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No próximo capítulo, discutiremos uma abrangente teoria das causas do diabetes que ajudarão a esclarecer como lidar adequadamente com seu metabolismo. É uma teoria que explica a efetividade dos resultados clínicos – e, como todas as outras, ela precisa ser comprovada. As teorias nos fornecem um caminho para investigar o que está acontecendo. Então, mais pesquisas são necessárias para contestá-las, ou comprová-las. A questão é que há resultados potencialmente significativos, e no próximo capítulo apresentaremos uma teoria que nos ajuda a desenvolver e entender a lógica do programa de 21 dias para curar o diabetes, sobretudo o tipo 2 e o gestacional, bem como fornecer um caminho para pesquisas futuras. Provar algo é mais difícil do que formular uma teoria – por exemplo, foram necessários mais de trinta anos para se provar a ligação entre tabagismo e câncer de pulmão. A beleza está no fato de a abordagem ser segura e extraordinária para criar o máximo de bem-estar – e, pela qual, só se tem a ganhar.

“Não mais consciente de meus movimentos, descobri uma nova união com a natureza. Eu encontrara uma nova fonte de força e beleza que nunca imaginei existir.”

Roger Bannister, ao quebrar o recorde de corrida de 1 milha em 4 minutos

Até 1954, quando Roger Bannister percorreu 1 milha em 4 minutos, ninguém acreditava que o ser humano fosse capaz de correr tão rápido. Bannister marcou o tempo de 3:59.4, superando uma barreira e, com ela, o paradigma e o conhecimento convencionais. Hoje, é comum vencer tal distância em menos tempo. Este livro declara que a barreira do diabetes foi superada e que temos a capacidade, se dispostos a isso, de reverter completamente o tipo 2 da doença.

Com um amplo conhecimento teórico sobre as causas do diabetes, tornamo-nos capacitados a desenvolver uma abordagem geral para a sua reversão. O termo “reverter” é diferente de atenuar, abrandar ou reduzir a necessidade de medicamentos. Não estou falando de controlar o diabetes tipo 2, que é o velho paradigma, publicado no New York Times e sustentado pela maioria dos médicos: “O diabetes não tem cura. É uma doença progressiva e fatal”. Temos conhecimento clínico, técnica e experiência para reverter completamente a doença. Já superamos esse obstáculo. Agora, o que temos que fazer é deixar de lado a crença de que o diabetes não tem cura para, então, ter liberdade para acreditar no que é possível.

Na verdade, desde 1920, quando o doutor Max Gerson curou o doutor Albert Schweitzer do diabetes com nutrição baseada em alimentos vivos, muitos médicos têm recorrido a essa dieta. Ao longo dos últimos 25 anos, após adotá-la em minha vida e usá-la como ponto de partida para diversas formas de cura como médico holista, essa estratégia tem revertido o diabetes tipo 2 com frequência. Com a energia liberada pela compreensão desse fato vem a determinação de mudar nosso estilo de vida e nossos padrões alimentares para conquistar tal resultado. Segundo os mitos sustentados pela medicina alopática – que, aliás, não têm tido muito sucesso –, o diabetes é um caminho sem volta para a morte, acompanhado das mais diversas complicações. As estatísticas mostram que a forma pela qual o diabetes é atualmente tratado tira entre dez e dezenove anos da vida de uma pessoa. Quando nos libertamos da Cultura da Morte e passamos a adotar a Cultura da Vida, o que era irreversível passa a ter solução.

O diabetes tipo 2 é uma doença de etiologia ao mesmo tempo complexa e simples. Com base em experiências clínicas e pesquisas, o principal culpado é o incrível aumento do consumo de açúcar refinado, farinha branca e carboidratos refinados, em detrimento de carboidratos naturais complexos, como vagens e grãos. O livro do doutor Thomas Cleave publicado em 1975, The saccharine

disease: conditions caused by the taking of refined carbohydrates such as sugar and white flour [A

doença do açúcar: problemas causados pelo consumo de carboidratos refinados como açúcar e farinha branca], foi um divisor de águas ao mostrar que, vinte anos após a introdução desses ingredientes em uma cultura, ocorre um “surto” do diabetes. Sua análise estatística mostrou que é o açúcar, e não a gordura, o fator determinante.

De acordo com o doutor Cleave, em 1955 acreditava-se que a principal causa do diabetes estava relacionada com a ingestão de gorduras. Isso ocorria em virtude de dados apresentados por H. P. Himsworth1 em 1949, segundo os quais, durante a Segunda Guerra Mundial, a mortalidade por

diabetes caiu na mesma proporção que o consumo de gorduras.

O doutor Cleave mostrou que a mortalidade pela doença tem relação estatística muito maior com o consumo de carboidratos refinados – açúcar e farinha brancos – do que com o consumo de carboidratos em geral (tanto complexos como refinados). Essa correlação revelou-se muito maior do que a correlação com a ingestão de gorduras. Ele mostrou também que o aumento no consumo de gorduras entre 1900 e 1960 foi pequeno em comparação com o de carboidratos refinados, o que fez o diabetes saltar do 27º para o 7º lugar na lista de causas de morte. O drástico aumento no consumo desses produtos foi o único que coincidiu com os índices de mortes por diabetes. Isso ficou evidente pelo fato de o diabetes não ter tido crescimento significativo nas comunidades em que não houve introdução de carboidratos refinados.

Dessa forma, o doutor Cleave concluiu, assim como nós, que a adoção desses produtos por uma cultura é a principal, mas não a única, causa do grande aumento da incidência do diabetes. Entre os outros fatores estão o maior consumo de gordura animal cozida, gordura trans, metais pesados e agrotóxicos, e deficiência de vitaminas e minerais, geralmente decorrente de uma dieta baseada em alimentos industrializados, pobre em nutrientes, e com excesso de hormônios nocivos ou falta de hormônios benéficos. O estilo de vida também tem a sua influência: obesidade, estresse emocional, sono inadequado e ausência de exercícios. Seu trabalho, analisando diversas culturas, no entanto, chamou a atenção para a questão mais importante: o aumento excessivo no consumo de açúcar refinado.

Em 1959, G. D. Campbell2 mostrou haver um período de vinte anos entre a introdução de

carboidratos refinados em uma cultura e o início da eclosão do diabetes. Pesquisa realizada com zulus que viviam em área urbana foi publicada no South African Medical Journal em 1960.3 A “regra

dos vinte anos” também foi confirmada por Albertson em estudos na Islândia, onde, por volta de 1850, a alimentação era constituída por 85% de proteínas e gorduras, e nada de carboidratos refinados,4 mas, a partir da introdução destes, as proteínas e as gorduras caíram para 45% da dieta e,

seguindo a regra dos vinte anos, houve o surto de diabetes.

Em 1960, o estudo de A. M. Cohen com judeus iemenitas constatou uma baixa incidência do diabetes no Iêmen, que tem uma alimentação rica em gorduras e proteínas e o segundo menor consumo de açúcar do mundo.5 Quando os judeus iemenitas migraram para Israel houve um aumento considerável

no consumo de açúcar refinado, e esse povo, vindo de uma cultura onde a doença era praticamente desconhecida, passou a ter os mesmos índices apresentados pela sociedade israelense.

anos após a introdução de carboidratos refinados em sua cultura, os casos de diabetes aumentaram. Como escreveu o doutor Cleave: “Com a maior disponibilidade de açúcar e farinha brancos, o consumo do primeiro entre os esquimós canadenses aumentou para mais de 45 quilos anuais por pessoa e, passados os já mencionados vinte anos, a doença agora é comum entre eles”.

Estudos feitos na Índia com grupos urbanos e rurais de mesma etnia mostraram que o diabetes é muito mais comum entre aqueles que vivem nas cidades, onde o consumo de carboidratos refinados é bem maior. Não é possível estabelecer uma relação com o consumo de gorduras, uma vez que essas culturas consomem a metade da quantidade considerada necessária para a saúde.

Nos Estados Unidos, os índios cheroquis seguiram a mesma tendência. Entre os nativos da tribo zulu da província de Natal, na África do Sul, o aumento do diabetes estava diretamente ligado à ingestão de carboidratos refinados (açúcar), pois a incidência do diabetes entre os que ingeriam caldo de cana (um carboidrato complexo) era menor. Os dados do doutor Cleave indicam que atualmente não há país onde o número de casos de diabetes não esteja diretamente relacionado com o consumo dos carboidratos refinados. Constatações semelhantes foram feitas com todas as tribos que migraram para centros urbanos, como os imigrantes curdos, os aborígines da Austrália6 e da Nova Guiné,7 e os

polinésios em geral.8

Resumindo, estudos com diversas sociedades mostram os efeitos da introdução de carboidratos refinados em culturas onde o diabetes não era comum antes, tanto naquelas com alimentação pobre em proteínas e gorduras e rica em carboidratos complexos quanto nas que tinham uma dieta rica em gorduras e proteínas. A principal causa da pandemia mundial do diabetes tipo 2 é a adoção de açúcar refinado, farinha e arroz brancos, resultando numa “disparada” da doença vinte anos depois. Não é preciso dizer, portanto, que um programa alimentar bem-sucedido para curar o diabetes deve excluir qualquer tipo de carboidrato refinado.

O livro do doutor Cleave sintetizou e tabulou esses estudos e revelou que a “regra dos vinte anos” após a introdução de carboidratos refinados se aplicava a essas sociedades. Isso indica que a principal causa alimentar do diabetes é o açúcar industrializado. Com base em minha experiência clínica, bem como na discussão do doutor Esselstyn sobre a importância de evitar óleos por parte daqueles que sofrem de doença cardíaca avançada, descobri que até as frutas com índice glicêmico de moderado a alto aumentam as taxas de glicose no sangue de diabéticos e pré-diabéticos. Apesar de a ingestão limitada desses alimentos não ser tão prejudicial para essas pessoas, não a recomendo até que elas estejam em condições saudáveis (glicemia de jejum de 70 a 85 por no mínimo de seis meses a um ano). Nesse período, é mais prudente ingerir apenas frutas vermelhas, cerejas e frutas cítricas com baixo índice glicêmico.

GORDURA ANIMAL COZIDA