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Os animais acumulam alimentos vegetais para formar seus tecidos. Mas, se houver toxicidade no ar, na água e/ou no ambiente do alimento – produtos químicos, pesticidas, herbicidas, larvicidas, fungicidas, detergentes, água sanitária, solventes tóxicos –, tudo isso acaba se acumulando nos animais. Os derivados do leite contêm cinco vezes mais pesticidas do que as frutas e verduras encontradas no mercado. E as carnes, como frango ou peixe, que estão no topo da cadeia alimentar, contêm quinze vezes mais resíduos de pesticidas do que as frutas e verduras.

De um ponto de vista prático, comer peixe é potencialmente perigoso por causa da poluição das águas, que está cada vez maior. Os maiores contaminantes da água são o bifenil policlorado (polychlorinated biphenyl – PCB) e o mercúrio. O PCB, junto com a dioxina, o DDT (dicloro difenil tricloroetano) e o dieldrin, está entre os produtos químicos mais tóxicos do planeta. Segundo John Culhane, em seu artigo escrito em 1980 “PCBs: The poisons that won’t go away” [PCBs: Os venenos que não vão embora], apenas algumas porções por bilhão dessas substâncias podem provocar câncer e defeitos de nascença em animais de laboratório.19 O décimo Conselho sobre

Qualidade Ambiental, conselho anual patrocinado pelo governo dos Estados Unidos, declarou presença de PCB em todas as amostras de esperma humano. E, conforme artigo de 1979, publicado no jornal The Washington Post, o PCB é considerado um dos principais motivos pelo fato de a

contagem média de esperma dos americanos ser hoje aproximadamente 70% do que era há trinta anos. O artigo também chama atenção para o fato de que 25% dos estudantes universitários eram estéreis na época, contra 0,5% trinta anos antes. Muitos especialistas em toxicidade concordam que a principal origem da contaminação humana é o consumo de peixes oriundos de águas com grandes concentrações de PCB, o que hoje significa praticamente todos os lugares. A Environmental Protection Agency calcula que os peixes podem concentrar até 9 milhões de vezes o nível de PCB da

água em que vivem. A substância já foi encontrada em peixes das partes mais remotas e profundas dos oceanos.

Peixes e frutos do mar acumulam toxinas naturalmente, pois vivem e se banham nessas águas. Ostras, mariscos, mexilhões e vieiras filtram 38 litros de água por hora. Em um mês, uma ostra acumula toxinas numa concentração 70.000 vezes maior do que a água em que vive. Mas deixar de comer peixe não é a solução – afinal, metade dos peixes pescados são dados como alimento para animais de criação. Segundo o livro Diet for a new America, de John Robbins, esses animais, nos Estados Unidos, consomem mais peixe do que toda a população humana de todos os países da Europa Ocidental. Testes periódicos feitos nos Estados Unidos detectaram ovos e galinhas altamente contaminados com PCB após serem alimentados com peixes contaminados pela substância.

A intoxicação por mercúrio por meio de ingestão de peixe é outra fonte conhecida de doenças. Os dois tipos mais perigosos de mercúrio são o comum e o metilmercúrio, que é cerca de cinquenta vezes mais tóxico. Embora a opinião geral seja que o mercúrio das plantas é menos tóxico, os especialistas não entraram num acordo sobre se o mercúrio nos peixes é armazenado originalmente na forma do metilmercúrio, mais tóxico. De qualquer maneira, crianças e adultos que consumiram peixes das águas contaminadas por mercúrio da baía de Minamata, em 1953, e do rio Agano, em Niigata, em 1962, ambos no Japão, e em regiões do Iraque, Paquistão e Guatemala, sofreram as consequências: lesões cerebrais e neurológicas, coma e até morte.

Pesquisadores de Taiwan constataram que o tóxico composto de mercúrio presente em alguns frutos do mar prejudica as células produtoras de insulina do pâncreas. Em seus experimentos, Shing-hwa Liu e seus colegas expuseram culturas de células beta produtoras de insulina ao metilmercúrio. Foram usadas as mesmas concentrações do metal que as pessoas consumiriam por meio da carne de peixe dentro dos limites recomendados pela Food and Drug Administration – FDA, dos Estados Unidos.20

A contaminação por peixe é muito comum. Segundo o doutor Rudolph Ballentine, a intoxicação por mercúrio tem sido relatada com cada vez mais frequência por médicos e dentistas. A alimentação rica em peixe e o uso de amálgama (que contém mercúrio) em procedimentos dentários são as principais causas. Apenas o consumo de peixe já pode ser suficiente para causar intoxicação. Um artigo da Associação Médica Canadense, de 1976, relatou que índios do norte do Canadá, que comiam em torno de meio quilo de peixe por dia, apresentavam sintomas de envenenamento por mercúrio. Um estudo realizado em 1985 na Alemanha Ocidental, com 136 pessoas que consumiam peixes do rio Elba regularmente, descobriu uma correlação entre os níveis de mercúrio e pesticidas no sangue e a quantidade de peixe consumida.

Um estudo publicado na Diet and Nutrition Letter, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, mostrou que quanto maior a quantidade de peixes do lago Michigan ingerida por gestantes, mais seus bebês apresentavam reflexos anormais, fadiga geral, reações lentas a estímulos externos e sinais de depressão. Descobriu-se que as mães que comiam peixe apenas duas ou três vezes por mês geravam bebês com peso entre 200 e 260 gramas a menos que o normal no nascimento e com cabeça menore.21

Num estudo subsequente, relatado no Child Development em 1986, Jacobsen constatou que a quantidade de peixe consumida pelas mães e o desenvolvimento cerebral dos bebês estavam intimamente relacionados, mesmo que a ingestão se desse apenas uma vez por mês. Quanto maior o consumo de peixe pelas mães, menor o QI verbal dos filhos.22 Além disso, essas crianças, dezessete

ou dezoito anos depois, demonstravam desempenho inferior nas avaliações para entrar na faculdade. A crianças em geral são mais sensíveis a toxinas, e são os principais indicadores do que pode estar acontecendo com os adultos num grau menor. Segundo um estudo realizado na Suécia em 1983, o leite de mães que consumiam sempre peixes gordurosos do mar Báltico tinham maiores concentrações de PCB e pesticidas até do que aquelas que comiam carne vermelha. No estudo, as que