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Caracterização das escolas e representantes escolares participantes

CAPÍTULO III – OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

3.2. Estratégias Metodológicas

3.2.4 Caracterização das escolas e representantes escolares participantes

A entrevista semiestruturada se divide em partes (Parte I – dados sociodemográficos e Parte II – questões semiestruturadas), como já mencionado anteriormente. Assim sendo, para caracterizar os participantes da pesquisa foram utilizados os dados referentes à primeira parte das entrevistas. Cabe destacar que os dados fazem menção tanto às representantes da amostra, as 12 (doze) escolas em que a pesquisa aconteceu, quanto aos entrevistados em cada uma dessas instituições. Sendo assim, abaixo serão explicitados os dados tanto das escolas, quanto dos entrevistados, além de cruzar as informações dessas duas fontes. Para facilitar a descrição, 2 (duas) tabelas foram criadas e serão apresentadas na sequência.

Sobre as escolas participantes, observa-se, como mostrado na Tabela 2 abaixo, que metade das instituições se localiza na Região Administrativa Norte da cidade de Natal/RN, que é composta por 7 (sete) bairros: Lagoa Azul, Pajuçara, Potengi, Nossa Senhora da Apresentação, Redinha, Igapó e Salinas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo - SEMURB, 2010). Como já explicitado, a seleção de escolas teve como um dos critérios o NJJRE ter tido mais contato com a instituição. Assim, metade da amostra estar na zona norte da cidade pode indicar que as escolas dessa localidade procuraram mais o núcleo

em detrimento de outras. Some-se a isso, que essa região é considerada a mais violenta se comparada às demais regiões administrativas de Natal/RN, com índice absoluto em 2013 de 253 (duzentos e cinquenta e três) Crimes Violentos Intencionais Letais3 (CVLIs), o que representa 43% do total se somadas todas as regiões da cidade (Sandrinelli, 2014). Já para o ano de 2014, o número absoluto de CVLIs foi de 239 casos, e embora tenha havido uma pequena redução, ainda figurou como a região administrativa mais violenta (Hermes & Alves, 2015). Entende-se, entretanto, que não se pode afirmar que exista uma relação direta e causal entre esses fatores e por isso mesmo tais elucubrações são comentadas a título de observações e suposições sobre os fatos, o que não limita as possibilidades de explicações para o NJJRE ter atuado mais frequentemente nessa localidade.

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Na obra do Homicímetro ao Cvlicímetro: a plataforma multifonte e a contribuição social nas políticas públicas de segurança (2014), Ivenio Hermes e Marcos Dionísio explicitam o Crime Violento Intencional Letal (CVLI) e o diferencia do homicídio doloso, ao demonstrar que o primeiro contempla uma gama de variáveis que em conjunto podem resultar em um melhor indicador do grau de violência. Assim sendo, se utiliza de várias informações que resultam na Plataforma Multifonte, que conta com diversos atores que atuam como fontes sociais e contribuem para alimentar o banco de dados. Essa plataforma já foi utilizada em outros lugares no Brasil e desde 2013 vem sendo testada e aprimorada no Rio Grande do Norte.

O bairro Potengi, no qual três escolas se localizam, é um dos maiores bairros da região Norte, sendo composto por diversos conjuntos habitacionais. O bairro de Nossa Senhora da Apresentação também possui vários conjuntos, além de loteamentos (SEMURB, 2010), mas nessa amostra aparece apenas uma vez como local de residência de um dos entrevistados, que inclusive comentou que o público de sua escola (localizada no bairro Potengi) é majoritariamente composto dessa localidade, que, de acordo com dados de 2013 e 2014, configurou como o bairro mais violento de Natal/RN com 88 e 73 casos, respectivamente. Em contrapartida, o bairro Potengi apesar de ter um número absoluto menor, teve um aumento de 2013 (35 casos) para 2014 (45 casos) (Hermes & Alves, 2015). Em relação às demais escolas participantes, essas se subdividem entre as outras 3 (três) regiões administrativas, as quais possuem igualmente 2 (duas) escolas por região.

Ainda de acordo com a Tabela 2, pode-se constatar que 10 (dez) das escolas tem, aproximadamente, entre 500 e 1200 alunos. Dentro dessa faixa, 6 (seis) escolas tem os Ensinos Fundamentais I (do 1º ao 5º ano) e II (do 6º ao 9º ano) - apesar de que 2 (duas) delas não apresentam todos os anos, uma vai do 1º ao 8º ano e a outra o 3º ao 9º ano; 2 (duas) tem o Ensino Fundamental I; e, 2 (duas) tem o Ensino Fundamental II. Todas elas apresentam o Ensino Fundamental no período diurno. Das 6 (seis) escolas que possuem os dois ensinos fundamentais, 1 (uma) possui também a Educação Infantil e 2 (duas) possuem a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno. Das 4 (quatro) que possuem apenas um dos níveis do Ensino Fundamental, 3 (três) possuem também a EJA e 1 (uma) tem o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), ambos à noite. Por fim, completando as 12 (doze) escolas pesquisadas, 2 (duas) tem o número de alunos inferior a faixa predominante, sendo uma com 360 alunos e outra com 164, e, ambas possuem apenas o Ensino Fundamental I.

Nota-se ainda que a maioria das escolas relatou um número aproximado de alunos, inclusive, porque algumas ao serem perguntadas sobre o turno de funcionamento informaram

possuir a EJA à noite e outras não mencionaram, ou seja, apenas algumas informaram atender os níveis no período noturno, portanto, pode ser que mais escolas, que não mencionaram, possam funcionar também à noite, como inclusive se observa na lista constante no Quadro de Escolas e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) disponível no site da Prefeitura Municipal de Natal/RN (http://www.natal.rn.gov.br/sme/paginas/ctd-421.html) e, desta forma, possam ter um número ainda maior de estudantes.

Pode-se observar que a maioria das escolas possui um número grande de alunos e, sendo assim, são diversas as demandas para lidar cotidianamente, especialmente no quesito indisciplina, conflitos e violências. Como relatado nas entrevistas, os profissionais tem que criar estratégias para prevenir situações de violência e algumas escolas dividem os níveis por turno ou ainda algumas dividem o intervalo em dois momentos, concentrando os alunos maiores em um período e os menores em outro, inclusive com relatos de melhoras nas situações conflituosas que aconteciam. Cabe ainda mencionar que algumas escolas informaram ter uma estrutura menor do que a demanda de alunos exige, bem como limitações espaciais no que se refere a lugares para lazer, como falta de quadra de esportes, o que segundo relatos dos entrevistados, poderia ser muito útil porque os alunos não precisariam disputar espaço e nem se machucar ao esbarrar, até eventualmente, uns nos outros.

Para finalizar a Tabela 2, nota-se que a maioria das escolas é da década de 1980, e, portanto, possuem em torno de 40/46 anos de funcionamento. A mais antiga é de 1966 (com 540 alunos) e a mais nova de 2010 (com aproximadamente 360 alunos). Dessas, 3 (três) escolas são da década de 1970, 1 (uma) da década de 1990 e 3 (três) dos anos 2000. Ou seja, as escolas são mais antigas, em sua maioria, mas também tem escolas mais recentes, e, independente do tempo de funcionamentos, todas elas precisaram de intervenção do NJJRE.

Uma vez feita a caracterização das escolas, segue-se para a caracterização dos representantes escolares. Destaca-se que os participantes contribuíram de sobremaneira para a

consecução do trabalho, especialmente quando se entende que a dinâmica escolar exige do profissional atenção em suas funções, e até em outras que não lhe caberiam originalmente, porque o contexto é fluído e o tempo todo novos acontecimentos demandam a intervenção imediata, principalmente no trato com questões de conflitos e violências. Sendo assim, o tempo despendido na entrevista foi concedido dentro dos limites institucionais.

Como forma de organizar os dados, a Tabela 34 a seguir serve de referência para a

descrição das informações sobre os entrevistados e resumidamente apresenta os dados que são a base para caracterizar os representantes das escolas que participaram da pesquisa.

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Assim, a partir da observação da Tabela 3, das 12 (doze) pessoas entrevistadas, 11 (onze) são do sexo feminino e somente 1 (uma) é do sexo masculino, o que demonstra, ao menos na amostra, uma predominância de mulheres no espaço escolar, seja nas funções de gestão ou coordenação. No Quadro de Escolas e Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) ao se observar as 144 instituições listadas, a maioria tem mulheres na gestão, seja como diretora ou vice diretora (http://www.natal.rn.gov.br/sme/paginas/ctd-421.html), o que retifica o encontrado na amostra.

Em relação à faixa etária dos participantes, como consta na Tabela 3, as idades variam entre 34 e 59 anos. As duas pessoas com as maiores idades estavam aposentadas pelo estado na época da coleta, sendo que uma delas estava em processo de aposentadoria também pelo município e a outra em licença médica, mas informou que ao retornar iria pedir a aposentadoria pelo município. Sobre o cargo ocupado, metade dos entrevistados estava na gestão escolar, seja na direção (quatro pessoas) ou na vice direção (duas pessoas). Como mencionado por um dos entrevistados, o cargo de gestão exige que o profissional permaneça na instituição em uma jornada de 40h semanais, e isso foi verificado nos dados porque nenhum deles que ocupava cargo na gestão possuía outro vínculo, cumprindo, portanto, a carga horária referida. A outra metade ocupa o cargo de coordenação pedagógica e somente 1 (uma) entrevistada é coordenadora do Programa Mais Educação5, além de ser professora. Dessa metade de coordenadores, apenas 3 (três) pessoas tem vínculo com outra escola, e, portanto, exercem uma carga horária de 20h na escola em que foi feita a coleta.

Essa questão de carga horária na instituição é interessante porque, de acordo com os relatos nas entrevistas, os profissionais trabalham com inúmeras demandas e o tempo é limitado em função do trabalho diário, assim sendo, a execução de trabalhos extras, como

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O Programa Mais Educação foi instituído pela Portaria Normativa Interministerial Nº- 17 de 24 de abril de 2007, sendo criado com o intuito de fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, através de atividades socioeducativas no contra turno escolar.

projetos de prevenção e resolução de conflitos e violências, inclusive a utilização da justiça restaurativa, pode ficar comprometida porque demanda material humano para executar e disponibilidade de tempo livre, o que, muitas vezes, não acontece. Some-se a isso que os profissionais que trabalham em outra escola tem o tempo mais limitado não somente porque tem que trabalhar o resto do dia em outra instituição, mas também em função dos deslocamentos, o que dificulta ainda mais a execução de qualquer atividade extra. Nesse ponto, observa-se que 3 (três) entrevistados moram no mesmo bairro da escola pesquisada; 4 (quatro) em bairros próximos e na mesma região administrativa; e, os 5 (cinco) que restam moram em bairros distantes do bairro em que a escola se localiza. Morar no mesmo bairro da escola é importante porque o profissional acaba entendendo um pouco do contexto dos alunos por conhecer a comunidade e minimamente saber as demandas daquela região, além de estar na mesma localidade ser uma vantagem para não perde tempo em deslocamento.

Uma maneira de amenizar a falta de tempo (seja a carga horária do profissional na instituição e deslocamentos de um lugar para o outro) seria a escola dispor de profissionais específicos somente para lidar com as demandas de conflitos e violências, bem como de horários na grade escolar para realização desses trabalhos.

Por fim, como se pode notar na Tabela 3, os entrevistados foram questionados sobre os cargos ocupados na época em que o Núcleo atuou na escola, bem como no dia da coleta de dados. E percebe-se que 5 (cinco) deles mantiveram o cargo desde a época que o NJJRE atuou na escola, ou seja, de 2012/2013 até, ao menos, a coleta em 2015 - as escolas passaram por eleições de suas gestões e algumas pessoas iriam deixar os cargos, por isso que a descrição condissera como cargo atual aquele na data de coleta e, além disso, uma das entrevistadas ainda não sabia qual cargo iria ocupar após as eleições escolares, por isso aparece na Tabela 3 sem resposta definida. Dos entrevistados que mudaram de cargo, alguns passaram a ser somente professores, inclusive mudando de escola, outros integraram o Mais Educação (seja

como professor e/ou coordenador), e outros se aposentaram ou estavam em vias de se aposentar. Apesar disso tudo, todos os entrevistados estavam na escola nos dois anos de trabalho do núcleo, então, acompanharam o processo de chegada e parada das atividades.

Com isso, encerra-se a caracterização dos participantes através da análise dos dados sociodemográficos das escolas e seus representantes. Os dados constantes nas questões semiestruturadas das entrevistas serão apresentados no capítulo de análise de dados a seguir através de eixos de discussões específicos.