• Nenhum resultado encontrado

2. O DESIGN PÓS-MODERNO E OS GRUPOS DE ANTIDESIGN

2.1. ARTE POP

O termo foi usado pela primeira vez por Lawrence Alloway, um crítico britânico que procurava uma classificação para a arte popular, em 1954. Alguns anos depois, estendeu esta denominação às obras de artistas que empregavam imagens populares em seus trabalhos. (LUCIE-SMITH, 2000). O desenvolvimento da arte pop está relacionada a um grupo de artistas e críticos britânicos, ligados ao Instituto de Arte Contemporânea de Londres. O Independent Group formou-se com a preocupação em discutir a inserção dos meios de comunicação e do consumo na sociedade.

A primeira obra dentro de uma linguagem pop foi uma colagem do britânico Richard Hamilton, chamada O que exatamente torna os lares de hoje

tão diferentes, tão atraentes? A colagem foi apresentada na exposição Isto é amanhã, na Inglaterra, em 1965. Hamilton usou várias imagens que

simbolizavam o consumo na sociedade da época, como a televisão, o cinema, alimentos industrializados e corpos esculturais seminus (um apelo à sexualidade em conseqüência da maior liberdade). Richard Hamilton definiu a arte pop como “popular, transitória, prescindível, barata, produzida em massa, jovem, espirituosa, sensual, deslumbrante e ”Big Business”.” (GARNER, 2008, p. 55) Estas colagens e reproduções de revistas e anúncios eram recursos muito usados pelos artistas pop. A arte pop não recriava ou reproduzia uma imagem, mas escolhia entre jornais, revistas, comerciais e outras mídias. (LUCIE-SMITH, 2000, p. 167). Desta forma, a arte adotava procedimentos de apropriação, caracterizada como barata e transitória em suas técnicas e conceitos. A arte pop reproduzia ou recolhia imagens, embalagens, produtos da produção industrial em massa, emprestando os processos industriais de repetição, seriação.

Nos EUA, a influência foi logo percebida no trabalho de jovens artistas, que buscavam uma nova linguagem artística que pudesse estabelecer uma identificação com a cultura americana, porém com uma ruptura com movimentos artísticos passados. (LUCIE-SMITH, 2000). Os artistas americanos adotaram as colagens e as técnicas gráficas comerciais usadas no design. Foi no trabalho de Andy Warhol, um dos expoentes do pop americano, que a idéia da arte comercial e discussão do consumo ganhou maior destaque. Warhol chegou a afirmar que pretendia reduzir o processo manual na arte e interessava-se pelas técnicas industriais e pelos procedimentos mecânicos.

Andy Warhol adotou objetos comuns e do cotidiano em seus trabalhos, como as garrafas de Coca-Cola e as embalagens de sopas Campbell. Estas escolhas do artista demonstram como sua obra estava centrada em torno da mercantilização, como nos exemplos citados, que “enfatizam o fetichismo das mercadorias” (JAMESON, 2007, p.35). Warhol escolheu como tema várias personalidades famosas da época e celebridades do cinema. Retratou-os em suas telas com processos de repetição da imagem, com alterações sutis, que poderiam ser observadas somente após um distanciamento da personalidade, concentrando-se nas imagens. Seus trabalhos com as celebridades tornaram-se famosos ao retratar personalidades consideradas dentro de ideais de beleza, perfeição e sucesso, mas que eram apresentadas com suas fragilidades e problemas do cotidiano, como a referência ao suicídio de Marilyn Monroe na obra em que é retratada. (SANTOS, 2007, p.181).

Warhol e outros artistas pop adotaram uma iconografia percebida em sua época e reafirmaram o poder das imagens no consumo de massa. A arte pop promovia o consumo ao destacar a atenção para o cotidiano e para o trivial; que ganhava status de arte. A própria arte também havia se transformado em manifestação transitória, temporária e poderia ou deveria ser consumida, assim como imagens e produtos. Alguns artistas viram na arte pop elementos de vanguardas artísticas do passado, como uma re-interpretação ou apropriação de alguns temas. Marcel Duchamp comentou aquilo que lhe parecia similar e o que era oposto na arte pop, quando comparada ao Dadaísmo:

Esse neo-Dadá, a que eles chamam neo-realismo, arte pop, Assemblage, etc., é uma saída fácil e sustenta-se do que o Dadá fez. Quando descobri os „ready mades‟ pensei estar desencorajando a estética. No neo-Dadá, eles tomaram os meus „ready mades‟ e recuperaram a beleza estética neles. Joguei-lhes o porta-garrafas e o mictório na cara como um desafio...e agora eles os admiram por sua beleza estética. (LUCIE-SMITH, 2000, p. 161-162).

Duchamp demonstra que o recurso usado pelos artistas pop é de certo modo semelhante ao Dadá, entretanto, a idéia original é bem diferente. Duchamp discute o sistema de valorização da arte através do questionamento do belo, do feio e do útil. A arte pop possui uma concepção que a distancia da arte Dadá, deixando as semelhanças para as técnicas empregadas. Os artistas pop aproximavam-se da arte Dadá ao deslocar imagens, personagens, pessoas e objetos transformando-os em uma iconografia própria, ao converter pessoas, objetos e imagens em ícones de consumo de massa. Edward Lucie-Smith destaca algumas visões sobre aqueles elementos que aproximam o pop e o Dadá e aquilo que os diferencia. Um dos aspectos mais enigmáticos da arte pop e aquele aspecto que deve ser explicado, segundo ele,

é a sua frieza, sua ausência de envolvimento com o tema de que trata. À primeira vista, há um ressurgimento de técnicas dadaístas, de truques dadaístas, mas sem o menor respaldo na filosofia dadá.(...) o movimento Dadá era especificamente antiarte, algo que tinha surgido em radical oposição a uma situação já existente. (...) O que os artistas pop fizeram – pelo menos em sua fase inicial – foi encontrar nesses gestos de oposição, alguma coisa a partir da qual fosse possível construir. A aparente leviandade da arte pop não nos deve levar a pensar que ela seja um produto da falta de cultura e da indisciplina, nem o seu aparente desligamento, que seja descomprometida. Pelo contrário, a arte pop é, entre outras coisas, um movimento culto e altamente consciente. (LUCIE-SMITH, 2000 p. 162).

A arte pop estava consciente da modificação dos valores que ocorria na sociedade de seu tempo, a partir do consumo. Uma das contribuições da arte pop foi discutir a questão da obsolescência, que não era uma excentricidade; era uma declaração de que daí em diante nenhuma arte seria durável. E ao decretarem a obsolescência em suas obras, “os artistas pop ergueram um espelho onde a própria sociedade se vê refletida”.(LUCIE-SMITH, 2000, p. 169).