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CAPÍTULO IV – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

4.1. Caracterização do Núcleo de Justiça Juvenil Restaurativa nas Escolas (NJJRE)

4.1.1. Histórico do Núcleo

O Núcleo de Justiça Juvenil Restaurativa nas Escolas (NJJRE) é um projeto criado em 2012 pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) em parceria com o Ministério da Justiça, mediante edital de projetos para se financiar a implantação de um núcleo que trabalhasse a temática da Justiça Restaurativa. Com uma equipe multidisciplinar, o NJJRE

implantou métodos restaurativos de resolução de conflitos nas escolas da rede pública municipal de Natal/RN - embora também tenha atuado através de demanda espontânea em algumas escolas estaduais e privadas - buscando não somente trabalhar os conflitos gerados, mas também desenvolver estratégias preventivas para tais situações e de indisciplina no contexto escolar (Ribeiro & Lima, 2012a).

No Termo de Referência para implantação do Núcleo, onde tem a descrição do projeto, objetivos e atividades a serem desenvolvidas, constatou-se que apesar dos casos no município de Natal/RN não serem, frequentemente, de natureza grave (como atos infracionais que envolvam ferimentos ou morte), mesmo considerando a importância desses atos, “a violência que vem causando angústia frequente, em praticamente todas as escolas, é aquela praticada no cotidiano, resultante da falta de respeito entre as pessoas”. Nesses casos, embora a violência incomode e afete a qualidade e processos de aprendizagem, não é grave o suficiente para que mídia e justiça sejam mobilizados, ao contrário dos casos mais graves.

Pensando no que fazer, então, com os atos infracionais de menor potencial ofensivo (danos ao patrimônio, desacatos, ameaças, etc.) no âmbito escolar e em estratégias que busquem a informalidade e desjudicialização das questões, foi criado o referido Núcleo com o intuito de se caracterizar como uma ação itinerante para realizar encontros restaurativos nas escolas. Apesar de a Justiça Restaurativa ter como um dos pilares a participação da comunidade enquanto protagonista na administração dos conflitos preferiu-se iniciar a experiência com a criação do Núcleo, coordenado pelo Ministério Público, considerando as dificuldades de adesão dos atores da comunidade escolar por ainda ser forte a preferência pelo modelo punitivo de resolução de conflitos.

Então, na primeira etapa de implantação da Justiça Restaurativa nas escolas, o Núcleo realiza os círculos restaurativos, de modo que paralelamente fosse promovida a integração dos membros das escolas através de orientação para que, posteriormente, fossem responsáveis

pela execução. Além disso, nesse primeiro ano de atuação o público alvo seria as escolas de Ensino Fundamental, para após ser expandido para o Ensino Médio.

A história do Núcleo está relacionada à sua vinculação desde o início à 58ª Promotoria de Justiça da Educação do MPRN. Essa promotoria atua em matéria cível, no âmbito judicial e extrajudicial, na defesa dos direitos educacionais nas escolas municipais e estaduais, além das privadas, e dentre as diversas funções que desenvolve destacam-se, para o interesse desse trabalho, as seguintes ações: realização de atividades que visem integrar a escola, a família e a comunidade e acompanhar as questões de disciplina dos alunos. Então, como se pode perceber, a promotoria desempenha um papel de intervenção nas demandas que se relacionam com conflitos escolares.

A partir dessas funções e visando garantir as atividades de ensino-aprendizagem nas escolas de Natal/RN, a promotoria passou a discutir junto às instituições, quais seriam as estratégias para lidar com a indisciplina e violência escolar, promovendo espaços para o compartilhamento de experiências e soluções, o fortalecimento dos conselhos escolares como agentes legítimos e garantidores da democracia na escola, e, a criação do Núcleo como possibilidade de suporte para lidar com os conflitos no ambiente escolar, tanto na resolução, como na prevenção (Ribeiro & Lima, 2013a).

Assim sendo, a vinculação do NJJRE a tal promotoria se deu tanto em função da própria natureza de atividades que lhe compete, quanto pela afinidade do Promotor de Justiça da Educação dessa promotoria, Raimundo Sílvio Dantas Filho, com o tema das práticas restaurativas e metodologias de resolução pacífica de conflitos. Desta maneira, o NJJRE inicia as atividades sob sua coordenação e nas escolas do município de Natal/RN, atuando como suporte técnico às demandas da promotoria. Além do mais, essa ligação permitiu o desenvolvimento de uma relação de abertura e parceria com as escolas, fato de grande importância para a consecução das atividades, principalmente, porque a promotoria já

realizava anualmente reuniões com coordenadores pedagógicos, diretores, além de realizar um trabalho efetivo com os conselhos escolares. Por meio desse contato, as escolas puderam compreender o surgimento do Núcleo como “um instrumento de apoio às diversas dificuldades postas por eles no que se refere à indisciplina e conflitos no ambiente escolar” (Ribeiro & Lima, 2013a, p. 16).

Apesar dessa facilidade, o trabalho do Núcleo demandou um planejamento cuidadoso para que sua inserção nas escolas pudesse acontecer da melhor maneira possível, com abertura para o diálogo sobre a Justiça Restaurativa - abordagem até então desconhecida, ao menos para a maioria das escolas – e assim, evitar que houvesse resistência para a entrada nas instituições e impedimentos quanto à execução das ações de uma equipe externa às escolas que a partir de então atuaria como parceira (Ribeiro & Lima, 2013a). O Núcleo se localiza na sede das Promotorias de Justiça de Natal/RN e funciona de acordo com o expediente do MPRN, das 08 às 17 horas, estendendo-se quando necessário em função das demandas nas escolas.

Assim, a 58ª Promotoria entendeu que era preciso dialogar com essas instituições no sentido de explicitar a proposta do projeto da Justiça Restaurativa inserida nas escolas, seu objetivo, como poderia contribuir para resolver os conflitos de forma construtiva e pacífica, e, fomentar o uso da ética como tema transversal, com o intuito de promover o respeito como valor fundamental da convivência democrática. Nesse sentido, a referida promotoria realizou

reuniões com grupos de gestores e coordenadores pedagógicos das escolas públicas municipais da cidade de Natal/RN. Ao todo, foram dez encontros no período de 23 de fevereiro de 2012 a 08 de maio de 2012, contabilizando um total de 216 participantes, sendo 70 diretores e 146 coordenadores pedagógicos, os quais representam 77 escolas municipais de Natal/RN convidadas (Ribeiro & Lima, 2012a).

No que diz respeito à equipe que efetivamente iria compor o Núcleo, além do coordenador já mencionado, e buscando uma atuação interdisciplinar como previa o projeto, integraram o quadro um profissional de psicologia e outro de serviço social, além de estagiários em psicologia, comunicação social e serviço social, perfazendo ao todo seis integrantes na equipe do NJJRE, os quais atuaram em total parceria com os profissionais da 58ª Promotoria. Uma vez formada a equipe, no dia 26 de março de 2012 houve a primeira reunião dos integrantes, em que foram realizadas atividades de apresentação, integração e estudo da temática. Após esse momento, os membros do NJJRE e alguns convidados participaram de um workshop de capacitação sobre Justiça Restaurativa no contexto escolar, proferido por Antônio Ozório Nunes, autor do livro “Como restaurar a paz nas escolas” e Promotor da Infância e da Juventude do estado de São Paulo (Ribeiro & Lima, 2012a).

Cabe destacar que no início e ao longo da existência do Núcleo, incluindo o período pós-suspensão das atividades, o NJJRE passou por fases de adaptação, ajustes e reajustes que tiveram nas reuniões de equipe uma grande aliada para fortalecimento do grupo e das ações, assim, as reuniões contribuíram para integração, estudo e de planejamento (Ribeiro & Lima, 2013a).

Posteriormente ao momento integrativo e formativo, no dia 04 de abril de 2012 o NJJRE foi oficialmente lançado pela 58ª Promotoria de Educação na sede da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, momento no qual Antônio Ozório Nunes proferiu uma palestra sobre a Justiça Restaurativa como procedimento eficaz na resolução de conflitos na escola. E como era essencial apresentar o Núcleo aos seus potenciais usuários, participaram vários representantes da comunidade escolar, dentre diretores, coordenadores pedagógicos, presidentes de conselhos escolares e outros representantes, além da Secretaria Municipal de Educação (SME) e diversos membros do MPRN.Após o lançamento oficial do NJJRE, o Núcleo passou por um momento de trabalho interno para desenvolver um plano de

ação e construir os instrumentais específicos para a realização do trabalho (Ribeiro & Lima, 2012a).

Como já foi comentado nesse capítulo de análise de dados, apesar de o Núcleo ter começado em 2012, ele não se manteve em funcionamento durante todos os anos seguintes. O NJJRE inicia suas atividades em Abril/2012 e funciona intermitentemente até Junho/2013, quando então, por questões estruturais no MPRN, precisou encerrar as atividades, sendo posteriormente retomadas em Janeiro/2015. Esse tempo de não funcionamento por decisão do MPRN e a retomada com quase um ano e meio depois tiveram algumas implicações na sua reestruturação. Em 2015, o Núcleo passa a contar com dois profissionais apenas, a psicóloga e o assistente social que trabalharam no período de funcionamento efetivo. Além disso, um Conselho Consultivo foi criado para dar suporte, sendo formado pelo antigo coordenador, outros representantes do MPRN e parceiros do Município de Parnamirim/RN, uma vez que foi criado o Núcleo de Práticas Restaurativas de Parnamirim (NPR) em 2014, sob coordenação do assistente social que fazia parte do NJJRE. No entanto, o conselho não se sustentou e, ademais, o assistente social saiu do Núcleo que passou a funcionar somente com a psicóloga.

O projeto esteve vinculado ao Ministério da Justiça até 19 de dezembro de 2015, cumprindo o período determinado e a maioria das metas do projeto que estavam relacionadas à implantação do Núcleo. A partir de agora, cabe ao MPRN dar continuidade e manter o Núcleo em atividade, para tanto, foi estabelecida uma nova coordenação e a psicóloga continua sozinha, até que um profissional de serviço social entre na equipe. No momento, o NJJRE continua atendendo as demandas específicas de conflitos da 58ª Promotoria de Educação através de assessoria técnica, ou seja, quando a promotoria entende que o caso deva ser resolvido com o uso da Justiça Restaurativa é encaminhado para o Núcleo. Além disso, tem-se pensado em ampliar o uso das práticas restaurativas para outras promotorias até como

uma estratégia para fortalecer o Núcleo dentro do MPRN.