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Capítulo 3 – O Professor Intercultural como Mediador de Aprendizagem em Contextos

3.5 As novas tecnologias como aliada do processo educativo

As vantagens dessa aliança são ditadas não apenas pela realidade mundial, mas também pelo contexto profissional circundante bem próximo e pela necessidade do desenvolvimento de outros saberes relacionados com a utilização das novas tecnologias no ambiente de aprendizagem permitindo acesso à sociedade do conhecimento. Essa aliança terá ainda como vantagem dotar alunos e professores de ferramentas e conhecimentos que os permitam integrar-se e funcionar em pleno num mundo onde o desconhecimento das tecnologias passou a ser sinónimo de iliteracia e um entrave à evolução pe ssoal e profissional. Acrescenta-se a tudo isso a capacidade de familiarização com um outro tipo de instrumentos. Instrumentos que permitem ultrapassar determinadas barreiras que nos impedem de visualizar e de interagir com o mundo e o outro que se encontra geograficamente menos próximo de nós. Melhor dizendo, a educação contemporânea deve ser capaz de ver nas novas tecnologias uma grande mais-valia e uma aliada de sucesso. Para isso, tem de ser capaz de utilizá-las para incrementar um ensino aprendizagem mais

diversificado em termos de meios e recursos educativos que ajudem a derrubar fronteiras que separam os povos, permitindo um mais rápido acesso à informação e ao conhecimento, tanto aos alunos como aos professores.

Na maioria das vezes , quando se fala de ensino-aprendizagem, é hábito pensar-se de imediato nos alunos e elegê-los como alvo preferencial das nossas investigações, procurando neles justificações que sustentem o sucesso ou insucesso da aprendizagem, tentando estabelecer relações de causa-efeito, responsabilização/desresponsabilização, capacidade/incapacidade, empenho/laxismo, para justificar os resultados. Temos a consciência de tratar-se de uma abordagem enviesada porque nesse processo se entrecruzam dois intervenientes que se encontram inexoravelmente ligados – alunos e

professores – pelo que não podem ser dissociados. E quando se trata das novas tecnologias

a questão torna-se muito mais complexa e uma abordagem visando apenas os alunos não seria representativa da realidade. Todos sabemos que os alunos de hoje fazem parte da era digital e possuem capacidade e destreza suficientes para utilizar várias opções tecnológicas em simultâneo, tais como ouvir música, enviar mensagens de texto, navegar na internet, ver televisão, falar ao telemóvel, falar no “skype”, com a maior naturalidade. As tecnologias são parceira por excelência dos jovens e é com essa realidade que os professores terão de conviver nas suas salas de aula e a sua sobrevivência dependerá da postura que adotarem perante o inevitável: aceitação/integração, rejeição/fracasso. Não se pretende com isso legitimar situações de distúrbio ou de conflito causadas pela má utilização das tecnologias em ambiente escolar. O que se pretende dizer é que os professores terão que se posicionar perante a nova realidade em que se baseia a interação,

escola – comunicação – formação, na sociedade do conhecimento, sob pena de se

sentirem ultrapassados pelos próprios alunos.

Como já se disse, no mundo globalizado em que vivemos , todos temos de estar preparados para enfrentar os desafios que a globalização nos coloca e os professores, mais do que ninguém, precisam de estar aptos a lidar com as ferramentas digitais, seja para a sua própria evolução, seja para ajudar os alunos a ver nestas tecnologias uma via de acesso mais célere à informação, ao conhecimento e à interação social. Os professores fazem parte e têm de estar integrados na sociedade do conhecimento. Batro (2004: 82) afirma que “a humanidade evoluiu culturalmente com o desenvolvimento de técnicas e tecnologias”. E é neste ponto que o pessoal dirigente e as autoridades educativas têm de

saber avaliar a sociedade e o mundo em que se encontram inseridos, para que decisões acertadas possam ser tomadas em matéria de formação e capacitação dos professores em áreas de maior fragilidade, evitando dessa forma conflitos de perceção e de entendimento. Não constituirá por certo nenhuma “heresia” afirmar que muitas vezes o horizonte dos alunos se encontra muito mais alargado do que o dos professores no que diz re speito ao seu contacto com as novas tecnologias, o que poderá originar sérios conflitos de geração, de perceção e de entendimento.

Já se fez referência à convicção de Batro (2004, in Suárez-Orozco & Qin-Hilliard, 2004 : 80) de que “a revolução digital também abriu a mente humana para a observação e a ação”. Tal afirmação explica, em parte, a grande importância a que se vem atribuindo ao uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC’s) no ensino aprendizagem como forma de apoiar professores, alunos e a sociedade em geral, na busca e partilha de informação que possa gerar conhecimentos e saberes facilitadores de uma visão mais global do mundo assente na observação e na ação. Tudo isso tem ditado profundas alterações nos sistemas educativos a nível mundial e impulsionado a procura de abordagens mais adequadas às exigências do mundo contemporâneo e às reais necessidades dos cidadãos enquanto parte integrante desse mundo altamente informatizado e globalizado em que nos encontramos. Batro é ainda de opinião que,

O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, em particular a Internet, é um dos componentes essenciais da globalização, não apenas como instrumento, mas também como motor de mudança. O impacto desse desenvolvimento tecnológico é profundo na educação, mudando a vida de famílias, professores e alunos de várias formas. Mas a transformação mais profunda acontece quando as tecnologias chegam aos recantos mais remotos e pobres do mundo [...] [porque] crianças capacitadas com as tecnologias digitais podem transformar-se em agentes de mudança.

(Batro, 2004: 89) Hoje as novas tecnologias estão a ser utilizadas como instrumento mediador e facilitador de uma educação global. Nos países desenvolvidos , a utilização das tecnologias digitais tornou-se tão corriqueira que muitas vezes não se apercebe que o que para eles representa apenas um simples instrumento de trabalho ou diversão, constitui ainda um verdadeiro luxo ou um mundo completamente desconhecido para milhões de outras pessoas à escala planetária. Alguns autores falam e m “nativos digitais” e “imigrantes digitais” (Ferreira, 2009: 4) para se estabelecer a diferença entre os nascidos na era digital e os que vão

tateando para conseguir manusear e utilizar minimamente as tecnologias digitais porque não pertencem à sua geração. Mas nós atrever-nos-íamos a lançar um olhar reflexivo sobre a outra face da moeda e abordar um pouco o conceito de incluídos e excluídos digitais.

Se transpusermos as nossas reflexões sobre o uso das tecnologias para o nível local, nacional ou regional, iremos depararmo-nos também com grandes assimetrias internas, dentro do mesmo espaço territorial, de tal forma que a educação global parece mais uma utopia do que algo passível de ser alcançado. Num mesmo país nem todos os alunos e professores têm ainda acesso a essas ferramentas e recursos tecnológicos para mediar a aprendizagem localmente, menos ainda para estarem ligados ao mundo e se sentirem cidadãos e parte integrante desse mundo. Por exemplo, existem países à volta do mundo onde a energia elétrica ainda não é um bem partilhado por todos. As tecnologias podem até lá estar, mas nem todos os cidadãos têm acesso a esse bem. Como é que se pode desenvolver um modelo de ensino baseado nas novas tecnologias? E se isso acontece no centro das cidades, o que dizer das localidades periféricas ou distantes dos centros urbanos? Portanto, a pobreza, as desigualdades sociais, a exclusão de uma forma geral, afastam ainda milhares de pessoas do acesso às novas tecnologias, o que vai por sua vez dificultar o desenvolvimento de uma educação global que abranja efetivamente a todos. Para potenciar o uso das novas tecnologias no ensino é necessário que ensinantes e aprendentes tenham condições, ferramentas e orientação adequada para se sentirem, efetivamente, agentes impulsionadores e mobilizadores das transformações do seu tempo em qualquer espaço ou situação, sem exclusão ou restrições.

Concluindo, diríamos que é inquestionável a existência de um mundo cada vez mais globalizado, mas, para uma educação verdadeiramente global, é necessário que o indivíduo seja visto para além das necessidades educativas; que os recursos cheguem a todos; que o acesso às tecnologias e à informação não seja um privilégio, mas um bem partilhado por todos; que o fosso entre ricos e pobres diminua em vez de acentuar-se; que a integração seja uma realidade e não um sonho. Para quando? O tempo dirá.

CAPÍTULO 4 – Educação Intercultural e o ensino de atitudes e