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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

4.1. Caracterização do Núcleo de Justiça Juvenil Restaurativa nas Escolas (NJJRE)

4.1.2. Atividades desenvolvidas pelo Núcleo

A primeira atividade do Núcleo, em 2012, foi visitar as escolas municipais para apresentar a equipe e a proposta de trabalho. De um universo de 77 escolas municipais, foi preciso fazer uma seleção e para tanto se utilizaram alguns critérios: a participação das escolas nos eventos propostos pela 58° Promotoria de Justiça da Educação através de diretores, coordenadores e conselheiros escolares, entendendo-se que, por isso, estariam mais disponíveis e interessadas em receber a proposta; por demanda espontânea das escolas que buscaram a promotoria para relatar as dificuldades com atos de indisciplina e então foram encaminhadas ao Núcleo; e, nas escolas que desenvolvem atividades e projetos que contribuem para um ambiente restaurativo e que envolve a comunidade escolar. Assim, na fase inicial do projeto foram elencadas 21 escolas municipais de Natal/RN (Ribeiro & Lima, 2012a). Com o passar do tempo e a divulgação do Núcleo e suas atividades, a demanda do foi aumentando e após o primeiro ano de trabalho esse número de escolas atendidas foi alterado e mais instituições passaram a ser contempladas.

A frente de atuação do Núcleo se resume essencialmente a três ações, embora possua outras que, entretanto, acabam sendo desdobramentos dessas a seguir: os encontros restaurativos (com os pré-círculos, círculos e pós-círculos); o fomento à ambiência restaurativa nas escolas, através de palestras, oficinas e rodas de conversa com alunos, pais, professores e funcionários; e, a promoção de cursos de formação sobre administração de conflitos e práticas restaurativas com os profissionais das escolas (Ribeiro & Lima, 2013b). Mais adiante serão explicitadas as descrições e especificidades desses três eixos de atuação.

Antes de falar das ações principais, algumas atividades complementares se configuram como atuações do NJJRE, como: participação em eventos (seja na condição de

palestrante ou conferencista); divulgação das atividades desenvolvidas; busca de articulações com instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos da Infância e da Adolescência (SGD), para que conheçam as atividades do NJJRE e possam trabalhar em rede através de encaminhamentos necessários quando os conflitos exigirem; reuniões técnicas semanais da equipe para integração do grupo, estudos, apreciação de casos, planejamento de atividades, bem como discutir a participação em eventos afins, e elaboração sistemática de instrumentos de registro e documentos sobre as ações, revisão de atribuições dos membros, definição de metodologias, etc.; contatos telefônicos diversos; reuniões com gestores escolares, coordenadores pedagógicos e representantes de conselhos escolares; entre tantas outras atividades internas e externas que cotidianamente possibilitam o funcionamento do Núcleo (Ribeiro & Lima, 2013a; Ribeiro & Lima, 2013c).

Antes de qualquer ação, é importante que o Núcleo conheça a realidade das escolas e, portanto, realiza visitas que se dividem em três tipos: visitas institucionais, de acompanhamento de conflitos e visitas domiciliares. As visitas institucionais tem como objetivo conhecer o funcionamento da instituição escolar (estrutura física e material, profissionais, quantidade de alunos e projetos desenvolvidos); apresentar os objetivos e metodologia de trabalho do NJJRE e divulgá-lo; firmar parceria com as escolas e gerar vínculo de confiança; e, ainda, tomar conhecimento sobre os atos de indisciplina e conflitos nas instituições, o que serve tanto como um momento em que são captados os casos para acompanhamento posterior através de Justiça Restaurativa, quanto como um levantamento da incidência cotidiana de conflitos e seus envolvidos (Ribeiro & Lima, 2012a; Ribeiro & Lima, 2012b).

Mesmo que não seja o objetivo acompanhar o andamento dos casos, na visita institucional é possível, através de conversas informais com os profissionais, saber como andam situações de conflitos que já foram objeto de prática de Justiça Restaurativa. Nesse

ponto, uma visita institucional pode tornar-se também uma visita de acompanhamento. Deve- se ainda acrescentar que basicamente os conflitos para resolução são captados tanto através das visitas institucionais às escolas, caracterizando uma demanda proativa do Núcleo, quanto por encaminhamento de casos da 58ª Promotoria de Justiça da Educação, caracterizando-se como demanda espontânea (Ribeiro & Lima, 2013d).

Um instrumento importante para esse momento inicial nas escolas é o chamado Livro de Registros de Ocorrências, como comumente é chamado nas instituições, que se configura como um espaço e registro das situações de indisciplina e conflitos dos alunos e, por isso mesmo, tem grande importância para o Núcleo avaliar as situações e decidir quais serão os encaminhamentos possíveis. Além disso, o relato da equipe da escola contribui também como uma forma essencial de comunicação de casos.

As visitas de acompanhamento de caso ou conflito são visitas para captar casos e desenvolver práticas de Justiça Restaurativa com qualquer membro da comunidade escolar. Em 2012, por exemplo, 30 escolas das quatro regiões administrativas de Natal/RN receberam visitas de acompanhamento de conflitos, perfazendo um total de 98 visitas. Dessas 30 escolas, “[...]10 (dez) Escolas Municipais que oferecem o Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e 16 (dezesseis) que oferecem o Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano), além de 04 (quatro) Escolas Estaduais, que oferecem os ensinos fundamental e médio” (Ribeiro & Lima, 2013a, p. 20).

Os técnicos são as pessoas que realizam a visita, quando tinham estagiários eles também acompanhavam, e quando existe uma situação de conflito que precise de intervenção, é feito registro do ato e dos envolvidos em um instrumental desenvolvido pelo NJJRE (como eles chamam os modelos de folhas de registros criados pela equipe). Nesta mesma ocasião, caso os envolvidos estejam na escola, já se inicia o contato e pode, inclusive, dar início às práticas restaurativas com a realização primeiramente do pré-Círculo. Enfim, as visitas de acompanhamento servem para a captação, mas também para realizar os procedimentos

restaurativos e ver o andamento dos processos de resolução de conflitos, bem como se os acordos estão sendo cumpridos.

Cabe destacar que a partir de uma visita de acompanhamento e até mesmo a partir da visita institucional, pode haver a necessidade de realizar visita domiciliar as pessoas que estão envolvidas nos conflitos. A visita domiciliar é um importante instrumento para se aproximar do caso que ocorreu na escola, bem como subsidiar o conhecimento dos fatos e a participação das famílias das crianças, adolescentes e jovens envolvidos nos diversos tipos de conflito. Cabe destacar que também pode funcionar como um pré-círculo, seja com a família, seja com os envolvidos diretamente na situação conflituosa e assim permite o aprofundamento analítico nos casos, além de ser um momento de diálogo que pode possibilitar a aceitação das pessoas para participarem do círculo. Como consta no Planejamento Anual de Atividades de 2013, além de tudo o que já foi falado, a visita domiciliar pode acontecer diante da dificuldade de encontrar algum dos envolvidos no ambiente escolar e ainda porque alguns conflitos envolvem ameaças e dificultam a realização do pré-círculo na escola (Ribeiro & Lima, 2013c).

Os encontros restaurativos são formas pacíficas de lidar com os conflitos e tentar resolvê-los da forma mais positiva possível, através da construção de um espaço de diálogo que busque coletivamente restaurar os vínculos, reparar os danos e propor responsabilidades, de modo que o ambiente escolar se torne um local de boa convivência. Os encontros são desenvolvidos por meio de processos circulares, para buscar igualdade entre as partes, os quais se dividem em três passos: o pré-círculo, círculo e pós-círculo, procedimentos os quais são utilizados pelo Núcleo e que podem ser utilizados não somente com os alunos (crianças, adolescentes e jovens), mas também com pais ou profissionais (Ribeiro & Lima, 2013a).

As práticas de Justiça Restaurativa são desenvolvidas por um facilitador que é o técnico do Núcleo, e na verdade os dois profissionais participam do encontro. Em geral,

acontecem na própria escola ou na sede do Núcleo, entretanto, o que importa é que o espaço físico garanta a privacidade, assegure o sigilo e a proteção dos participantes. Participam das práticas os “envolvidos diretamente no conflito (ofensor e ofendido), representes da comunidade escolar, pais ou responsáveis dos envolvidos quando se tratar de crianças ou adolescentes e ainda outras pessoas para serem 'apoiadoras' (amigos, professores, etc)” (Ribeiro & Lima, 2013a, p.24).

Além disso, trazem na sua base valores fundamentais, como voluntariedade (participar é um ato voluntário), confidencialidade (para garantir o sigilo ao participar), participação (todos podem contribuir), respeito (respeito mútuo entre todos), honestidade (na fala e que possa gerar confiança), humildade (ao ouvir e falar), interconexão (os atos de uma afetam a vida de outros), empoderamento (autonomia e determinação de si), esperança (na possibilidade de mudança do ofensor, reparação do dano para a vítima e melhor relacionamento entre todos), e responsabilidade (quem comente o ato tem que se responsabilizar e buscar diminuir as consequências) (Ribeiro & Lima, 2013a).

Retomando as etapas do encontro restaurativo, os pré-círculos são encontros restaurativos em que acontecem atendimentos individuais às partes envolvidas direta ou indiretamente no conflito. É um momento anterior e de preparação para o círculo restaurativo, em que as pessoas diretamente (ofendido e ofensor) e indiretamente envolvidas no conflito (representantes escolares e os pais ou responsáveis, bem como outros apoiadores) podem relatar suas versões, além de compreenderem o funcionamento do procedimento e o trabalho do NJJRE e de comunicarem seu interesse em participar do círculo (Ribeiro & Lima, 2013c).

O pré-Círculo geralmente acontece após haver a comunicação do caso, seu registro e recolhimento dos dados dos envolvidos e convidados. Essa prática restaurativa é realizada no ambiente escolar ou na sede do Núcleo. Mas, por diversos motivos, a equipe do NJJRE tem que se deslocar até a residência dos envolvidos, realizando uma visita domiciliar e pré-

Círculo. Assim, além do que já foi explicitado, o pré-círculo ainda cumpre a função de captar pontos importantes os quais serão úteis na construção do círculo e dos acordos a serem firmados posteriormente (Ribeiro & Lima, 2013a).

Realizado o pré-círculo com cada um dos envolvidos direta e indiretamente, e a partir da aceitação em participar da continuidade das práticas, tem-se início o círculo restaurativo. Esse é o encontro propriamente dito, momento no qual a mediação do conflito vai acontecer com todos juntos e ouvindo uns aos outros através do espaço de diálogo propiciado. Para que aconteça, participam as pessoas diretamente envolvidas na situação de conflito, um represente escolar, pais ou responsáveis (no caso de crianças e adolescentes) e ainda pessoas que possam apoiar as partes durante a mediação e no cumprimento dos acordos (amigos, irmãos, etc), havendo uma equivalência de representantes dos dois lados (Ribeiro & Lima, 2013c).

O facilitador busca propiciar um clima acolhedor e imparcial e garantir empatia no momento que será construído mediante três questões básicas: “O que motivou a ação?”, “Como você está se sentindo em relação ao conflito ocorrido?” e ainda “Quais são as suas necessidades para que seja restaurado o dano e a boa convivência?”. Ao final do círculo, um acordo é construído coletivamente, visando à resolução do conflito, em que todos os participantes devem assinar. Essa é uma forma de possibilitar um aprendizado acerca das responsabilidades assumidas e importância do cumprimento dos acordos. Nesse contexto, a segurança para expressar as motivações, sentimentos e necessidades busca propiciar uma “sensibilização que torna a construção e o cumprimento do acordo impregnados de sentido de compromisso, é quando se pode tratar de responsabilização sem que haja uma punição parcial” (Ribeiro & Lima, 2013ª, p. 25).

A última etapa do encontro restaurativo é o chamado pós-círculo que acontece, aproximadamente, com um mês da realização do círculo restaurativo. Esse é o momento em que as pessoas podem observar e relatar como tem sido a convivência após o círculo e

definição dos acordos, bem como acompanhar se estes estão sendo ou não cumpridos. Para o caso de não cumprimento, é possível rever e ajustar o termo de compromisso (Ribeiro & Lima, 2013c). Ainda nesses momentos de ajustes, é possível pensar estratégias para que os apoiadores possam contribuir e auxiliar no cumprimento dos acordos. Em geral, os pós- círculos são realizados na própria escola (Ribeiro & Lima, 2013a).

Para auxiliar os registros, acompanhamento e consulta das atividades, alguns instrumentos foram criados pelo Núcleo, os quais sejam: ficha de comunicação de caso, ficha de dados de envolvidos, registro de atendimento de pré-círculo, registro de atendimento em visita domiciliar, relatório de círculo restaurativo, termo de compromisso assinado pelos participantes do círculo restaurativo, registro de pós- círculo, além de registros fotográficos (Ribeiro & Lima, 2013c).

Resumidamente, portanto, o Núcleo funciona da seguinte maneira para resolver um conflito: a) explicação nas escolas sobre as atividades desenvolvidas pelo Núcleo; b) captação e entendimento das situações de conflitos, seja mediante visitas às instituições ou através de casos encaminhados; c) realização de pré-círculo; d) realização de círculo restaurativo; e, por fim e) realização de pós-círculo (Ribeiro & Lima, 2012a). Cabe destacar que esse conjunto de ações diz respeito às práticas de Justiça Restaurativa mais executadas pelo Núcleo, porque atuam essencialmente na resolução de conflitos. Além disso, o NJJRE desenvolve ações preventivas que visam fomentar a criação de um espaço escolar que trabalhe transversalmente os valores da Justiça Restaurativa (Ribeiro & Lima, 2013c).

As atividades preventivas se configuram essencialmente como momentos formativos, seja na esfera mais restrita a uma instituição apenas ou através de formações que contemplem várias escolas. Sendo assim, a divisão em frentes de ação também contempla o fomento à ambiência restaurativa nas escolas, através de palestras, oficinas e rodas de conversa com alunos, pais, professores e funcionários; e, a promoção de cursos de formação sobre

administração de conflitos e práticas restaurativas com os profissionais das escolas (Ribeiro & Lima, 2013b).

Sobre as atividades de fomento à ambiência restaurativa nas escolas, que dizem respeito à construção de um espaço escolar que trabalhe transversalmente os valores da Justiça Restaurativa, o Núcleo precisou manter contato contínuo e perceber abertura para realização desse tipo de atividade que consistiu em uma formação sobre práticas restaurativas para estudantes em uma escola e palestras de ambiência restaurativa em outras duas escolas no ano de 2012. Cabe destacar que em 2013 começou-se o contato com mais duas escolas, sendo que em uma delas era para fazer formação com os profissionais, entretanto, com a parada das atividades do Núcleo, a ambiência restaurativa foi encerrada, por consequência.

A proposta do Núcleo é construir um ambiente escolar restaurativo, de modo que os valores como respeito, tolerância, responsabilidade, participação, honestidade, humildade, interconexão, esperança e empoderamento possam ser trabalhados transversalmente no dia a dia através de atividades diversas (palestras, rodas de conversas, dinâmicas de grupo, entre outras) com os alunos, funcionários e pais. Para tanto, as metodologias utilizadas também devem ser adequadas ao público visando promover a reflexão e discussão acerca do conflito, cotidiano escolar, práticas restaurativas e outros correlatos e de interesse de quem participará das ações (Ribeiro & Lima, 2013c).

Para propiciar essa atividade, é preciso uma relação contínua com as escolas e uma estratégia utilizada é a participação em atividades nas instituições mais atendidas pelo Núcleo como, por exemplo, nas reuniões de planejamento com o corpo docente, coordenadores e diretores, ou ainda, reunião de pais de modo que se possa dialogar sobre as práticas restaurativas que veem sendo utilizadas com os alunos, e fomentar o desenvolvimento de atitudes pautadas nos valores da Justiça Restaurativa, sobretudo para construção de soluções positivas nos conflitos escolares. Beneficiando todos, de maneira geral, a escola fortalece a

relação com o Núcleo e diretamente sente os efeitos das ações, bem como professores, funcionários, pais, crianças e adolescentes, além de que os conflitos podem ter menor impacto na rotina escolar e não atrapalhar a convivência escolar e andamento das atividades pedagógicas e, principalmente, mudar a forma como se olha para os conflitos entre os alunos (Ribeiro & Lima, 2013c).

A primeira escola contemplada com a formação em práticas restaurativas teve o foco no público estudantil e atuou de forma experimental. O projeto intitulado A participação juvenil na construção de um ambiente restaurativo: uma abordagem segundo a Justiça Restaurativa foi elaborado e executado pela estagiária de serviço social, com o apoio da equipe técnica do Núcleo, e participaram alunos líderes de turma, preferencialmente, do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) porque se entendeu que a etapa do desenvolvimento deles permitiria aprofundamento em conteúdos e práticas de formação sociopolítica e nos valores da Justiça Juvenil Restaurativa: protagonismo, respeito, honestidade, humildade, interconexão, responsabilidade, empoderamento e esperança (Ribeiro & Lima, 2013a).

O projeto foi executado em 12 (doze) encontros formativos, com ênfase nos princípios da Justiça Juvenil Restaurativa e cada momento objetivou transmitir conhecimentos relacionados à construção de um ambiente restaurativo na escola, utilizando como meio a participação e o protagonismo juvenil. Participaram 25 (vinte e cinco) líderes e vice-líderes de turma, do turno vespertino, da escola contemplada e, buscou-se ainda, que com essa formação os participantes atuassem como agentes multiplicadores em Justiça Restaurativa e construção de uma cultura de paz ao entender que como líderes poderiam transmitir os conteúdos aprendidos. O projeto teve boa adesão dos participantes e aceitação por parte dos professores e gestores da escola que viram também como oportunidade de potencializar a liderança dos alunos e promover a gestão democrática na escola (Ribeiro & Lima, 2013a).

Além da formação em administração de conflitos, atividades mais pontuais foram realizadas e dizem respeito às palestras de ambiência restaurativa que aconteceram em 02 (duas) escolas. Em tais ações pretendeu-se discutir com alunos e professores temas de impacto no contexto escolar que podem provocar conflitos, como a indisciplina, violência nas escolas e atos infracionais. Para tanto, foram realizadas 03 (três) palestras no segundo semestre de 2012, em que participaram cerca de 126 (cento e vinte e seis) alunos e professores. As palestras tiveram boa receptividade e participação dos alunos, ademais os problemas estruturais na escola como disponibilização de um espaço adequado e escolha de participantes - que foram os alunos que mais se envolviam em conflitos na escola. Por fim, o Núcleo ainda avaliou que precisa ampliar essa ação e cumprir o previsto no projeto de implantação que são ao menos 02 (duas) palestras por mês, abordando temas relacionados à construção de um ambiente restaurativo, mas também de acordo com a realidade e as necessidades das escolas.

A última atividade realizada pelo núcleo e que compõe a linha de frente de sua atuação é a Formação em Administração de Conflitos e Práticas Restaurativas, que a meu ver, não deixa de ser uma atividade de fomento à ambiência restaurativa nas escolas já que os participantes são essencialmente representantes dessas instituições. O curso aconteceu através da parceria do Núcleo e a 58ª Promotoria de Educação como uma estratégia para disseminar o conhecimento sobre as práticas restaurativas, a gestão pacífica de conflitos e aproximar e divulgar as ações do NJJRE. A necessidade de realização teve como ponto de partida também as demandas para lidar com indisciplina e conflitos trazidas nas reuniões anuais da referida promotoria com os representantes das escolas. A formação aconteceu em um hotel da cidade no segundo semestre de 2012, nas datas de 10, 18 e 30 de outubro, 14, 20, 22, 29 de novembro e 05 de dezembro. Participaram 253 (duzentos e cinquenta e três) inscritos entre gestores, coordenadores pedagógicos, presidentes e representantes de pais dos conselhos

escolares das escolas municipais de Natal/RN, divididos em 08 (oito) turmas com, aproximadamente, 35 (trinta e cinco) pessoas e com 8h como carga horária (Ribeiro & Lima, 2013a).

O Núcleo avaliou que o formato da atividade com 8h de carga horária constitui-se mais como um minicurso teórico-vivencial do que uma formação que de fato instrumentalize os participantes para atuar como facilitadores de práticas restaurativas, apesar de funcionar como um momento inicial para sensibilizar sobre como lidamos com os conflitos e despertar interesses sobre o trabalho com práticas restaurativas e modos pacíficos de resolução. Assim, como inclusive se prever na atividade de ambiência restaurativa, a equipe do NJJRE pode desenvolver outros modos didáticos para expandir o conhecimento e uso das práticas, como por exemplo: “Grupo de Estudos, Workshops, Mini Cursos, Cursos de Capacitação, Cursos de Formação, Curso de Extensão Universitária (em parceria com universidades), Curso de Especialização Latu Senso (em parceria com alguma instituição de ensino superior)” (Ribeiro & Lima, 2013a, p.51).

Algumas escolas sugeriram, a partir do curso, que grupos de estudos contínuos pudessem acontecer e uma capacitação com os profissionais dentro da própria escola, para aqueles que se interessarem poder trabalhar como mediadores nas instituições. E o Núcleo tem essa ação como prevista no seu planejamento em curto e médio prazo e aconteceu de forma experimental na ambiência restaurativa nas escolas, como mencionado anteriormente quando se falou das estratégias preventivas (Ribeiro & Lima, 2013a). Entretanto, é uma ação que demanda mais tempo e equipe suficiente para executa-la, além disso, as ações foram interrompidas quando uma dessas formações estava em andamento.

Por todo o exposto, o Núcleo desenvolveu diversas atividades que essencialmente tiveram duas linhas de atuação: mediação e prevenção de conflitos. Cabe destacar que esse primeiro ano de atuação, de abril de 2012 a junho de 2013, foi importante para implementar a

prática, até então não utilizada em Natal/RN, e disseminar esse modo de resolver os conflitos. Contudo, é imprescindível ter em mente que o efetivo da equipe é pequeno para atender todas as escolas municipais da cidade e mais ainda se considerar as particulares, federais e estaduais, o que totaliza um volume enorme de demandas.