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Capítulo 5 – Educação, Motor do Desenvolvimento Social e Humano

5.3 Educação e desenvolvimento sustentável

Portanto, falar de desenvolvimento hoje significa falar da melhoria da qualidade de vida através do incremento sustentado dos sistemas de educação e saúde e da liberdade, principalmente. A ênfase na sustentabilidade diz respeito ao esforço e à vontade política que devem ser dispensados por dirigentes e decisores políticos, visando o desenvolvimento presente e futuro de cada nação em particular, e do mundo de uma forma geral. No entanto, ao falar da educação na sociedade atual, não se pretende apenas que a educação gere desenvolvimento. Pretende-se igualmente que esse desenvolvimento tenha em conta a sustentabilidade do planeta e uma relação saudável entre o homem e o seu meio ambiente. Esse conceito engloba, portanto, uma dinâmica de maior participação e compreensão das potencialidades e carências da região e da sociedade onde o cidadão se insere, criando uma perspectiva interativa que viabilize a sua aplicação. O crescimento económico é muito importante, mas deverá ser considerado apenas como um meio para se atingir um fim e não como um fim e m si mesmo, relegando a vertente humana para um plano secundário. Conforme dissera Julius Nyerere, renomado pensador africano do século XX, na sua célebre Declaração de Arusha (1967), “o desenvolvimento de um país é feito pelas pessoas [...]. O dinheiro, e a riqueza que representa, é o resultado e não a base do desenvolvimento”.

Não sendo, no entanto, objetivo da nossa pesquisa fazer uma reflexão aprofundada sobre a vertente económica do desenvolvimento de forma isolada e desgarrada das outras vertentes sociais, ater-nos-íamos à problemática da Educação para o Desenvolvimento

Sustentável (EDS). A EDS é uma visão da educação que procura equilibrar o bem-estar

humano e económico do indivíduo com as tradições culturais e o respeito pelos recursos naturais do planeta, adotando os seguintes critérios de atuação:

• Utilização de métodos educacionais transdisciplinares para o desenvolvimento de uma ética para a educação permanente;

• Promoção do respeito pelas necessidades humanas compatíveis com o uso sustentável dos recursos naturais e com a preservação do planeta;

• Sensibilização para a noção de solidariedade global.9

A preocupação de se incorporar critérios relacionados com a defesa e sustentabilidade do ambiente na educação das sociedades eclodiu de tal forma que ganhou o apoio incondicional da Assembleia Geral das Nações Unidas, expresso pela primeira vez em 1987. Posteriormente foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro e que ficou conhecida

por (Rio-92), unindo representantes de governos, organizações internacionais e não- governamentais e a sociedade civil, com o objetivo de discutir os desafios do século XXI e de adotar um plano global de ação conjugado com a defesa do ambiente (UNESCO, 2002). Tal plano de ação ficou conhecido como Agenda 21, estabelecendo uma série de princípios para auxiliar Governos e outras instituições na implementação de políticas e programas para o desenvolvimento sustentável. No seu capítulo 36, a Agenda 21 reafirma a importância da educação enquanto via essencial de acesso ao desenvolvimento sustentável.

Na sequência da (Rio-92), a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável indigitou a UNESCO para ser o organismo coordenador do capítulo 36 da Agenda 21, ficando assim responsável por acelerar as reformas na educação e coordenar as atividades dos parceiros. Coube ainda à UNESCO a tarefa de fornecer apoio técnico e profissional aos Estados Membros, desenvolvendo curricula experimentais e material de treinamento, bem como de disseminar políticas, programas e práticas inovadoras para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A Assembleia Geral das Nações Unidas, reunida em Joanesburgo em 20 de dezembro de 2002 adotou, por consenso, a resolução que proclamava a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS), a vigorar de 2005 a 2014, e declarava a UNESCO a agência líder para a promoção da Década (UNESCO, 2002). A partir de então, a expressão Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) passa a ser regularmente utilizada nesse contexto.

No entanto, a recomendação foi que a Educação para o Desenvolvimento Sustentável devia ser desenvolvida em consonância com os desdobramentos e reformas na educação a nível mundial, em particular com: o Plano de Ação de Dakar de Educação para Todos

9 Cf. Educação para o desenvolvimento sustentável. Recuperado em,

(EPT), (2000); a Década das Nações Unidas para a Alfabetização (2000), de 2003 a 2012 ; e os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (2000), (ibid.). Porém, Bloom (2004) receia que essas metas não sejam de tão fácil alcance, especialmente para os países em desenvolvimento, devido ao rol de intrincados problemas que se encontram em cima da sua mesa à espera de soluções e que consomem muito do seu tempo e recursos: a gestão das avultadas dívidas; o relacionamento com doadores e instituições financeiras internacionais; a resolução do problema das epidemias; a proteção do ambiente; a promoção da indústria doméstica com vista a ajudar os produtores a penetrar no mercado das exportações são apenas alguns dos exemplos geradores de grandes preocupações a esse nível (p. 57). Mas, por outro lado, Bloom (2004) também acredita que,

A educação constitui claramente a resposta mais célere para espirais de desenvolvimento mais assertivas. Educação promove o crescimento do rendimento, que por sua vez promove mais investimentos na educação. As espirais catalisadas pela educação estão diretamente ligadas àquelas provocadas pela globalização. A globalização, como vimos, incentiva a especialização e, consequentemente, maiores oportunidades de rendimento. Uma população bem formada pode acelerar a especialização e aumentar o crescimento do seu rendimento. Os países que souberem tirar proveito das vantagens oferecidas pela globalização e pela educação para um crescimento rápido, são os mais propensos ao sucesso.10

(Bloom, 2004: 71)

Seja como for, os especialistas defendem que o conceito de desenvolvimento só pode ser considerado sustentável quando cria condições que possam catapultar uma sociedade para patamares superiores de liberdade e bem-estar. Isso acontece quando o desenvolvimento gera rendimento económico que possa, por sua vez, gerar emprego, gerar melhor qualidade de vida para os cidadãos, gerar bem-estar para as famílias, gerar estabilidade política, gerar a valorização da pessoa humana. Sem esses pressupostos nenhum desenvolvimento poderá ser considerado verdadeiramente sustentável.