuais lesivas como a redução da jornada de trabalho, para empregados que recebem por hora trabalhada; e c) o número de aulas se incorpora no patrimônio do professor, configurando o art. 483, g, da CLT, que prevê a rescisão indireta quando ocorrer redução significativa da peça ou tarefa. (MIESSA; CORREIA, 2015).

Diante do exposto, o salário do professor não deve ser vinculado ao número de alunos, estes que apenas compõem o corpo discente da instituição de ensino, não fazendo parte da relação de emprego existente entre as partes contratantes.

Logo, infere-se da OJ Nº 244 da SDI – I do TST que o risco da atividade empresarial passou a ser do obreiro, ferindo, assim, um dos requisitos da relação de emprego.

4 ALTERIDADE

A alteridade é um dos requisitos caracterizadores da relação de emprego, vejamos o que Resende (2013, p. 74) afirma:

Etimologicamente, alteridade significa natureza ou condição do que é outro, do que é distinto. No âmbito do Direito do Trabalho, e mais especificamente da relação de emprego, o requisito da alteridade significa que o empregado trabalha por conta alheia, o que implica que ele não corre o risco do negócio. Esse requisito (que alguns denominam princípio da alteridade) é extraído do art. 2º da CLT, segundo o qual empregador é “a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços.

Há de se ressaltar que há doutrinadores como Barros (2005) apontando a alteridade como fonte protetora da irredutibilidade salarial do professor, fundamentando que os riscos do empreendimento correm por conta e risco do empregador.

A redução do número de aulas do professor acarreta a justa causa do patrão, afirma Barros (2005), vejamos o dispositivo legal que ocasiona a despedida indireta:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: [...]

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários.

A OJ Nº 244 da SDI – I do TST não observa que a redução da carga horária do professor provoca a inobservância do Princípio da Alteridade, além de ensejar a resolução do contrato de trabalho, podendo, o professor, alegar a despedida indireta, conforme o dispositivo acima.

Analisando, portanto, o Princípio da Alteridade, tem-se que os riscos da atividade empresarial correm por conta exclusiva do empregador, não sendo legal a incumbência desse atributo contratual ao empregado.

Diante de todo o trabalho exposto até aqui, percebe-se que a OJ Nº 244 da SDI – I do TST deve ser declarada inconstitucional por ferir todos os dispositivos legais mencionados acima, objetivando a proteção do empregado professor que é parte hipossuficiente na relação de trabalho.

CONCLUSÃO

Depreende-se, do estudo desenvolvido, que a intenção foi demonstrar a inconstitucionalidade da OJ Nº 244 da SDI – I do TST, ou seja, a redução da carga horária do professor em virtude da diminuição do número de alunos não pode persistir. Todos os argumentos apresentados são extraídos de normas vigentes no nosso ordenamento jurídico, enfatizando ainda mais a necessidade imediata da decretação de inconstitucionalidade da referida OJ.

A presente pesquisa compactua com tal pensamento, pois, deve-se entender, conforme consolidação doutrinária, que a redução da carga horária do professor infringe o princípio constitucional da irredutibilidade salarial.

É sabido que nenhum direito pode ser tido como absoluto e se no verso temos o direito ao salário, no anverso temos o direito à irredutibilidade salarial. Contudo, há quem defenda a redução salarial dos professores mediante a redução do número de alunos.

Percebeu-se no decorrer da pesquisa que o grande problema da OJ Nº 244 da SDI – I do TST está relacionado à afronta ao princípio constitucional da intangibilidade e da irredutibilidade salarial, consagrado no art. 7º, VI, da CF/88. A intangibilidade significa proteção dos salários contra descontos não previstos em lei. Logo, a mencionada OJ deve ser decretada inconstitucional.

Cabe salientar que a CLT, através de normas especiais, regula a categoria dos professores. Como foi visto anteriormente, a aplicação da OJ Nº 244 da SDI – I do TST viola três dispositivos legais da CLT, a saber, o art. 468 que veda as alterações contratuais lesivas, art. 2º que considera do empregador os riscos da atividade econômica e o art. 483, g.

A OJ Nº 244 da SDI – I do TST se apresenta desconforme ao ordenamento jurídico nacional, tanto no que concerne à redução da carga horária do professor, quanto no tocante ao quesito da diminuição do valor da hora-aula, tendo em vista a implicação direta ao princípio da alteração contratual lesiva, estando arraigada de inconstitucionalidade material.

Todo o ordenamento jurídico deverá estar em conformidade com os preceitos da constituição sob o ponto de vista material, ou seja, a adequação do conteúdo da norma aos princípios e regras constitucionais. Percebe-se, no entanto, que a aplicação da OJ em comento é deveras desconforme com o princípio constitucional da irredutibilidade salarial, que tem como pedra de toque a natureza alimentar do salário.

Ainda no caso em tela, a OJ Nº 244 trata de uma norma que afronta outro princípio do direito do trabalho, qual seja, a inalterabilidade contratual lesiva que, no estudo apresentado, está pautado nas vedações às alterações do contrato de trabalho que tragam prejuízo ao empregado, tendo em vista que a redução do valor da hora-aula do professor constitui alteração contratual.

Diante de todo o exposto, cabe aos interessados provocar o Poder Judiciário, que como visto é o responsável pelo controle de constitucionalidade, para que este se posicione acerca da inconstitucionalidade demonstrada nesta pesquisa, fazendo-se necessária a retirada da OJ Nº 244 da SDI – I do TST do nosso ordenamento jurídico, fundamentada na proteção constitucional que se dá à remuneração do professor.

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A EFETIVIDADE DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA POR MEIO

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