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Em Israel, principalmente entre a grande população imigrante não europeia, o diabetes já acomete 7% dos habitantes, com 400.000 pessoas diagnosticadas com a doença. Outras 600.000 têm algum tipo de pré-diabetes ou síndrome metabólica (síndrome X), fortemente associada à resistência à insulina entre judeus imigrantes como iemenitas, curdos e etíopes, os quais, em seu ambiente nativo, tinham índices extremamente baixos de diabetes. Com sua chegada a Israel, eles adotaram os piores hábitos alimentares europeus, a cultura junk food, pararam de se exercitar e deram início à grande escalada do diabetes. Os iemenitas são o grupo étnico com maior incidência da doença.

Em um estudo sobre homens e mulheres árabes da Galileia, em Israel, o doutor Mohammed Abdul- Ghani, médico de família e especialista em diabetes da cidade de Nahf, descobriu que 26% de seus pacientes eram diabéticos e não sabiam, enquanto 42% tinham intolerância à glicose e estavam em risco. Apenas 31% não tinham sintomas da doença. Não se trata apenas dos árabes israelenses; na Arábia Saudita, 25% da população é diabética, e, em Bahrein, 32%. Algo na genética dos árabes os torna mais suscetíveis ao diabetes.

Nos países árabes, obesidade e sobrepeso são muito comuns, particularmente entre as mulheres, em lugares muito distintos, como o Egito e os Estados do Golfo. As taxas de obesidade chegam a 25- 30% na Arábia Saudita e no Kuwait, e os Emirados Árabes Unidos e Bahrein não ficam muito atrás. No Irã, ela varia entre as populações rurais e urbanas, chegando a 30% entre as mulheres de Teerã. No norte da África, a incidência da obesidade entre a população feminina é alta. Metade está acima do peso (índice de massa corporal, ou IMC, maior que 25), sendo 50,9% das tunisianas e 51,3% das marroquinas, e as taxas de obesidade (IMC > 30) são, respectivamente, de 23% e 18%, o que significa

que triplicou ao longo de vinte anos.22

EUROPA

A Organização Mundial da Saúde calcula 53 milhões de casos de diabetes na Europa a partir de 2007, e estima que, em 2025, sejam 64 milhões. Na Inglaterra, há 1,4 milhão de diabéticos, e prevê- se que o número de casos no Reino Unido chegue a quase 3 milhões em 2030.

O diabetes é conhecido desde a Antiguidade; foi até mencionado por Hipócrates. O termo para diabetes melito em sânscrito, madhumeda, aparecia em escritos aiurvédicos de milhares de anos atrás. “Madhumeda” significa “urina de mel”, pois os médicos da época no início diagnosticavam a doença examinando a urina do paciente para ver se, como o mel, atraía formigas.23 Há pinturas do

Egito Antigo mostrando alguém com o que chamamos de atrofia muscular e urinando profusamente. Um dos mais antigos relatos conhecidos sobre o diabetes, escrito em papiro por Hesy-Ra, um médico egípcio da terceira dinastia, fala em urinação frequente, ou poliúria, como um de seus sintomas.24 No

membros em urina”, e o médico grego Galeno de Pérgamo considerava-a uma forma de insuficiência renal.25 Naquela época, isso era raro; hoje, é uma pandemia. O que vemos atualmente é um retrato do

estado de espírito e, consequentemente, do estilo de vida de nossa cultura mundial. O comportamento e os hábitos que geram o diabetes tipo 2 são um Crime Contra o Bom Senso. É o estilo de vida e a alimentação baseada em açúcar refinado, gordura animal saturada e alimentos industrializados que provocam um desarranjo no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas.

Sim, o diabetes tem um claro componente genético, principalmente o tipo 2. O tipo 1 também tem, mas neste caso o fator genético é menos importante. Ambos podem ser associados ao diabetes gestacional (que ocorre durante a gravidez). O tipo 2 também tem relação com deficiências de vitaminas e minerais – entre os quais magnésio, cromo, vanádio, manganês e potássio –, bem como com sedentarismo e obesidade. Tornou-se uma pandemia porque as pessoas não estão vivendo de forma a se manter em equilíbrio. Estão vivendo o estilo de vida da Cultura da Morte. É por isso que chamamos esse comportamento de Crime Contra o Bom Senso, um termo aiurvédico antigo que descreve bem a situação.

CULTURAS

A incidência do diabetes tipo 2 parece ser maior em civilizações nativas em que há mínima defesa genética. Quando essas culturas entram em contato com alimentos industrializados, transgênicos, feitos com açúcar refinado e farinha branca, e passam de um estilo de vida ativo para um mais sedentário, tendo a obesidade como consequência, o risco de desenvolver diabetes é muito grande. A dieta inadequada e a obesidade estão intimamente relacionadas. A obesidade é o resultado de uma alimentação rica em gorduras saturadas animais cozidas e açúcar. Os americanos se tornaram grandes consumidores de açúcar e de alimentos e bebidas doces. O consumo per capita de adoçantes calóricos, sobretudo de sacarose (açúcar de mesa feito de cana-de-açúcar e beterraba) e de adoçantes à base de milho (particularmente xarope de milho rico em frutose), aumentou 19,5 quilos, ou 39%, entre 1950-1959 e 2000. Em 2000, cada americano consumiu em média 69 quilos de adoçantes calóricos. Isso equivale a 189 gramas, ou 52 colheres de chá, diários por pessoa26 – algo

inédito na história da humanidade. O doutor Thomas Cleave realizou uma pesquisa histórica após a Segunda Guerra Mundial sobre culturas nativas nas quais o açúcar refinado e a farinha branca haviam sido introduzidos. Ele descobriu que, em todas aquelas em que houve surto de diabetes tipo 2, a doença ocorreu em torno de vinte anos após a introdução desses dois ingredientes. A mensagem é evidente. Embora as pessoas geralmente considerem o diabetes como um desequilíbrio glicêmico, na verdade ele é um distúrbio que afeta o metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos. Esse distúrbio metabólico está inter-relacionado com a dieta e o estilo de vida caracterizado pela obesidade e pela ausência de exercícios, combinadas com o consumo de alimentos com alto teor glicêmico, ricos em gorduras animais e pobres em fibras.

Pessoas de classe social baixa e sem acesso à educação manifestam o diabetes numa porcentagem muito maior, em especial os índios americanos, afro-americanos, asiáticos e hispânicos.

Não precisamos voltar muito na história para perceber que essa pandemia é relativamente nova. Estamos no planeta há talvez 3,2 milhões de anos. Até 1920, os índios americanos pima, tiveram apenas um único caso registrado de diabetes. Os tarahumara, que mantiveram sua alimentação natural, têm apenas 6% de incidência do mal, enquanto os pima, seus parentes genéticos, têm 51%. Em 1970, a atividade de pesca dos pima foi comprometida pelo represamento de alguns rios, e eles passaram a se alimentar de comida industrializada. Os números dispararam quando a genética e a alimentação diabetogênica ocidental se encontraram. A ocorrência da doença é extremamente influenciada pela predisposição genética em certas culturas, e muitos cientistas acreditam que a genética possa explicar o problema da obesidade entre os índios da América do Norte. O primeiro americano a estudar os pima mexicanos foi Leslie O. Schulz, professora de Ciências da Saúde da Universidade de Wisconsin, em Milwaukee. Com a cooperação da tribo, ela abriu uma clínica e uma área de pesquisa para testar diversas hipóteses sobre esses contrastes nos índices de diabetes. Desde 1991, fez quinze viagens a Maycoba e muitas visitas à reserva Gila River. Sua teoria do “gene econômico” é relatada a seguir.27

Antes de serem desenvolvidos métodos de preservação e transporte de alimentos nos Estados Unidos, as populações indígenas da América do Norte dependiam exclusivamente do que era produzido localmente, da mesma forma que as populações indígenas mexicanas, como os pima, fazem hoje. Quando a colheita era fraca, comia-se menos. Longos períodos de estiagem e escassez de alimentos eram comuns em regiões de deserto, como a habitada pelos pima.

“A teoria é que os índios americanos têm o que chamamos de ‘gene econômico’”, explica Schulz. “Eles são geneticamente equipados para conservar e economizar suas calorias, para não desperdiçá- las em caso de escassez de alimentos. Eles são aqueles que irão sobreviver.”

Segundo Schulz, a disponibilidade contínua de alimentos nos Estados Unidos hoje parece ter contribuído para os problemas de obesidade dos pima. O gene econômico, que, no México, permite a sobrevivência dos indígenas por longos períodos de escassez, é prejudicial aos da reserva americana de Gila River. “De repente, há um suprimento constante de alimentos, como temos agora, 24 horas por dia. Nunca falta comida, por isso eles começaram a ficar tão acima do peso e, como consequência, passaram a desenvolver o diabetes tipo 2.”

INCIDÊNCIA TOTAL DE DIABETES POR RAÇA/ETNIA

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Brancos não hispânicos: 13,1 milhões, ou seja, 8,7% de todos os brancos não hispânicos de 20 anos

ou mais têm diabetes.

Negros não hispânicos: 3,2 milhões, ou seja, 13,3% de todos os negros não hispânicos de 20 anos

ou mais têm diabetes. Após adaptar esse dado para as diferenças de idade da população, concluiu-se que os negros não hispânicos têm 1,8 vezes mais chances de desenvolver diabetes do que os brancos não hispânicos.

Hispânicos/latino-americanos: Após adaptar os dados para as diferenças de idade da população,

concluiu-se que os americanos de origem mexicana, o maior subgrupo hispânico/latino-americano, têm 1,7 vezes mais chances de manifestar a doença do que os brancos não hispânicos. Se a incidência de diabetes entre americanos de origem mexicana for aplicada à população hispânica/latino- americana total, segundo dados de 2006 do CDC, cerca de 13,5% dos hispânicos/latino-americanos de 20 anos ou mais teriam diabetes. Não há dados suficientes para estimar a incidência total de casos de diabetes (diagnosticados e não diagnosticados) em outros grupos hispânicos/latinos. Contudo, sabe-se que os habitantes de Porto Rico têm 1,8 vezes mais tendência a apresentar a doença do que os americanos brancos não hispânicos.

Índios americanos e nativos do Alasca: 99.500, ou o equivalente a 12,8% dos índios americanos e

nativos do Alasca de 20 anos ou mais que receberam atendimento do Indian Health Service, tinham diagnóstico de diabetes em 2003. Estima-se que 118.000 (15,1%) dos índios americanos e nativos do Alasca de 20 anos ou mais têm diabetes (diagnosticado ou não). Ajustando as diferenças de idade, este grupo é 2,2 vezes mais propenso a desenvolver a doença do que o grupo dos brancos não hispânicos.

Americanos asiáticos e habitantes de ilhas do Pacífico: Para este grupo, não existem dados

disponíveis, seja de casos diagnosticados ou não. No entanto, no Havaí, os asiáticos, nativos e habitantes de outras ilhas com mais de 20 anos têm mais que o dobro de tendência a ter diabetes do que os caucasianos, ajustando diferenças de idade entre as populações, e também são mais suscetíveis a apresentar sobrepeso. Da mesma forma, na Califórnia, os asiáticos são 1,5 mais

propensos ao diabetes do que os brancos não hispânicos. Outros grupos dessas populações também têm maior risco de desenvolver a doença.

CIDADES

Nova York é um microcosmo amplificado desses dados, com 800.000 pessoas com diagnóstico de diabetes – ou seja, uma em cada oito pessoas. É a única doença significativa que cresce na cidade. A porcentagem de diabéticos em Nova York é um terço maior e cresce duas vezes mais rápido do que no resto dos Estados Unidos. Na última década, houve um aumento de 140% nos casos. A proporção é maior do que em Los Angeles, Chicago e Boston. Em Nova York, o índice é maior nos grupos étnicos com maior tendência genética ao diabetes.

A região com mais casos é East Harlem, onde, segundo levantamento do departamento de saúde, entre 16% e 20% dos adultos são diabéticos, ou seja, um em cada cinco, ficando atrás apenas da tribo de índios pima no Arizona, em que metade da população sofre da doença. Em East Harlem, o número de amputações decorrentes do diabetes também é maior do que no resto da cidade. E, é claro, é o lugar com maior porcentagem de pessoas acima do peso – gente que tem péssimos hábitos alimentares, não se exercita o suficiente e vive em considerável pobreza.

Segundo o CDC, uma em cada três crianças manifestará a doença em algum momento de sua vida. Mas Nova York não é o único lugar onde esse mal é epidêmico. Conforme citação do jornal The

Daily Texan, em 2005, “no Texas, estado de origem do presidente George W. Bush, o chefe do

serviço de saúde do estado, doutor Eduardo Sanchez, afirmou: ‘Metade das crianças nascidas no Texas a partir do ano 2000 desenvolverá diabetes’”.